A Natal de Nísia Floresta

De acordo com a história sobre a literatura feminina no Rio Grande do Norte, Nísia Floresta Brasileira Augusta é considerada a escritora mais antiga do estado. Nascida 12 de outubro de 1810, na mesma cidade que Isabel Gondim, Dionísia Gonçalves Pinto – o verdadeiro nome de Nísia Floresta – mudou-se, com a família, para o estado de Pernambuco e, posteriormente, para o estado do Rio de Janeiro e, finalmente, para Rouen (França) – local onde acaba falecendo em 24 de abril de 1885. Nísia Floresta veio a óbito sem nunca mais ter retornado ao seu estado natal. Isso explica o motivo de Isabel Albuquerque Gondim ser considerada a escritora norte riograndense mais antiga e residente no estado. Para maiores esclarecimentos, ver: CARDOSO, Rejane (Org.). 400 nomes da cidade do Natal. Natal/RN: Prefeitura Municipal de Natal, 2010. (ARAÚJO, Humberto Hermenegildo. Modernismo anos 20 no Rio Grande do Norte. Natal: Editora da UFRN, 1995, p. 22.).

O Município de Natal está inserido no litoral oriental (leste) do Estado do Rio Grande do Norte, – Nordeste do Brasil. Exerce papel de destaque por ser a cidade mais importante do Estado, pois possui o título de Capital potiguar e encabeça a Região Metropolitana de Natal (RGM) juntamente com CearáMirim, Extremoz, Macaíba, Monte Alegre, Nísia Floresta, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante e São José de Mipibú.

NÍSIA FLORESTA: VIDA E OBRA

Nísia Floresta Brasileira Augusta, pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto, foi a primeira educadora feminista do Brasil. A heroína, nascida dia 12 de outubro de 1810, na cidade de Papari, no Rio Grande do Norte, era filha de um advogado português com uma rica herdeira da região. Ao lado de três irmãos, a menina cresceu acostumada com mudanças, já que o antilusitanismo crescia cada vez mais. 

Aos sete anos, a pequena entrou para o convento das carmelitas, onde recebeu aulas de clássico manual e canto. Diferente das outras alunas, entretanto, ela também sentia-se atraída pelos livros da biblioteca, paixão que sempre foi incentivada pelo pai liberalista.Quando completou treze anos, a menina foi obrigada a casar-se com um rico proprietário de terras, conforme as normas sociais da época. Poucos meses depois do matrimônio, todavia, Dionísia rompeu com seu esposo e fugiu de volta para casa.

A região nordeste, na época, contava com diversas insurreições e o sentimento antilusitano crescia ainda mais. Como português, o pai de Dionísia e a família sofriam com os movimentos revolucionários que perseguiam os lusitanos. Uma família morou em várias cidades dentro do estado de Pernambuco, como Goiana, Recife e Olinda, o que permitiu que Dionísia tivesse contato com diferentes culturas e realidades ao longo da vida. Em 1817, quando explodiu a Revolução Pernambucana, uma família foi obrigada a se mudar da fazenda de Papari para Goiana. Foi neste município em que Nísia começou a carreira acadêmica no convento das carmelitas.

Foi uma figura singular na sua época. Anos mais tarde, em 1828, a jovem passou por um período triste em sua vida, repleto de luto e saudade. Por fazer parte de um levante contra a poderosa família Cavalcanti, influente na elite de Olinda, onde moravam na época, o pai de Dionísia foi assassinado.

Em 1831, três anos depois do assassinato do pai, Dionísia publica uma série de artigos sobre a condição feminina em um jornal de Pernambuco chamado Espelho das Brasileiras. 

O jornalismo destinado ao público feminino nasceu em meados do século 19, com revistas e jornais pensados para uma nova audiência. Acontece que, naquela época, depois de anos concentradas apenas nos cuidados da casa, as mulheres passaram a se interessar pela literatura e pela escrita, o que abriu portas para um mercado promissor.

Mesmo que tivessem pautas pensadas para as mulheres, contudo, as publicações eram exclusivamente escritas por homens. Indignada com o irônico cenário, uma dama bastante influente em sua cidade decidiu tomar providências, em meados de 1831.

Retrato de Nísia Floresta quando jovem / Crédito: Domínio Público

Foi assim que Dionísia Gonçalves Pinto tornou-se Nísia Floresta Brasileira Augusta. Sob o pseudônimo, ela lutou pela educação feminista de outras meninas.

O nome “Floresta” remetia ao grande pedaço de terra que a família Gonçalves Pinto possuía, “Brasileira” pelo orgulho de ser brasileira e “Augusta” em homenagem ao grande amor da vida dela. Segundo Constância Duarte, a escolha do pseudônimo

“revela a personalidade e as opções existenciais da autora. Nísia, de Dionísia; Floresta, para te consigo lembranças da infância passada no sítio Floresta; Brasileira, como uma afirmação de seu sentimento nativista; e Augusta, numa provável homenagem de afeto e fidelidade ao companheiro Manuel Augusto”. (1995, p. 24).

Retrato de Nísia Floresta

Dos primeiros textos no jornal, Nísia se apaixonou pela arte de escrever e, em pouco tempo, lançou sua primeira obra aos 22 anos de idade. Publicado em 1832, o livro da educadora chama-se “Direito das Mulheres e Injustiça dos Homens”, além de usar pela primeira vez na assinatura o pseudônimo de Nísia Floresta Brasileira Augusta.

Hoje, discute-se sobre a teoria de que a obra era baseada em “A Vindication of the Rights of Woman”, de Mary Wollstonecraft. Existe ainda a ideia de que Nísia teria traduzido literalmente o livro “La femme n’est pas inferieure a l’homme”, publicado em 1750.

Capa da obra escrita por Nísia Floresta / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons
Capa de uma edição do livro Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens, escrito por Nísia Floresta e publicado originalmente em 1832. 

Independentemente da inspiração, a obra da brasileira foi considerada um ícone da literatura da época. Mas Nísia se recusou a parar por aí. Assim, o foco dela passou a ser a educação de meninas, que, até então, aprendiam apenas a cuidar da casa.

Três anos depois, no entanto, ela finalmente descobriu aquele que parecia ser seu papel no mundo. Motivada por seu amor pela literatura, a jovem assumiu o nome Nísia e passou a escrever para o jornal O Espelho das Brasileiras, editado em Recife.

Em seus textos, a escritora falava sobre as condições de vida das mulheres, além de defender a educação feminina em ambas às esferas cívicas e moral. No total, o jornal para o qual ela escreveu teve 30 edições. Todas elas contaram com Nísia como redatora.

A autora, na época, debateu assuntos que eram considerados delicados como abolição, direitos indígenas, sufrágio, educação e emancipação feminina. A educação era recomendada às mulheres por ser considerada desnecessária, mas Nísia argumentava que elas precisavam de conhecimento para serem livres. Em 1838, a heroína fundou, no Rio de Janeiro, um dos primeiros colégios exclusivos para meninas, o Colégio Augusto, em que as mesmas recebiam aulas de matemática, português e história.

Em meados de 1838, o pioneirismo feminista de Nísia extrapolou as barreiras literárias e se expandiu para um contexto sociocultural. Isso porque, naquele ano, ela fundou o Colégio Augusto, um dos primeiros do país exclusivos para meninas.

Ainda que as jovens não fossem proibidas de estudar, elas costumavam receber aulas de bordado, canto e etiqueta. Nas mãos de Nísia, porém, meninas e adolescentes brasileiras passaram a estudar matemática, português e história.

Nísia foi uma grande educadora preocupada com a educação da mulher, chegando a fundar e a dirigir um

“colégio para moças no Rio de Janeiro, e escrevia livros e mais livros para defender os direitos não só das mulheres, como também dos índios e dos escravos. […] O fato de estar à frente do seu tempo vai lhe custar o não-reconhecimento do seu talento, por isso seu nome não consta na história da Literatura Brasileira, como escritora romântica, e muito menos na história das mulheres, ou da educação feminina, como educadora. […] Teve quinze títulos publicados, entre poemas, romances, relatos de viagens e ensaios – em português, francês e italiano”. (DUARTE, 2005, p. 14-16).

Tal como aponta a pesquisadora Constância Duarte, desde 1830, Nísia já era conhecida no Brasil e causava polêmica por onde passava. Além disso, Duarte também aponta que Nísia

“deve ter sido uma das primeiras mulheres no Brasil a romper os limites do espaço privado e a publicar textos em jornais da chamada grande imprensa. […] Sua presença constante na imprensa, desde 1830, comentando questões polêmicas de sua época”. (DUARTE, 2005, p. 14-15).

Defensora da emancipação feminina, que chegou a publicar um livro sobre o tema em 1853, Nísia mudou-se para a Europa, em meados da década de 1840. Por lá, ela publicou diversos artigos, mas também ficou sob a mira daqueles que não concordavam com seus ideais e, assim, ela caiu no esquecimento.

Nísia se mudou para a Europa, lugar em que a maioria de seus livros foram publicados. As obras da escritora tiveram grande repercussão no exterior, sendo mencionadas em vários jornais até o final do século XIX. Assim como grande parte das escritoras da época, ela não escapou das críticas das pessoas contrárias aos pensamentos dela, e, aos poucos, caiu no esquecimento. No dia 24 de abril de 1885, na cidade de Rouen, França, uma brasileira morreu vítima de uma pneumonia.

Em 1948, a cidade onde a heroína nasceu teve o nome transformado para Nísia Floresta. Na cidade, em 2012, foi inaugurado o museu da escritora, com o objetivo de conservar a história da educadora. Desde o início do ano de 2017, as escolas municipais são orientadas a trabalhar a história de Dionísia Gonçalves Pinto no currículo escolar local. É um dos únicos lugares no Brasil onde a memória de uma das precursoras do feminismo e defensora da educação feminina no país ainda pulsa.

Museu Nísia Floresta
Os restos mortais de Nísia foram transladados da França para o Brasil, em 1954, e do seu depósito num mausoléu construído para tal fim na sua cidade natal, que, aliás, já havia mudado de nome em sua homenagem (decreto-lei de 23 de dezembro de 1948), passando a chamar-se Nísia Floresta – à ocasião, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) lançou um selo, em edição comemorativa, com um retrato de Nísia, desenhado com bico de pena, e um texto escrito pelo folclorista norte-rio-grandense Luís da Câmara Cascudo (1898 – 1986), enaltecendo a homenageada.

ERA O LUGAR DE MULHER

Segundo Maluf e Mott (1998), o controle do tempo, a economia doméstica na contenção das despesas e a excessiva preocupação em ocupar a mulher com trabalhos manuais (até mesmo para ajudar na racionalização dos gastos) foram preocupações que fizeram parte do imaginário feminino no início do século XX. Compreendemos que isso não significava afirmar que toda mulher estivesse realizada plenamente no papel a ela imposto socialmente e no seu âmbito familiar, mas é importante ressaltar que essa era uma realidade da maioria das mulheres brasileiras, com exceção de algumas que se rebelaram, posicionaram-se à frente do seu tempo, a exemplo das escritoras feministas norte-riograndenses Júlia Lopes de Almeida, Nisia Floresta, Auta de Souza, dentre outras grandes mulheres que se destacaram na nossa história.

A contenção do tempo nas atividades domésticas também era justificada, além do fator econômico, pela necessidade de a mulher dispor de mais horas do seu dia para outras necessidades que apareciam no âmbito familiar, como a educação de sua prole, tendo em vista ser a ela concebida este encargo, o que a deixava sobrecarregada, pois além dos afazeres do lar tinha que acompanhar a instrução dos filhos.

VOTO FEMININO

s jornais “A República” e o “Diário de Natal” deram grande destaque à conquista do direito ao voto feminino no final dos anos 1920, graças à luta da norte-rio-grandense Nísia Floresta, tendo grande repercussão no país. Não satisfeitas apenas em poder votar, as mulheres brigaram também pelo direito de serem votadas. E mais uma vez o RN foi pioneiro no Brasil com a eleição da prefeita de Lajes, Júlia Soriano, conhecida em todo país. Sobre esse tema, a revista Cigarra publicou os versos matutos sob a assinatura de Z. Ballos (pseudônimo de Virgílio Trindade). Tais versos espelham as duas correntes em luta, os revolucionários e os preconceituosos:

Há uma nova no mundo
Cumpade, eu vou te contá
As leis agora permite
Que as muiéres vão votá
E eu inté vou prá cidade
Para a minha se alistá.
Cumpade, ocê tá doido?
Isso é besteira do cão
Apois nunca ninguém viu
Muié ir prás eleição
Isso inté tá desconforme
Cum as obra da criação

Dionísia Gonçalves Pinto era escritora, estreou como articulista em 1831; abolicionista, republicana, feminista e poeta, viveu quase 3 décadas na Europa, comunicando-se de perto com os intelectuais da época; educadora, fundou os colégios “Brasil” e “Augusta”, no Rio de Janeiro; tida como a mais notável mulher da história do RN, sob o pseudônimo de Nísia Floresta Brasileira Augusta.

Nísia Floresta.

CONSTRUÇÃO DA CULTURA POTIGUAR

A produção literária da cidade durante muito tempo girou em torno dos mecenas políticos que, de certa forma, acabavam monopolizando as próprias produções. O pesquisador Humberto Hermenegildo chama atenção para uma importante atitude encabeçada por Henrique Castriciano junto ao governador Alberto Maranhão de incentivo à cultura e à produção literária local, voltado não só para as manifestações artísticas como também para a tentativa de construção da história da própria cidade e do Estado. O pesquisador considera Castriciano como a principal referência cultural do período de transição entre os séculos e destaca a lei nº 145, de 6 de agosto de 1900, como um marco para o desenvolvimento cultural norte-riograndense. Através de sua influência junto ao governador Alberto Maranhão, Castriciano criou a lei, única no Brasil, que mandava editar livros úteis à cultura do Estado.

Os esforços de Henrique Castriciano, nesse período, giraram em torno da construção de uma possível cultura potiguar, tentando resgatar antigas figuras da vida cultural natalense como o poeta Lourival Açucena, através de vários artigos publicados sobre ele no jornal A Republica. Alguns livros também ganharam publicação, entre eles o de versos Terra Natal, do poeta Ferreira Itajubá. Ajudou nas pesquisas, através de levantamentos e coletas de dados sobre a vida e a obra de Nísia Floresta, além de ressaltar a importância de outras figuras ilustres da cultura local, como Segundo Wanderley e sua irmã, a poetiza Auta de Souza. (Ibid., p. 22-23.).


Fonte: Revista da Semana, 1939.

HERMA A NÍSIA FLORESTA

Conhecida anteriormente como praça da República (OLIVEIRA apud SOUSA, A., 2013), a praça Augusto Severo, outrora símbolo da “Belle Époque” Natalense, principal ponto de encontro e referência para a cidade, foi desenvolvida pelo arquiteto Herculano Ramos, em 1905 (PEREIRA e tal, 2009). Augusto Severo era irmão de Pedro Velho – o primeiro governador do RN- e um grande nome da aviação da época. Morreu em 12 de maio de 1902, em Paris, quando voava no seu dirigível conhecido como “PAX”. Passou a ser chamada assim logo que se iniciou as obras.

: Postal da praça Augusto Severo, por volta de 1910 mostrando um trecho da antiga rua das lojas, atual rua Dr. Barata.
Fotografia Praça Augusto Severo.

Em 19 de março de 1911 foi inaugurada na praça Augusto Severo um medalhão de bronze, em homenagem a Nísia Floresta. A estátua de Augusto Severo foi finalmente inaugurada, em 12 de maio de 1913, dia do 11 º aniversário do desaparecimento do homenageado.

Monumento em homenagem a Nísia Floresta, onde está afixado o medalhão acima. Obra executada em 1911, depois vandalizada. Hoje o medalhão está no IHGRN. Fonte: Livro “História de Nísia Floresta”, de Adauto da Câmara, 1941 – Acervo: Maria José Freire

Na verdade esse monumento foi inaugurado em 19 de Março de 1911, na Praça Augusto Severo. A obra em bronze é de autoria de Corbiniano Vilaça e do escritor francês Edmond Badoche. Trata-se de um medalhão de bronze aposto a uma stela de granito, com incrustrações em bronze; uma palma e datas do nascimento e morte. Feito em Paris, sob a orientação de Henrique Castriciano.

 Em 1911 foi inaugurado em Natal a herma a Nísia Floresta na praça Augusto Severo, na Ribeira. Sobre esse acontecimento escreveu o jornal A Imprensa: “teve grande concorrência e solenidade a festa da inauguração do monumento a Nísia Floresta , no jardim público da Ribeira”.(A IMPRENSA, 22/03/1911,p.6).As mais graduadas pessoas de Natal assistiram a brilhante festividade”.

Segundo a Revista da Semana (1939) a herma a Nísia Floresta havia sido um presente do governo francês ao povo brasileiro.

O monumento foi demolido naquele ano de 1939 para espanto do redator chefe da Revista da Semana, Vidal de Barros, que assinava uma matéria sobre o pioneirismo do feminismo da ilustre potiguar, e as fotos foram estampadas na referida revista, tendo sido as imagens captadas pelo fotografo natalense João Alves de Melo colaborador da citada revista.

Ao enviar as fotos para a revista João Alves escreveu em carta anexa:

         “É com desprazer que comunico ao prezado confrade que, em dias do ano passado, foi criminosamente retirada da praça pública, a herma de Nísia Floresta, depois de se achar em completo abandono, como provo com a fotografia junta, pelo prefeito da cidade dr. Gentil Ferreira de Souza, sem nenhum protesto do Instituto Histórico”. (REVISTA DA SEMANA, 1939, p.33).

         Eis a baixo a foto enviada por João Alves a Revista da Semana mostrando o abandono da herma a Nísia Floresta. 

Fonte: João Alves, Revista da Semana, 1939, p.33.

Como a prefeitura deixou isso acontecer e por que o IHGRN não o impediu ou ao menos protestou com  tamanho desrespeito a figura de Nísia Floresta?

         Ao que tudo indica a repercussão da matéria publicada na Revista da Semana não foi positiva e a prefeitura tratou de reparar os danos cometidos contra o monumento, tanto que no nº 52 da referida revista de 02/12/1939 foram informações documentadas de que a herma de Nísia Floresta havia retornado ao seu antigo lugar.

       Segundo a citada revista o prefeito da bela capital norterigorandense do norte (potiguar é melhor) dr. Gentil Ferreira de Souza, que tem nítida compreensão do valor do nosso patrimônio histórico,lendo a sensacional reportagem, apressou-se em reparar o erro ou descaso que tinha levado mãos menos humanas a cometer esse atentado e mandou, sem demora, reerguer o monumento que perpetua, orgulho do Rio Grande do Norte.

        As imagens a baixo foram enviadas pelo fotógrafo João Alves de Melo que mostravam as fases do trabalho de levantamento da herma daquela que foi grande na sua época e que ficou na História com a gloria de ter sido a precursora do feminismo no Brasil.

Fonte: Revista da Semana, 13/01/1940,p.39.

 É desconhecido por nós como levou fim o monumento que havia na Praça Augusto Severo da Ribeira que homenageava Nísia Floresta.

HOMENAGENS

Sobre tão frondosa obra urbanística, Lauro Pinto descreve:

Na Ribeira existiu – porque hoje só encontramos um grosso arremedo – o mais belo e encantador jardim da cidade, uma verdadeira obra prima de arte e bom gôsto. Natal jamais terá outro igual. Jardim que alegrava os olhos e a alma dos natalenses. Era um grande èden que tomava toda a praça Augusto Severo, em forma circular, muitas árvores, canteiros floridos e bem tratados. O jardim era cortado por alamêdas com o piso de pedrinhas, vários canais e pontes que com a maré cheia causava deslumbramento. […] Possuia o jardim um grande e belo coreto de madeira, montado em base de alvenaria [..] Havia mais outra grandiosidade: uma fonte ornamental de bronze, constante de uma bacia tendo no centro, em plano elevado, um índio estrangulando uma jiboia que jorrava água pela boca. Esta riqueza em arte e bronze desapareceu. No mesmo éden havia uma herma de Nísia Floresta, em bronze, num pedestal de pedra polida, bastante simples, mas muito bonito. Onde está ela? (PINTO, P,27).

Reconstrução do antigo belo jardim da praça Augusto Severo. (a) estátua de Augusto Severo;(b) fonte do índio com a jiboia; (c) coreto de madeira.

Foi deste modo que a poetisa Auta de Souza, falecida em 1901, aos 25 anos de idade, foi homenageada com uma praça e um monumento em seu nome. Auta de Souza era membro de uma das famílias mais influentes do novo regime, os Castriciano. Seus dois irmãos, Eloi e Henrique Castriciano, foram figuras destacadas na política e na vida intelectual local. No entanto, o que chama atenção na evocação do nome de Auta de Souza não era tanto sua filiação, mas o fato de ser ela uma mulher, escritora e negra.

A importância dada às letras no novo regime resultou também numa homenagem póstuma à escritora Nísia Floresta. Durante os festejos do Centenário da Independência do país, foi instalada uma efígie de bronze cravada sobre uma coluna de granito na praça Augusto Severo no bairro da Ribeira. A escritora, que durante muito tempo havia sido persona non grata nos ambientes sociais natalenses devido ao seu comportamento fora dos padrões convencionais
e pelos seus escritos em prol dos direitos femininos, teve seu nome imortalizado em praça pública por meio desse monumento.

Não se tratava da primeira homenagem a escritora. No ano de 1909, o Congresso Literário e um grupo alunos do Atheneu Norte-Riograndense, com apoio do governador Alberto Maranhão, ergueram um monumento em Papari, cidade natal da escritora, para homenageá-la. Na época, os participantes do evento achavam, erroneamente, que estavam comemorando o centenário de nascimento da escritora, que só ocorreria um ano depois.

Cerimônia de homenagem aos literatos potiguares em frente à herma da poetisa Nísia Floresta É possível ver a importância da presença feminina na cerimônia cívica em razão do lugar que ocupam as moças: em frente ao orador. Estas cerimônias constituíam um espaço estratégico de visibilidade pública feminina, ao mesmo tempo que a presença das mulheres dava um sentido de familiaridade. Fonte: Acervo Fotográfico do IHGRN (1922). Foto: J. Galvão.

As homenagens feitas às duas escritoras coincidiam com um período de grande efervescência da presença feminina na vida pública e intelectual. Nos anos de 1914 e 1915, por exemplo, as escritoras Palmira e Carolina Wanderley publicaram a revista Via-Láctea, primeiro periódico no estado criado e editado por mulheres. A revista serviu para tornar pública uma produção literária feminina local, mas também para emitir opiniões e reflexões sobre temas como arte, moda, educação, feminismo, política, entre outros. Ainda em 1914 era inaugurada a primeira escola dedicada ao ensino feminino no estado. A Escola Doméstica havia sido idealizada pelo pedagogo Henrique Castriciano e tinha como base o modelo de ensino para moças adotado na Suíça (Ferreira (2009); Pinheiro (2005).).

A criação de monumentos não se limitou à política da estatuária e de blocos de pedra, mas agrupava outros tipos de suporte material que poderiam habitar nos espaços internos dos prédios públicos. Nesse aspecto, os quadros também foram utilizados, sobretudo porque poderiam ampliar o trabalho de memória. Ao serem disponibilizados em lugares fechados, eles possibilitavam ao observador uma relação mais pessoal e até introspectiva com a atividade mnemônica.

Muitos desses quadros eram compostos por retratos de líderes políticos locais, mas outros representavam acontecimentos históricos, conforme a tradição das pinturas históricas desde o Império. A introdução desses quadros ampliava as formas de representação do passado, já que os objetos escultóricos utilizados na cidade consistiam basicamente em bustos, hermas, estátuas e obeliscos em monobloco. Embora estes fornecessem uma imagem de personagens ou a referência temporal dos acontecimentos históricos dignos de nota, eram pobres em imagens que pudessem permitir uma narrativa dos eventos e personagens.

AVENIDA NÍSIA FLORESTA

Havia já na década de 1930 em Natal a Avenida Nísia Floresta, importante artéria do bairro da Ribeira que fazia confluência com a Praça José da Penha (ex Leão XIII) e a Silva Jardim. Sabe-se lá por quais motivos o nome da avenida foi alterado para o atual Duque de Caxias.

Fonte: Revista Carioca, 1936,p.5.
Fonte: Revista O  Malho, 1935,p.31.

Veremos agora a descrição da via na década de 30 no século XX:

O “Master Plan” que o sr. Omar O’Grady entregou ao technico Palumbo é a utilisação da massa citadina num plano racional de correcção. Correcção na parte existente. Os elementos constitutivos num trabalho de urbanismo serão forçosamente aquelles que se relacionem e aperfeiçoem o aspecto esthetico da cidade aproveitando seus recursos em paysagem e conjuncto, a facilidade de circulação e viação urbanas, os transportes e os recreios. A existencia do “zoning” e a inevitável arte cívica, dão a demão derradeira. O “master plan” em sua primeira plancha dá a impressão de intelligente resultado destes elementos. Os accessos á Cidade Alta passarão a quatro. A circulação será garantida pela amplidão das ruas e avenidas. O aspecto total apresentará uma harmonia da nossa Cidade tradicional com sua paysagem corrigida pela intelligencia (CASCUDO, Luís da Câmara. O Novo plano da Cidade – II – A Ribeira no ‘Master Plan. A República, Natal, n.252, p.01, 07 nov. 1929.).

Começa o passeio pelas parallelas ao rio Potengy. As ruas que cahem perpendicularmente sobre o rio serão vistas em segundo lugar.

O novo quarteirão que substituirá a praça Leão XIII terá como limites as ruas Nysia Floresta, Sachet, Tavares de Lyra e a futura praça. Nesta, no lado sul virá a Rio Branco que passando as ruas Sul e Norte (lado direito da Domestica e direito do Carlos Gomes) attingirá ahi o seu terminus.

A Tavares de Lyra continuara com seus 22 metros até a cota 5, passando à direita da praça que isolará egreja Bom Jesus e terminará num local reservado para monumento. As ruas Nysia Floresta e Ferreira Chaves subirão até a avenida Deodoro.

Rua Frei Miguelinho. Mesmo tamanho e direcção. As ruas transversaes Nysia Floresta, Ferreira Chaves e Triumpho que vêm agora atravessando a Sachet e terminando na Frei Miguelinho terão uma valorização inesperada. As duas primeiras irão até o rio, coincidindo na articulação das travessas da rua do Commercio. O final da Frei Miguelinho é a Silva Jardim. Dahi em diante é o domínio de um plano ideal, dum plano de extensão, desdobrando os horizontes da cidade do Natal.

Avenida Sachet será uma caracteristica de belleza simples e de amplidão magnifica. Virá desde a Junqueira Ayres, cortará o parque Augusto Severo fazendo triangulos rectos e isoseles, atravessa a Tavares de Lyra, Nysia Floresta, Ferreira Chaves, 15 de Novembro (por que se mudou o nome de Triumpho?) e irá em recta até a Silva Jardim. Como a Frei Miguelinho e Commercio a Sachet fixar-se-ha numa immensa avenida contornante que abraçará Natal.

Durante as três primeiras décadas do século XX, aconteceu o “empedramento” das ruas da Ribeira, que era feito com pedras irregulares retiradas das praias de modo bastante rudimentar. Segundo o relato de um jornalista no ano de 1930:

Estes calçamentos além da aspereza das arestas cortantes das pedras, eram completamente desnivelados, o que permitia a formação verdadeiros lagos na Cidade, após as chuvas. O que se passava a este respeito na Ribeira, especialmente, constitui história de ontem. Não é possível que haja alguém que já tenha esquecido o que ocorria, em regra, desde a fábrica de tecidos, por toda a Praça Augusto Severo, ruas Dr. Barata, José Bonifácio, Avenida Nísia Floresta etc…
Fenômeno idêntico ocorria na Avenida Junqueira Aires, a via única de acesso da parte baixa da Capital à Cidade Alta… (A República, Natal, 10 jun. 1930).

A citação acima foi publicada após serem feitas melhorias na pavimentação da cidade, efetuadas no decurso da administração do então prefeito Omar O’Grady, que construiu 21.016 (Cf. A República, Natal, 1 jul. 1929) metros quadrados de calçamento (paralelepípedos e macadame pichado). Observa-se que a antiga pavimentação nada mais é que “história de ontem”, o que torna claro o interesse em destruir a cidade atrasada e sobre ela, construir a cidade moderna. Fica evidente então que o bairro da Ribeira valorizou-se bastante após a pavimentação, quando foram resolvidos os problemas relativos às inundações após as chuvas. Essa pavimentação teve continuidade durante a administração do prefeito Gentil Ferreira de Souza, de 1930 a 1940.

Em fins de 1937, várias realizações viárias são iniciadas, tendo como norte as diretrizes estabelecidas pelo Plano Palumbo de 1929, tais como a avenida “em contorno á Montagem e a Limpa, ligando os bairros centraes á Praia do Meio” (MELHORANDO a cidade, A Republica, Natal, ano 68, 21 out. 1937.). Uma das grandes obras do período é a passagem de uma nova Avenida na Praça Augusto Severo, segmentando-a ao meio. A medida tem como grande objetivo possibilitar a comunicação entre duas importantes artérias da cidade: as avenidas Junqueira Aires e Nísia Floresta. Essa intervenção é vista de maneira imperiosa pelos periódicos, triste, porém, necessário ao progresso material da cidade.

O jardim da praça Augusto Severo cahiu em cheio no plano esthetico da cidade. Por elle se fará a juncção das Avenidas Junqueira Ayres e Nysia Floresta. Mas, por uma dessas coisas do destino, uma das pontes mais pitorescas e a velha cabana de pedra ficaram na faixa projectada através do jardim. Hontem passei por lá e tive uma pena enorme diante da demolição impiedosa. Da cabana restavam apenas as pedras espalhadas no quadrado de cimento que o tempo arrebentara. Da ponte, as marretas levavam as primeiras mirantes imitando madeira tosca. Sobre a ponte cruzavam os demolidores. A obra de Herculano Ramos estava ali sofrendo o golpe austero e decidido. Perto, o machado rotava as arvores pelos troncos. E eu pensei, e commigo muita gente pensou: Cahiu a cabana tosca. A ponte rustica desaparece. Entretanto, há de ficar alguma coisa na lembrança daquelles que viram nos velhos tempos a praça movimentada, sonora, cheia de gente e cheia de vida. A cabana foi recanto romântico de namorados felizes. A ponte delicioso passatempo, idyllio da juventude sentimental, ponto de recordações agradáveis que as pelliculas photographicas fixaram. E tudo isso há de deixar saudade… O sentimentalismo, todavia, cede logar aos factores do progresso. Ali será em breve uma larga avenida. Transito fácil, linha de bonde, estação de espera, movimento mundano. Em consequência, alargamento do trecho final da Avenida Junqueira Ayres e de toda a rua Juvino Barreto (MELHORANDO a cidade, A Republica, Natal, ano 68, 21 out. 1937., p. 02).

A baixo aspectos atuais da Avenida Duque de Caxias onde fora outrora a Avenida Nísia Floresta. 

Fonte: Google  Earth, 2019.

RUA NÍSIA FLORESTA

Em 1868 era publicado o ATLAS DO IMPÉRIO DO BRASIL, de autoria de Cândido Mendes de Almeida, no qual consta um mapa relativo à então província do Rio Grande do Norte. Encartadas no mesmo mapa, figuram uma planta de Natal e uma topografia do porto. Pesquisas procedidas nos levaram a determinar o ano de elaboração do mapa: 1864, quando a província era presidida pelo Dr. Olinto José Meira.

Pelo mapa observa-se que depois da Dr. Barata, seguia-se-lhe a Rua das Virgens, hoje Câmara Cascudo, que se comunicava com aquela, através da atual Travessa México e de uma outra passagem que foi absorvida pela Tavares de Lira. Em seguida vinha a antiga Rua do Bom Jesus, atual Avenida Duque de Caxias, a qual se comunicava com a Rua das Virgens através da presente Travessa José Alexandre Garcia. A Rua do Bom Jesus ligava-se à Rua da Tatajubeira, através da atual Rua
Nísia Floresta.

Era justamente nesta via que Augusto César Leite (1863-1921) atuou como gráfico, na função de distribuir e de lavrar de tipos. Era conhecido como “o homem dos sete instrumentos, aquele que harmonizara as deficiências da precária e dificultosa aparelhagem do velho prelo e das gastas caixas de tipos, compradas por Pedro Velho ao experiente Wanderley” (CASCUDO, Luís da Câmara. Actas Diurnas. O primeiro tipógrafo. A Republica. Natal, 01 jul. 1959.). Augusto Leite trabalhou, inicialmente, na oficina do jornal Correio do Natal e, depois, na tipografia do jornal do partido conservador Gazeta do Natal (1890). Ainda nos fins do século XIX, Augusto Leite passou a integrar o jornal Rio Grande do Norte. Em seguida, o tipógrafo exerceu função na oficina do jornal A Republica até o ano de 1901, preenchendo as lacunas deixadas por Augusto Tavares de Lyra e Eloy de Souza – que saíram do jornal para ocupar cargos políticos.

Logo, Augusto Leite passou a ser gerente e diretor técnico do jornal A Republica. O tipógrafo quando saiu da oficina, juntamente com Pedro Avelino, criou o jornal Gazeta do Comércio (1901). Não sabemos por qual motivo Pedro Avelino e Augusto Leite romperam com o jornal A Republica. O que temos conhecimento acerca é que o jornal Gazeta do Comércio contou a participação de Pedro Avelino, Augusto Leite e Pedro Alexandrino na composição da redação do jornal. O jornal estabeleceu uma tipografia na Travessa da Rua Frei Miguelinho. O Gazeta foi o primeiro jornal a ser publicado no século XX em Natal. Consultar: FERNANDES, Luiz. Op. Cit., p. 36.

Durante a década de 1910, Augusto Leite ainda chegou a estabelecer na cidade a sua própria tipografia localizada na Travessa Nísia Floresta, número 3. Posteriormente, mudou para a Rua Doutor Barata, número 27, no bairro da Ribeira, onde foi responsável pela impressão de alguns jornais da cidade.

O nome de Nísia Floresta hoje permanece apenas nesta pequena rua que passa ao lado do prédio da Tribuna do Norte, menos vistosa e importante como seria a altura da homenageada. Por fim e  menos gloriosa, a rua Nísia Floresta no bairro da Ribeira. Foi o que restou a ilustre potiguar em Natal.

Há atualmente debates, discursos, discussões, simpósios e mais simpósios, congressos, seminários, audiências públicas para se mudar o nome da Avenida Salgado Filho (que nada tem a ver com o RN) para Nísia Floresta. Pelo andar das coisas, ficará somente no campo das discussões.

NO ESPORTE NÁUTICO

O esporte náutico praticado na beleza de um Rio Potengi menos poluído teve grande desenvolvimento a partir da fundação do Centro Náutico Potengi e do Sport Clube de Natal. Em dia de regata toda cidade ficava em festa. A rivalidade era grande, assemelhada a um clássico de futebol nos dias atuais. As embarcações alvinegras e rubro-negras faziam disputas duríssimas com a participação animada das torcidas que se acomodavam principalmente no Cais Tavares de Lira e no Passo da Pátria. O terceiro clube náutico criado em Natal foi o Riachuelo com padrão alviazulino.

Quando um dos clubes adquiria uma nova embarcação havia a cerimônia do batismo do barco (ver foto na sequência). Cada iole recebia um nome, como Nísia Floresta e Potengi.

Senhoras da sociedade na cerimônia de batismo de iole no Centro Náutico.

GRUPO ESCOLAR NÍSIA FLORESTA

A escola exibe com orgulho os seus representantes políticos e sociais, uma verdadeira apologia ao Estado republicano e à cultura urbana. Assim também foram atribuídos aos patronos dos demais grupos escolares do Estado, perpetuar a memória dos representantes máximos, onde se implantavam estes estabelecimentos. Essencialmente homens que ocuparam cargos públicos, senadores, deputados, políticos locais, barões, coronéis. Do período estudado, de vinte e cinco grupos escolares, apenas dois tinham como patronesse, Nísia Floresta (Grupos Escolar Nísia Floresta, Decreto de criaçãon.226, de 08/07/1910 Vila de Paparie) Auta de Souza.

As vinte quatro edificações construídas ou adaptadas para o funcionamento de grupos escolares nos principais núcleos populacionais do Estado, configuram equipamento de transformação urbana e de avanço educacional, na primeira década do século XX, sendo que:

Os prédios adaptados foram: Grupo Escolar 30 de Setembro (Mossoró); G. E. Fabrício Maranhão (Pedro Velho); G.E. Nísia Floresta (Papari); G. E. Jacumaúma (Arês); G.E. Auta de Souza (Macaíba); G. E. Cap. Mor Galvão (Currais Novos); G. E. Ferreira Pinto (Apodi); G. E. José Rufino (Angicos); G.E. Cel Fernandes (São Miguel) e G.E. Dr. Otaviano (São Gonçalo).

MONUMENTO A NÍSIA FLORESTA

Vamos mudar agora, mas por pouco tempo, de direção, ao tratar do perfil de Eduardo dos Anjos, intendente entre os anos de 1923 e 1925. Dizemos que se trata de uma mudança de direção, pois, finalmente, vamos tratar de um personagem que não carregava ao lado de seu nome uma patente. As matérias e notas de jornal que tratam desse personagem mostram que ele começou a construir seu caminho em direção ao Conselho de Intendência Municipal ainda no início do século XX. São desse período algumas das obras encomendadas ao “empreiteiro” Eduardo dos Anjos pelo governo do Estado.

No ano de 1909, Eduardo dos Anjos começará um outro trabalho noticiado pel’A Republica, o erguimento do alicerce para a construção do monumento
a Nísia Floresta, no município de Papary (atualmente com o nome dessa poetisa), serviço pago pelo Conselho de Intendência local (A REPUBLICA, Natal, 01 out. 1909.)

Monumento em homenagem a Nisia Floresta, construído em 1909, sobre as ruínas de onde existira a antiga casa onde ela viveu, no “Sítio Floresta” (Papary, hoje Nísia Floresta). Na ocasião, pensavam, erroneamente, que Nísia Floresta havia nascido em 1909, portanto a iniciativa era uma homenagem ao centenário do nascimento dela. Mas na realidade Nísia Floresta nasceu no dia 12 de outubro de 1910. Acervo: L. C. Freire.
Aqui vemos uma interessante fotografia do monumento a Nísia Floresta, erguido no Sítio Floresta, na antiga Papary, atual município de Nísia Floresta, Rio Grande do Norte. Um dos presentes na foto é o então padre Antônio Xavier de Paiva, vigário de São José de Mipibu, cidade vizinha a Papary.

MAUSOLÉU DE NÍSIA FLORESTA

Nísia Floresta Brasileira Augusta, nascida na antiga Papary, viveu sua infância no sítio Floresta, lugar que viveu sempre na sua recordação de escritora e poetisa (PEREIRA, 1986). Nísia Floresta, amante das letras, educadora, mulher à frente do seu tempo.

Nas palavras de Pereira (1986, p. 92), ela foi uma liberal-romântica, no melhor estilo da segunda metade do século XIX. Conviveu com grandes intelectuais do seu tempo, destacando sua amizade com Augusto Comte. Cosmopolita viveu e produziu grande parte de sua obra literária na Europa.

Mausoléu de Nísia Floresta. Foto: arquivo da SEMURB – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo.

Após peregrinar pelo mundo, a menina de Papary, faleceu aos 76 anos de idade na França. Muitos foram os intelectuais potiguares que reivindicaram o translado dos restos mortais da ilustre conterrânea para terra que a homenageou transformando Papary no município de Nísia Floresta.

Em missas realizadas na Igreja Matriz de Papari, vigário geral de Natal, na época, era o monsenhor João da Matha Paiva, político militante que havia exercido o cargo de deputado estadual pelo PP no período de 1935-37, em 1945, compunha a linha de frente da UDN no estado, imbuído dos ideais da LEC, convocava a população para realizar uma concentração em frente ao monumento que homenageava a poetisa Nísia Floresta. Para o jornal,

[…] obedecendo ao apoio do seu esforçado guia espiritual os sodalícios locais, com suas insígnias e estandartes, as crianças das escolas e ponderável número de povo dirigiram-se em romaria cívico religiosa ao oratório público do porto, onde se realizou uma grande e animada concentração a qual ao defrontar o monumento de Nísia Floresta, entoou vibrantemente o Hino Nacional (Concentração anti-comunista em Papari. Entusiástica oração do Cônego Pedro Paulino. A ordem, Natal, p. 4, 21 ago. 1945. O evento ocorreu em 18 de agosto de 1945.).

FONTES SECUNDÁRIAS:

CARDOSO, Vicente Licínio (Org.). À margem da História da República. Brasília: editora da Universidade de Brasília, 1981. v.1.

DUARTE, Constância L. Nísia Floresta: a primeira feminista do Brasil. Florianópolis: Mulheres, 2005.

FERNANDES, Luiz. A Imprensa periódica no Rio Grande do Norte (1832 a 1908). Fundação José Augusto: Sebo Vermelho, 1998. p. 22-25.

FERREIRA, Yuma. A criança e a cidade: as transformações da infância numa Natal Moderna, 1890-1929. 2009. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2009.

PEREIRA, Nilo. Evocação de Nísia Floresta e Varela Santiago. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte. Natal, v. 78, p. 80-93, 1986.

SOUSA, A. K. P. As Praças Históricas e o Conjunto Arquitetônico, Urbanístico e Paisagístico de Natal: proposta de intervenção na Praça Sete de Setembro. 2013. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:

“Em cada esquina um poeta, em cada rua um jornal”: a vida intelectual natalense (1889-1930) / Maiara Juliana Gonçalves da Silva. – Natal, RN, 2014.

A construção do espaço cívico: monumentos e rituais de memória na Natal republicana (1902-1922). HELDER DO NASCIMENTO VIANA. Universidade Federal do Rio Grande do Norte / Natal, RN, Brasil.

Anuário Natal 2009 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN): Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2009.

Caminhos de Natal / Jeanne Fonseca Leite Nesi ; ilustrações, Urban Sketchers Natal. – Dados eletrônicos (1 arquivo PDF). – 2. ed. – Natal, RN : IPHAN, 2020.

Caminhos que estruturam cidades: redes técnicas de transporte sobre trilhos e a conformação intra-urbana de Natal / Gabriel Leopoldino Paulo de Medeiros. – Natal, RN, 2011.

CASCUDO, Luís da Câmara. Nomes da terra: história, geografia e toponímia do Rio Grande do Norte. Natal: Fundação José Augusto, 1968.

Dos bondes ao Hippie Drive-in [recurso eletrônico]: fragmentos do cotidiano da cidade do Natal/ Carlos e Fred Sizenando Rossiter Pinheiro. – Natal, RN: EDUFRN, 2017.

Educar para o lar, educar para a vida : cultura escolar e modernidade educacional na Escola Doméstica de Natal (1914-1945) / Andréa Gabriel F. Rodrigues. – Natal, 2007.

Linhas convulsas e tortuosas retificações Transformações urbanas em Natal nos anos 1920 / George Alexandre Ferreira Dantas. — São Carlos – SP. Outubro de 2003.

MALUF, Marina; MOTT, Maria Lúcia. Recôndidos do mundo feminino. In: NOVAIS, Fernando A; SEVCENKO, Nicolau. República: da Belle Époque à Era do Rádio. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. (Coleção História da Vida Privada no Brasil 3).

Natal: história, cultura e turismo / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. – Natal: DIPE – SEMURB, 2008.

Natal Não-Há-Tal: Aspectos da História da Cidade do Natal/Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo; organização de João. Gothardo Dantas Emerenciano. _ Natal: Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2007.

Natal, outra cidade! [recurso eletrônico] : o papel da Intendência Municipal no desenvolvimento de uma nova ordem urbana na cidade de Natal (1904-1929) / Renato Marinho Brandão Santos. – Natal, RN : EDUFRN, 2018.

O BAIRRO DA RIBEIRA COMO UM PALIMPSESTO: dinâmicas urbanas na Cidade de Natal (1920-1960). Anna Gabriella de Souza Cordeiro. Natal-RN. Julho de 2012.

Partidos, candidatos e eleitores: o Rio Grande do Norte em campanha política (1945-1955) / Jailma Maria de Lima. – Niterói, RJ, 2010.

SOBRE COMO FOI APAGADO O NOME DE NÍSIA FLORESTA NA CAPITAL POTIGUAR. Crônicas taipuenses. https://cronicastaipuenses.blogspot.com/2019/05/demasiado-seria-dissertar-sobre.html. Acesso em 14/01/2023.

Um artífice mineiro pelo país: formação, trajetória e produção do arquiteto Herculano Ramos em Natal / DÉBORA YOUCHOUBEL PEREIRA DE ARAÚJO LUNA. – Natal / RN, 2006.

Um espaço pioneiro de modernidade educacional: Grupo Escolar “Augusto Severo” – Natal/RN (1908-13). Ana Zélia Maria Moreira. – Natal, RN, 2005.

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