A expedição fotográfica na Praia da Redinha Velha
Olá comunidade do Fatos e Fotos de Natal Antiga,
Ontem, dia 22/07/2023 estive na Redinha Velha. Como foi de conhecimento, publiquei na semana passada fatos e fotos sobre a história da Redinha. Nosso espaço virtual não se dedica apenas a relatar o passado, mas também colocar a realidade presente tendo a perspectiva futura de manutenção dos espaços históricos.
Na Redinha Velha encontrei um quadro de mistura de sensações e a maior delas foi de total abandono dos locais históricos de Natal. De fato, deve-se levar em consideração o canteiro de obras, porém não esconde o quanto o local merece ser melhor tratado. Mesmo em reformas anteriores a longo prazo, a Redinha como um todo padece de manutenção dos serviços públicos.
Os obras estão sendo tocadas sem o mínimo cuidado sobre os frequentadores da praia e os parcos turistas que ainda se dirigem ao local. O Mercado está sendo reconstruído, o Redinha Clube está em reforma e no entanto tudo permanece abandonando. Falta iluminação, segurança e até banheiros públicos.
Para não dizer que a culpa é inteiramente da Prefeitura de Natal, o quebra-mar da Redinha está há anos igualmente abandonado. Falta iluminação, o calçamento está se desprendendo, segurança pública nem pensar. Uma pena, pois a estrutura reserva uma das mais belas visões da cidade. Atenção aí Codern e Governo do RN! Lamentável!
Vivemos na terra do “se”, “uma vez fomos” e do “quem sabe um dia”. Triste viver em uma terra com tanto potencial histórico e turístico desprezado. Fica o alerta e a reflexão de todos.
Na sequência vamos publicar alguns fatos e fotos da localidade e as mais belas impressões naturais e do lamentável abandono local.
Adriano Medeiros
Jornalista e historiador
Sócio fundador do Fatos e Fotos de Natal Antiga
Alguém já teve a oportunidade de conhecer o grande quebra mar de pedras da Redinha, do qual se chega à “Pedra da Boca”, canal onde os navios entram para o Porto de Natal?
O quebra-mar é o retrato dos novos tempos na Redinha. Foi construído para evitar que a maré volte a assorear o canal do Porto de Natal, que foi escavado para permitir a entrada de navios de grande porte.Avançando sobre o mar em forma de ponta, serve de mirante para contemplar o belo cenário do encontro das águas , na foz do rio Potengi, tornando-se um novo atrativo para a Redinha.
Se não teve, vale muito o passeio. Porém é bom ter cuidado ao desviar dos buracos e evitar o mato que toma conta de suas encostas. É bom que se vá de dia, pois a noite não há iluminação pública.
Os únicos frequentadores do quebra-mar da Redinha são os pescadores. Conversei com alguns deles. O papo é bom que se diga foi “com o pescador” e não “de pescador”. Dizem que há muito tempo a estrutura está abandonada. Já não recebe turistas. Uma lástima.
A vista do quebra-mar da Redinha oferece uma das mais belas visões para a ponte Newton Navarro, Fortaleza dos Reis Magos e do Rio Potengi.
O quebra-mar da Redinha é fruto de quase 200 anos de luta para dotar a Cidade de Natal de um porto em condições de receber diferentes tipos e tamanhos de navios.
Incrível neste caso como a história se repete. Ainda temos que trabalhar e muito para ter um porto capaz de receber as mais modernas embarcações de nosso tempo. A grande diferença é se temos condições políticas e econômicas para a grande empreitada.
Vista da sinalização da boca da barra de acesso ao porto de Natal vista a partir do quebra-mar da Redinha. O assoreamento provocado pela areia das dunas e os arrecifes foram um dos grandes entraves aos mais diversos cais que urbe já teve em seu passado. Vencer o isolamento da cidade era uma condição essencial para a manutenção de nossa condição de capital do Rio Grande do Norte.
Na entrada do quebra-mar da Redinha existe um monólito fixado com uma placa com a inauguração da obra. Lembra a pedra da bicuda que tanto causou medo aos navegadores que acessavam o porto de Natal no início do século XX. Somos capazes de maravilhas desde que unidos e determinados em nossos objetivos.
A Redinha foi desde os tempos de colonização uma importante região para Natal. Fonte de pescado e água potável, os primeiros habitantes da cidade cruzaram o rio Potengi e fixaram uma colônia no local.
Foi uma das primeiras praias de veraneio em Natal nos anos 20 do século XX. Nos anos 90 se transformou em bairro.
Hoje, as intervenções urbanas a desfiguraram. Lixo, esgoto, falta de iluminação e segurança continuam a afastar frequentadores. Os quiosques foram retirados e eram uma das poucas estruturas que ainda tinham alguma serventia.
No mais, como uma paisagem tão bela pode ser assim tão mal tratada? Fica a promessa que vai mudar e para melhor. Até outro gestor abandonar e gastar na revitalização.
E a cada intervenção tem menos Redinha. Menos respeito ao seu passado.
A Redinha não perdeu a sua vocação pesqueira. Desde a remota colônia de pescadores separada pelo rio Potengi até um dos bairros mais populares de Natal, a atividade econômica ainda gera emprego e renda para a população.
No início do século XX, os natalenses começaram a utilizar as casas de praia como locais para descansar no veraneio. Nesse contexto, as praias de Areia Preta, do Meio, da Redinha e de Ponta Negra foram os primeiros trechos da costa potiguar apropriados e transformados em redutos de lazer durante janeiro e fevereiro.
Nas margens da praia da Redinha, existem os restos do que seria o cais em cima de muitas pedras, onde muitos natalenses até hoje nadam próximo as ruínas, em poucos metros do tradicional Mercado Público.
O cais foi construído em torno das décadas de 1920 e 1930, a praia da Redinha começa a se tornar outra opção para a construção de residências secundárias. Reza que o Dr. Francisco Xavier Pereira de Brito, foi possivelmente, o “descobridor” da Redinha, praia onde construiu uma casa de veraneio, cercada de latadas, ambiente em que realizava festas que “duravam cinco dias”. Pela sua distância da cidade, era uma praia mais calma, preferida para a estação de repouso.
O cais foi instalado como uma forma de atravessar a região da Redinha de barco, saindo do Porto de Natal. Na foto acima do título foi guardada no Instituto Histórico e Geográfico (IGHRN) e mostra um pouco como era o monumento.
A procura por casas nas praias para comprar e alugar também era grande na década de 40. A Redinha entrou no rol da especulação imobiliária. A praia oferecia boa estrutura, tais como um novo clube social que proporcionava bailes aos veranistas, construído sobre o prédio antigo em 1943, e um mercado público, esse inaugurado em 6 de fevereiro de 1944 pelo prefeito José Augusto Varela.
O mercado público foi construído em 1949, localizado às margens do Rio Potengi, próximo ao Redinha Clube e a Capelinha. Local de comercialização de peixes e outros “frutos do mar”, o Mercado da Redinha é parada obrigatória a todos e todas que visitam aquela praia. O mercado é lugar de degustação de diversas iguarias, entre elas, destaca-se a ginga, peixe frito com tapioca.
O Mercado da Redinha de Natal teve sua estrutura derrubada em março de 2022. A derrubada faz parte das obras do novo Complexo da Redinha, com atividades em andamento.
A obra do Complexo Turístico da Redinha engloba a reformulação completa do mercado e criação de novos acessos ao local; abertura de nova rua ligando a ponte Newton Navarro ao mercado; construção de deck para passeio; recuperação do quebra-mar e instalação de nova iluminação na área. Além disso, a Prefeitura promoverá novos 29 boxes e seis restaurantes na obra final do Complexo Turístico.
A previsão inicial era de que o Complexo da Redinha fosse finalizado em setembro deste ano. Obviamente, pelo ritmo das obras, não estará concluído.
A construção da Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes, também conhecida como a Igreja de Pedra, em referência ao aspecto rústico do seu exterior, “data de 1954”. A construção desse templo católico foi feita por veranistas e recebeu a imagem da padroeira, que era a da capelinha dos pescadores. A partir de então, gerou-se um conflito entre pescadores e veranistas sobre o controle da imagem, que com o passar dos anos foi superado.
Segundo pesquisadores, a construção do Templo de Pedra está inserida no contexto da terceira fase de ocupação da Redinha, caracterizada pela expansão na direção noroeste e pela edificação do Mercado Público. Nesse período, a Redinha já tinha consolidado sua condição de praia de veraneio preferida por muitos natalenses. A partir de então, os frequentadores da Redinha passaram a deliciarem-se com as belezas naturais desta praia e degustarem a tradicional Ginga com Tapioca.
Construída em 1925 com a ajuda da comunidade de pescadores e veranistas. É o templo religioso mais antigo da Redinha. Erguida num local elevado, localizado de frente para o mar, é um sinal de respeito daqueles que, cotidianamente, buscam nas águas marinhas o sustento de suas famílias.
A capelinha foi inaugurada no dia 25 de dezembro de 1925, com missa celebrada pelo Mons. Alfredo Pegado, dando a bênção litúrgica à capelinha, à imagem de Nossa Senhora dos Navegantes e ao Sino.. Templo de fé católica, a capelinha também é testemunha das modificações ocorridas na Redinha ao longo de sua história. Lugar de memória e fé do natalense.
As mudanças ocorridas na Praia da Redinha também geraram um pequeno conflito religioso durante a década de 1950. A costa de mar possuía uma capelinha que guardava a padroeira dos pescadores e de veranistas, Nossa Senhora dos Navegantes. A questão girou em tornou da deliberação do bispado a respeito da transferência da imagem da santa para a Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes, construída em 1956 no povoado da Redinha. A decisão não agradou aos pescadores.
A imagem de Nossa Senhora dos Navegantes findou ficando na antiga capelinha, como era desejo dos pescadores.
O Redinha Clube foi construído originalmente em madeira (1922). Por não apreciarem a excessiva calma do lugar, ou simplesmente por buscarem entretenimento noturno, um grupo de veranistas da praia da Redinha, se reuniu e fundou um club social, no ano de 1924, como conta a seguinte nota:
fomos informados que os veranistas da pittoresca praia da Ridinha no intuito de formarem um ponto chic e elegante para reunião das familias que ali se acham passando algum tempo, organizando uma sociedade recreativa que receberá o nome de “Ridinha Club”, estando já quasi prompto um pavilhão para danças, jogos familiares e outras diversões (VARIAS. A Republica. Natal, 23 dez. 1924.).
A dificuldade de acesso e os investimentos feitos pelos veranistas em iluminação e entretenimento indicam o alto poder aquisitivo dos veranistas desta praia.
Na década de 1940, o velho clube é derrubado e em seu lugar é erguido um novo prédio, desta vez em pedra. Abrigou a primeira escola pública daquela praia. Palco de festas, também serviu na formação escolar dos filhos dos pescadores. Sua forma rústica, erguido junto ao mar, compõe um lindo cartão-postal. Lugar de memória, testemunha “viva” da evolução urbana da praia da Redinha.
O clube da Redinha, atendendo aos padrões desejados pela elite natalense, era muito movimentado. Nas matinês dançantes aos domingos, as orquestras tocavam para aqueles que buscavam diversão.
O Redinha Clube passou a animar o verão com suas festas, entre elas a “festa do caju”, realizada no mês de janeiro. Por décadas a festa do caju atraiu pessoas de todos os lugares da cidade e carregou por muito tempo a tradição “a cara da Redinha” mas deixou de existir a partir de 1970.
Encerramos com esta publicação a expedição fotográfica na praia da Redinha. Não foi dos melhores contextos, porém vamos atualizando o acervo na medida que as intervenções forem se concretizando.
A Redinha merece nossa atenção e respeito por seu grandioso passado e belezas naturais que tanto inspiraram artistas e poetas como Newton Navarro.
Muito bom o trabalho, parabéns…Estou pesquisando o que está escrito na placa do monólito na entrada do quebra-mar da Redinha, você teria uma descrição?
Adorei o trabalho, Parabéns! Na entrada do quebra-mar da Redinha tem uma placa no monólito e gostaria muito de saber o que estava escrito, fiz várias pesquisas e não consegui decifrar. Se puder descrever o que está, ou, estava escrito, ficaria muito satisfeito, obrigado!