Praia da Montagem, Limpa

Bairro de muitas histórias, antes de ser Santos Reis foi Praia da Limpa e Praia da Montagem. Na verdade estes dois topônimos se confundem, quando nos referimos a limites. Conforme Melquíades (1999, p.117), “toda a extensão de terra do Canto do Mangue até a Campina do Forte chamava se vulgarmente Limpa”. Sobre a origem destes nomes prossegue o pesquisador, “o local onde se construiu a residência do engenheiro chefe (do Ministério de Viação e Obras Públicas), passou a se chamar Montagem”.

Segundo Lauro Pinto ( Lauro Pinto Natal Que Eu Vi Imprensa Universitária Natal Outubro 1971 71p) O nome Limpa se deu a uma vasta campina, cuidadosamente plantada e conservada pela antiga Administração do Porto de Natal, com o fim de fixar a areia e impedi-la de chegar ao Rio Potengi e, assim, não aterrar o canal.

Fotógrafo: Desconhecido. Agente fotográfico: Agência Pernambucana. Ano: Cerca de 1928 Ver menos. Coleção André Madureura.

“A vida social se divide entre o Forte e a cidade pequenina.”
Luís da Câmara Cascudo

Se durante décadas sem conta a “cidade pequenina” nem era tal na Cidade Alta, o que dizer da Limpa? Na Limpa, defronte à Fortaleza que nem era ainda, o primeiro acampamento. Casario rústico que se forma: Povoamento dos Reis, homenagem aos padroeiros, data católica dos Reis Magos, seguidores da estrela que os levaria ao menino santo, filho de Deus: 06 de Janeiro de 1598, início da construção do Forte.

O historiador Olavo Medeiros dizia ser muito provável que a praia do Canto do Mangue tenha sido o porto escolhido por Manuel de Mascarenhas Homem para descansar seus navios que chegavam para a construção de uma fortaleza na barra do rio Grande e fundar uma cidade: dezembro de 1597 (Gênese Natalense, 2002, p. 11).

Era preciso assegurar aquelas terras para a Coroa, decidira a política colonialista de Portugal. Aqui, antes da aportagem portuguesa nas areias brancas daquela praia, franceses mantinham relação cordial com os nativos, Aldeia Velha do outro lado do rio, mais para dentro; Refoles, base francesa, na margem direita, mais atrás. Edificada a Fortaleza dos Reis Magos, fundada a cidade do Natal, no Alto, protegida dos alagadiços dali e da Ribeira, o areal, Limpa, durante três séculos, só abrigou poucas moradas de pescadores.

Cidade Natal fundada por decreto real em 25 de dezembro de 1599, em 1600 já tinha vida burocrática e sesmarias foram divididas entre os que tinham maior intimidade com ela. O primeiro beneficiado, o capitão-mor João Rodrigues Colaço. No terreno escolhido pela Coroa Real Portuguesa para sediar a cidade, ele requeria terras para iniciar o povoamento.

Por esta imagem percebe-se bem o local estratégico no qual foi edificado o Forte dos Reis Magos que guarda a foz do Rio Potengi. Outra observação é a barreira de contenção de marés que na foto se estende da fortificação até Rampa. Esta barreia original, edificada durante segunda guerra, boa parte dela desapareceu com intervenções de melhorias no decorrer do tempo. Ao fundo vemos as Rocas, Ribeira e a Praia do Forte com suas piscinas naturais. Creio que o registro tenha sido feito nos 50, mais provavelmente nos anos 60, pois vemos a avenida Circular, Café Filho, sem edificação aparente em suas margens. Autor desconhecido.

Em 1602, naufrágio do navio Santiago. Sobreviventes são recebidos no Povoamento dos Reis. Na cidade do alto, ficou o registro: eles encontraram apenas três casas (Nesi, 2002, p. 13). Outro registro: o casario que deu início à construção da Fortaleza foi chamado Povoamento de Santiago. Nos mapas, nada de Natal. Cidade dos Reis, Ciudad de los Reys; só muito depois, Los Reys del Natal; por fim, Natal (Cascudo, 1980, p. 33). Prevaleceu a data da fundação.

Concluída mais tarde em pedra, a Fortaleza foi o trampolim da conquista do Norte, Jerônimo de Albuquerque consolidando vitórias contra franceses.

Desde aí, Natal e o Forte dos Reis Magos passaram a ter vidas dependentes: um não viveu sem o outro até princípios do século XX.
Povoamento de los Reis arrasado com a invasão holandesa, a cidade agora é Nova Amsterdã. No pontal da Limpa, boca da barra do Potengi, o forte toma o nome de Castelo Keulen.

A primeira capela, que foi construída pelos portugueses ficou sob domínio dos holandeses de 1633 a 1654. Quando foram expulsos pelos portugueses, os holandeses destruíram a capelinha como vingança. Os colonos a reconstruíram, mas em 1672 resolveram construir uma igreja mais sólida (Cascudo, 1999). Era conhecida como Capela da Limpa, e em 15 de abril de 1982 a Igreja da Limpa foi elevada à categoria de Santuário: o Santuário Arquidiocesano dos Santos Reis. Esta capela atual motivou uma nova configuração de crescimento da área, mudando o panorama de ocupação do território por parte dos moradores em seguida (Melquíades, 1999).

No livro de BARLÉU (BARLAEI, Caparis * Rerum per Octennium in Brasília,&) figura um mapa, intitulado Castrum Ceulanium, de alto valor informativo: ali vêem-se o Castellum e as pedras que as marés altas inundam, os arrecifes, a típica vegetação do terreno arenoso, as pedras submersas junto à entrada da barra. Gravura flamenga incluída no livro de Barleu, representando a barra do Rio Grande e arredores. Na parte correspondente à atual praia da Redinha, vêem-se algumas casinhas à beira do Potengi, pertencentes a
pescadores. À esquerda da gravura, havia os Montes Excelsi, abaixo dos quais corria um riacho, antigamente chamado de riacho da limpa, hoje desaparecido completamente.

Em 1654, o povoamento do alto e a Fortaleza dos Reis estavam devastados. As casinhas da rua que viria a ser Grande e a capelinha matriz, também. Os holandeses se foram abatidos em Guararapes pela valentia de muitos, entre os quais Dom Antônio Felipe Camarão, nascido Poti, filho do chefe Potiguaçu, da Aldeia Velha, mais recuada, na curva dos remansos da esquerda do rio, sagrado, após, Governador dos Índios do Brasil, por reconhecimento real de bravura e táticas estrategistas de guerra pela Coroa portuguesa.

A Limpa, que viria a ser parte do bairro de Santos Reis, era o palco principal da cidade na Natal dos primeiros tempos: o movimento maior de gente estava ali, nas cercanias da fortaleza.

Franceses e holandeses se foram, mas ficou a cisma dos Cariri e se travou o que os portugueses e já alguns aqui nascidos chamaram de Guerra dos Bárbaros. O Forte, palco dos planejamentos e das concentrações para combates. O gentio das ribeiras do Assu matando gado, colonos, incendiando povoações. Mais de trinta anos de escaramuças (Cascudo, 1980).

Pelos 1700, a paz. Natal, dorminhoca, nem ainda descendo às ribeiras de São Thomé, maré chegando às beiradas da duna, antes da campina da Ribeira, dos manguezais e areal que levavam à Fortaleza, a Limpa era vigilante, atalaieira, no pontal da barra, anos e anos, décadas, a sinalizar a movimentação da barra: navio que entrava, navio que saía, navio que passava vindo de norte ou do sul. Semáforo para os poucos que habitavam o Alto.

Em 1752, na capelinha do Forte, para substituir o retábulo com as imagens dos padroeiros esculpidas em sua parede, chegam as imagens dos Santos Reis, Belchior, Gaspar e Baltazar, enviadas por Dom José I, rei de Portugal, hoje tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Limpa deserta e a cidadezinha do alto vencem os anos 1800 sem muitas novidades. Hibernam. Raros pescadores com suas embarcações diminutas habitam as fronteiras do que viria a ser Rocas e Santos Reis, praça das Jangadas, depois Canto do Mangue. Só com o início das obras do porto, no final do século XIX, os bairros siameses, nascidos do mesmo ponto de partida, a Praça das Jangadas, partem dali para se tornarem o que são hoje. Chegam pedreiros, carpinteiros, ferreiros, calafetes, mergulhadores, armadores de embarcações e começa, casinhas aqui, outra acolá, a povoação da Limpa em torno da Montagem, lugar onde eram construídas as embarcações que ganhariam os mares em busca do peixe, sustento familiar. Com a proclamação da República em 1989, é instalado o estado laico e chega exigência de se retirar as imagens católicas dos Reis Magos da capelinha da fortaleza: um próprio do governo não podia mais ostentar vínculos com qualquer religião.

Os primeiros registros em Santos Reis aparecem em 1877, com a presença de raros pescadores que habitavam a região da Limpa, atual Santos Reis. (Miranda, 1999).

No ano de 1901, elas são transferidas para a Igreja do Bom Jesus das Dores, na Ribeira, para só voltarem à Limpa, nas proximidades do Forte, quando da inauguração da capelinha dos Santos Reis, em 1910. Ali, em distante solidão, isoladas do mundo, permanecem até 1936, quando templo definitivo é erguido para elas no topo da duna da Montagem. Grande procissão traz as imagens da capelinha da Limpa ao novo Santuário construído, e a tradição da procissão se consolida ali, em torno dele, em reverência aos santos de maior devoção da cidade.

Antiga Casa de Dr. Barata. Foto João Galvão. Fonte:vNatal Ontem e Hoje.

“O Zeppelim flutuava, de faróis acesos, diante do Forte dos Reis Magos. Lançou de páraquedas, na praia da Limpa, a mala-postal. Uma coroa de flores na estátua de Augusto Severo, aeronauta, norte-riograndense, morto no desastre do seu dirigível, 1902. Natalenses nas ruas, apreciavam o espetáculo, deslumbrados. Conheciam o Graf Zeppelim e o Hindemburg, da viagem anterior”.
(Raul Fernandes).

Balneário

Nos primeiros anos do século XX, as casas construídas na Cidade Nova, em especial, aquelas mais próximas da orla da praia, que, paulatinamente, tomavam o lugar dos antigos ranchos dos pescadores, eram tão somente para o veraneio, espaços construídos para a diversão, o lazer e o descanso, que motivavam uma fuga da cidade, nos finais de semana ou nas férias, de muitas pessoas, que, trajando elegantes “fatiotas”, roupas adequadas para o banho de mar, mergulhavam nas mornas águas dos balneários da praia da Limpa, da Ponta do morcego ou de Areia preta.

Sob o título de “Frioleiras” (O termo frioleira, tem o significado de “coisa sem préstimo”, “coisa sem valor”, “algo insignificante”) um articulista, que assina com o codinome “Catavento”, narrou um dia de domingo que passou na praia da Limpa, um dos mais requisitados balneários da época. Segundo o jornalista, no domingo, reuniu-se naquela praia um grupo de quatro amigos, todos sem preocupações, sem antipatias ou intrigas um com o outro. O dono da casa havia preparado uma peixada que foi saboreada por todos. Depois da peixada, um regalado descanso, “espojado na areia, na contemplação do vasto cenário da natureza” (Frioleiras. A República, 21 de outubro de 1902). Comentou o articulista que ficou muito tempo filosofando, pensando na vida do pescador ao ver o barco velejando no mar, pensando na dimensão do mar e na pequinês do barco, pensando na importância que a Fortaleza dos Reis Magos tinha tido outrora e na inutilidade que tinha nos idos de 1902, pensando no mundo. E o tempo passou até que ele percebeu que a noite houvera chegado e pego a ele ainda no mar “embalado à fresca brisa, na vastidão das águas”. Tal relato assegura que representações como estas que tomam as praias e o mar como ambiente idílico, próprio para a contemplação e para a imaginação parece extrapolar a perspectiva dos poetas e influenciar o comportamento do homem comum.

Em 1904, a Comissão de Melhoramentos do porto de Natal, juntamente com a administração local, começa a utilizar as verbas destinadas aos melhoramentos do porto de Natal para empregar os retirantes em obras da capital, as quais atendiam tanto ao “embelezamento” da cidade como às obras do porto. O material dragado do leito do rio era transportado por esses trabalhadores, que recebiam um pequeno ordenado, para aterrar a praça Augusto Severo. Ainda lhes era permitido fixar residência nos arredores da “Limpa”, para que suas habitações auxiliassem na fixação das dunas móveis que aterravam o canal do porto.

Se antes era a Praia da Redinha o lugar próprio para essas vivências de banho salgado ou de veraneio, como é verificado nos relatos de memória dos articulistas da imprensa e na palestra “Costumes Locais”, proferida por Eloy de Souza em 1909 (Ver SOUZA, Eloy de. Costumes locais. p. 33), no começo do século XX, são as praias da Limpa, do Morcego e de Areia Preta que passam a cair no gosto da população da cidade, especialmente daquela população mais abastada que via na ocupação daquelas praias, no que diz respeito ao uso do banho, na construção de casas de veraneio e na construção de casas para moradia, o lugar incontestável da nova aristocracia republicana da cidade.

Haveria um bairro jardim de fato, “em moldes semelhantes aos ingleses”, diria a jovem engenheira, que esfarelaria os arruados das Rocas, Areial, Limpa, Canto do Mangue, Chama-maré e outros assentamentos populares na área delimitada pelo rio Potengi e pelo oceano Atlântico. Nesse bairro, chamado por Câmara Cascudo de “Cidade das Dunas” (Cascudo, 1929b.). – uma recriação de apelo mais envolvente ao imaginário local, da mesma forma que o jardim o era para o inglês–, seria “feito o ‘zoning’ moderno, sendo evitada a superlotação e sendo os habitantes convidados a se pronunciarem sobre a administração do seu bairro, fixando o
número e a localização de lojas e armazéns. Largas avenidas serão rasgadas, indo terminar no Boulevard de contorno que parte do cais do porto, margina o rio e o Oceano” (Portinho, 1930.)

Sem estrutura administrativa e recursos financeiros suficientes, tanto na esfera de governo estadual quanto municipal, para executar os serviços e obras idealizados, o governo de Alberto Maranhão valeu-se da captação de recursos externos vultosos que possibilitassem, justificava-se, a aceleração do processo de modernização, o “aformoseamento” da capital e o desenvolvimento das forças produtivas do estado. A lista de “obras públicas na capital” entre 1910 e 1911 é muito extensa e, dela, cabe destacar o montante de recursos destinados aqueles espaços e obras que pretendiam suscitar e forjar novas sociabilidades dentro de um padrão de civilidade burguesa, entre as quais a construção da usina elétrica, implementação do bonde e da iluminação elétricas e de uma rede telefônica, construção de um balneário na praia da Limpa, de fornos de incineração do lixo, etc.; somadas as duas rubricas, foram gastos apenas nas obras públicas de Natal pelo menos 40% do valor do empréstimo captado (Cf. Maranhão, 1910, p. 17-20; 1911).

João Alves de Melo e remadores do Centro Náutico Potengi em 1920 na Praia da Limpa.

No início do ano de 1925, essa Repartição iniciou a reorganização dos serviços urbanos para aumentar a capacidade energética da usina, melhorar a distribuição e esticar a linha de bonde. De acordo, relatório do primeiro ano de governo de José Augusto, para essa reorganização dos serviços realizou-se um balanço patrimonial da usina, oficina e escritório para se prevê as melhorias e recursos necessários. De acordo com o texto do relatório:

Concluida a montagem de um motor a gaz pobre, de 225 cavallos, dentro de poucos dias, estará a Uzina habilitada a satisfazer com suficiencia os serviços a seu cargo, estendendo se a rede de luz eletrica a outros pontos da cidade e ampliando o serviço de bondes pela construção de linhas para as Roccas, Limpa e Areia Preta.

Local Estratégico

Mesmo antes da segunda Guerra Mundial, essa movimentação de aviões era percebida pelos olhos dos moradores da Cidade do Natal, pois além do Campo de Pouso localizado em Parnamirim, as aeronaves pousavam e decolavam da Hidrobase do Refoles no Alecrim, das oficinas da Montagem na Praia da Limpa (próximas às Rocas) e do atracadouro de hidroaviões no Passo da Pátria, próximo da Cidade Alta (VIVEIROS, 1974).

Local mais próximo de África e Europa, o Rio Grande do Norte passa a ter importância capital para a História da Aviação. Em 1926, intensificam-se os pousos de aeronaves em vôos transoceânicos no lugar. Ano seguinte, três hidroaviões anfíbios norte-americanos fazem pouso e fica a determinação de construir-se ali um “aviódromo”.

Em julho de 1927, a companhia Latecoere, francesa, busca fixar-se na cidade com objetivo de fazer o transporte do correio internacional.

Durante a gestão do engenheiro Omar O’Grady como Intendente Municipal de Natal (denominação antigo do prefeito de Natal), as iniciativas de modernização da cidade, tanto governamentais como privadas, continuavam a seguir as propostas ditadas pelo Plano de Sistematização de Natal, elaborado pelo arquiteto Giacomo Palumbo, em 1929. Ao reformular esse plano original, ele teve a preocupação de projetar ruas largas, arborizadas e que as casas tivessem recuos. Projetou um bairro cidade-jardim entre o Rio e o Oceano Atlântico, atual bairro de Santos Reis, proposta inspirada nas ideias modernistas da época (Ferreira, 2008). A proposta não chegou a ser implantada.

Plano Geral de Sistematização. Fonte: Ferreira at al, 2008, p.110.

Em fins de 1937, várias realizações viárias são iniciadas, tendo como norte as diretrizes estabelecidas pelo Plano Palumbo de 1929, tais como a avenida “em contorno á Montagem e a Limpa, ligando os bairros centraes á Praia do Meio” (MELHORANDO a cidade, A Republica, Natal, ano 68, 21 out. 1937.). Uma das grandes obras do período é a passagem de uma nova Avenida na Praça Augusto Severo, segmentando-a ao meio. A medida tem como grande objetivo possibilitar a comunicação entre duas importantes artérias da cidade: as avenidas Junqueira Aires e Nísia Floresta.

Nessa época, vários alemães moravam em Natal, na área hoje do 17° GAC. Eles instalaram a primeira base de voos na região, conhecida como “Praia da Limpa” e contaram com o apoio do então governador Juvenal Lamartine. Foram construídos dois grandes hangares e uma rampa para hidroaviões. A construção dessa rampa foi anterior à “rampa americana”, construída depois. Foi chamada pelos jornais da época de “Base da Condor”, devido ao Sindicato Condor que o administrava (Melquíades, 1999).

Em 1930, as empresas CGA (Compaigne Generale Aeropostale) cuja rota pode ser observada a NYRBA S.A. do Brasil (New York-Rio-Buenos Aires); Sindicato Condor Ltda; CAB – Companhia Aeronáutica Brasileira atuavam regularmente nos campos de pouso de Natal. Havia, ainda: a Hidrobase do Refoles no Alecrim, as oficinas de montagem na Praia Limpa (Rocas), e o atracadouro de hidroaviões no Passo da Pátria. E a infraestrutura do campo de pouso de Parnamirim, onde posteriormente viria a se instalar a base aérea americana durante a Segunda Guerra, construída pela francesa Latecoére, (Air France) e pela italiana Ala Litoria (LATI).

A rua do Comércio, atual rua Chile, recebia um alargamento de 12 metros com a criação do plano urbanístico da “Cidade Nova” por intermédio do técnico e agrimensor italiano Antônio Polidrielli. Os pontos mais importantes do plano eram os acessos entre a
parte baixa e a Cidade Alta, o estabelecimento de um Bairro Jardim na área conhecida como Limpa (Bairro Santos Reis), e a construção de um boulevard de contorno partindo da cidade baixa, com dez avenidas radicais (MIRANDA, João Maurício Fernandes de. Evolução urbana de Natal, p. 70). Jeremias Pinheiro da Câmara demarcou e fez o alinhamento das Avenidas projetadas por 400S000.Com a desvalorização das terras e gente para ocupá-las, as raras choupanas foram vendidas ou desapropriadas, por preço irrisório.

Em 1935, o escritório de Saturnino de Brito foi contratado e apresentou vários estudos e propostas arquitetônicas e urbanísticas com relação à rede de saneamento e da expansão urbana. Criou o Plano Geral de Obras, 1936, no qual apresentou proposta para o primeiro aeroporto de Natal (ver figura a seguir), na área onde hoje é ZPA-7.

Mapa de Santos Reis com o projeto do aeroporto, 193-. Fonte: Ferreira at al, 2008, p. 166.

Vários locais ao longo do Rio Potengi serviram de pontos de desembarque dos aviadores que chegaram a Natal. Paulo Viveiros, que repertoriou dezenas de pousos tanto no aeródromo de Parnamirim quanto no Rio Potengi, provenientes de várias partes do mundo entre 1922 e 1939, identificou, para alguns desses voos, pontos de desembarque no rio, sempre na margem direita, do lado da cidade: Praia da Montagem, depois chamada de Rampa, o Cais da Tavares de Lyra, a Pedra do Rosário, e a Hidrobase da Compagnie Générale Aéropostale, francesa, posteriormente pertencente à Air France, no Refoles, em 1939.

Mas, do ponto de vista da aviação, a praia da Limpa, se tornou o lugar de maior destaque. Ficava nas imediações das oficinas de montagem, assim chamadas porque se tratava de uma área de apoio para a construção do porto de Natal. Conhecida hoje como Rampa, ela passou de um ponto de embarque e desembarque de passageiros e bagagens de companhias internacionais da aviação civil, nos anos 1930, para se tornar uma base naval da Marinha norte americana durante a Segunda Guerra Mundial, associada à base aérea do Exército norte americano, bem maior e mais importante, localizada em Parnamirim.

Produzido pelo autor sobre mapa da cidade atual do Google Maps. Os locais se baseiam em Viveiros (2008: 63-192).
Rocas vista da torre da Inspetoria Federal de Obras contra as Secas. Na fotografia aparecem as habitações concedidas pela Comissão de Melhoramentos do porto de Natal à população pobre da cidade. Notar o alinhamento das casas e da vegetação nos quintais. As ruas continuam com certa regularidade até a área conhecida como “Limpa”. Em primeiro plano temos as Oficinas de Marcenaria da EFCRGN com alguns vagões em manutenção, o local de abastecimento das locomotivas com a Caixa-d’água e a Carvoeira (plataforma de onde era colocado o carvão para abastecer a locomotiva). Notar que o alagado ainda não havia sido aterrado, apenas a parte relativa às instalações do parque ferroviário. A fotografia foi tirada da torre da Estação, que na ocasião abrigava a sede da Inspetoria Federal de Obras contra as secas-IFOCS. Fonte: NOVAES, Henrique de. Comissão de saneamento de Natal-Relatório de Abril de 1924. (Banco de Imagens HCURB/UFRN).
Postal das Obras de implatação da ponte de atracação da EFCRGN e da “Barra Dunas”. A interação entre as obras portuárias e ferroviárias na modificação da paisagem é visível nesse postal do início do século XX. Essa ponte seria o futuro atracadouro do porto de Natal, cujos armazéns seriam construídos apenas em 1928, no local do alagadiço onde estão atracadas pequenas embarcações. Já a “Barra Dunas” é a fileira de casas das Rocas que permitiram a fixação das dunas da Limpa. Nesse postal, que pretende propagandear as obras da Estrada de Ferro e da Comissão de Melhoramentos do Porto de Natal, os casebres dos retirantes aparecem como uma importante obra modernizadora da engenharia portuária e não como uma ocupação insalubre e indesejada. Fonte: LYRA, Carlos. Natal através do tempo, p. 58.

Rádio Farol

Em 1930, surgem a Rádio Farol próxima à Fortaleza e, nas proximidades da antiga Praça das Jangadas, Canto do Mangue, o prédio da hidrobase e o declive que trazia, do rio à terra, os hidroaviões nele pousados, a Rampa. Instalam-se ali, no limite entre Rocas e Santos Reis, em terras de Santos Reis, as companhias aéreas Pan Air do Brasil e Lufthansa.

Entre o final da década de 1920 e 1930, sabemos que a Marinha do Brasil possuía uma estação de radiotelegrafia na região de Refóles. Essa estação atuou, por exemplo, no contato com o navio cargueiro inglês Phidias em 1927, para que a sua tripulação informasse se haviam visualizado o hidroavião português Argos, que se dirigia para Natal. Já no carioca Jornal da Manhã, edição de 02 de novembro de 1928, na página 11, encontramos a inauguração na região do bairro de Petrópolis de uma estação de rádio de ondas curtas, de propriedade do Telegrapho Nacional. Havia outra estação ligada à empresa exportadora de algodão S.A. Wharton Pedroza, mas desconhecemos a natureza de suas operações.

Essas estações radiotelegráficas tiveram papel importante na radiocomunicação potiguar, mas, como Natal se tornou um importante centro de movimentação aérea, era natural a criação de uma estação radiogoniométrica de localização e direcionamento aeronáutico. O local escolhido foi próximo ao estuário do Rio Potengi, e da Fortaleza do Reis Magos, em uma área de dunas elevadas, não muito distante das margens do rio, em um setor conhecido como Praia da Limpa. Ali próximo ficavam as bases de hidroaviões do Sindicato Condor e PANAIR.

Atualmente, esse local é ocupado pelas dependências do 17º Grupamento de Artilharia de Campanha, do Iate Clube de Natal, do Comando do Terceiro Distrito Naval e pelo prédio histórico da Rampa. Já a toponímia Praia da Limpa, hoje, é conhecida apenas pelos moradores mais idosos dos bairros das Rocas e Santos Reis e pelos historiadores.

O projeto foi levado adiante pela Diretoria-Geral de Navegação da Marinha do Brasil, cujos técnicos chegaram a Natal em 06 de julho de 1936. Com recursos oriundos do Ministério da Fazenda, a estação foi erguida sob as ordens do Capitão de fragata Guilherme Bastos Pereira das Neves, que trouxe do Rio de Janeiro vários profissionais especializados para construir aquilo que ficou conhecido em Natal como Rádio Farol da Limpa.

Esses homens trabalharam principalmente para erguer duas torres de 62 metros de altura cada uma, afastadas uma da outra por 100 metros, sendo pintadas de vermelho e branco e possuindo no topo iluminação para evitar colisão com aeronaves. Já a aparelhagem instalada para emitir os sinais era toda alemã, da empresa Telefunken Gesellschaft für drahtlose Telegraphie mbH, que transmita sinais de rádio em código Morse, na frequência de 1.050 metros.

O prefixo que partia de Natal era P.X.N., sendo transmitido a cada cinco minutos, que podia se “escutado desde a África”. Além do aparelho de radiogoniômetro, havia, no Rádio Farol da Limpa, um aparelho de rádio com grande alcance, que podia fazer “transmissão e recepção por telegrafia e telephonia”. Existia igualmente no local uma estação de rádio de ondas curtas “com capacidade de 100 volts” e um gerador elétrico à gasolina.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o Rádio Farol da Limpa aparentemente continuou a funcionar, pois, no dia 04 de julho de 1944, recebeu a visita de Dom Marcolino Dantas, então Bispo de Natal, e do Vigário Capitular de Mossoró Júlio Bezerra. No local, as autoridades eclesiásticas foram recebidas por Antônio José Caldas, Primeiro sargento da Marinha, potiguar da cidade de Portalegre. (Ver A Ordem, Natal, 04 de julho de 1944, pág. 6.).

Hoje, mesmo não mais existindo as antigas torres de comunicação, ali encontramos todas as casas construídas em 1936 ainda muito bem preservadas, com poucas alterações nas estruturas e sendo utilizadas como moradia por militares e seus familiares.

O Rádio Farol da Limpa visto do Rio Potengi.
Antenas e estruturas do Rádio Farol da Limpa, atualmente na área do 17° GAC – Arquivo Nacional.
O Governador Rafael Fernandes e o Capitão de fragata Guilherme Bastos Pereira das Neves, na inauguração do Rádio Farol da Limpa.
Casas do antigo Rádio Farol da Limpa, na área do atual 17° GAC.

Panair

A Rampa é um prédio que foi construído em 1930, na localidade denominada de Limpa, hoje limite dos bairros das Rocas e Santos Reis, em Natal. Era um ponto de embarque de passageiros e de transportes que recebia hidroaviões e onde atuavam algumas empresas aéreas.

Anos depois, estima-se que em 1934, a Panair – subsidiária Pan Am no Brasil – melhora a estrutura de flutuadores, evoluindo para uma atracação fixa, erguida num terreno cedido pelo Governo do Estado do Rio Grande do Norte. O local da construção era conhecido como montagem por estar numa área de apoio para a construção do Porto de Natal e montagem de embarcações. Primeiro, fizeram uma pequena estação, entre a rua e o rio, com um píer de concreto que ainda resiste nos dias de hoje. Este local servia como sala de embarque e desembarque, com o letreiro Panair na fachada.

nessa foto o prédio de arcos, hoje conhecido como Rampa ainda não existia, a foto é de fins de 41 ou começo de 42, a construção do prédio de arcos começou no segundo semestre de 42
Vista da área denominada “Rampa”.
Prédio original da Rampa, com as edificações utilizadas pela PANAIR. Na foto, Catalinas na área de rampa com acesso ao rio Potengi.
Sequência de fotos do momento de embarque|desembarque de passageiros na Rampa.
Uma das mais antigas fotos da estação da PANAIR do Brasil, na praia da Limpa, área hoje conhecida como “Rampa”. Fato da década de 30.

A Rampa Alemã

Enquanto estas mudanças ocorriam com os norte-americanos, os alemães abrem a sua agência em Natal. Na 2ª página, da edição de quinta feira, 6 de fevereiro de 1930, do jornal natalense “A República”, na pequena nota intitulada “Movimento Aviatório”, existe a informação que um hidroavião da empresa área Syndicato Condor Ltda era esperado ás 15 horas daquele dia, inaugurando a linha aérea entre Natal e Porto Alegre. As instalações desta empresa, de origem e direção germânica, ficaram localizadas em uma área conhecida como praia da Limpa, na região onde atualmente se localiza as instalações do 17º GAC – Grupamento de Artilharia de Campanha.

Os alemães também utilizaram o local, inicialmente, como ponto de apoio para aviões de transporte e postagem, e com o desenvolvimento da aviação e Natal sendo considerado cada vez mais um ponto estratégico, empresas como a Lufthansa e o Syndicato Condor também passaram a operar regularmente na Rampa. O local foi edificado em um terreno cedido pela Marinha do Brasil, conforme podemos ver na foto da nota jornalística de um jornal de Natal em 1938.

Apenas em 1930, conduzido pelo diretor Fritz Hammer, o hidroavião “Guanabara” chegava a Natal e este alemão vinha com a missão de instalar uma base de hidroaviões na cidade. O então governador Juvenal Lamartine apoiou incondicionalmente o projeto, isentou de taxas a empresa e apoiou a instalação de uma base próxima à foz do rio Potengi, na conhecida Praia da Limpa (Montagem). Em fevereiro de 1930 é inaugurada a linha entre Natal e Porto Alegre, em Março deste mesmo ano tem início os planejamentos para uma ligação entre a América do Sul e a Europa.

atuação dos alemães crescia fortemente na região, chegando a ponto de, em 1936, estarem transportando quase 16.000 pessoas. Sobre este dado é importante lembrar que a capacidade de transportes de muitos aviões neste período, não era superior a 20 passageiros.

Área conhecida como “Rampa alemã”
Aeronave da Condor no acesso à Rampa

Segunda Guerra Mundial

A Rampa foi transformada pelos americanos, com a construção de uma base para hidroaviões pelo Airport Development Program, entre março de 1941 e março de Para Melo (s/d, p. 93), a demora na construção deveu-se às constantes alterações no desenrolar da guerra e ao torpedeamento de navios que transportavam da Venezuela o asfalto que seria usado para o término das obras. Na Rampa da Limpa, ficavam abrigadas as “patrulhas dos hidroaviões da Marinha, os “catalinas” tão populares como os imensos B-29, bombardeadores de Tóquio, guardados nos ninhos altos de Parnamirim Field. Da Rampa, além dos 24 PBY de patrulha, corriam erguendo vôo para o salto atlântico os clippers de 75 passageiros.” (CASCUDO, 1999, p. 424).

Em Natal, no ano de 1942, o governo americano inicia as obras de sua Base Naval de Hidroaviões, utilizando o espaço da Pan Am e o ocupado pelos alemães na década de 30 e que, atualmente, faz parte do 17º Grupo de Artilharia de Campanha do Exército Brasileiro (17º GAC). A obra compreendiam um hangar de nariz, cinema, vários prédios de alojamentos, enfermaria, comando, entre outros similares aos existentes no Parnamirim Field. Embora o rompimento de relações com os países do Eixo só tenha ocorrido em 28 de Janeiro e a decretação do “Estado de Guerra” em 22 de agosto de 1942, o Governo Brasileiro permitiu que um esquadrão ocupasse, a partir de dezembro de 1941, a área até bem pouco utilizada pela companhia alemã e sua coligada brasileira.

Neste período é construída a edificação com arcos e torre de controle que marcam este local histórico. Paralelo a esta situação são construídas rampas de acesso para a retirada dos hidroaviões da água e manutenção em terra. Por esta razão o lugar passou a ser conhecida pelos natalenses simplesmente como Rampa.

Havia uma RAMPA de duas seções, construídas no período de 1941 a 1942; uma de concreto e outra de pranchas de madeira apoiadas em base de pedra. Ao todo, o investimento custou aos cofres americanos U$ 842.397,00.

Em janeiro de 1943, a Rampa recebe a visita dos presidentes Roosevelt, dos Estados Unidos, e Vargas, do Brasil, selando a participação de Natal na II Grande Guerra. Antes, em 1942, inaugurava-se o quartel do 2º Grupo Móvel de Artilharia de Costa, com vila militar.

Com os militares da guerra, Natal duplica de população e a Rampa, junto ao campo de pouso de Parnamirim, passam a ser os cenários mais importantes da cidade, com dezenas de milhares de soldados indo e vindo num movimento diário e ininterrupto para combater “o Eixo” em terras africanas, europeias e asiáticas.

A Rampa é um lugar de grande importância histórica, pois, como registra à história sua participação durante a Segunda Guerra Mundial foi fundamental para a transformação de Natal em “Trampolim da Vitória”. Sobre a Rampa, em a História da Cidade do Natal, Cascudo (1999, p. 424) diz:

Os norte-americanos, para abrigar os grandes 24 PBY, de 36 horas de vôo autônomo, criaram uma base fluvial no Potengi, utilizando o local ocupado pelo Sindicado Condor. Transformaram o ambiente, fazendo surgir casas, estaleiros, cais de atração e subida para os aviões anfíbios, armazéns, hospitais, cassinos, com higiene, claridade, fartura de alegria e de entusiasmo. Era a Rampa da Limpa, […].

Construção da Rampa, Bairro Santos Reis!
Havia uma RAMPA de duas seções, construídas no período de 1941 a 1942; uma de concreto e outra de pranchas de madeira apoiadas em base de pedra. Ao todo, o investimento custou aos cofres americanos U$ 842.397,00. Píer de madeira que não existe mais.
Construção do prédio americano em 1942.
Construção do muro de contenção das marés na construção da Rampa. Ao fundo vemos a Rampa Alemã.
Rampa como ponto de apoio logístico na construção da base americana em Parnamirm. A Rampa foi um ponto de apoio muito importante nesta fase de logística dos Americanos na construção da Base de Parnamirim. As instalações dos hidroaviões tiveram que ser melhoradas para receber maquinário e pessoal espacializado nas demais construções militares. Segue o material produzido por fotógrafo da Revista Time, Hart Preston, em 1941.
Instalação dos tanques de combustível.
Legenda: Vista aérea recente das instalações da Rampa no bairro da Ribeira em Natal, vendo-se abaixo o Rio Potengi. À esquerda a rampa e o estacionamento das aeronaves com uma quadra esportiva ao centro. Em baixo e à direita o prédio do clube e o restaurante. Acima e à direita o depósito de combustíveis.
O dia 28 de janeiro de 2022 marcou os 79 anos da Conferência do Potengi, quando os presidentes brasileiro e americano, Getúlio Vargas e Franklin Delano Roosevelt, respectivamente, se encontraram em Natal, no ano de 1943, para discutir os rumos dos seus países na segunda guerra mundial.
Quem quer babar vendo como era a área da Rampa no começo de 42?

Pós-guerra

Finda a guerra, em 1945, o crescimento do que viria a ser o bairro de Santos Reis já se anuncia. Em torno da Matriz dos Santos Reis, residências, escolas, pontos comerciais começam a surgir.

Santos Reis, foi oficializado bairro, em 17 de agosto de 1946, através de Decreto-lei nº 211. Natal, nesta época, era administrada pelo prefeito Sylvio Pedroza, responsável por muitas obras estruturantes, que até hoje beneficiam os moradores deste bairro. Segundo Souza (2008), destacam-se as seguintes ações: a abertura de logradouros interligando o bairro de Santos Reis a Rocas, e, também, a ligação com a antiga Avenida Circular (Atual Avenida Café Filho). Lugar de memória, no dia 6 de janeiro, acontece uma das festas mais tradicionais de Natal, a festa de Santos Reis, homenagem aos santos, Gaspar, Belchior e Baltazar, padroeiros do bairro.

A principal festa do bairro era a dos Reis Magos, no dia 6 de janeiro. Nessa ocasião, os moradores dos demais bairros e localidades da cidade se deslocavam para participar e esta podia ser uma das poucas oportunidades em que tinham alguma motivação para se dirigirem às Rocas (FRANÇA, Aderbal. A Capela era no forte. A República, Natal, 22 out. 1936g; __. Da Limpa à Montagem. A República, Natal, 8 jan. 1937a).

Neste período, Pipe Line desativada, já em 1946 o prefeito Sylvio Pedroza atua na urbanização do bairro, abre ruas, integra-o à cidade e da São João deita estrada de barro até a sede da Standard Oil Company, ficada da presença americana. Ônibus já chegam à Esplanada.

Como havia sido anteriormente acordado entre o governo brasileiro e o norte-americano, as áreas militares utilizadas a margem do rio Potengi foram devolvidas aos brasileiros, fato que ocorreu em 1946. O destino desta área militar foi uma parte entregue ao Exército Brasileiro (Que ali criou o aquartelamento atualmente denominado 17º GAC) e outra a FAB. Esta última Força ali implantou uma área de lazer para seus membros, que se tornou uma forte geradora de diversas atividades sociais, tanto para os militares, quanto ao povo natalense.

Em 1953, o engenheiro Hildebrando de Góes faz o aterro dos alagados restantes dos caminhos que levavam ao Canto do Mangue e constrói via pavimentada de paralelepípedos que leva tráfego de veículos até o clube da Limpa, Rampa. A Rampa é transformada em clube, depois Cassino dos Oficiais da Aeronáutica, e inaugura-se, em 1954, o Iate Clube.

Mas foi só a partir de 1954, com a posse de Sylvio Pedroza como governador que resolveu-se criar um bairro a partir da Praia da Limpa: o bairro de Santos Reis. Foram iniciadas doações para os primeiros loteamentos, mas, já nessa época, começou a haver um “comércio” paralelo com a revenda desses terrenos. Em 1956, os lotes começam a ser vendidos pelo governo aos interessados. As primeiras casas foram construídas nos terrenos doados (Natal, 2009).

Nos anos da década de 1960, com a constante fuga de contingentes populacionais do interior para a capital, surge, em meio ao areal, a ocupação desordenada das áreas próximas à orla: Brasília Teimosa. E, inícios dos anos 1980, chega o perigo: oleoduto e tanques da Petrobras Distribuidora. Crescia o bairro, a capacidade de estocagem de combustível inflamável nos tanques gigantescos em meio às casinholas do Areal e a preocupação dos moradores, agora, mais do que nunca, necessitados da guarda e proteção dos padroeiros da cidade: os Santos Reis. Felizmente, esse perigo acabou. Os tanques de combustíveis foram retirados dali.

Com o passar do tempo, em parte devido às mudanças do eixo de expansão da cidade de Natal, bem como diante de diversas mudanças de caráter social, cultural e de comportamento da nossa sociedade, a área da Rampa foi gradativamente perdendo sua importância e sua utilização pública cessou.

Nos últimos anos a Rampa ficou sob a responsabilidade da União Federal e em 2009 foi repassada para a responsabilidade do estado do Rio Grande do Norte, que tem planos de ali abrigar um museu ligado a história da aviação e da Segunda Guerra Mundial.

Prédio construído dentro do Complexo RAMPA no Rio Potengi. Deverá ser inaugurado. foto Esdras Rebouças Nobre.

Fontes:

As origens de Natal – Fundação José Augusto – https://www.facebook.com/cultura.fja – Acesso em 15/02/2022

CASCUDO, Luis da Câmara. História da cidade do Natal. – 3ra. ed. – Natal: RN. Econômico, 1999. 495 p.

MELQUÍADES, José. História de Santos Reis: a capela e o bairro. Natal, RN: IHGRN, 1999

Por que “Rampa”? – Fundação Rampa – http://www.fundacaorampa.com.br/af_rampa.htm – Acesso em 15/03/2022

O RÁDIO FAROL DA PRAIA DA LIMPA – Tok de História – https://tokdehistoria.com.br/2021/06/08/o-radio-farol-da-praia-da-limpa/ – Acesso em 15/03/2022.

Uma requalificação urbana em Santos Reis / Ivana Gonçalves Soares. – Natal, 2018.

CASCUDO, Luis da Câmara. O novo plano da cidade I – a cidade. A República, Natal, 30 out. 1929, n. 247, p. 01.(b)

PORTINHO, Carmem V. A remodelação de Natal. A República, n.160, Natal, p.02, 13 jul. 1930.

SOUZA, Eloy de. Costumes locais. Natal: Sebo vermelho,1999.

VIVEIROS, Paulo Pinheiro de. História da aviação no Rio Grande do Norte: história que se registra de 1894 a 1945. Natal: Editora Universitária, 1974.

Bibliografia:

A construção da natureza saudável em Natal(1900-1930) / Enoque Gonçalves Vieira. – Natal, RN, 2008.

A eletricidade chega à cidade: inovação técnica e a vida urbana em Natal (1911-1940) / Alenuska Kelly Guimarães Andrade. – 2009.

ANUÁRIO NATAL 2013 / Organizado por: Carlos Eduardo Pereira da Hora, Fernando Antonio Carneiro de Medeiros, Luciano Fábio Dantas Capistrano. – Natal : SEMURB, 2013.

Anuário Natal 2007 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN): Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2008.

Anuário Natal 2009 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN): Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2009.

Bairros de Natal / Secretaria municipal de maio Ambiente e Urbanisno. – Natal: SEMURB, 2009.

CASCUDO, Luís da Câmara Cascudo. História da Cidade do Natal. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980.

Caminhos que estruturam cidades: redes técnicas de transporte sobre trilhos e a conformação intra-urbana de Natal / Gabriel Leopoldino Paulo de Medeiros. – Natal, RN, 2011.

Dos bondes ao Hippie Drive-in [recurso eletrônico]: fragmentos do cotidiano da cidade do Natal/ Carlos e Fred Sizenando Rossiter Pinheiro. – Natal, RN: EDUFRN, 2017.

Dos caminhos de água aos caminhos de ferro: a construção da hegemonia de Natal através das vias de transporte (1820-1920) / Wagner do Nascimento Rodrigues. – Natal, RN, 2006.

FERREIRA, Angela Lúcia…[et al]. Uma cidade sã e bela: a trajetória do saneamento de Natal – 1850 a 1969. Natal: IAB RN, CREA RN, 2008. 284 p.

INFRAESTRUTURA E MODERNIZAÇÃO URBANA: OS IMPACTOS DO PORTO, FERROVIA E AEROPORTO EM NATAL E DAKAR (1890-1930). Rubenilson Brazão Teixeira.

Linhas convulsas e tortuosas retificações: transformações urbanas em Natal nos anos 1920 / George Alexandre Ferreira Dantas. — São Carlos, 2003.

Natal Não-Há-Tal: Aspectos da História da Cidade do Natal/Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo; organização de João.
Gothardo Dantas Emerenciano. _ Natal: Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2007.

NESI, Jeanne Fonseca Leite. Caminhos de Natal. Natal: Instituto Histórico do Rio Grande do Norte, 2002.

Gênese Natalense. Olavo de Medeiros Filho. Sebo Vermelho. 2002.

Loja Virtual do Fatos e Fotos de Natal Antiga

administrador

O Fatos e Fotos de Natal Antiga é uma empresa de direito privado dedicada ao desenvolvimento da pesquisa e a divulgação histórica da Cidade de Natal. Para tanto é mantida através de seus sócios apoiadores/assinantes seja pelo pagamento de anuidades, pela compra de seus produtos vendidos em sua loja virtual ou serviços na realização de eventos. Temos como diferencial o contato e a utilização das mais diversas referências como fontes de pesquisa, sejam elas historiadores, escritores e professores, bem como pessoas comuns com suas histórias de vida, com as suas respectivas publicações e registros orais. Diante da diversidade de assuntos no mais restrito compromisso com os fatos históricos conforme se apresentam em pouco mais de um ano conquistamos mais de 26 mil seguidores em nossas redes sociais o que atesta nossa seriedade, compromisso e zelo com o conteúdo divulgado e com o nosso público.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *