Palácio Felipe Camarão
Um dos mais belos prédios da cidade de Natal é o PALÁCIO FELIPE CAMARÃO – SEDE DO GOVERNO MUNICIPAL.
O prédio do Palácio Felipe Camarão foi construído no ano de 1922, pelo construtor Miguel Micussi, sendo inaugurado no mesmo ano no dia 7 de setembro, marcando o Centenário da Independência do Brasil, na administração do governador Antônio José de Melo e Souza (1920-1924) e do intendente municipal Teodósio Paiva. Antes, havia no local um casarão de linhas coloniais onde funcionava a Presidência da Intendência Municipal. Possui uma arquitetura eclética, seguindo o projeto de Miguel Micussi.
Localiza-se na esquina do Largo Junqueira Aires com a Rua Ulisses Caldas, nº81, Cidade Alta. Em 20 de maio de 1955, recebeu a denominação de Palácio Felipe Camarão. Este prédio possui uma rica decoração, apresenta no ângulo formado por duas fachadas: uma tribuna (NESI, 1994).
Tombado pelo Iphan como Patrimônio Histórico e Cultural do Brasil, o prédio passou por diversas obras de revitalização, tais como restauração da pintura e instalação de iluminação cênica no local.
ANTECEDENTES
O Conselho de Intendência Municipal de Natal foi uma instituição constituída no início do regime republicano, acompanhando um movimento que se inicia neste país com a queda da Monarquia, o qual derruba as antigas Câmaras Municipais, de acordo com o discurso republicano, e institui os Conselhos de Intendência, norteados, ao menos em tese, pelo princípio da autonomia municipal expresso na primeira constituição republicana, de 1891.
Era no tempo em que os vereadores de Natal iam a pé para o trabalho na câmara, não recebiam salário nem prebendas e a palavra jeton não entrara ainda no vocabulário dos edis nem no orçamento municipal. Vereadores se chamavam intendentes e o conjunto deles formava o conselho da intendência da cidade de Natal, presidido por um de seus membros.
A sede da intendência não era própria, mas alugada: somente em 1922, por ocasião das comemorações do centenário da Independência, foi inaugurado o edifício do Palácio Felipe Camarão, que acolhe a câmara municipal e que continua de pé, ali na rua Ulisses Caldas.
A peregrinação do Conselho de Intendência por diferentes endereços da cidade, por outro lado, é reveladora da frágil situação financeira vivida por essa instituição durante boa parte de sua existência. Para comprovar isso, basta dizer que em dois diferentes momentos o Conselho teve de se desfazer de seu patrimônio, no intuito de saldar dívidas e de arcar com despesas de obras na cidade.
A história da construção dessa nova sede revela alguns elementos da história da instituição que ela abrigará. Em 1905, em um rico relatório, o coronel Joaquim Manoel Teixeira de Moura trata, entre outros pontos, do paço municipal. As palavras são de lamentação e revelam a precariedade do funcionamento da Intendência e de sua situação financeira. Relata o intendente que “Sem edificio proprio para o funccionamento de suas sessões e outras necessidades administrativas, a Intendencia desta Capital tem peregrinado por varios predios, com detrimento da bôa ordem e regularidade do serviço publico. (A REPUBLICA, Natal, 14 jan. 1905)”.
Tendo consciência de que esse estado de coisas era prejudicial ao desenvolvimento das atividades da Edilidade, os intendentes elaboraram uma resolução, segundo consta no relatório citado, aprovando a compra de uma casa que servisse como sede para o poder municipal. Um prédio, em mau estado, foi comprado no início da avenida Junqueira Ayres, na Cidade Alta. Aconteceu, porém, que a Intendência teve de se desfazer da propriedade em curto espaço de tempo, transferindo-a ao governo do Estado, em virtude de dívida contraída para a reconstrução do mercado público, em 1901. Joaquim Manoel revela-se, contudo, otimista em relação à aquisição de um novo prédio para o governo municipal, afirmando que o malogro da primeira tentativa não deveria causar desânimo nos intendentes.
E não demora muito para que a Intendência busque novamente adquirir um prédio próprio. No ano de 1906, os intendentes aprovam uma nova resolução, de nº 103, autorizando o presidente a despender uma quantia de até quinze contos de réis para adquirir um edifício em condições de abrigar as atividades da Intendência. Ao que vemos das resoluções seguintes, a verba deve ter sido insuficiente ou, o que é mais provável, nunca saiu do papel.
Isto porque, em 1909, por meio da resolução nº 135, o Conselho de Intendência autoriza o seu presidente, ainda o coronel Joaquim Manoel, a contratar, com o coronel João Chrisostomo Galvão, importante proprietário local, o aluguel de uma casa situada no ângulo da Rua Vigário Bartolomeu com a Ulisses Caldas, na Cidade Alta, pelo prazo máximo de cinco anos. Em algum momento entre os anos de 1909 e 1912, essa mesma casa deve ter sido comprada ao coronel João Chrisostomo, visto que a resolução de nº 167/1912 autoriza o presidente da Intendência a vender “a casa de propriedade desta Intendencia, situada no angulo das ruas Vigario Bartholomeu com a Ulysses Caldas” (RESOLUÇÃO Municipal nº 167. A Republica, Natal, 31 dez. 1912.), pelo valor de seis contos de réis. A venda do imóvel, recentemente comprado, devia-se à necessidade dessa instituição de arrecadar verba para a construção de um novo cemitério no subúrbio da capital, segunda consta no artigo 2º da citada resolução.
O novo cemitério não veio; a cidade teve de se contentar com o já existente, no Alecrim, região da cidade tornada oficialmente bairro em 1911. De 1912 em diante, não temos mais resoluções que contem a história da peregrinação do Conselho de Intendência pelas ruas da cidade, em busca de uma sede própria. Mas, vemos pelos jornais que, em algum momento da década de 1910, a Intendência mudou-se para um prédio situado na esquina da Rua Ulysses Caldas com a Avenida Junqueira Ayres. O prédio, visto na imagem a seguir, era vizinho da farmácia Torres, do farmacêutico Joaquim Torres, personagem que também integrou o Conselho de Intendência.
O ano de 1919 parece ter sido mais um marcado por uma quase total inércia da Intendência. É isto pelo menos o que percebemos ao vermos nossa principal fonte, o periódico A Republica, que em suas folhas muito pouco traz sobre as ações da gestão municipal nesse ano. Vivia-se, certamente, mais um ano de dificuldades, de economias que visavam dotar a Intendência de uma nova sede.
No centenário da independência a cidade viveria mais mudanças, entre as quais a tão desejada construção da nova sede do poder municipal, a qual tantas vezes havia sido adiada em razão das dificuldades financeiras enfrentadas pela edilidade. O governo do estado e a Intendência preparavam a capital potiguar para aquela que seria, certamente, a maior comemoração até então já realizada pelo regime republicano.
“Eleito Vice-presidente [Fortunato Aranha], assumia imediatamente o exercício do cargo de intendente Intendente (atual prefeito) e , nesta missão, correspondia, fielmente, à expectativa da coletividade, executando uma administração exemplar. Tanto assim que, assumindo o compromisso do cargo dentro do “pardieiro” que servia de “palacete” à Edilidade transformava esse pardieiro no elegante e confortável prédio que abriga hoje a nossa Prefeitura”. (João Amorim Guimarães)
Amante dos livros, Fortunato Rufino Aranha possuía uma das maiores bibliotecas de Natal. Homem da cultura, por “pressão” dos amigos exerceu a presidência da Intendência Municipal, promovendo, segundo informa Deífilo Gurgel, a reforma e ampliação do prédio da Intendência Municipal, transformando-o no atual Palácio Felipe Camarão.
Antes da formação da comissão e do início de seus trabalhos, ainda no início daquele ano, a Intendência mandara publicar n’A Republica o edital de concorrência para a construção de sua nova sede. As propostas deveriam ser apresentadas até o dia 20 de janeiro e os proponentes deveriam seguir a planta do prédio já aprovada pelo governo municipal. Mas, os valores que a edilidade desejava pagar ao proponente vencedor da concorrência, certamente não eram muito atraentes, tendo em vista que nenhum candidato compareceu à Intendência dentro do prazo previsto. Diante disso, a municipalidade abriu novo edital, no final daquele mês.
A CONSTRUÇÃO
O dito prédio foi posto abaixo em 1922, na gestão do presidente Theodosio Paiva, tendo sido construído um novo no mesmo ano, dentro das comemorações do centenário da Independência do Brasil. Theodosio Paiva foi eleito presidente em 1919 para governar a cidade no triênio 1920-1922, mas em algum momento de seu governo afastou-se do cargo. Em 1922, quando o novo prédio foi inaugurado, era Fortunato Aranha, vice-presidente, quem estava à frente da Intendência. A nova sede era imponente por sua arquitetura e representava uma nova fase da Intendência, que vinha desde fins da década anterior reerguendo as suas finanças.
A partir desse ponto, a construção da nova sede do Conselho de Intendência é um mistério. Os jornais locais que pesquisamos, A Republica e A Imprensa, não publicaram nenhuma matéria que tratasse do erguimento do novo prédio do poder municipal, até a sua inauguração, no dia 7 de setembro.
O novo palacete da Intendência Municipal foi construído, foi construído em virtude de contrato com o Dr. Mario Lyra, lavrado a 7 de fevereiro de 1922 e assinado pelo Major Fortunato Rufino Aranha, Vice-Presidente em exercício. O preço da obra era de 128.490$000 ; o prazo de entrega foi agosto do mesmo ano.
O inicio da construção se verificou no dia 9 de fevereiro de 1922. A 3 de junho, levantada a ultima tesoura da coberta, pelo lado da rua da Conceição e a 5 de junho, erguida a cumeeira, havendo o embandeiramento que a solenizou a conclusão da obra, inaugurada a 7 de setembro, se efetuou a 9 de novembro de 1922.
Intendência Municipal resolveu, durante a construção, mudar as telhas comuns pelo telhado francês e, por isso, pagou de diferença a mais de preço R$. 5:200$000. Depois de construído o prédio e inaugurado, mandou se fazer a instalação de luz e tímpanos elétricos, todo o mobiliário novo, tapetes, alcatifo em toda a escadaria e todos os utensílios necessários á nova adaptação, tendo a Intendência gasto, na totalidade R$. 251:000$000, isto é, com o seu prédio, mobília e imateriais.
O inicio da construção se verificou no dia 9 de fevereiro de 1922. A 3 de junho, levantada a ultima tesoura da coberta, pelo lado da rua da Conceição e a 5 de junho, erguida a cumeeira, havendo o embandeiramento que a solenizou a conclusão da obra, inaugurada a 7 de setembro, se efetuou a 9 de novembro de 1922.
A Intendência Municipal resolveu, durante a construção, mudar as telhas comuns pelo telhado francês e, por isso, pagou de diferença a mais de preço R$. 5:200$000. Depois de construído o prédio e inaugurado, mandou se fazer a instalação de luz e tímpanos elétricos, todo o mobiliário novo, tapetes, alcatifo em toda a escadaria e todos os utensílios necessários á nova adaptação, tendo a Intendência gasto, na totalidade R$. 251:000$000, isto é, com o seu prédio, mobília e imateriais.
Nesta data e nas seguintes, até o dia treze desse mês, os jornais a que nos referimos tratam dos oito dias de comemoração programados pelo governo do Estado, com apoio do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e da Associação Comercial, nos quais ocorreram uma regata, uma festa veneziana, um corso de automóveis, uma exposição dos principais elementos da indústria local, além da inauguração do monumento da Independência, na Praça Sete de Setembro, ápice das comemorações. Sobre a inauguração do prédio na esquina da Ulisses Caldas com a Junqueira Ayres, os jornais serão contidos, descrevendo o ato em um parágrafo.
N’A Republica, vemos que Ás 12 horas, effectuou-se a inauguração do novo edifício da Intendencia Municipal, no seu antigo local, á rua Ulysses Caldas. Presentes o governador, secretario do Estado, membros do Tribunal e muitas outras auctoridades, em um salão do pavimento superior, e ao redor de uma mesa, o major Fortunato Aranha […] fez um discurso allusivo ao acto, saudando o exmo. dr. Antonio de Souza, o qual proferiu expressões congratulatorias, declarando inaugurado o edifício […].
Ata da inauguração do novo prédio Intendência Municipal de Natal: Aos sete dias do mês de setembro do ano de mil novecentos e vinte dois, nesta cidade de Natal Capital do Estado do Rio Grande do Norte, reunidos ás 12 horas, no n° edifício da Intendência Municipal de Natal. Estado e autoridades locais, chefes das repartições públicas, estaduais e federais, e o povo em geral, foi inaugurado o prédio onde vai funcionar a Intendência da Capital do Estado, em comemoração a passagem do Centenário da Independência do Brasil, (a) Eu Mario Eugênio Lyra, Secretário da Intendência Municipal, lavrei a presente ata, que vai assinada por todos os presentes e demais pessoas que visitarem o edifício.(aa) Antonio José de Mello e Sousa. Fortunato R. Aranha. Hemeterio R. Fernandes de Mello. Augusto Leopoldo da Câmara. P. Soares de Araujo. Mons. Alfredo Pegado. Sebastião Fernandes. Apolônio Seabra de Mello. Silvio Galvão de Miranda. Dr. Mario Lyra. Felizardo Toscano de Britto. Adv. Otávio Cavalcanti. Cícero Aranha. Solon Araújo. Josué Tabira. Diogo Alves Maia. José Arcoverde Cavalcante. Seguem se mais 202 assinaturas. Fonte: Revista do IHGRN, 1922, p.303.
É uma sólida construção de alvenaria, consta de dois pavimentos todo ladrilhado a mosaico e tendo um vasto pátio de entrada e escadaria. Na parte baixa, dividida em duas seções ficam á esquerda dois salões destinados ao serviço do Juíz e ás audiências dos juizados de direito locais, e á direita, a portaria, a fiscalização, o almoxarifado e instalações sanitárias. Na parte superior, ou primeiro andar, está a sala das sessões da Intendência, o gabinete do Presidente e o do Secretario, á esquerda oeste, e á direita, tesouraria, sala técnica e contadoria. A fachada monumental do edifício oeste no belo escudo municipal e a inscrição: intendência Municipal.
Com o objetivo de acabar com o dispêndio de aluguel de prédios que abrigam diversas secretarias municipais e impulsionar o crescimento da Zona Norte de Natal, o poder executivo municipal pretende construir o novo Centro Administrativo Municipal, que engloba a nova sede da Prefeitura, secretarias e Câmara Municipal, no bairro da Redinha, próximo a Ponte Newton Navarro, no terreno entre a rotatória da ponte e o Rio Doce, afluente do Rio Potengi.
HOMENAGEM AO HERÓI INDÍGENA
A sede da Prefeitura recebeu o nome de “Palácio Felipe Camarão” através da Lei 359/A, de 1955, em homenagem ao índio Poti, que era o chefe dos Potiguares, tribo que habitava as margens do Rio Potengi. Felipe Camarão, filho de Potiguaçu, um dos maiorais potiguares à época da conquista da capitania do Rio Grande, foi um dos grandes nomes da resistência portuguesa contra os holandeses, como o seu pai, que recebera o nome de Antônio Camarão na pia batismal, também fôra um grande aliado dos lusitanos.
Antônio Filipe Camarão, nascido Poti ou Potiguaçu (Nordeste do Brasil c. 1600/1601 — Recife, 24 de agosto de 1648), foi um militar de nacionalidade portuguesa e de naturalidade brasileira, a serviço do Império Português, tendo sido também um líder indígena. Chefe nativo dos índios potiguares, foi um dos heróis da Batalha dos Guararapes, episódio decisivo da Insurreição Pernambucana. Recebeu o título de “Capitão-Mor de Todos os Índios do Brasil”. O primeiro nome, em homenagem ao santo do dia; o segundo, ao rei de Portugal; e o terceiro, representa a tradução da palavra indígena Poti.
A data e local do nascimento são controversos entre os historiadores. Existe uma versão que Antônio Filipe Camarão nasceu entre os anos de 1600 e 1601 na região da comunidade de Raposa, distrito do até então município de Extremoz, localidade pertencente ao atual município de Ceará-Mirim por força de sua emancipação política deste em 1858, localizada na Capitania do Rio Grande, atual estado do Rio Grande do Norte. Tinha, como nome de nascença, Poti ou Potiguaçu, nomes tupis que significam, respectivamente, “camarão” e “camarão grande”. Ao ser batizado e convertido ao catolicismo em 1614, na antiga Igreja de São Miguel (Extremoz), recebeu o nome de Antônio e adotou o “Filipe Camarão” em homenagem ao soberano dom Filipe II (1598-1621).
Outra versão coloca que nasceu em 1600 na aldeia de Vila Velha, em Igapó, em Natal, então Capitania do Rio Grande, pertenceu a grande tribo dos potiguares. Em 1612 foi catequizado e batizado juntamente com a sua esposa Clara Camarão passando a chamar-se Antônio Felipe Camarão em homenagem ao soberano D. Filipe II (1598-1621).
Ainda há registro que a aldeia de Felipe Camarão (nome adotado pelo chefe indígena após seu batismo), localizava-se nas proximidades da praia da Redinha, no atual bairro salinas. Cascudo (1968), informa a existência de documentos citando este topônimo datados do primeiro terço do século XVIII.
O fato é que Antônio Felipe Camarão nasceu provavelmente no período da conquista do Rio Grande, pois como ele mesmo afirmara contava 46 anos em 1647. Nascido no Rio Grande “foi ‘criado e doutrinado’ na aldeia de São Miguel ou Meretibe em Pernambuco, pelos franciscanos” (LOPES, 2003, p. 74).
Educado pelos jesuítas, era ele, segundo frei Manuel Calado, “destro em ler e escrever e com algum princípio de latim”; considerava de suma importância a correção gramatical e a pronúncia do português, “era tão exagerado em suas coisas, que, quando fala com pessoas principais, o fazia por intérprete (posto que falava bem o português) dizendo que fazia isto porque, falando em português, podia cair em algum erro no pronunciar as palavras por ser índio”. Seu trato era comedido e “mui cortesão em suas palavras e mui grave e pontual, que se quer mui respeitado”.
Ao longo de sua vida, ele teve bom trâmite com indígenas e portugueses, tentando unir os interesses das duas partes.
Felipe Camarão foi fiel a aliança feita pelo seu pai, empenhando-se na luta empreendida pelos portugueses para consolidar as conquistas na costa nordeste do Brasil. Já em 1625, participara de uma guerra movida pelos portugueses contra os índios de sua própria “nação” que haviam se aliado aos holandeses que dominaram a Bahia em 1625. Depois guerreou contra “mocambos de negros” e novamente contra os holandeses em Pernambuco entre 1630 e 1648.
No contexto das invasões holandesas do Brasil, auxiliou a resistência organizada por Matias de Albuquerque desde 1630, como voluntário para a reconquista de Olinda e do Recife. À frente dos guerreiros de sua tribo, organizou ações de guerrilha que se revelaram essenciais para conter o avanço dos invasores.
Os potiguares, índios do litoral, pertenciam à nação tupi-guarani. Esses índios, através da liderança de seus chefes, entre os quais destaca-se Poti, eram aliados dos portugueses. Sua importância na colonização foi tão acentuada que o governo português concedeu ao índio Poti, já cristianizado, o título de D. Antônio Felipe Camarão. Sua mulher, Clara Camarão, chegou a arregimentar índias para combater os holandeses. Os índios que não fossem da nação tupi-guarani eram genericamente chamados de tapuias. Os cariris eram tapuias famosos pela sua ferocidade (Citando Estevão Pinto, Tarcísio Medeiros (1973, p. 54) diz que cariris e tapuias não correspondem à mesma categoria indígena.).
Felipe Camarão se destacou nas lutas para expulsão dos invasores holandeses na capitania de Pernambuco. Combateu os holandeses e escaramuçou com os invasores do Rio Grande do Norte até a Bahia.
Camarão juntamente com sua mulher Clara foram voluntários aliados aos portugueses e considerados heróis em função da bravura demonstrada contra os holandeses nas batalhas de: São Lourenço (1636), Porto Calvo (1637), Mata Redonda (1638), Guararapes (1648) além da defesa de Salvador (1638) atacada por Maurício de Nassau.
Distinguiu-se, na primeira, comandando a ala direita do exército rebelde na Primeira Batalha dos Guararapes (1648), reconhecido como herói a serviço da Coroa Portuguesa, foi agraciado e condecorado pelo Rei D. João IV, em 16 de maio de 1633, com a mercê de “Dom”, nomeado “Cavaleiro da Ordem de Cristo”, o “foro de fidalgo com brasão de armas” e o título de “Capitão-Mor de Todos os Índios do Brasil” e , um soldo de quarenta cruzadas e a patente de Capitão mor de todos os índios do Brasil. A partir daí, usar a palavra Dom, antes do nome, como indicativo de nobreza. Recebeu ainda a comenda dos Moinhos de Soure, do mesmo rei de Portugal.
Morreu no Arraial Novo do Bom Jesus (Pernambuco), em 24 de agosto de 1648, em consequência de ferimentos sofridos no mês anterior, durante a Batalha dos Guararapes. Após a sua morte, foi sucedido no comando dos soldados insurgentes indígenas por seu sobrinho dom Diogo Pinheiro Camarão.
Dom Antônio Felipe Camarão Morreu no Arraial Novo do Bom Jesus (Pernambuco), em 28 de agosto de 1648, em consequência de ferimentos sofridos no mês anterior, durante a Batalha dos Guararapes. Após a sua morte, foi sucedido no comando dos soldados insurgentes indígenas por seu sobrinho dom Diogo Pinheiro Camarão.
O Palácio Filipe Camarão, sede da prefeitura de Natal, e um bairro da mesma cidade, homenageiam o seu nome. Da mesma forma, o Exército Brasileiro denomina a Sétima Brigada de Infantaria Motorizada como Brigada Filipe Camarão.
Em 6 de agosto de 2012, a Lei Federal 12 701, reconhecendo sua importância na história do Brasil, determinou que o nome de Antônio Filipe Camarão fosse inscrito no Livro de Heróis da Pátria (conhecido como “Livro de Aço”), depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, um cenotáfio que homenageia os heróis nacionais localizado na Praça dos Três Poderes, em Brasília.
Seus restos mortais encontram-se sepultados na Imperial Igreja de Nossa Senhora do Rosário no bairro da Várzea em Recife, capital do estado de Pernambuco.
BAIRRO DE FELIPE CAMARÃO
Anteriormente, esta localidade se chamava Peixe-Boi devido a presença deste peixe nos mangues do rio. O nome Felipe Camarão, dado ao bairro, é em homenagem ao índio Poti, Antonio Felipe Camarão, que se destacou no combate a invasão holandesa.
É um bairro da zona oeste da cidade do Natal, no estado do Rio Grande do Norte. Sendo o segundo maior bairro de Natal e um dos mais populosos tem uma grande participação histórica pelo seu nome referente a um importante índio potiguara que lutou na invasão dos holandeses. Em meados de 2009-2015 o bairro era bastante temido entre a população de Natal, pelo elevado número de assassinatos registrados, gerando a fama de “Bairro Perigoso”. Nos Dias atuais o bairro encontra-se em grande desenvolvimento imobiliário e industrial, devido a grande proximidade do município de Macaíba e por estar presente em grande parte da zona oeste da capital.
O nome do bairro é uma homenagem a Antônio Filipe Camarão, índio casado com a indígena Clara Camarão, norte-rio-grandense, da tribo potiguara, que se destacou no combate junto com os portugueses ao invasor holandês. Anteriormente, era a localidade de Peixe-Boi causada pelo aparecimento de um grande peixe no manguezal que existe no bairro.
RUA FELIPE CAMARÃO
A Rua Felipe Camarão fora também chamada no final do século XIX de “Rua do Catorze”, em função da presença em 1897 de soldados do 14º Batalhão de Infantaria com sede na Paraíba. Eles vieram substituir temporariamente o 34º Batalhão do RN que havia se deslocado para a Guerra de Canudos. Os paraibanos provocaram muitas arruaças e confusões que marcaram negativamente suas presenças.
As administrações do Intendente Municipal, Gentil Ferreira, e do Governador do Estado, Rafael Fernandes Gurjão, resultariam em diversos melhoramentos materiais em Natal, porém, não em relação à infraestrutura dos bondes. Podemos chamar esse período de “quarto momento de modernização” de Natal. Durante a gestão Gentil Ferreira é dada continuidade ao calçamento dos logradouros, como as ruas Felipe Camarão, Acre e Correia Teles, além disso, são construídas diversas estradas no município, como a estrada para Ponta Negra, já quase concluída em 1936 (NATAL…, 1936).
Chamava-se Bica da Telha a região que se prolongava após o término da atual Rua Felipe Camarão, onde se localizavam as instalações do antigo Saneamento, atual CAERN.
No início da década de 1980 um projeto da Prefeitura acirrou os ânimos entre lojistas, camelôs e a população, o projeto compreendia a construção de um calçadão que seria instalado na Rua João Pessoa até a Rua Felipe Camarão, incorporando também a Praça Kennedy. A Rua Princesa Isabel compreenderia o trecho dos cruzamentos com a Rua Ulisses Caldas até a Rua General Osório. Além desses trechos o calçadão incluiria a Rua Coronel Cascudo, da Deodoro até a Rua José Ivo (DIÁRIO, 05.01.1985: 5).
CAFÉ POTIGUARÂNIA
Localizamos o Potiguarânia na topografia da cidade do Natal nos últimos anos do século XIX. Fundado em 19 de julho de 1894, o Potiguarânia é identificado como a “casa de diversões mais importante” do bairro da cidade Alta, localizado na Rua Ulisses Caldas, número 101. Foi no “antigo e acreditado estabelecimento recreativo que constituiu-se o centro das mais agradaveis diversões não para innumeros freguezes, como também para muitas Exmas. famílias” (A República. Natal, 1 jul. 1900.), cujo os poetas e os prosadores da cidade do Natal do século XIX costumavam se reunir.
O nome do café fazia alusão ao chão norte rio-grandense, terra do índio Poti Felipe Camarão: a potiguarânia. Essa não foi a primeira vez que o nome “Potiguarânia” foi usado para fazer referência ao Rio Grande do Norte. Em 1890, um jornal voltado à discussão de questões modernas, também carregava no título a alusão à terra do índio Felipe Camarão, da tribo Poti. Para mais informações sobre o jornal: MELO, Manoel Rodrigues de. Op. Cit., p. 96.
No que respeita às práticas recreativas, o Potiguarânia é identificado como casa de bilhar, em que “de lá saíram os melhores jogadores de bilhar” (Wanderley, Jaime dos G., Op. Cit., p. 92.). Nos fins do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, as casas de bilhar difundiramse nos bairros da Ribeira e da Cida Alta. Tal ambiente destinava-se à prática de jogos associando a diversão ao desejo de promover espaços necessários a uma capital em progresso, uma vez que o bilhar era considerado como uma espécie de jogo aristocrático (SILVA, Maiara Juliana Gonçalves da. Natal sob o olhar de o Olofote: cenas urbanas na cidade em 1919. Revista Cordis: Comunicação, Modernidade e Arquitetura.Op. Cit.p. 287-319.). Logo, o Potiguarânia passou a ser a casa de diversão dos fidalgos natalenses.
O estabelecimento reuniu indivíduos como José Pinto, Celestino Wanderley, Segundo Wanderley, Uldarico Cavalcanti, Aurélio Pinheiro, Antônio Marinho, Pedro de Alcântara Melo, Francisco Palma e outros grupos de “gente moça trocando ideia sobre jornalismo, arte, enfim, tudo que no momento atraísse a atenção da cidade” (Melo, Pedro de Alcântara Pessoa de. Op. Cit. p. 16.). No entanto, o café era frequentado pela “finesse natalense” (Wanderley, Jaime dos G. Op. Cit. p. 93). O Potiguarânia vedava a entrada, na porta, dos fregueses que não convinham, compondo assim uma freguesia escolhida.
No ano de 1919, o proprietário Ezequiel Wanderley encerrou as atividades do café Potiguarânia. O literato vendeu o estabelecimento para Urbano Benjamim Simonete. Simonete, por sua vez, transformou a Potiguarânia em Magestic.
FONTE:
A eletricidade chega à cidade: inovação técnica e a vida urbana em Natal (1911-1940) / Alenuska Kelly Guimarães Andrade. – 2009.
Além das xícaras: a construção do Café São Luiz como lugar de memória em Natal (1950-1980)/ Augusto Bernardino de Medeiros – Natal, RN, 2013
Anuário Natal 2009 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN): Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2009.
Anuário Natal 2007 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN): Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2008.
Caminhos que estruturam cidades: redes técnicas de transporte sobre trilhos e a conformação intra-urbana de Natal / Gabriel Leopoldino Paulo de Medeiros. – Natal, RN, 2011.
Dos bondes ao Hippie Drive-in [recurso eletrônico]: fragmentos do cotidiano da cidade do Natal/ Carlos e Fred Sizenando Rossiter Pinheiro. – Natal, RN: EDUFRN, 2017.
“Em cada esquina um poeta, em cada rua um jornal”: a vida intelectual natalense (1889-1930) / Maiara Juliana Gonçalves da Silva. – Natal, RN, 2014.
Filipe Camarão – Wikipédia – https://pt.wikipedia.org/wiki/Filipe_Camar%C3%A3o – Acesso em 23/02/2022
História da Arte Potiguar: Arquitetura Eclética – Natal das Antigas – https://www.nataldasantigas.com.br/blog/arquitetura-ecletica-no-rio-grande-do-norte – Acesso em 22/02/2022.
História do Rio Grande do Norte / Sérgio Luiz Bezerra Trindade. – Natal: Editora do IFRN, 2010.
História do estado do Rio Grande do Norte /Rocha Pombo. – Natal: EDUFRN, 2019.
Natal: história, cultura e turismo Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. – Natal: DIPE – SEMURB, 2008.
Natal Não-Há-Tal: Aspectos da História da Cidade do Natal/Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo; organização de João. Gothardo Dantas Emerenciano. _ Natal: Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2007.
Natal, outra cidade! [recurso eletrônico] : o papel da Intendência Municipal no desenvolvimento de uma nova ordem urbana na cidade de Natal (1904-1929) / Renato Marinho Brandão Santos. – Natal, RN : EDUFRN, 2018.
O nosso maestro: ciografia de Waldemar de Almeida / Clúdio Galvão. – Natal: EDUFRN, 2019.
O PALACETE DA INTENDÊNCIA DE NATAL – Crônicas taipuenses – https://cronicastaipuenses.blogspot.com/2019/05/o-palacete-da-intendencia-de-natal.html – Acesso 22/02/2022
Palácio Felipe Camarão – Wikipédia, a enciclopédia livre. – https://pt.wikipedia.org/wiki/Pal%C3%A1cio_Felipe_Camar%C3%A3o acesso em 22/02/2022.
Palácio Felipe Camarão – Prefeitura de Natal – https://www2.natal.rn.gov.br/natal/ctd-670.html – Acesso em 22/02/2022.
BIBLIOGRAFIA:
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NESI, Jeanne Fonseca Leite. . Natal Monumental. Natal: Fundação José Augusto,1994.
LOPES, Fátima Martins. Índios, colonos e missionários na colonização da capitania do Rio Grande do Norte. Mossoró: Fundação Vingt-um rosado; Natal: Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, 2003.
WANDERLEY, Jaime dos G. É tempo de recordar. Natal/RN: Fundação José Augusto, 1984.