O “bairro operário” das Rocas
Uma série de normativas, restrições e punições, escudadas no combate à cidade insalubre, guarda uma relação direta com a formação dos territórios populares na cidade, expulsando os moradores que não tinham condições de obedecer às novas exigências construtivas para os dois bairros centrais – a Cidade Alta e a Ribeira – e contendo a grande leva de retirantes que acorria à cidade fugindo das secas e em busca de trabalho nas obras de modernização da capital, na construção de ferrovias, nos melhoramentos do porto, na abertura de estradas, ruas e avenidas. O surgimento de bairros como o Alecrim, as Rocas e o Passo da Pátria, por exemplo, está vinculado aos movimentos dessa nova lógica de ocupação espacial, na qual a segregação se tornaria estrutural.
A área urbana da cidade dividir-se-ia, grosso modo, entre a Cidade Baixa ou Ribeira e Cidade Alta. Contígua à primeira, mais ao norte e separada apenas por uma faixa de 400 metros – sobre a qual seria expandida a Ribeira, a partir do Plano Geral de Sistematização –, fica o bairro das Rocas.
No lugar do aglomerado popular das Rocas, um novo “bairro das Dunas, cingido (…) pela avenida Beira-Mar”, destinado à população cosmopolita organizada em torno do porto.
O bairro das Dunas no lugar das Rocas, por exemplo, reapareceria como um “bairro operário” no Plano Geral das Obras de Saneamento de Natal do engenheiro Henrique de Novaes, em 1924; e como um “bairro-jardim” no Plano Geral de Sistematização do arquiteto Giacomo Palumbo, entre 1929 e 1930, que Cascudo sintomaticamente chamaria de “cidade novíssima das Dunas”, numa provável reminiscência da conferência de Manoel Dantas.