Uma foto, uma história de Natal para o mundo
A foto mais icônica da cidade de Natal no período da Segunda Guerra Mundial reserva surpresas e coloca a verdade sobre uma vasta confusão entre os historiadores sobre o local de onde o registro foi realizado, o contexto e autor. O Fatos e Fotos de Natal Antiga não poderia deixar passar esta história em branco. Nossa página dada a contar a história da cidade de Natal em farto registro fotográfico vai publicar como e quando uma única foto ganhou o mundo em um dos períodos mais confusos e violentos da humanidade.
Primeiro vamos abordar uma reportagem do saudoso Diário de Natal, no caderno Cidades, de 26 de junho de 2001, que publicou uma matéria com o título “Personagem da guerra” na qual reponde algumas das inquietações sobre a questão. Acompanhem abaixo:
Diário de Natal
Cidades
26 de junho de 2001
Personagem da guerra
A menina da janela no casarão da Rio Branco, é ex-aluna do Neves e aos 73 anos mora no Rio de Janeiro
Milena de Macedo – Repórter de Cidades
A procura pela moça da janela do casarão da avenida Rio Branco, registrada na foto de Ivan Dimitrí, durante a Segunda Guerra Mundial, em Natal, acabou. Lydia Capistrano Simões, 73 anos, foi localizada residindo no Rio de Janeiro. Por telefone, Lydia narrou algumas lembranças dos tempos de Guerra. “Morei 16 anos naquela janela”, relembra.
Na época Lydia Capistrano Simões tinha 14 anos quando, em um dia não lembrado do ano de 1942, um jipe lotado de americanos parou diante da casa da menina de cabelos claros, na avenida Rio Branco. “Desceu um rapaz que falava muito bem o português (Lydia não sabia, mas era Ivan Dimitri) e me pediu para posar na janela para uma fotografia enquanto os militares se despediam de mim. Provavelmente eles eram soldados em trânsito pela cidade e queriam marcar sua passagem”, relata.
Lydia se diz lisonjeada pelo sucesso da foto, mas abre uma exceção. “Em algumas reportagens, ficou subentendido que eu me divertia com os americanos. Mas pelo contrário, eu nem os conhecia. Não namorei nenhum americano. Casei-me com um brasileiro. Apenas dançávamos bastante nas festas e fizemos alguns laços de amizade. Mas foi só isso. Naquela época estudava no colégio das Neves e meu pai era uma fera”.
De fato, a presença dos rapazes americanos em Natal criou uma expectativa nas moças potiguares. “Elas sonhavam com o modo de vida americano. Muitas natalenses se casaram com os jovens estrangeiros. Mas as incertezas da guerra afastaram muitas histórias de amor e impediram a consolidação de boas amizades, pois os soldados americanos iam para o front e podiam nunca mais voltar”, acrescenta Vânia.
Dona Lydua contou ainda que aceitou ser fotografada porque tinha um sentimento patriótico intenso. “Por isso permiti a fotografia. Inclusive, em cima do piano da nossa casa tinha uma foto minha com Getúlio Vargas e o presidente americano Franklin Roosevelt”.
Para saber mais
A guerra em Natal
Depois da reportagem de O POTI, no dia 3 de junho deste ano, na qual a história dos anônimos natalenses participantes daquele período histórico foi trazida a tona, a fotografia da moça na janela tem percorrido o mundo. Primeiro na edição de junho da revista National Geographic, numa reportagem sobre o ataque japonês a base americano de Pearl Harbor e ganhou o mundo nas páginas do jornal The New York Times, também noticiando o mesmo fato.
Nota do Editor: reproduzimos ainda nesta postagem citado texto da revista National Geographic.
Tensão e progresso de uma época
A irmã de Lydia, Vânia Capistrano Monte, com 6 anos de idade no fim da guerra, também relembra o período no qual Natal sentiu bem de perto o temor de uma guerra. “Vivíamos em permanente estado de tensão. Ouvíamos muito rádio e sabíamos tudo que acontecia nos Estados Unidos. Lembro-me dos blackouts quando tudo se apagava em simulações de guerra. Corríamos todos para debaixo da cama”, conta Vânia nostálgica.
Mas aquele período de conflito trouxe enormes mudanças para Natal. “O progresso chegou na cidade com muita força. Tanto econômico quanto socialmente. As festas eram frequentes, na base e no aero-clube. Eu ia a muitas delas pois tinha amigas filhas de oficiais e o meu pau era sócio do clube”, relata Lydia.
Casarão descaracterizado
A casa número 795, na avenida Rio Branco, agora famosa no mundo inteiro, era de propriedade de Sandoval Capistrano e atualmente faz parte do inventário da família, em trâmite na justiça há 20 anos. Um ato de vandalismo, na ultima semana, deixou a residência histórica sem as janelas e completamente descaracterizada. A última fotografia da casa ainda com a fachada original saiu numa reportagem de O POTI ,no dia 3 de junho deste ano, contanto a história de Natal no tempo da Segunda Guerra Mundial. Através dela, a família de Lydia ainda residente em Natal identificou a parente e procurou o historiador Leonardo Barata para contar a história.
NATAL: UMA CIDADE POÉTICA NA 2ª GUERRA MUNDIAL
Texto reproduzido integralmente da NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL Edição 14/ Junho de 2001
Alvamar Furtado de Mendonça não se esquece da noite quente e estrelada de 8 de maio de 1945. Jovem morador de Natal, recém-formado em direito, ele fora convidado para elaborar um discurso no Dia da Vitória, parte de uma cerimônia de celebração do fim da Segunda Guerra no Teatro Carlos Gomes.
Da Times Square, em Nova York, à praça Vermelha, em Moscou, multidões em êxtase comemoravam a data. Alvamar vestiu sua melhor roupa e escolheu bem as palavras, mas, na hora em que espiou do palco, teve um choque: a platéia, estranhamente, estava quase vazia. Os organizadores do evento, em pânico, saíram pelo bairro da Ribeira e recrutaram uma legião de transeuntes – mendigos, boêmios, prostitutas – para ocupar ao menos uma parte dos 600 lugares disponíveis. Alvamar enfim falou, mas um tom melancólico já tomara conta do teatro, das ruas, das pessoas. A cidade parecia estar de luto. Porque a guerra havia acabado.
Assim foi a Segunda Guerra em Natal: um tempo de emoções intempestivas, de alegrias e tristezas fora de hora e de contexto. Entre 1942 e 1945, ali funcionou o principal quartel-general dos países aliados no hemisfério sul. Por sua localização, no extremo nordeste da América do Sul, a capital do Rio Grande do Norte é uma das cidades brasileiras mais próximas do continente africano – 3 horas de vôo em jatos de hoje. Por isso ela era uma “ponte” entre os Estados Unidos e a Europa, uma escala obrigatória para todos os vôos que seguiam rumo à África ou aos combates no Atlântico Sul. Outras bases controladas por americanos seriam montadas no Brasil, do Amapá a Santa Catarina, mas nenhuma delas rivalizou em movimento e importância com o Campo de Parnamirim e a Base Naval de Hidroaviões, os dois núcleos militares de Natal durante a guerra.
Em 1943, no auge dos conflitos no Atlântico, Parnamirim era o mais congestionado aeroporto do planeta, com até 800 pousos e decolagens num dia de pico. Natal era tão decisiva que ficou conhecida como a “encruzilhada do mundo”.
A capital potiguar, contudo, jamais foi palco de qualquer combate. Os submarinos alemães não se aproximaram da cidade e nenhuma bomba inimiga foi lançada sobre suas belas praias ou ruas. Os únicos tiros ouvidos eram de treinamentos rotineiros dos americanos. A tensão da guerra estava no ar, o.k., mas os momentos mais assustadores foram, na prática, os exercícios de defesa civil, como os blecautes. Apesar da óbvia falta de estatísticas oficiais sobre o assunto, Natal foi, com certeza, o lugar de melhor qualidade de vida para um soldado na guerra. Os quase 50 mil natalenses da época, por sua vez, puderam descobrir um mundo de novidades. “As pessoas cantarolavam jazz nas ruas. A vida aqui era diferente, sofisticada, uma festa”, lembra-se Alvamar Furtado, hoje com 86 anos.
Natal tornou-se a cidade mais badalada do Nordeste. Os cinemas militares, não raro, e sem que ninguém soubesse fora dali, recebiam convidados especialíssimos: os próprios astros de Hollywood. “Humprey Bogart voou de Marrocos para animar uma sessão de Casablanca no teatro aberto da base de hidroaviões. Os artistas eram comissionados para viajar pelos fronts do mundo todo. A presença deles servia para elevar o moral das tropas”, diz o historiador local José Melquíades, de 76 anos. Bette Davis, lembra-se ele, também visitou Natal. E a orquestra de Glenn Miller tocou no Cine Rex.
Para imaginar como foram aqueles anos loucos em Natal, é preciso observar a guerra como um momento de liberação, um evento protagonizado por uma legião de jovens reprimidos que nunca haviam saído de rincões rurais como Arkansas, Nevada ou Montana. De repente, no meio do horror de um conflito mundial, eles se descobriram num lugar amistoso, tropical, encantador. O mar, a luz, as relações pessoais, tudo era novo em suas vidas. Por vias tortas – a guerra –, eles foram encaminhados ao paraíso.
Os branquelos gastavam seus dias de folga em banhos de mar nas praias de Areia Preta, Ponta Negra ou num outro trecho da orla, menor e mais reservado, que foi batizado Miami. Muitos pagaram um preço salgado pelo programa – terríveis queimaduras de sol –, mas pode-se dizer que eles inauguraram as belezas naturais que, décadas depois, iriam consagrar Natal: o mar verde, quente e calmo, as dunas mutantes, o vento perene. Os natalenses tinham o hábito de ir à praia apenas na “temporada de banhos”, as férias, entre dezembro e janeiro. Nos dias da guerra, eles descobriram que sua rotina poderia ser bem mais agradável.
Os soldados, apesar da influência de seus hábitos, não foram pioneiros. Natal já havia testemunhado a conquista do Atlântico pelos raids aéreos, vôos exploratórios que demonstraram a viabilidade das travessias oceânicas – em 1933, Charles Lindbergh amerissou ali vindo da África. Companhias internacionais de correio aéreo basearam-se nas margens do rio Potengi bem antes da guerra. Nos anos 60 a cidade inaugurou a primeira rampa de lançamentos de foguetes da América do Sul, a Barreira do Inferno. “A história de Natal está ligada ao desejo de voar”, pensa o sociólogo Leonardo Barata, que trabalha na montagem de um museu sobre os antigos aviadores e a Segunda Guerra. Desde 1997 ele já passou oito meses confinado em arquivos federais de Washington, D.C., e do Alabama rastreando imagens raras e documentos confidenciais.
Barata resgatou quase 70 quilos de papéis que jogam um pouco de luz sobre um capítulo obscuro da história do Brasil. De acordo com um documento do Serviço de Inteligência Naval americano, as forças do Eixo (Alemanha, Japão e Itália) possuíam, em 1940, 2 mil bombardeiros em condições de invadir o Nordeste brasileiro – se Hitler tivesse conquistado o norte da África, Pearl Harbor poderia ter sido em Natal. O Departamento de Guerra dos EUA considerava a cidade um dos quatro pontos mais estratégicos do mundo, comparada ao estreito de Gibraltar e aos canais de Suez e Dardanellos, todos no mar Mediterrâneo. Diante da “posição política dúbia” do governo brasileiro, vários planos de invasão do Rio Grande do Norte chegaram a ser elaborados pelos americanos. Em agosto de 1942, o Brasil enfim declarou guerra ao Eixo, depois de vários navios mercantes terem sido atacados por submarinos alemães, com quase 700 mortes. Os Aliados já estavam a postos.
Em 11 de dezembro de 1941, apenas quatro dias depois do ataque japonês a Pearl Harbor, nove hidroaviões amerissaram no rio Potengi para reforçar uma tropa de observadores já baseada na cidade.
O Natal de 1943 registrou um movimento recorde: cerca de 5 mil militares acantonados e 5 mil em trânsito na cidade. Acidentes aéreos, muitos deles com vítimas fatais, tornaram-se freqüentes. Parnamirim era um lugar tão agitado que, em julho do mesmo ano, foi construída ali uma fábrica da Coca-Cola – a primeira da América Latina e a quarta do mundo, depois dos Estados Unidos, do Canadá e da Inglaterra. Uma lanchonete e uma cervejaria, a PX Beer Garden, abririam suas portas no mesmo dia. Para celebrar, o comando do campo organizou uma festa com shows, hambúrgueres e cerveja gelada, tudo de graça. Tinha tudo para ser um evento histórico – e foi, só que contra todas as previsões. Os convidados tomaram todas, quebraram garrafas, depredaram a lanchonete e destruíram as plantas de um jardim vizinho. Nos meses seguintes, os soldados fartaram-se do refrigerante, mas a promissora cervejaria fechou as portas para nunca mais.
No embalo dessa euforia estrangeira, os natalenses tornaram-se, digamos, brasileiros de vanguarda. Bebiam Coca-Cola e chocolate gelado. Fumavam Marlboro e Lucky Strike. Mascavam chicletes de tutti-fruti. Os homens aboliram a vestimenta formal do dia-a-dia e adotaram roupas cáqui, de inspiração militar-esportiva. Ou jeans. Aprenderam a tratar-se como “My friend!”, a comer um lunch, a dançar foxtrote. No supermercado de Parnamirim, um dos maiores do mundo, os negócios chegaram a girar 50 mil dólares num único dia. Viver na capital do Rio Grande do Norte era, enfim, um grande barato. “Natal era como uma moça pudica que, da noite para o dia, arrumou um namorado liberal, escolado. Éramos muito conservadores. Os gringos ensinaram nossas garotas a beijar!”, lembra-se Protásio Pinheiro de Melo, 86 anos, um dos raros natalenses vivos que viram de perto o cotidiano das bases. Autodidata e com inglês fluente, ele era professor de português dos soldados.
Ganhava em dólar para ensinar a eles apenas o bê-á-bá da convivência social – cortejar uma garota, por exemplo.
De fato, as moças ditas pudicas de Natal namoraram como nunca durante a guerra. Os soldados gozavam de status na sociedade local, mas, com a gritante desproporção demográfica, eles foram obrigados a abdicar de qualquer parâmetro estético. Belas, feias, altas, baixas, gordas ou magras, todas se deram bem. “Foi um período bem complicado para os rapazes daqui. Não havia moças solteiras na cidade”, completa o professor Protásio. As mulheres, que antes só saiam de casa acompanhadas dos pais ou irmãos, eram convidadas vips dos bailes dos clubes militares. Foi a classificação desses eventos – for all (para todos) – que semeou um dos dogmas da guerra: o termo forró. Alguns historiadores contestam. Para eles, a palavra teria origem em “forrobodó”, os bailes populares onde se dançava essa variante do baião.
Os soldados cumpriam todos os protocolos para conquistar as cobiçadas moças solteiras de Natal. Algumas histórias de amor acabaram bem, caso do sargento Donald Wroblewski, que se casou com Guiomar Gomes e ficou na cidade. Na calada da noite, porém, oficiais e praças seguiam em bandos para os diabólicos bordéis de Natal. O quadrilátero do sexo era formado pelas ruas Doutor Barata, Chile, Tavares de Lira e Frei Miguelinho, na Ribeira, perto do porto. As madrugadas ferviam em prostíbulos como o Wonder Bar, a Casa da Maria Boa, a Pensão da Estela e o Bar Ideal – os preços das mulheres dali eram os mais baixos de toda a América Latina. O índice de doenças venéreas cresceu tanto que grupos de soldados passavam semanas de cama, afastados das operações. Foi preciso uma intervenção oficial, em caráter de urgência. Para as garotas saudáveis da zona do meretrício, os médicos americanos emitiam atestados de saúde, os famosos love cards.
Natal pode ser considerada o berço do imperialismo americano no Brasil, um laboratório do modelo cultural que o país iria adotar nas décadas seguintes. Naqueles loucos anos, contudo, essa era uma leitura impossível mesmo para o mais informado morador da cidade. Na prática, muita gente viu na guerra apenas uma chance de ganhar um bom dinheiro – em notas bem verdinhas, diga-se. A economia local passou por uma enorme transformação: o custo de vida aumentou, o dólar virou moeda corrente no lugar do mil-réis, havia mercados e valores diferentes para brasileiros e americanos. Muita gente fez fortuna. Theodorico Bezerra, dono do Grande Hotel, encheu os bolsos abrigando a elite dos oficiais estrangeiros. A viúva Machado, dona das terras onde foi erguido o Campo de Parnamirim, idem. Maria Boa, a cafetina, não deixou por menos.
Os dólares em circulação geraram cobiça e episódios ridículos. Por um tempo, alguns natalenses conseguiram vender urubus depenados como se fossem galinhas para o centro de provisões de Parnamirim. Pior era feito com os sagüis, bicho de estimação favorito dos militares. As crianças embebedavam o pequeno primata, que, parecendo ser manso, passava a ter melhor cotação. Os soldados sempre acabavam no prejuízo, pois os animais ficavam indóceis e fugiam assim que despertavam do pileque.
Outra folclórica interferência dos brasileiros no way of life dos soldados viria pelos pés. Logo nos primeiros dias em Parnamirim, os estrangeiros começaram a reclamar da falta de vegetais no cardápio. Na região de Natal, na época, havia pouca agricultura e era difícil encontrar folhas ou legumes em quantidade. A saída foi montar uma horta nas margens de uma lagoa. Os comandantes escolheram para a empreitada soldados com comprovada experiência agrícola, vindos do Tennessee, no sudeste dos Estados Unidos. Mas um novo problema surgiu: as botas militares revelaram-se desconfortáveis demais para o trabalho no campo.
O jovens não desanimaram. Levaram uma foto de uma tradicional bota rancheira americana para Severino Edízio de Silveira, o melhor sapateiro da cidade. Ele analisou o modelo, concebeu uma versão mais leve, caprichou. Resultado: as botas fizeram tanto sucesso que mesmo os soldados que não trabalhavam na horta acabaram aderindo. Todos os que chegavam a Natal, mesmo em trânsito para outros países, logo adquiriam o seu par. A fama correu o mundo, principalmente nos territórios tropicais classificados como “cinturão da malária”. Nos fronts, soldados se identificavam pelos pés – as botas indicavam quem havia passado por Natal. Encomendas chegavam à cidade de destinos impensados, como as ilhas do Pacífico, congestionando as linhas de rádio em momentos tensos, quando se desenrolavam combates no meio do Atlântico. Um caos. O comando de Parnamirim teve de regulamentar o comércio dos calçados, mas Edízio continuou a fabricá-los para os natalenses até sua morte, em 1982.O controle das bases dos Aliados foi transferido aos militares brasileiros em 5 de outubro de 1946, numa discreta cerimônia em Parnamirim. Aos poucos a euforia da guerra esmaeceu. A população da então famosa Natal saltou de 50 mil para 400 mil moradores e, por alguns anos, a cidade ainda sustentou-se como a mais importante do Nordeste, antes de ser ofuscada por centros como Recife e Salvador. Hoje, no rio Potengi, onde tudo começou, a vagareza dos barcos de pesca imprime à paisagem um tom bucólico que não combina com as aventuras radicais dos pioneiros aviadores que pousaram em suas águas . Perto dali, prostitutas insistem em sondar os marinheiros estrangeiros que ainda perambulam pelas noites decadentes da rua Chile, na beira do cais. Parece que todo o glamour ficou no passado.