As homenagens para Augusto Severo

Augusto Severo, maior representante dos ideais de progresso e das ciências no Estado, encarnação dos mais caros valores republicanos. Os nomes desses heróis aparecem imortalizados em várias publicações, fossem jornais, revistas, ou mesmo livros que retratavam a história local, mas também em monumentos e edificações. Um dos maiores grupos escolares da capital recebem, não por acaso, estampados em suas fachadas, os nomes de Augusto Severo, 1907.

Um dos primeiros atos de do governador Alberto Maranhão para homenagear seu irmão foi instituir, por meio da Lei nº 175 de 26 de agosto de 1902, um feriado estadual no Rio Grande do Norte – 12 de maio – rememorando o dia e mês da morte de seu irmão aviador, morto em acidente em 1902, ao sobrevoar Paris a bordo do dirigível PAX. Esse feriado foi revogado durante o segundo governo de Joaquim Ferreira Chaves (1914 a 1920) por meio da Lei nº 376 de dezembro de 1914 (SOUZA, Itamar de. A República Velha no Rio Grande do Norte. p. 232.).

Segundo Anderson Dantas a morte de Augusto Severo acabou se tornando um marco originário de uma sequência de homenagens que foram feitas ao próprio Augusto Severo e, consequentemente, a outros membros da família Albuquerque Maranhão.

AUGUSTO SEVERO

Augusto Severo de Albuquerque Maranhão nasceu em Macaíba RN, em 11 de janeiro de 1864. Era filho de Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão e Feliciana Maria da Silva e Albuquerque. O menino Augusto estudou as primeiras letras em Macaíba, com o professor Manuel Fernandes de Oliveira. Concluiu com brilhantismo o curso secundário de humanidades, em um colégio da Bahia.

Após os estudos preparatórios, Augusto Severo matriculou-se na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, em 1880. Abandonou o curso de Engenharia, no segundo ano, por ter sido acometido de uma grave enfermidade, que o obrigou a voltar para o Rio Grande do Norte.

Em 1882, Augusto Severo associou-se ao seu irmão Pedro Velho, fundando o Ginásio Rio-Grandense, ocupando então os cargos de vice-diretor e professor de matemáticas. Na ocasião ele iniciou as primeiras pesquisas sobre aeroplanos, orientado pelas experiências do aeronauta paraense, Júlio César.

O Ginásio Rio-Grandense fechou em 1883. No ano seguinte, Augusto Severo dedicou-se à vida comercial, no Porto de Guararapes. Em 1888, com sua transferência para Natal, envolveu-se completamente nas agitações políticas da época, participando da Campanha Abolicionista iniciada por Pedro Velho, e na propaganda republicana, revelando na oportunidade seus dotes de orador e jornalista. No mesmo ano, casou-se com Maria Amélia Teixeira de Araújo, falecida no Rio de Janeiro, em 1896.

Após a proclamação do novo regime político, Severo abandonou a vida pública. Foi ele eleito Deputado Local, em 1892, sendo sucessivamente reeleito até sua morte. Simultaneamente, Augusto Severo abandonou seus estudos sobre a dirigibilidade dos balões.

Em 1893, ele conseguiu do Governo Federal, autorização e ajuda financeira para construir um pequeno balão. Seguiu então para o Rio de Janeiro, onde construiu em Realengo, o dirigível “Bartholomeu de Gusmão”. Um dos varões de alumínio que sustentavam a barquinha quebrou, provocando a queda do balão e causando um grande susto no aeronauta.

Embora frustrado, Augusto Severo não desanimou, e em 1901 seguiu para Paris, sonhando construir, com recursos oriundos de donativos generosos dos seus amigos, um aparelho capaz de provar a viabilidade da sua descoberta. “Já estou vendo meu aeróstato, vencedor das tempestades, pairando sobre o mundo como um sinal de paz universal’’.

O novo balão denominava-se PAX, medindo 30×12 metros. O PAX, com uma capacidade de 2.000 metros cúbicos, possuía três hélices de propulsão colocadas na proa e popa, duas hélices na frente e atrás da barquinha, que possibilitavam sua direção, e outra no meio. Possuía dois motores, um deles com 20 cavalos (160 quilos) e o outro, com 16 cavalos (100 quilos).

A barquinha foi confeccionada com hastes de bambu ligadas por fios de aço, apresentando ainda, algumas partes de alumínio. Augusto Severo realizou sua primeira experiência com o PAX, no dia 2 de dezembro de 1901, a 3.000 metros de altitude, atingindo uma velocidade de 200 km/h.

O PAX foi concebido dentro das normas técnicas e o emprego dos materiais disponíveis, de acordo com os recursos do seu inventor. Augusto Severo preparou com dedicação sua exibição oficial, marcada para 12 de maio de 1902.

“Se por grande acaso eu vier a cair, os senhores me verão em pedaços, porque não tenho medalha milagrosa. Creio na Ciência unicamente e não na proteção divina”. Finalmente, a 12 de maio de 1902, sob os céus de Paris, o dirigível PAX, que havia subido obedecendo ao comando do seu inventor, explodiu o motor, a 400 metros de altura, produzindo incêndio na aeronave, o que provocou a sua queda em plena avenida Maine, nas proximidades do Cemitério de Montparnasse. O mecânico Sachet morreu carbonizado e Augusto Severo, com a cabeça e o tronco quase intactos, e os sapatos atravessados pelos ossos das pernas, faleceu cinco minutos após o impacto.

O cosmopolita Augusto Severo de Albuquerque Maranhão foi personagem marcante na história da aviação mundial, tendo morrido no céu parisiense, em maio de
1902, após sobrevoar com o seu balão Pax as ruas da Cidade Luz reformada na gestão do prefeito Haussmann.

Falecido Augusto Severo seu corpo foi embalsamado e transportado para o Rio de Janeiro, em um caixão envolvido com as bandeiras do Brasil e da França. Chegando ao Brasil em 15 de junho, o corpo foi sepultado no Cemitério de São João Batista, naquele mesmo dia. Augusto Severo era Deputado Federal à época de sua morte.

Teve sete filhos de dois casamentos, o primeiro com Maria Amélia Teixeira de Araújo, e o segundo com Natália de origem italiana. Com o intuito de constituir um patrimônio para os órfãos houve movimento dos membros dessa elite local para constituir patrimônio para os órfãos do herói potiguar. Até uma casa se construiu, com os dinheiros publicos, no muro da casa dos filhos do Augusto Severo, disendo-se que servirá para alojar a guarda de pessoa do dr. Augusto Lyra. […] (DIA a dia. As Obras Publicas. DIARIO DO NATAL, Natal, 09 fev. 1905).

Augusto Severo (1864-1902)
Fonte: (INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRAFICO DO RN,1927).

PRAÇA AUGUSTO SEVERO

Assim como Pedro Velho, Augusto Severo também ganhou seu canto na cidade. O espaço escolhido foi a Praça da República, no bairro da Ribeira. Em 14 de maio de 1902 a Praça recebeu o nome atual – Augusto Severo.

A referida praça, sob a denominação de Praça da República, já existia desde os meados do século XIX, embora apresentando menores proporções, devido à invasão provocada na área pelas grandes marés. Em 1853, Antônio Francisco Pereira de Carvalho já demonstrava a conveniência da construção da praça. Ordenou então, por ocasião da abertura da Assembleia Provincial, que a Câmara Municipal proibisse ali as edificações particulares.

Em 11 de junho de 1904 o Governador do Estado, Tavares de Lira, contratou o arquiteto Herculano Ramos para projetar e realizar obras de aterro e ajardinamento da Praça Augusto Severo. Tamanha foi a satisfação natalense, que logo todos passaram a colaborar com a obra. O negociante Silvestre Alves Pereira ofereceu duas belíssimas palmeiras oriundas do Pará; o Capitão Manuel Joaquim do Amorim Garcia, três oitizeiros; o Coronel Avelino Freire ofereceu duas palmeiras imperiais.

Os serviços foram imediatamente iniciados. O sistema de galerias para escoamento das águas, custou 13:378$618 (treze contos, trezentos e setenta e oito mil, seiscentos e dezoito reis). Em seguida foram calçadas as ruas que contornam a praça pelo norte e poente, sendo gasta com esse serviço a quantia de 18:265$940 (dezoito contos, duzentos e sessenta e cinco mil, novecentos e quarenta reis).

No caso de Natal, essa modernização pôde contar ainda com outros recursos, como aqueles enviados pelo governo federal com o objetivo de combater os efeitos das secas. Foi o que ocorreu na seca de 1903 – 1904. Com a verba recebida e a utilização da mão-de-obra de milhares de retirantes que se concentravam na capital, adiantou-se a construção da Praça Augusto Severo, na Ribeira, foram calçadas várias ruas e abertas avenidas que iriam originar a então chamada “Cidade Nova”, os atuais bairros de Tirol e Petrópolis. (MONTEIRO, 2000, p. 168).

A mão-de-obra utilizada foi a dos retirantes que se acumulavam na cidade – cerca de 15.647, segundo Cascudo (1999 [1946], p. 153).

Retirantes tentam invadir a residência do governador Tavares de Lyra em 1905. Fotografia de Bruno Bougard.
Vista do largo do teatro mostrando um panorama do antigo teatro Carlos Gomes.

Em 1904, a Comissão de Melhoramentos do porto de Natal, juntamente com a administração local, começa a utilizar as verbas destinadas aos melhoramentos do porto de Natal para empregar os retirantes em obras da capital, as quais atendiam tanto ao “embelezamento” da cidade como às obras do porto. O material dragado do leito do rio era transportado por esses trabalhadores, que recebiam um pequeno ordenado, para aterrar a praça Augusto Severo. Ainda lhes era permitido fixar residência nos arredores da “Limpa”, para que suas habitações auxiliassem na fixação das dunas móveis que aterravam o canal do porto.

No governo de Tavares de Lyra (1904-1908) muitos projetos de melhoria e aformoseamento urbano foram concluídos. Dentre os referidos projetos podemos destacar a inauguração do teatro, a conclusão das obras de ajardinamento da praça Augusto Severo, o aterro e nivelamento da Praça Leão XII, o calçamento da Avenida Rio Branco e outras avenidas da cidade, incluindo as novas avenidas na Cidade Nova (OLIVEIRA, Giovana Paiva de. De cidade a cidade: o processo de modernização do Natal 1889/1913. Natal: EDUFRN, 1999. p. 71-73.).

Entre os anos de 1904 e 1905, a Praça Augusto Severo sofreu uma reforma radical que tornaria o referido logradouro em um dos espaços mais agradáveis e saudáveis da cidade. A obra de saneamento e aformoseamento da praça foi confiada ao arquiteto Herculano Ramos, que planejou a construção de um espaço que fosse capaz de arejar o local, tornando o clima mais ameno e o ar mais salutar.

Em 29 de setembro de 1904, Herculano Ramos informava ao público da necessidade de interromper o trânsito de carros e cavalos, no trecho entre a Estação da Estrada de Ferro e a casa do Comendador José Gervásio, visando a construção de uma pequena ponte. As pessoas que transitassem a pé, poderiam utilizar uma ponte provisória de madeira que se achava no local.

O ajardinamento da Praça Augusto severo foi alvo de inúmeros elogios por parte de muitos natalenses. À época da construção do jardim, uma casa comercial da cidade, o Armazém Progresso, instalado no bairro da Cidade Alta, ao fazer a propaganda do sortimento de mercadorias da casa inicia o texto propagandista, apesar de tal texto ser exposto no jornal da oposição, com um forte louvor à obra. A nota publicitária dizia o seguinte: “tem atualmente despertado a attenção do respeitavel publico desta capital a obra em construção e pelo que a todos parece ser bella um agradabellissimo ponto de diversões” (Jardim publico. O Diário de Natal, 10 de julho de 1904).

Nesse mesmo ano, depois da acentuada crítica feita no relatório da intendência, um protesto estampado nas páginas “d’A República”, sob a epígrafe “Absurdo inqualificável”, denunciava que um circo espanhol montado na Praça Augusto Severo planejava cortar parte das mungubeiras existentes naquele logradouro, por achar que era um absurdo tal ação, o jornal pediu providências para que o ato fosse evitado. No dia posterior ao protesto foi escrita uma matéria assinada pelo tal Catavento, que aplaudindo a atitude do poder público, dizia que:

O grito de alarma soltado opportunamente pela A Republica e a efficaz intervenção da auctoridade impediram a consumação do attentado que se ia praticando sobre a ramaria dessas esplendidas mungubeiras a cuja sombra se vem desalterar da canicula ou espairecer penas e lidares muitos que buscam um pouco de repouso sob a copa da arvore (…) (Frioleiras. A República, 10 de junho de 1905.).

Em outubro de 1905 foi assentada na praça uma fonte de ferro fundido, de alto valor artístico, confeccionada na Europa. Em 15 de novembro de 1905, a praça foi entregue à serventia pública. O antigo pântano havia sido transformado em um dos mais belos recantos de Natal.

A Praça Augusto Severo e a estação de trem se tornam, a partir dos melhoramentos, no local das principais cerimônias cívicas e militares do Rio Grande do Norte. Um exemplo disso é decoração da estação da Great Western para receber o Presidente Afonso Pena em 1906 (A REPUBLICA, 1906, p. 01). Não apenas a estação,
mas a praça também é decorada.

O ajardinamento e a urbanização da praça Augusto Severo, juntamente com a abertura da linha de bonde Cidade Alta-Ribeira, em 1909, sela a união dos dois primeiros bairros da cidade do Natal, que antes tinham a sua livre circulação cortada por uma braça do rio Potengi.

A praça ocupava então uma vasta área, hoje bastante reduzida. Apresentava alamedas formadas por oitizeiros e palmeiras imperiais. Havia um canal de cimento e pedra que circulava toda a praça, como uma serpentina, com um constante movimento de água de conformidade com as marés.

Postal da praça Augusto Severo, por volta de 1910 mostrando um trecho da antiga rua das lojas, atual rua Dr. Barata.
Praça Augusto Severo (1902). Foto: Autor Desconhecido. mostra a difícil vida os retirantes da seca que perambulavam pelas ruas da cidade no início do século XX.
Praça Augusto Severo.
Cartão postal mostrando a Villa Barreto, construída pelo Comendador Juvino Cezar Paes Barreto. Sua viúva Ignez Barreto Maranhão, faleceu no casarão no ano de 1932. Em Agosto de 1936, sua filha Consuelo Barreto Bahia, deixava o casarão com a família, para no local ser instalado o Colégio Salesiano São José.
Via Instituto Tavares de Lyra

Foi apresentado na Mensagem de Governo em 1905, o contrato firmado entre o governo com a empresa de Iluminação a Gás Acetileno de Francisco Gomes e Domingos Barros, para a contratação do serviço de iluminação por gás acetileno, que viria a substituir o ineficaz uso do querosene. De acordo com o contrato, a iluminação (tanto pública quanto particular) compreenderia o trecho entre a Praça Andre de Albuquerque e o Quartel de Segurança, abrangendo a Rua Treze de Maio, Praça da República, Rua Doutor Barata, Praça Augusto Severo, Avenida Junqueira Aires, Rua da Conceição, Praça Municipal, travessa do Congresso e da matriz e a Praça Andre de Albuquerque. Os postes, de acordo com o contrato, guardariam a distância máxima de 30 metros uns dos outros e cada bico de luz teria a força de 15 velas.

Embora o contrato estipulasse um prazo de um mês, desde a data de assinatura (novembro de 1904), entre o inicio da implantação do novo sistema de iluminação e sua finalização estipulada para abril de 1905, a inauguração só ocorreria na noite do dia 27 de junho de 1905, fato bastante comentado pela imprensa da época, como pode-se observar na manchete do jornal A República:

AEROPORTO AUGUSTO SEVERO

“Inaugurou-se ontem o novo sistema de iluminação pública no trecho compreendido entre a praça ‘Augusto Severo’ e o quartel do Batalhão de Segurança, instalada pela Empresa de Gás Acetileno. A nova iluminação deu excelente resultado, funcionando sem incidente até quatro horas da madrugada de hoje” (A Republica,1905, p.02.)

O canal era cortado por três pontes rústicas, muito pitorescas. Posteriormente o canal foi aterrado. Embora sem qualquer serventia, ainda existe uma pontezinha de alvenaria e concreto, que substituiu a primitiva executada por Emídio Florentino, imitando bambu oriental. Próximo à casa da viúva de Juvino Barreto, o atual
Colégio Salesiano, havia um caramanchão com uma cobertura de quatro águas, envolvido por belas trepadeiras. Havia também um grandioso coreto com estrutura de ferro. Em 19 de março de 1911 foi inaugurada na praça Augusto Severo um medalhão de bronze, em homenagem a Nísia Floresta. A estátua de Augusto Severo foi finalmente inaugurada, em 12 de maio de 1913, dia do 11 º aniversário do desaparecimento do homenageado.

Outro fato curioso é que Fortunato Aranha investiu também na área de divertimentos públicos, tendo inaugurado na Praça Augusto Severo, em 1911, uma onda gyratoria, espécie de carrossel cuja entrada custava 200$. O divertimento teve grande concorrência no dia de sua inauguração (A REPUBLICA, Natal, 06 fev. 1911; 06 maio 1911.).

O contrato firmado em 1913 entre o governo do Estado do Rio Grande do Norte e a empresa Tração, Força e Luz elétrica de Natal traz as disposições gerais que regulamentaram a concessão da exploração dos serviços urbanos da capital. Nesse documento, entre outras prescrições, o prazo previsto para concessão dos serviços foi de cinqüenta anos. A empresa teria que realizar a iluminação pública desde o anoitecer até o amanhecer, sem nenhuma interrupção relacionada ao luar. Para tanto, seriam acesas “quatrocentas lampadas incandescentes de trinta e duas velas, mais a illuminação de gala e quatro lampadas de cem velas para os pavilhões das praças Augusto Severo e André de Albuquerque” (GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE. Contrato para a Luz, Força, tracção, Águas, Exgottos, Telephones etc. São Paulo: Siqueira, Nagel & Comp. 1913. p. 4-5.).

A Praça Augusto Severo situava-se num dos endereços mais importantes da cidade no início do século XX. Nesta área, encontra-se o Teatro Alberto Maranhão e o prédio do Grupo Escolar Augusto Severo. Os melhores e mais luxuosos hotéis ficavam circunscritos nesse logradouro, além do cinema, o Polytheama. A Estação Ferroviária também estava na Praça Augusto Severo. O porto de Natal fica bem próximo dela. Essa praça era o primeiro local visto pelos passageiros que desembarcavam na cidade.

Mas nem sempre fora assim. A área que corresponde a essa praça não passava de um terreno pantanoso e alagadiço das águas do Potengi, águas estas consideradas “impregnadas de matérias vegetais putrefatas”, causadora de doenças (NESI, Jeanne Fonseca Leite. Caminhos de Natal. Natal: Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, 1997. p. 84.). Até pouco tempo antes dessas modificações, Natal era apenas uma cidade considerada atrasada, com matadouros públicos, com problemas de insalubridade e de coleta do lixo e uma população, que segundo relatos da época, não conseguia seguir normas de higiene.

Procurando mostrar que o atraso primitivo em que se conserva higiene pública e particular entre nós, é principalmente a consequência da falta de incúria da população residente e da sua falta de compreensão dos princípios higiênicos, e que esse estado selvagem bem podia ser modificado (ARRAIS, Raimundo e outros. O Corpo e a Alma da Cidade: Natal entre 1900 e 1930. p. 86.).

Enquanto que a Praça Augusto Severo era o símbolo de modernidade da sociedade natalense, o trecho percorrido pelo trem na zona urbana representava justamente o contrário. Em artigo de 19 de junho de 1917, são expostas as impressões de quem chega pelas linhas férreas à capital, tanto em relação à aparência estética das edificações, quanto em virtude do aspecto das populações que residem nas imediações da ferrovia.

Em Natal o jardim da Praça Augusto Severo na Ribeira aglutinava muitas pessoas que iam passear e ouvir as apresentações da Banda do Batalhão de Segurança. Essas apresentações musicais eram chamadas de retretas. Em crônicas da época como a de 1918 redigida por Pandessú Riola, colaborador de A República, nos bancos da praça próximo ao coreto podia-se perceber um pequeno número de moças nos bancos para assistir as apresentações. De acordo com a análise da crônica por Marinho, não era comum encontrar nas apresentações a presença de mulheres solteiras, as mulheres que apareciam em maior grau eram as senhoras casadas e as crianças.

O passeio público pela cidade, mais precisamente pelos pontos considerados como apropriados para esse passeio, como a Praça Augusto Severo, ou a Avenida Tavares de Lyra, eram oportunidades para que as elites locais pudessem apresentar para a população os utensílios vistos como “última moda” nos grandes centros urbanos nacionais e mundiais.

Aulas, agradáveis e salutares, eram geralmente realizadas nos jardins da cidade, como a que aconteceu no dia 15 de abril de 1920, quando o grupo escolar Augusto Severo realizou, com a presença do diretor do grupo, Nestor Lima, todos os professores e uma grande quantidade de alunos, nos jardins da Praça Augusto Severo, uma série de lições de geografia e de botânica, mesmo com a intensa chuva que caía no dia (Pelo ensino – passeios escolares. A Republica 20 de abril de 1920).

O relatório de 1926, rico em quadros, tabelas e imagens da cidade, mostra que a cidade começava a ser remodelada por meio de diversas obras. Entre elas, estavam a construção do cais de desembarque na Tavares de Lyra, o novo calçamento na Praça Augusto Severo.

Os sinos da Catedral de Natal repicaram alegremente para anunciar a próxima chegada do marquês e aviador italiano Francisco Di Pinêdo, que pousou no Rio Potengi numa manhã de fevereiro de 1927. Milhares de pessoas entusiasmadas se deslocaram para recepcionar o herói. Um corso de automóveis comandado pelo prefeito Omar O`Grady conduziu o italiano desde o Cais até a estátua de Augusto Severo.

De acordo com jornal A Republica, ainda notavas e alguns lugares da cidade com pouca iluminação, entre os quais foram apontados as praças Augusto Severo e André de Albuquerque, o cais Tavares de Lyra e a frente do Palácio do Governo, mas a maioria das ruas da cidade havia ficado “magnificamente illuminadas” com a nova iluminação (A INAUGURAÇÃO da nova illuminação pública da capital. A Republica, 23 de abril de 1931, p. 1.).

Numa matéria, publicada em 1936, são feitos relatos sobre as reformas que estavam sendo iniciadas no ‘square’ Pedro Velho, na praça 7 de setembro, no Jardim Augusto Severo e na praça André de Albuquerque, afirmando-se que a prefeitura contava com “o povo para zelar o que é seu” e trazendo reclamações de que “desocupados guerreiem os nossos jardins, quebrando os bancos, arrancando criminosamente as roseiras, pisando a grama e devastando as árvores” (A Republica. Natal e os seus problemas urbanos. 22 de março de 1936, p. 01 e 02.) . As denúncias, nos jornais, sobretudo, revelavam o que era e o que não era adequado ao viver urbano.

A cidade cresce significativamente durante os anos finais da década de 1930. Porém, espaços consolidados, como a Praça Augusto Severo – referida como “desolada praça da Ribeira” –, e as suas estruturas circundantes – entre elas a estação da Great Western – passam a sofrer um paulatino processo de deterioração (SOCIAES, 1937b).

Cascudo (1947, 1999, p.154) escreveu, em 1946, sobre a situação da praça ao final do período bélico: “Esse parque, maravilhoso de justiça urbanística, foi sendo pouco a pouco guerreado e acabou no que está, praça banal entre praças banalíssimas. […]. Mutilado e sem função é um lugar por onde se passa e nada sugere parar e descansar”. E o golpe final se deu com a construção da rodoviária em 1963 no local, que dividiu a praça em duas partes, agravando ainda mais a destruição da mesma, como bem apontou Paulo José Lisboa Nobre, Marizo Vitor e Isaías Silva Pereira (2008).

Festividades escolares na praça Augusto Severo em 1912. A alusão ao mártir da aviação nos eventos civis realizados na praça era constante. No estandarte do desfile pode se ver “PAX”, o dirigível pilotado por Augusto Severo. O sobrado que aparece em segundo plano é a indústria de tecidos de Juvino Barreto. Fonte: CD Natal 400 anos.
Um dos diversos desfiles realizados durante a cerimônia do Centenário da Independência. O préstito cívico concentrado na praça Augusto Severo, em frente à nova sede do poder estadual, foi recebido oficialmente pelo presidente do Rio Grande do Norte, Antonio José de Mello e Souza. Praça Augusto Severo. Fonte: Acervo IHG/RN. Foto: Autor Desconhecido
Acervo Fotográfico do IHGRN (1922). Foto: J. Galvão. Cerimônia de homenagem aos literatos potiguares em frente à herma da poetisa Nísia Floresta É possível ver a importância da presença feminina na cerimônia cívica em razão do lugar que ocupam as moças: em frente ao orador. Estas cerimônias constituíam um espaço estratégico de visibilidade pública feminina, ao mesmo tempo que a presença das mulheres dava um sentido de familiaridade.
Vista Geral do Jardim da Praça Augusto Severo. Finalmente o espaço estava pronto para receber os prédios públicos que delimitariam a praça. Observar a existência de lojas na face norte, com destaque para Paris em Natal, o sobrado situado na esquina à direita da praça. Fonte: Lyra, Carlos. Natal através do tempo, 2001.
Reconstrução do antigo belo jardim da praça Augusto Severo. (a) estátua de Augusto Severo;(b) fonte do índio com a jiboia; (c) coreto de madeira.
As pontes da Praça Augusto Severo.
Ponte rústica sobre o canal do jardim da Praça Augusto Severo. Finalmente o cenário se completava. A maior parte das fotografias terá como referência a praça, juntamente com a Estação da Great Western, o pórtico da cidade. Fonte: CD Natal 400 anos. Somente em 1904 o Governador Augusto Tavares de Lyra concretizou estas reformas, e o novo nome do logradouro, antes denominado Praça da República (1901), passou a se chamar Praça Augusto Severo.
Praça Augusto Severo. Fonte: Cartão postal, sem data. Os retirantes foram contratados para ajudar na urbanização do espaço. Os natalenses fizeram doações de plantas como palmeiras imperiais, fícus benjamim e oitizeiros para ornarem os jardins. Assim as obras recomeçaram, e lá foram construídas galerias de escoamento, calçamento das ruas ao redor e até uma fonte.
Uma das pontes que existia na Praça Augusto Severo. Praça Augusto Severo. GALVÃO, João. In: NOBREAS, Edras Rebouça (Org). Natal 400 anos de história, turismo e emoção. Natal, 1999. il. CD-ROM.
Cartão-postal da década de 1910 cujo tema era a Praça Augusto Severo e o seu jardim público pitoresco, projetado e construído sob a direção do arquiteto Herculano Ramos; ao lado do Teatro Carlos Gomes, compôs um dos principais locais de novas sociabilidades de Natal na Primeira República. Fonte: Acervo Diário de Natal. Praça Augusto Severo – jardim construído por Herculano Ramos fonte: CD – Natal 400 anos (início do século XX).
Pormenor da Praça Augusto Severo em cartão-postal da década de 1910. Fonte: Acervo Diário de Natal. A contratação, nesse mesmo ano, do arquiteto Herculano Ramos para conclusão das obras do teatro, além da sua decoração e cenografia, e para projetar, desenhar e conduzir a construção da Praça Augusto Severo construída em frente ao teatro, sobre a antiga e “miasmática” Campina da Ribeira, tornar-se-ia um dos símbolos principais desse primeiro ciclo de reformas urbanas, um espaço elegante, salubre e civilizado, em uma cidade tematizada como infecta e incivil, local para olhar e ser visto, para a realização do footing, antes e depois das apresentações teatrais.
Visão Parcial da estação ferroviária e do jardim público Augusto Severo por volta de 1910.
A Praça da República, atualmente. Praça Augusto Severo. O coreto foi destruído em nome do “progresso”. FONTE: Cartão Postal de Manuel Dantas. Foto 92. Extraído de MIRANDA, João Maurício Fernandes de. 380 anos e história foto-gráfica da cidade de Natal, p. 76.
Bonde elétrico – Praça Augusto Severo – anos 20. Resisto fotográfico da passagem do bonde na Praça Augusto Severo na Ribeira . Naquela época meio de transporte foi modernizado com a implantação da rede elétrica.
PRAÇA AUGUSTO SEVERO (Bairro Ribeira). Foto: João Galvão.
Aspecto do novo calçamento da Praça Augusto Severo, concluído em outubro de 1926.
Praça Augusto Severo e a estação da E. F. Natal a Nova Cruz. Destaque para o bonde integrando o transporte inter ao intra-urbano. Fonte: Acervo do Centro Norte-Riograndense de Documentação, Rio de Janeiro.
Aspecto do entorno da Praça Augusto Severo, início do século XX. Em primeiro plano ANTIGA ESTAÇÃO CENTRAL DA GREAT WESTERN (Atual estação da CBTU – Cia Brasileira de Trens Urbanos – Bairro Ribeira) Foto: João Galvão.
Teatro Carlos Gomes (atual Alberto Maranhão) em cartão-postal da década de 1910; as árvores à direita indicam parte da praça Augusto Severo. Fonte: Lyra, 2001, p.45.
Cine Polythema na Praça Augusto Severo.
A Praça Augusto Severo corresponde à área entre os bairros da Ribeira e Cidade Alta, ilustrando espacialmente a infraestrutura de transporte, prédios públicos, num cenário de transformações ocorridas na área.
Montagem do Cenário de Modernidade da Cidade do Natal – início do século XX. Fonte: Elaboração da autora com imagens de Miranda (1981)
O cenário de civilização formado após a chegada da Estação. O bonde completava a integração do transporte de escala regional com o transporte intraurbano. Fonte: Produção do autor a partir de dissertação de Ana Zélia Maria Moreira, Um espaço pioneiro de modernidade educacional: grupo escolar Augusto Servero – Natal/RN (1908-1913).
Mapa de Localização dos Jardins Históricos de Natal/RN
Passeata de apoio ao Presidente Getúlio Vargas em 1938. Perspectiva da Avenida Sachet (já cortando a Praça Augusto Severo). Grande Hotel ao fundo e Estação da Great Western no canto esquerdo. Fonte: Centro Norte-Riograndense de Documentação.
Praça “Augusto Severo’. Era um dos logradouros públicos, construído no inicio do século XX. Extraído do jornal: Tribuna do Norte, 25 Dez 1999. p. 10. Foto Grevy- 73.

“Herculano Ramos construiu o Parque Tropical
Augusto Severo, tão pelado atualmente como
um ovo, transplantou árvores adultas, velhas,
com imensa galharia. Ninguém admitia a
possibilidade de que resistissem. Resistiram e
viveram, anos e anos, até que o machado as
vitimou.”
(Luís da Câmara Cascudo)

Imagem da Praça após divisão e construção do Terminal Rodoviário, nos anos 1960
Levantamento e Reconstituição virtual da Praça Augusto Severo em 1979. 
Imagem Virtual da Praça após a última intervenção, executada em 2007
Execução do Projeto de Revitalização da Praça Augusto Severo – Esplanada e Estátua.
Esta ponte portanto é o único elemento sobrevivente desta praça épica que já foi jardim botânico e que depois de um tempo foi reduzida para a construção do terminal rodoviário da Ribeira.
Foto aérea da Praça Augusto Severo

ESTÁTUA PARA AUGUSTO SEVERO

Os conterrâneos de Augusto Severo iniciaram em junho 1902 uma campanha popular visando arrecadar recursos para a confecção de uma estátua em homenagem ao ilustre filho da terra. A referida estátua seria colocada na Praça Augusto Severo.

No dia 12 de maio de 1913, uma estátua de bronze foi afixada na referida praça, por ocasião do 11ª aniversário da morte do irmão aviador de Alberto Maranhão.

A estátua, que atualmente encontra-se em frente ao antigo Grupo Escolar Augusto Severo, era contornada por quatro belíssimos postes ornamentais. Em 28 de maio de 1930, Augusto Severo recebeu uma grande homenagem do piloto Hugo Eckner, que sobrevoando durante 12 minutos toda a cidade, em especial a
orla marítima, o Forte dos Reis Magos, e pilotando o dirigível Graff Zeppelin LZ-127, atirou um ramalhete de flores sobre a estátua. Na coroa estava escrito “Homenagem da Alemanha ao Brasil na pessoa do seu filho Augusto Severo”

Descreve lvanaldo Lopes, que o ramalhete caiu mansamente no sítio de dona Inês, a uns 15 metros do local da estátua. “Um menino galgou o muro com habilidade e, e trouxe a homenagem para o sopé da estátua”. A praça continua homenageando o glorioso Augusto Severo, um norte-rio-grandense que jamais deve ser apagado da memória dos seus conterrâneos.

Inauguração da estátua de Augusto Severo. Fonte: 380 anos de história fotográfica em Natal.
Detalhe da estátua de Augusto Severo – Inauguração da estátua de Augusto Severo. Fonte: 380 anos de história fotográfica em Natal. Registro do historiador, geógrafo, advogado, jurista, pedagogo, orador, político e jornalista Manuel Dantas (1867-1924) em 12 de maio de 1913. Homens focalizados em suas aglomerações nos novos espaços de sociabilidade. Atenção para os postes públicos.
Romaria em frente ao busto do aviador Augusto Severo, durante a Semana da ASA de 1936.
Estátua de Augusto Severo na praça homônima. Fonte: CAMARA, Amphiloquio. Scenarios norte-riograndenses, 1923. Rio de Janeiro: Editora “O Norte”. A Estátua de Bronze de Augusto Severo, situada de frente à Estação da Great Western, pomposamente ornamentada com quatro postes decorativos.
Praça Augusto Severo em 1979.
Largo do Teatro Alberto Maranhão e Praça Augusto Severo (1983). Foto: Acervo “A República”.
estátua de Augusto Severo atualmente. O monumento é alvo de vandalismo. No detalhe, observa-se a marca da placa de bronze que existia no pedestal da estátua. Fonte: acervo Jornal Tribuna do Norte.
Execução do Projeto de Revitalização da Praça Augusto Severo – Esplanada e Estátua.
Praça Augusto Severo. Foto: arquivo da SEMURB – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo.
Aspecto atual da Praça e estátua de Augusto Severo.
A praça Augusto Severo. Fonte: Google Earth, 2020.
A praça Augusto Severo. Fonte: Google Earth, 2020.

VISIBILIDADE

Exemplo disso é que logo após a morte de seu irmão aviador Augusto Severo, o governador Alberto Maranhão, mostrando todo seu empenho em dar visibilidade a sua família, determinou a mudança do nome de alguns munícipios potiguares. Os homenageados? Seus irmãos Augusto Severo e Pedro Velho.

Em 28 de agosto de 1903 – por meio da Lei nº 197 – o então governador determinou que a vila de Trinfo passasse a se chamar Augusto Severo (SOUZA, Itamar de. A República Velha no Rio Grande do Norte. p. 232.). De acordo com Itamar de Souza, Alberto Maranhão iniciou assim uma espécie de “bajulação corográfica” prejudicial à toponímia tradicional do estado (SOUZA, Itamar de. Op. cit. p. 232.).

O município de Pedro Velho mantém atualmente o mesmo nome. Já o município de Augusto Severo chamou se primeiramente Campo Grande (1858), recebendo em 1870 o nome de Triunfo. Em 28 de agosto de 1903, a Lei nº 192 criada por meio de projeto do Deputado Luís Pereira Tito Jácome (amigo próximo de Augusto Severo), mudou o nome do município para Augusto Severo. No dia 6 de dezembro de 1991, através da Lei nº 155, o município de Augusto Severo voltou ao seu antigo nome, Campo Grande. Cf. CASCUDO, Luís da Câmara. Nomes da terra. p. 162,163 e 232, 233.

O rebocador do porto de Natal recebeu o nome do irmão de Pedro Velho, Augusto Severo. Em 1905, foi construído um pontão, pelos empregados da comissão de melhoramentos do porto de Natal, uma estrutura sobre a água, suportada por estacas para ajudar a suportar as dragas, um guindaste de cinco toneladas e um bate-estaca do serviço do porto. Também conhecido como pier, sua construção foi comemorada pela comissão de melhoramentos do porto de Natal, com a realização de uma regata, a regata do pontão Augusto Severo, nome dado em homenagem ao irmão do ex-governador e chefe de Partido Republicano, Pedro Velho (REGATA do porto. A República, Natal, 9 de fev. de 1905).

Nas primeiras décadas do século XX vieram entre outras associações: Grêmio Literário Augusto Severo (1907-1908).

Governador Pedro Velho (1856-1907). Fonte: (MIRANDA, 1981, p. 55)

O GRUPO ESCOLAR AUGUSTO SEVERO

Dando continuidade às homenagens e aproveitando-se de reformas no setor educacional no Rio Grande do Norte, Alberto Maranhão estabeleceu a meta de criar “um grupo escolar em cada sede da comarca e uma escola mista em cada um dos outros municípios do estado” (Ibid.,p. 238.). Nesse ‘impulso em prol da educação’, Alberto Maranhão criou 23 grupos escolares e, em alguns destes, seus parentes – ou ele mesmo – foram homenageados: no município de Pedro Velho, foi criado o grupo escolar Fabrício Maranhão (irmão de Alberto Maranhão); em Nova Cruz, nasceu o grupo escolar Alberto Maranhão; em Canguaretama o grupo escolar Pedro Velho e em Natal o grupo escolar Augusto Severo.

Foi somente em 1907 que a construção do novo grupo escolar da Capital começou a ser efetuada. Ao grupo foi dado o nome da mesma praça em que foi construído – Augusto Severo. Não por acaso, Augusto Severo representava para a cidade um dos elementos mais significativos da modernidade – a aviação. Homem de grande prestígio, dentro e fora do Estado, era manchete constante nos jornais locais, notícias estas trazidas inclusive de outros países.

Fachada do Grupo Escolar Augusto Severo inaugurado em 1908. Fonte: 380 anos de história fotográfica em Natal.

O Grupo escolar Augusto Severo foi o primeiro construído no estado e foi inaugurado em 12 de junho de 1908 em uma cerimônia que teve a presença do próprio Alberto Maranhão, autoridades do governo e algumas famílias natalenses. Durante o evento, foram cantados os hinos da Proclamação, da Bandeira e o Hino de Augusto Severo, cantado pela primeira vez naquela ocasião.

Segundo Onofre Jr. (1998, p.67), para quem o edifício é de “indiscutível valor artístico”, o projeto é de autoria do arquiteto Herculano Ramos. A edificação apresenta um único pavimento, com fachada rebuscada de composição simétrica. Possui corpo central com pórtico de entrada enquadrado por pilastras, além de exibir frontão triangular e platibanda com ornatos e cornija em massa.

Nas festividades, ocorre a apresentação da Orquestra Sinfônica do Teatro “Carlos Gomes” e das alunas, com declamação de poesias. Dentre os discursos, destacam-se o do Diretor da Instrução Pública, Francisco Pinto de Abreu, da representante da Escola Normal, a Profª Beatriz Melo e do professor Ezequiel Benigno de Vasconcelos Júnior, bacharel que veio especialmente do Rio de Janeiro, a convite, para exercer o cargo de diretor, cuja permanência perdurou um pouco mais de um ano, de 5 de março de 1908 a 1º de maio de 1909 (ARAÚJO, 1982).

Fonte: http://www.institutojosejorgemaciel.org.br
Partitura do hino a Augusto Severo. Fonte: http://www.institutojosejorgemaciel.org.br

O edifício no qual foi instalado o Grupo Escolar Augusto Severo era suntuoso e embelezava o centro da cidade à época. Neste sentido, a instalação de um estabelecimento educativo nesta localização cumpria a finalidade de instaurar significados culturais e ser mais um símbolo da propaganda da República. A ordem higiênica e moral definia a localização da escola. De acordo com as determinações higiênicas o edifício escolar deveria ser construído em um lugar elevado, seco, bem arejado. Eram evitados lugares pantanosos e ruas estreitas. No início do século XX, o bairro da Ribeira passou por uma revitalização para torná-lo um lugar salubre. As recomendações quanto à higiene eram cumpridas por meio do prédio que era pintado com cores neutras, tendo a azul ou verde primazia entre as cores indicadas pela Diretoria Geral de Instrução Pública. Conforme o Código de Ensino, os edifícios escolares deveriam ser elegantes, modestos, bem arejados e iluminados pelo sol (SILVA, Francinaide de Lima. O Grupo Escolar modelo Augusto Severo (1908-1928): vinte anos de formação de professores, Dissertação (Mestrado em Educação) – Departamento de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010. p. 69 e 70.).

De fato, não sabemos se todas essas exigências, enquanto escolha do terreno, foram cumpridas quando a Praça Augusto Severo foi escolhida como o lugar para a construção do primeiro grupo escolar da cidade, mas, sem dúvida, a mesma praça não era um dos pontos mais elevados. Muito pelo contrário, a Ribeira caracterizava se, desde a gênese da cidade, como sendo a parte baixa de Natal. A solução do problema, contudo, foi dada no próprio nivelamento do prédio em relação à rua, com alicerces mais altos que o plano da praça a escola assumia a dimensão esperada, ostentando entre outras coisas grandeza, beleza e uma arquitetura moderna de estilo eclético com características art nouveau, elementos neoclássicos e do rococó, conforme analisado por Ana Zélia Maria Moreira (MOREIRA, Ana Zélia Maria. Um espaço de modernidade educacional: grupo escolar Augusto Severo. Dissertação de Mestrado. UFRN. Natal, 2005.).

A imagem do prédio do grupo escolar Augusto Severo nos dá dimensão da grandiosidade e opulência da arquitetura escolar, que também se assemelhava bastante ao próprio modelo arquitetônico do prédio do teatro Carlos Gomes.

Escola Modelo Augusto Severo e Escola Doméstica. As duas principais instituições de ensino da capital compunham também o cenário da praça. Fonte: CD Natal 400 anos.
Grupo Escolar Modelo Augusto Severo no ano de 1909.
Fotografia da fachada externa do Grupo Escolar “Augusto Severo”. Fonte: Álbum de Fotografias do Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Norte: “Escola Normal” de 1927.
Grupo Escolar Augusto Severo (Início do século). Foto: João Galvão.
Leitura da fachada atual do Grupo Escolar Augusto Severo
São também elementos de estilo art nouveau as duas estátuas de bronze (um menino e uma menina), cujas peças foram fundidas em bronze, na “Fonderies D´Art du Val D´cone, Paris. Tinham a função, além de ornamentar o jardim, sinalizar o acesso dos alunos às salas de aula. Atualmente, as estátuas encontram-se na Escola Estadual “Winston Churchill”, no bairro de Cidade Alta, em Natal. Estátuas do G.E. Augusto Severo Fonte: (CARVALHO et al, 1984). Estátuas instaladas na E.E. “Winston Churchill” (Natal/RN), registro fotográfico 2005.
Turma da Escola Normal – Natal/RN, anos de 1920. Fonte: (INSTITUTO HISTORICO E GEOGRAFICO DO RIO GRANDE DO NORTE, 1927).
Foto da fachada do Grupo Escolar Augusto Severo, com os alunos à frente.
Postal do Grupo Escolar Augusto Severo, 1921. Com estilo eclético, resguarda características bem neoclássicas. Desenvolvido em um único pavimento, o antigo grupo escolar ostenta uma fachada rebuscada, de composição simétrica.
Possui corpo central, com pórtico de entrada enquadrado por pilastras, valorizado por escadarias de acesso e ladeado por duas janelas. Exibe um frontão triangular, platibanda com ornatos e cornija de massa, arrematada por elementos de metal, jarros, águias e estátua

As dimensões do prédio escolar Augusto Severo demonstram por si só motivos plausíveis pelos quais se tornou uma referência de arquitetura moderna na cidade e da posição de importância que a educação primária e pública adquiria naquele momento.

Num terreno de 1.794,00 m2, o prédio ocupava uma área construída de 540,00 m2. A entrada do Grupo Escolar ficava a um recuo bastante seguro da rua, não só pela sua calçada, mas também por um pequeno pátio que separava o gradio de ferro dos portões externos da porta de entrada que dava acesso ao interior da escola. O mesmo recuo também era percebido em relação as suas laterais e aos fundos do prédio. Com um pé direito de 4,50 m, o grupo ainda garantia sua imponência pelo desnivelamento em relação à rua. Somava-se a esses 4,50 m do pé direito uma altura de 1,20 m que o separava da praça e ainda ajudava a diminuir os efeitos dos constantes alagamentos.

Planta baixa do prédio escolar Augusto Severo.

É interessante perceber que, apesar de o grupo escolar Augusto Severo contar com turmas masculinas, femininas e mistas, a divisão por gênero era bastante forte, sendo permitido o encontro de meninos e meninas apenas no interior das salas de aula, em se tratando das aulas mistas. Essa coexistência se dava sob os olhos atentos de professoras e professores, até mesmo em horários marcadamente de descanso, liberdade e diversão, como o recreio, meninos e meninas continuavam igualmente divididos.

E para o grupo escolar modelo, o “Augusto Severo”, de 1º de fevereiro a 31 de outubro, estando suspensos apenas os domingos, dias de festa nacional e os últimos três dias da Semana Santa (A REFORMA do ensino. op. cit., p. 8-11.).

Sem dúvida, a construção do grupo escolar “Augusto Severo” foi um marco incentivador para mudar o quadro de indefinições que vinha se arrastando desde a proclamação da república, isso porque uma escola nova, representante dos princípios mais modernos em termos arquitetônicos, implicava também na necessidade de reformular todas as bases de organização até então vigentes da instrução pública na cidade e, ao se tornar a escola modelo da capital, o grupo passava a definir as bases nas quais a organização da educação primária, em Natal ou no interior do Estado, deveriam seguir.

Depois de 25 anos de ausência do Estado, chegaram a Natal, a 11 de março de 1943, o ex-Governador Alberto Maranhão – a quem tanto deve a música no Estado –, e sua esposa Ignez Barreto Maranhão. A 24, comemorava-se a data aniversária do Teatro Carlos Gomes, que ele inaugurara em 1904, e receberia o seu nome em 23 de agosto de 1957.

A homenagem do “Curso Waldemar de Almeida” se realizou com a apresentação da sua 37a audição,a 12 de maio, no Teatro Carlos Gomes, quando se homenageou o 41o aniversário da morte de Augusto Severo, tendo a presença do irmão do aeronauta, Alberto Maranhão e esposa, senhora Inês Barreto Maranhão, a quem homenageavam. Alberto Maranhão apresentou a palestra “Augusto Severo e o problema dos dirigíveis”. O programa foi iniciado pelo duo (filhos de Waldemar) Cussy de Almeida Neto (com oito anos e aluno do 6º ano de violino do Instituto de Música) e Hylza de Almeida (aluna de piano), tocaram “Biliga”,343 romance para violino de Waldemar de Almeida, escrita para o solista e mais R. W. Cave, “Romance” e E. Mack, “A valsa do papai”.

Depois de seu reconhecimento pelos serviços que vinha prestando à música no Estado, chegou a vez de Waldemar de Almeida ser homenageado pelos trabalhos literários que vinha publicando em forma de livros e crônicas publicadas nos diversos jornais da cidade. Assim, após haver sido eleito para uma cadeira da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, tomou posse solenemente a 13 de julho de 1949. O dia escolhido coincidia com a data de falecimento de Carlos Gomes, e o patrono de cadeira – de nº 20 – é o aeronauta Augusto Severo (A atual sede da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras seria inaugurada em 1970). A solenidade se realizou no Salão Nobre do Instituto Histórico e Geográfico. Waldemar de Almeida foi saudado pelo ex-Governador Juvenal Lamartine.

No grande salão do Grupo Escolar “Augusto Severo”, na primeira década do século, realizava-se as reuniões do Conselho da Instrução Pública, as solenidades da escola e recepções às autoridades, como o registro, no ano de 1943, da recepção ao ex-governador Alberto Maranhão. Fonte: (INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRAFICO DO RN, 1927).
Localização dos Grupos Escolares por Município do Rio Grande do Norte (1908-1913).

O Grupo Escolar Augusto Severo foi convertido em Escola-Modelo pelo decreto 198, de 10 de maio de 1909. Em 1952, com a desativação do antigo prédio do Atheneu Norte-rio-grandense, este passou a funcionar, até 1954, no edifício do Grupo Escolar. A partir de 1956, ali foi instalada a Faculdade de Direito, que permaneceu nessas dependências até 1974, quando o Curso de Direito foi transferido para o Campus Universitário. Posteriormente, a edificação sediou a Secretária de Segurança Pública do Estado. Em 6 de dezembro de 1991, o prédio foi tombado pelo governo estadual (NESI, 1994).

Praça Augusto Severo em 1979.
O edifício onde funcionou a Faculdade de Direito, na Ribeira, é um dos marcos de vanguarda da arquitetura do século XX no Rio Grande do Norte. Concebido pelo arquiteto mineiro Herculano Ramos (autor também do projeto da praça Augusto Severo, onde o prédio se localiza, e da reforma do então Teatro Carlos Gomes, atual Alberto Maranhão), foi inaugurado em 1908 para abrigar o Grupo Escolar Augusto Severo. Sediou, ainda, a Escola Normal, o Ateneu Norte-rio-grandense e a Secretaria de Segurança Pública do Estado. Grupo Escolar Modelo Augusto Severo. Fonte: Jornal Tribuna do Norte
Secretaria de Segurança Pública, anteriormente, Grupo Escolar “Augusto Severo”. Foto: arquivo da SEMURB – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo.
Ele foi tombado pelo governo do estado em 6 de dezembro de 1991. Atualmente o prédio encontra-se abandonado e em precário estado de conservação.

PRAÇA DA REPÚBLICA

Depois do riacho que provinha da atual Lagoa do Jacó, cujo despejo ocorre no chamado Canto do Mangue, há referências a “Casas de Mangues”. O espaço hoje correspondente à Praça Augusto Severo, no bairro da Ribeira, aparece sob a denominação de “Campina Rasa”, limitado por dois riachos paralelos, afluentes do Potengi.

A primeira referência documental de cessão de terras na atual Praça Augusto Severo, data de 5 de outubro de 1703, cujo beneficiário foi o alferes Antônio da Silva Carvalho, “começando pelo primeiro (mangue) do Salgado até os morros da Fortaleza”. O primeiro mangue do Salgado, corresponde ao terreno atualmente ocupado pela referida praça.

Entre o final do século XVIII e o primeiro quartel do século XIX, seis outras pessoas foram favorecidas com doações de terras na atual Praça Augusto Severo. As cartas de doação feitas pelo Senado da Câmara de Natal, faziam sempre referência ao alagado, ou ao aterro da Ribeira.

Em 1º de setembro de 1791, Caetano da Costa de Almeida requeria terras “místicas ao aterro da Ribeira”. Em 23 de setembro de 1809, José Joaquim Pereira recebia terras “no princípio do aterro, que vai desde a Cidade para a Ribeira, da parte do nascente”.

Na década de 70, foi realizado um trabalho de saneamento na referida área. Em novembro de 1878, o chefe de polícia, Joaquim Tavares da Costa Miranda, informou o estado em que se encontrava o terreno, antes do início das obras: “no bairro da Ribeira… há um descampado, onde o oceano se espraia sobre plantas rasteiras, capim, algas, ficando ali as águas estagnadas como uma massa lodacenta”. Informou ele ainda, que no istmo de união dos bairros da Cidade Alta e Ribeira, havia uma ponte sobre um canal de água salgada que alagava uma extensa área até “o canavial”. O mencionado canavial corresponde ao terreno atualmente ocupado pelo Colégio Salesiano.

Natal em 1864… No bairro da Ribeira já existiam os quarteirões que delimitam a Praça Augusto Severo de hoje, formando os seus lados Norte e Oeste. Também um trecho de casas, no local hoje correspondente à Travessa Aureliano Medeiros, em cujo final encontrava-se o prédio da Alfândega.

Mapa da Cidade de Natal em 1864. Mapa pode-se visualizar a configuração espacial dos bairros da Cidade Alta e da Ribeira. Em destaque uma área alagada – braço do Rio Potengi – a campina da ribeira. Este local deu lugar em 1907 a construção do Grupo Escolar “Augusto Severo”.
Resultado da obra de drenagem da Praça da República hoje conhecida por Praça Augusto Severo (Ribeira) em 1906.
Natal (RN): Ciclistas reunidos na Praça da República em 1902 (hoje atual Praça Augusto Severo na Ribeira).

Em 1881 é inaugurado o primeiro trecho de vias férreas no estado – de Natal a São José de Mipibu –, bem como, o complexo ferroviário na Praça da República – futura Augusto Severo.

A praça da República, de fato, inexistia. No seu lugar, havia um extenso alagado que não somente feria a estética de fins do século XIX, como igualmente era considerado um perigo à saúde, dado às teorias miasmáticas em voga naquele período. O articulista do jornal O Nortista expõe sucintamente essa questão: ”a Praça da Republica é actualmente um charco, um pântano, um receptaculo de aguas putridas que alli vão ter de differentes pontos da cidade, sem um escoadouro – a não ser uma mal aberta levada, que deixou montões de terra nas ruas, difficultando mesmo o transito publico” (A PRAÇA…, 1895, p.1).

A convergência entre o “zelo sanitarista” e a “busca do prazer estético” motivariam, logo, o poder público para a construção dos jardins nas praças da cidade. O autor solicita ao governo, nesse sentido, que resolvesse o duplo problema da praça, indicando quais seriam as prioridades. E dentre elas, ele aborda, com certa propriedade, a questão da arborização como solução de estética, mas, sobretudo de conforto ante as altas temperaturas da cidade.

Embora as críticas se mantivessem por todo o período, somente em 1902 a Praça da República seria convertida num espaço de sociabilidade, equipada e arborizada, “com árvores esplêndidas, com repuxos, bancos, cabana rústica, pontes e um sapo de cimento que fazia meus assombros meninos”. Cabe destacar que o local foi também escolhido para a construção do teatro da cidade e, juntos, se transformaram em símbolos caros à sociedade potiguar.

Com o saneamento da área, foi criada uma pequena praça que recebeu a denominação de praça da República. Com a morte do deputado federal e aeronauta Augusto Severo em 11 de maio de 1902, a elite política natalense decidiu mudar o nome da mais importante praça da cidade, dando a ela o nome de Augusto Severo. No dia 17 de maio do mesmo ano, a Intendência Municipal resolveu mudar a denominação da Praça da República para Praça Augusto Severo, em homenagem ao notável potiguar que houvera morrido na cidade de Paris, a bordo do seu balão experimental “Pax”.

A antiga Praça da República era localizada no bairro da Ribeira, em um dos pontos mais importantes da cidade, era para ela que afluíam as mais importantes ruas do bairro, era um lugar de grande afluxo de pessoas. A Ribeira era o bairro de vocação comercial da cidade, o que mais se desenvolvia. Por todas essas questões é de se compreender que a Ribeira e, especialmente, a Praça da República era o lugar propício para se fazer uma grande homenagem.

No início do século XX a área correspondente à praça começou a ser drenada e saneada, dando origem a já referenciada Praça da República que tinha proporções bem menores do que a Praça Augusto Severo.

Até então a Praça da República – que após os serviços de melhoramento receberia a denominação de Praça Augusto Severo – estabelecia a comunicação entre os bairros de maneira muito precária. Câmara Cascudo descreve essa comunicação da seguinte maneira: “logo adiante da estação da Estrada de Ferro, na praça Augusto Severo, a corrente d’água era viva, obrigando a existência de uma ponte, simples tronco de árvore, transposto em equilíbrio instável” (1999 [1946], p. 150). A falta da pavimentação da Avenida Junqueira Aires era também apontada como um transtorno tanto para a comunicação entre os dois bairros, com também em relação ao depósito de materiais na Praça da República.

Em 11 de julho de 1904 o arquiteto Herculano Ramos foi contratado pelo governo estadual para projetar o aterro e ajardinamento da Praça Augusto Severo.

Em 15 de novembro de 1905 a praça foi entregue à serventia pública. O antigo pântano havia sido transformado em um dos mais belos recantos de Natal.

A praça ocupava uma vasta área, hoje bastante reduzia. Apresentava alamedas formadas por oitizeiros e palmeiras imperiais. Havia um canal de cimento e pedra que circulava toda a praça […]

O canal era cortado por três pontes rústicas, muito pitorescas. Posteriormente o canal foi ateado. Embora sem qualquer serventia, inda existe uma pontezinha de alvenaria e concreto, que substituiu a primitiva executada […], imitando bambu oriental.

Próximo à casa da viúva de Juvino Bareto […] havia um caramanchão com uma cobertura de quatro águas, envolvido por velas trepadeiras. Havia também um grandioso coreto com estrutura em aço (NESI, Jeanne Fonseca Leite. Caminhos de Natal. p. 88.).

Augusto Severo não só virou monumento e praça; ele também se tornou feriado e município potiguar. Essa grande visibilidade de Augusto Severo chama nossa atenção. Percebemos que foi associado constantemente ao nome ou a imagem de Augusto Severo tudo aquilo que, naquele momento, transmitia a ideia de modernidade e progresso.

Augusto morreu buscando conquistar as alturas, o que até aquele momento parecia se algo muito complexo. Somente um homem sonhador, ousado, inteligente e moderno seria capaz de vencer as dificuldades e voar. Augusto Severo foi transformado numa das faces da modernidade. Dar destaque a Augusto Severo era o mesmo que associar Natal e a família Maranhão à modernidade e ao progresso, objetivos insistentemente buscados por Alberto Maranhão.

Panorâmica dos bairros da Ribeira e Rocas, c. 1910s. Fonte: Lyra, 2001, p.24.

CRÍTICAS

Em suas reportagens, os jornalistas do Diário do Natal geralmente punham em questão a origem do dinheiro responsável pela execução das obras e a necessidade de prosseguir com elas frente a outras urgências do Estado, como o combate à seca. Exemplo da posição dos jornalistas do Diário do Natal pode ser encontrado num artigo sobre as obras públicas de aterro e ajardinamento da Praça Augusto Severo em 1904. Nesse artigo a oposição critica a postura do governador Tavares de Lyra, que agiria somente em função dos interesses dos seus pares, a mando do seu sogro, Pedro Velho:

S. Excia. faz o que quer e bem entende no interesse de sua oligarchia; á seu sabor do seu sogro decreta os impostos e gasta as rendas publicas, sem a menor attenção, nem cavaco as contribuintes. Manda fazer um jardim publico, obra de luxo, de elevado custo, sem que para isso tenha a menor autorização do poder legislativo, porque vive s. exc. em absoluta e permanente dictadura financeira.

O que o jornal questionava era o modo como os melhoramentos estavam sendo conduzidos pelo governo. Esta posição aparece claramente em uma nota do Diário do Natal sobre a construção de duas novas avenidas em 1907. A primeira deveria seguir desde o Cais Augusto de Lyra até a rua Bom Jesus, e a segunda da praça Augusto Severo até a rua Silva Jardim. A nota do jornal diz respeito às desapropriações das residências que atrapalhariam as obras.

Essa busca incessante de Alberto Maranhão em dar visibilidade a seus parentes e partidários e a ele mesmo – como podemos percebe no ato da criação do Grupo Escolar Alberto Maranhão na Vila de Nova Cruz ou das medalhas de mérito Alberto Maranhão – não passava despercebida dos seus rivais, que não deixavam escapar a oportunidade de censurar suas praticas políticas. Na inauguração do “Hospital da Caridade Jovino Barreto”, por exemplo, o jornal, Diário do Natal, falou sobre a escolha do nome do novo estabelecimento:

A denominação do Hospital de Caridade […] foi substituído, agora, pelo de Hospital Juvino Barreto, em homenagem ao falecido sogro do Dr. Alberto Maranhão. […]

João Maria, sim, devia denominar-se o hospital de caridade de Natal. Juvino Barreto, não. É uma engrossa aos vivos, como engrossa são também aquelas inscrições que se lêem sobre as portas das enfermarias do novo hospital — Enfermaria Santo Alberto, Enfermaria Santa INEZ. […]

Já temos praça Pedro Velho, monumento Pedro Velho, Vila Pedro Velho, Praça Augusto Severo, Vila Augusto Severo, Avenida Augusto Lira, Avenida Alberto Maranhão, Avenida Amaro Barreto, Avenida Juvino Barreto, e agora, mais Hospital Juvino Barreto e Enfermaria Santo Alberto e Santa Inez.

Oh! gente vaidosa! (DIÁRIO DO NATAL, Natal, n. 3780, 14, set., 1909.).

FONTES SECUNDÁRIAS:

A REFORMA do ensino: texto e commentario da Lei n. 405, de 29 de novembro de Natal: Typ. d’A Republica, 1917

ARAÚJO, Maria Marta de. Origens e Tentativas de organização da rede escolar do Rio Grande do Norte: da Colônia à Primeira República. Natal: UFRN. 1982.

ARRAIS, Raimundo e outros. O Corpo e a Alma da Cidade: Natal entre 1900 e 1930. Natal: EDUFRN, 2008.

CARVALHO, Luiz Ricardo et al. Arquitetura do Grupo Escolar Augusto Severo. Trabalho acadêmico da disciplina História e Teoria da Arquitetura 02. (Curso de Arquitetura e Urbanismo). NATAL:UFRN. 1984.

CASCUDO, Luís da Câmara.Nomes da terra: geografia, história e toponímia do Rio Grande do Norte. Natal: Fundação José Augusto, 1968.

LYRA, Carlos. Natal através do tempo. Natal: Sebo Vermelho, 2001.

MIRANDA, João Maurício Fernandes de. 380 anos de história fotográfica de Natal (1599 – 1979). Natal: EDUFRN, 1981.

MONTEIRO, Denise Mattos. Introdução à história do Rio Grande do Norte. Natal: EDUFRN, 2000.

NESI, Jeanne Fonseca Leite. Caminhos de Natal. Natal: Instituto Histórico do Rio Grande do Norte, 2002.

ONOFRE Jr. Manoel. Guia da cidade do Natal. Natal: EDFURN, 1998.

SOUZA, Itamar de. A República Velha no Rio Grande do Norte (1889 – 1930). Brasília: Senado Federal, 1989.

FONTES:

A atuação de Manoel Dantas na instrução pública Norte-riograndense (1897-1924) / Isabela Cristina Santos de Morais. – Natal, 2018.

A criança e a cidade: as transformações da infância numa Natal Moderna (1890-1929)/ Yuma Ferreira. Natal, 2009.

A eletricidade chega à cidade: inovação técnica e a vida urbana em Natal (1911-1940) / Alenuska Kelly Guimarães Andrade. – 2009.

A Família do Tesouro: a monumentalização da família Albuquerque Maranhão e a luta pelo poder no Rio Grande do Norte (1889-1914) / Helensandra Lima da Costa. – 2013.

A MODERNIZAÇÃO DA CIDADE DO NATAL: O AFORMOSEAMENTO DO BAIRRO DA RIBEIRA (1899-1920). LÍDIA MAIA NETA. NATAL/Dez/2000.

Amélia Duarte Machado, a Viúva Machado: a esposa, a viúva e a lenda na Cidade do Natal (1900-1930). / Ariane Liliam da Silva Rodrigues Medeiros – Natal, RN, 2014.

ANUÁRIO NATAL 2013 / Organizado por: Carlos Eduardo Pereira da Hora, Fernando Antonio Carneiro de Medeiros, Luciano Fábio Dantas Capistrano. – Natal : SEMURB, 2013.

Anuário Natal 2009 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN): Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2009.

Ao machado! Ao machado! A Cidade do Natal e suas árvores no início do Século XX/Yuri Simonini

Do ancoradouro à sala de espera: as obras de melhoramento do porto e a construção de uma Natal moderna (1893-1913) – Natal, 2015.

DOS CAMINHOS DE ÁGUA AOS CAMINHOS DE FERRO A construção da hegemonia de Natal através das vias de comunicação (1820-1920) \ Wagner do Nascimento Rodrigues \ – Natal.2006

Caminhos de Natal / Jeanne Fonseca Leite Nesi ; ilustrações, Urban Sketchers Natal. – Dados eletrônicos (1 arquivo PDF). – 2. ed. – Natal, RN : IPHAN, 2020.

Caminhos que estruturam cidades: redes técnicas de transporte sobre trilhos e a conformação intra-urbana de Natal / Gabriel Leopoldino Paulo de Medeiros. – Natal, RN, 2011.

“Em cada esquina um poeta, em cada rua um jornal”: a vida intelectual natalense (1889-1930) / Maiara Juliana Gonçalves da Silva. – Natal, RN, 2014.

Dos bondes ao Hippie Drive-in [recurso eletrônico]: fragmentos do cotidiano da cidade do Natal/ Carlos e Fred Sizenando Rossiter Pinheiro. – Natal, RN: EDUFRN, 2017.

HABITAÇÃO SOCIAL: ORIGENS E PRODUÇÃO. (NATAL, 1889-1964) / : CALIANE CHRISTIE OLIVEIRA DE ALMEIDA\ – SÃO CARLOS. SETEMBRO, 2007

Linhas convulsas e tortuosas retificações: transformações urbanas em Natal nos anos 1920 / George Alexandre Ferreira Dantas. — São Carlos, 2003.

MIRANDA, João Maurício Fernandes de. 380 anos de História Foto-gráfica da Cidade de Natal (1599 -1979). Natal: UFRN, 1981.

Natal também civiliza-se: sociabilidade, lazer e esporte na Belle Époque Natalense (1900-1930) / Márcia Maria Fonseca Marinho. – Natal, RN, 2008

Natal: história, cultura e turismo / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. – Natal: DIPE – SEMURB, 2008.

Natal ontem e hoje / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. – Natal (RN): Departamento de Informação Pesquisa e Estatística, 2006.

Natal, outra cidade! [recurso eletrônico] : o papel da Intendência Municipal no desenvolvimento de uma nova ordem urbana na cidade de Natal (1904-1929) / Renato Marinho Brandão Santos. – Natal, RN : EDUFRN, 2018.

O nosso maestro: biografia de Waldemar de Almeida / Claudio Galvão. – Natal: EDUFERN, 2019.

Ordenamento Urbano de Natal: do Plano Polidrelli ao Plano Diretor 2007 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. – Natal: Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2007.

Renato Marinho Brandão SANTOS. História e Cultura, Franca, v. 6, n. 2, p.119-143, ago-nov. 2017.

Um artífice mineiro pelo país: formação, trajetória e produção do arquiteto Herculano Ramos em Natal / Débora Youchoubel Pereira de Araújo Luna. – Natal, RN, 2016.

Um espaço pioneiro de modernidade educacional: Grupo Escolar “Augusto Severo” – Natal/RN (1908-13). Ana Zélia Maria Moreira. – Natal, RN, 2005.

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