AS RUAS DA CIDADE ALTA, DE ANTIGAMENTE

A área demarcada para ser o que hoje se denomina de Cidade Alta, era um platô que se estendia da atual Praça André de Albuquerque até a Praça Pedro Velho, envolvendo áreas de Tirol e Petrópolis.

Aspecto da Igreja Matriz em 1956.

Uma capelinha foi construída onde hoje é a antiga Catedral e a partir daí surgiram as primeiras ruas.

Praça André de Albuquerque em 1904. Foto de Bruno Bourgard. Acervo IHGRN.

A Rua Grande, em frente da igrejinha e ao seu redor, foi a primeira, hoje a Praça André de Albuquerque.

Em 1722, Natal era “uma cidade de 30 casas”, no dizer do capitão-mor José Pereira da Fonseca em carta a Dom João V.

Se o Google Maps existisse há mais 200 anos atrás, era assim que ele mostraria a cidade de Natal RN:

A cidade de apenas “3000 almas” era basicamente isso. “À esquerda da imagem está o bairro de Cidade Alta, ocupação mais desenvolvida da cidade na época. No número 10 aparece o prédio que hoje corresponde à Casa do Estudante, na região do Passo da Pátria”.

A imagem é do Atlas do Império do Brasil, e também mostra a ponte, “construída em 1732, ligando a Cidade Alta e a Ribeira, bem como a Alfândega, que chegou a dar nome à rua que hoje corresponde à Rua Chile (número 6)”.

O mapa foi usado na Dissertação do curso de Mestrado em Preservação da aluna Fernanda Rocha de Oliveira do IFRN.

Em 1810, quase cem anos depois, o inglês Henry Koster olhando a cidade, escreveu:“As construções foram feitas n’uma elevação a pequena distância de um rio… A cidade consiste n’uma praça cercada de residências, três igrejas, o Palácio, a Câmara e a prisão”…Não é calçada em parte alguma e anda-se sobre areia solta …”.

Aspecto da Rua Grande em 1904. Foto de Bruno Bourgard em destaque para a Casa de Câmara e Cadeia no lado direito do registro.

Nessa época a cidade tinha 600 a 700 habitantes. As três igrejas eram a Matriz, a do Galo (Santo Antônio) e a do Rosário. O calçamento só apareceu na segunda metade do século XIX.

PRAÇA ANDRÉ DE ALBUQUERQUE (Vendo-se à direita a Igreja do Rosário dos Pretos – Bairro Cidade Alta) Foto: Dr. Manoel Dantas  (fotógrafo viveu em Natal no período de 1900 até sua morte, em junho de 1924)

Na Rua Grande as casas ficavam de frente para a Matriz e fundos para o rio. Nela ficavam, além da Matriz, o Sobrado do Governo, o Senado da Câmara e a Provedoria da Fazenda. Corresponde a área do entorno da atual Praça André de Albuquerque.

Depois da Rua Grande, a principal era a Santo Antônio, que ia da lateral da Matriz até a fonte do rio-de-beber-água, no Baldo. Por isso, a rua era conhecida como o “Caminho de Beber”.

“Durante séculos o natalense bebeu água da
cacimba de São Tomé e das abertas no areial da
Ribeira e os da Cidade colhiam água do riacho
Tissuru ou Tiuru, Rio do Baldo, como já se dizia
em outubro de 1761. Chamavam-no antes RIO
DA FONTE (1675). A Rua de Santo Antônio era
conhecida como o CAMINHO DE BEBER
porque levava à nascente”.
(Luís da Câmara Cascudo)
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Foto: Bourgard
Fonte: Acervo IHG/RN
Local: Rua Santo Antônio.

Pelo outro lado, por trás da igreja indo em direção da Ribeira estava a Rua da Conceição. De 1808, a rua era pouco habitada, com um denso matagal em um dos lados. Ela foi reduzida em tamanho, originalmente até a Ulisses Caldas atual, quando em 1914 construiu-se a atual Praça 7 de setembro.

Foto da vista para Rua da Conceição, palácio do Potengi ao fundo o mirante da Igreja Presbiteriana, 21 Batalhão de Caçadores e o Mercado público. Autor: Bougard. Fonte: IHG/RN.
Centro de Natal na primeira década do século XX. Possível autor do registro tenha sido Bruno Bougard a partir da torre da Igreja Matriz. O que vemos? Vamos para a análise:
No primeiro plano os fundos palácio do governo do Rio Grande do Norte (atual pinacoteca).
A rua que aparece a direita é a rua da Conceição.
A praça arborizada é a que fica entre o palácio do governo e o prédio do Instituto Histórico e Geográfico do RN.
A casa a direita de baixo para cima de esquina branca de primeiro andar é hoje o museu café filho.
As casas na esquina ainda no lado direito hoje está sediada a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte.
Ainda no lado direito  um pouco mais acima está a torre da igreja presbiteriana.
A edificação ao lado da torre da igreja presbiteriana um pouco abaixo está no prédio da intendência municipal onde hoje está edificado o palácio Felipe camarão (sede da prefeitura).
Um pouco mais ao lado da intendência municipal do lado esquerdo está o prédio localizado na Ulisses Caldas onde funcionou o Royal Cinema e nas imediações Café Potiguarania, Pharmacia Natal e Café Magestic.
Ainda na direita ao fundo o mercado público que hoje a agência do Banco do Brasil.
No lado esquerdo do palácio do governo um belo casarão onde hoje está sediado o tribunal de justiça do RN.
Já sabem! Só na #fatosefotosdenatalantiga

A Rua da Conceição tinha uma residência chamada de Casa do Nicho, que desapareceu com a construção da praça. Nessa casa, em sua parte externa, havia um pequeno altar cavado na parede, fechado por duas portinholas de madeira e onde era guardada uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, origem do nome da rua. No lugar, o povo fazia e pagava promessas e rezava seus terços, novenas e ladainhas.

Rua da Conceição.

A casa pertencia ao sr. Joaquim Inácio Pereira. Na rua havia um sobradão conhecido como Casa do Governo. Nele, em 02 de dezembro de 1868, realizou-se um baile em homenagem ao Presidente da Província Manoel José Marinho.

A festa ficou na historia porque foi a primeira vez que Natal provou gelo, vindo de barcaça desde o Recife. Com o decorrer dos anos a Rua da Conceição abrigou pessoas ilustres e nela passaram a funcionar o Bilhar Americano, que oferecia “aos amantes da tabolagem preciosas horas de dustração”, e a Padaria Flor de Natal, que fazia sua propaganda em versos :

“ Do pão de puro centeio
de Provença a qualidade.
Do crioulo o mais bem feito,
nunca viu essa cidade”.

Depois veio a Rua da Palha (Vigário Bartolomeu), oitocentista e assim chamada por causa do material empregado na construção de suas casas.

O estudante e a modernidade, Natal/RN – anos 20.
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A foto inédita no grupo reproduz a imagem da cidade progressista e a modernidade da educação. O pequeno cidadão, em cena, com livro aberto se destaca em relação a uma outra criança, em pleno cruzamento da Rua Ulisses Caldas e Avenida Rio Branco.
Foto: MIRANDA, João Maurício Fernandes de. 380 anos de História Foto-gráfica da Cidade de Natal (1599 -1979). Natal: UFRN, 1981. p.56

Em 1845 surgiu. Rua Nova, a atual avenida Rio Branco. Casas só de um lado.

Rua Nova (atual avenida Rio Branco)
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A atual Avenida Rio Branco era conhecida no século XIX, como a Rua Nova. A referida avenida corta todo bairro da Cidade Alta, no trecho compreendido entre o Baldo e a Ribeira.
O topônimo Rua Nova apareceu pela primeira vez, em 12 de novembro de 1822, em um registro de concessão de terras, pelo Senado da Câmara do Natal, ao comerciante Johan Christian Voigt. O beneficiário requereu terreno “para duas casas, na Rua da Palha … no fundo destas, na rua Nova; outras duas para o armazém ‘:
Ao longo da década de vinte do século XIX, apareceram outros dez registros de concessões de terras naquele antigo logradouro público. Em 28 de outubro de 1826, Antônio José de Souza Caldas requeria terras “na Rua Nova, junto ao curral do açougue’, o que indicava a existência de um local de comercialização o de carnes.
O último registro existente de concessão de terras na antiga Rua Nova data de 8 de março de 1828, cujo beneficiário foi Antônio José de Matos.
Até 1845, a antiga Rua Nova servia de limite leste da Cidade, com suas casas ocupando apenas o lado voltado para o nascente. A partir dali existia um espesso matagal. Naquela rua existiu a Praça do Peixe, local onde posteriormente foi construído o Mercado Público da Cidade Alta. No século XIX, erguia-se naquele local, hoje ocupado pela agência Centro do Banco Brasil, a forca destinada à aplicação da pena de morte.
O decreto municipal, de 13 de fevereiro de 1888, substituiu o antigo topônimo para Visconde do Rio Branco, homenageando o eminente estadista José Maria da Silva Paranhos, Visconde do Rio Branco.
O povoamento da Avenida Rio Branco foi efetivamente iniciado a partir de 1845, quando o presidente Casimiro José de Morais Sarmento mandou construir a Casa d’Aula e destruir o matagal que impedia a edificação de casas do lado oriental da referida rua.

Avenida Rio Branco (antiga Rua Nova)
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Durante quatro décadas, o historiador Luis da
Câmara Cascudo, viu da janela da casa a
efervescência da Cidade Alta. No livro “História da Cidade do Natal”, Cascudo escreveu que “a Ribeira era zona de sítios para plantações, morando apenas os guardas dos armazéns que vigiavam mercadorias exportadas para Pernambuco. A Cidade Alta bairro residencial e comercial por excelência”.
A atual Avenida Rio Branco era conhecida no
século 19, como a Rua Nova. Até 1845, a rua
servia de limite leste da Cidade, com suas casas ocupando apenas o lado voltado para O nascente. O lugar abrigou a Praça do Peixe, local onde posteriormente foi construído o Mercado Público da Cidade Alta. O povoamento da Avenida Rio Branco foi efetivamente iniciado a partir de 1845, quando o presidente Casimiro José de Morais Sarmento mandou construir a Casa d’Aula e destruir o matagal que impedia a edificação de casas do lado oriental da referida rua.
Fonte: Tribuna do Norte
Foto: Livro História do estado do Rio Grande do Norte. Rocha  Pombo. Natal: Edufrn, 2019. P. 371.
AVENIDA RIO BRANCO (Bairro Cidade Alta) Foto: Jayme Seixas
AVENIDA RIO BRANCO – 1913 (Bairro Cidade Alta) Foto: Dr. Manoel Dantas

No cimo e ponto medio da rua foi construída a Casa de Aula, onde muitos anos depois existiu o Natal Clube. Descendo a rua para o sul, sítios e pequenas casas até chegar ao Baldo. Para o lado norte, sentido Ribeira, poucas casas nos dois lados da rua.

Depois foram abertas duas ruas pelo Presidente Sarmento. Uma, a Rua do Sarmento, hoje João Pessoa , pequena, trecho entre a Rio Branco e a Princesa Isabel, atuais.

RUA CORONEL PEDRO SOARES (Atual Rua João Pessoa Bairro Cidade Alta) Foto: Cartão Postal / Autor Desconhecido. Cruzamento com a Rua Nova (atual avenida Rio Branco). A esquina do lado direito é onde hoje se encontra loja CeA.
Na esquina da esquerda da esquina da Rua João Pessoa com a Avenida Deodoro não existida nada construído (terreno baldio). Já no lado direito havia um lindo casarão onde hoje se encontra o Edifício Cidade do Natal. Mais ao fundo a construção da Primeira Igreja Presbiteriana de Natal.
Rua João Pessoa entre 1910 e 1930 nas imediações da Escola do Commécio de Natal – Cidade Alta – Natal/RN. Fotografia: Manoel Dantas #fatosefotosdenatalantiga
Rua da Conceição e a Praça Padre João Maria (à época, registro provavelmente de 1902, ainda Praça da Alegria).

A outra, a Rua dos Tocos (Princesa Isabel), trecho entre as atuais Professor Zuza e Ulisses Caldas.

Gameleiras da Rua dos Tocos (Rua Princesa Isabel)
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As gameleiras da Rua dos Tocos tinham uma folhagem muito densa. Pelo diâmetro dos seus troncos podia-se bem calcular a idade. Deviam ter sido plantadas nos meados do século XIX. Tamanho e grossura eram admiráveis.
Em 1910, os carrascos da Intendência, a golpes de machado, sacrificaram as árvores que davam sombra e frutos aos moradores da rua.
Os tocos deixados na rua, decerto deram o antigo nome ao lugar. Compôs a “Dança e canção da Rua dos Tocos”, datada de Recife, 12 de junho de 195(8? – último algarismo ilegível na partitura).

Voltando à Rua Grande (Praça André de Albuquerque), descendo em direção ao Rio e passando pelo quartel, hoje Casa do Estudante, surgiu a Rua Presidente Passos, popularizada como Rua da Misericórdia.

Lá embaixo, a Rua do Rio, também chamada de Rua do Porto. O nome oficial era Paula Barros, homenagem a um oficial que lutara na Guerra do Paraguai.

Esquina da atual praça André de Albuquerque com a praça João Tibúrcio, ao fundo o Rio potengi. Foto Bruno Bougard. Acervo IHG/RN.

Uma ladeira íngreme e escorregadia em dias de chuva, era o único acesso da Rua Grande para a Ribeira. Teve vários nomes : Aterro, Ladeira, Subida da Ladeira, por fim Rua da Cruz (atual Junqueira Aires), povoada a partir de 1870.

Em 1º de março de 1859, o Atheneu foi instalado no edifício da rua Junqueira Ayres e permaneceu lá até 1954.
ANTIGA AVENIDA JUNQUEIRA AIRES (Atual Avenida Câmara Cascudo Bairro Cidade Alta) Foto: Dr. Manoel Dantas (1867-1924).

Por um de seus lados subia-se para pegar água em uma cacimba existente desde o seculo XVI, conhecida como a cacimba de São Tomé. Dizia-se que no entorno da cacimba havia uma pedra com a impressão de um dos pés do Apóstolo. Ali surgiu uma pequena rua que ganhou o nome do santo.

A rua São Tomé nas duas primeiras décadas do século XX.Ao fundo, no lado esquerdo, vemos o rio Potengi e as dunas da Redinha. O prédio branco no final da rua é o prédio do Colégio Salesiano.
Vamos às especulações: vejam do lado esquerdo inferior uma chaminé. Desconfio que seja da fábrica de tecelagem de Juvino Barreto (área onde está a Caixa Econômica Federal da Ribeira).
Foto: Livro História do estado do Rio Grande do Norte. Rocha  Pombo. Natal: Edufrn, 2019. P. 189.

Na administração do prefeito Omar O’Grady, que hoje dá nome ao prolongamento da Prudente de Morais, entre 1924 e 1930, Natal pulou do século XVIII para o século XX. Ele dotou a cidade de um planejamento urbano que foi seguido por seus sucessores.

Em 1935, o prefeito Miguel Bilro abriu a segunda via de acesso da Cidade Alta para a Ribeira, o prolongamento da avenida Rio Branco, inaugurado com fanfarras e calçamento.

Paisagem da Ribeira nas primeiras décadas do século XX. Em destaque o prédio da estação de trem (atual CBTU). #fatosefotosdenatalantiga #bairrodaribeira

No fim da ladeira da Rio Branco foram abertas duas ruas transversais, por trás do teatro.

As ruas, Norte e Sul, foram abertas para acabar o isolacionismo orgulhoso de quem morava lá em cima. Ali começa a Ribeira.

Panorama da Ribeira no início do século XX
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Foto no mínimo curiosa da Ribeira que naquela época era o centro comercial de Natal. O que impressiona é o verde com a paisagem urbana ao fundo junto com o rio Potengi. Intidamente tratava-se de uma pequena extensão de ruas ao meio da mata.
Foto: Livro História do estado do Rio Grande do Norte. Rocha  Pombo. Natal: Edufrn, 2019. P. 158.

(Texto livre baseado na obra homônima do escritor, historiador e folclorista Luís da Câmara Cascudo- 3a. Edição – IHGRN – 1999.

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One thought on “AS RUAS DA CIDADE ALTA, DE ANTIGAMENTE

  • 25 de julho de 2023 em 10:02 am
    Permalink

    Onde se localizava, antigamente, a Rua 29 de Março, no bairro do Tirol? Como é conhecida atualmente?
    Atenciosamente,
    Nadja Costa

    Resposta

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