O Obelisco da Avenida Tavares de Lyra
A construção da Avenida Tavares de Lira, que foi um marco no traçado urbano do bairro da Ribeira, sendo esta uma artéria minuciosamente projetada. Para sua construção fez-se necessário a desapropriação dos prédios que obstruíam o seu alinhamento. O presidente da Intendência Municipal Manoel Teixeira de Moura instituiu, através da Resolução nº 118, em 25 de fevereiro de 1908, no artigo 5º, a criação da Avenida Tavares de Lira (Cf. A República. Governo Municipal. Natal, 28 fev. 1908.).
Augusto Tavares de Lyra foi um ilustre potiguar, de saliente participação na vida pública do país: Deputado Federal (1894-1904), Governador do Estado (1904-1906), tendo assumido o cargo com apenas 32 anos incompletos, Ministro da justiça e Negócios Interiores (1906-1909), Senador (1910-1914), Ministro da Viação e Obras Públicas (1914-1918), Ministro do Tribunal de Contas da União (1918-1940). Além de tudo, historiador, autor, entre outros estudos, do primeiro livro sobre a história geral do Estado.
Em 1911, o governador Alberto Maranhão tomou as devidas providências para o embelezamento da avenida, encomendando um obelisco com o medalhão de Augusto Tavares de Lira. Sua construção foi feita com muito precato, desde a desobstrução do traçado até o seu embelezamento, o que denota a representatividade do bairro da Ribeira no contexto urbano natalense. O então governador Alberto Maranhão disse em mensagem apresentada ao Congresso Legislativo em 1º de novembro de 1911, o que pretendia realizar nesse espaço:
A Avenida Tavares de Lira já inteiramente desapropriada e em grande parte se reconstruindo para receber a decoração já encomendada na Europa e constante de obelisco de cinco metros de granito, com o medalhão de Senador Tavares de Lira e escudos de armas da União, do Estado e da Cidade[…] bancos e guarnições para mobiliamento e arborização[…] (MARANHÃO, 1911, p. 18-19).
Em 1913, o logradouro apresentava-se arborizado e possuía assentos com encostos. Anos mais tarde, um monumento em forma de obelisco foi fixado próximo ao Cais Tavares de Lira, no bairro da Ribeira. Talhado em Paris e inaugurado em 1913, durante o segundo governo de Alberto Maranhão (1908-1914), o monumento tinha como função exaltar o nome do ex-governador do estado e uma das lideranças do republicanismo potiguar, Augusto Tavares de Lyra.
Marco de inauguração da Avenida Tavares de Lyra, no centro comercial da Ribeira. Em cada face do monumento, a inscrição de uma data histórica significativa: 25 de dezembro de 1599 (fundação da cidade do Natal), 12 de dezembro de 1633 (tomada da Fortaleza dos Reis Magos pelos holandeses), 15 de novembro de 1889 (proclamação da República) e 7 de setembro de 1822 (Independência). Escudos d’armas em bronze (Império, República e Estado) acentuam a solenidade do conjunto. No lado que olha para o Potengi, o medalhão de Tavares de Lyra, obra do escultor francês Louis Busson; no pedestal, os dizeres, gravados no granito: AV. TAVARES DE LYRA – ADMINISTRAÇÃO DO GOVERNADOR ALBERTO MARANHÃO – 1908/1914. Uma placa metálica, colocada em 25/12/72, assinala a comemoração do centenário de nascimento de Tavares de Lyra, sendo Governador Cortez Pereira, e prefeito da capital, Jorge Ivan Cascudo Rodrigues.
As efemérides chamavam atenção para os marcos históricos de fundação da cidade – o momento em que teve sua autonomia restaurada, sua ligação com as lutas mais gerais de independência nacional e de estabelecimento do regime republicano no país. A referência à presença holandesa na capitania do Rio Grande do Norte, por exemplo, atestava a preocupação dos republicanos com a necessidade de vigilância constante sobre as conquistas alcançadas, sob pena de que algum invasor viesse usurpá-las.
Em 1919, o governador Ferreira Chaves destinou recursos para o calçamento a paralelepípedo da Avenida Tavares de Lira (Cf. SOUZA, 2008, p. 291-294.). Passear nessa avenida do bairro da Ribeira, entrar nos seus cafés, realizar negócios e acordos políticos nesses lugares era um hábito da elite natalense nas primeiras décadas do século XX.
A Avenida Tavares de Lyra é bem representativa da Belle Époque em Natal. O obelisco supracitado, erguido todo em granito, registra em cada lado, datas significativas para a história. Está inserida na Zona Especial de Interesse Histórico.
FONTES COMPLEMENTARES:
MARANHÃO, Alberto. Mensagem ao Congresso Legislativo. A República, Natal, 1 nov. 1911, p. 18-19.
SOUZA, Itamar de. Nova história de Natal. 2. ed. rev. e atual. Natal: Departamento Estadual de Imprensa, 2008.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
A construção do espaço cívico: monumentos e rituais de memória na Natal republicana (1902-1922) / HELDER DO NASCIMENTO VIANA. – ANAIS DO MUSEU PAULISTA São Paulo, Nova Série, vol. 27, 2019, p. 1-44. e07.
Anuário Natal 2009 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN): Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2009.
Anuário Natal 2007 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN): Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2008.
Caminhos que estruturam cidades: redes técnicas de transporte sobre trilhos e a conformação intra-urbana de Natal / Gabriel Leopoldino Paulo de Medeiros. – Natal, RN, 2011.
Cantos de bar: sociabilidades e boemia na cidade de Natal (1946-1960) / Viltany Oliveira Freitas. – 2013.
História do estado do Rio Grande do Norte / Rocha Pombo. – Natal: Edufrn, 2019.
Natal: história, cultura e turismo / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. – Natal: DIPE – SEMURB, 2008.
Natal Não-Há-Tal: Aspectos da História da Cidade do Natal/ Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo; organização de João. Gothardo Dantas Emerenciano. _ Natal: Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2007.
Natal ontem e hoje / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. – Natal (RN): Departamento de Informação Pesquisa e Estatística, 2006.
O BAIRRO DA RIBEIRA COMO UM PALIMPSESTO: dinâmicas urbanas na Cidade de Natal (1920-1960) / Anna Gabriella de Souza Cordeiro. – Natal-RN, Julho de 2012.