Augusto Severo de Albuquerque Maranhão: vida, obra e legado
Augusto Severo de Albuquerque Maranhão (Macaíba, 11 de janeiro de 1864 — Paris, 12 de maio de 1902) foi um jornalista, professor e político, Augusto Severo era também um inventor brasileiro entusiasta da aeronáutica e foi um dos pioneiros no estudo da dirigibilidade dos balões.
Família
Augusto Severo de Albuquerque Maranhão foi o oitavo dos quatorze filhos do pernambucano Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão (1827-1896) e da paraibana Feliciana Maria da Silva de Albuquerque Maranhão (1832-1893). Seu avô materno, o comerciante e senhor de engenho Fabrício Gomes Pedrosa, foi o fundador da cidade de Macaíba e era uma das maiores fortunas do Rio Grande do Norte.
Realizou seus estudos primários em Macaíba (RN), e os secundários no Colégio Abílio César Borges, em Salvador. Em 1880, viajou para o Rio de Janeiro, então capital do Império do Brasil, e iniciou seus estudos de engenharia na Escola Politécnica.
Alguns de seus irmãos se destacaram na política: Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, o mais importante chefe político do Rio Grande do Norte no início da República, foi governador em 1889 e 1890, constituinte de 1891, deputado federal de 1891 a 1892, novamente governador de 1892 a 1896, mais uma vez deputado em 1896 e senador de 1897 a 1907; Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão foi também governador de 1900 a 1904, deputado federal de 1904 a 1908, novamente governador de 1908 a 1914 e novamente deputado federal de 1915 a 1929; Fabrício Gomes de Albuquerque Maranhão foi presidente da intendência de Canguaretama (RN) de 1893 a1913 e deputado estadual de 1894 a 1912.
Estudos
Augusto Severo fez os estudos primários na sua cidade natal, Macaíba, seguindo posteriormente para Natal. Algum tempo depois estudou no Colégio Abílio César Borges, em Salvador. Em 1880, viajou para o Rio de Janeiro, então capital do Império, e iniciou seus estudos de engenharia na Escola Politécnica.
Motivado pelos trabalhos em aerostação do inventor paraense Júlio César Ribeiro de Souza (1843-1887), que apresentou um projeto de dirigível ao Instituto Politécnico Brasileiro em 1881, Severo passou a se interessar pelo voo, realizando observação de aves planadoras e construindo pequenos modelos de pipas, uma das quais denominou Albatroz. Fez também experiências com um pequeno balão cativo em Recife e projetou um dirigível que incorporava ideias revolucionárias, o Potyguarânea, que, porém, nunca chegou a ser construído.
Em 1882, devido ou a problemas de saúde, ou a um romance não aceito por sua família, retornou a Natal e passou a lecionar matemática no Ginásio Norte-Rio-Grandense, de propriedade de seu irmão Pedro Velho, acumulando a função de vice-diretor. No ano seguinte, quando o ginásio fechou, passou a se dedicar ao comércio, primeiro como guarda-livros da empresa Guararapes e mais tarde, seguindo os conselhos de seu irmão Adelino, como sócio da firma A. Maranhão & Cia. Importadora e Exportadora até 1892.
Em 1888, casou-se com a pernambucana Maria Amélia Teixeira de Araújo (1861-1896), com quem teve cinco filhos. No ano seguinte, passou a escrever artigos para o jornal A República, antimonárquico, do irmão Pedro Velho, e projetou um dirigível que incorporava ideias revolucionárias, o Potyguarania, o qual, porém, nunca chegou a ser construído.
Poeta
Em 1888 casou-se com a pernambucana Maria Amélia Teixeira de Araújo, com quem teria cinco filhos. Porque Severo foi também poeta? Para justificar mais essa qualidade, basta transcrever (o que vamos fazer em seguida) alguns trechos da carta em que Severo pede a D. Inês Perpétua Teixeira de Araujo que viria a ser sua sogra, a mão de Maria Amélia.
“Como recomendação única, levo o mais nobre, o mais santo de todos os sentimentos – flor do céu, que Deus permitiu a vida a terra – o Amor. Inspirou-me grande acasto, sua boa filha D. Maria Amélia. Tão casto que já não poderei viver sem ele”.
Político
A partir de então iniciou sua participação política escrevendo artigos no jornal de Pedro Velho, A República, em defesa da causa abolicionista e da campanha republicana.
Em 1892 Augusto Severo abandonou de vez a carreira comercial para dedicar-se à política, onde lhe estava reservado o mais honroso papel. Eleito deputado ao Congresso constituinte que organizou o Estado, teve, em 1893, de preencher a vaga aberta na Câmara dos Deputados Federais pela eleição do Dr. Pedro Velho para o cargo de governador do Estado do Rio Grande do Norte. Tudo sem abandonar a aerostação.
Sua atuação como congressista foi discreta. A passagem de Augusto Severo pelo parlamento brasileiro ficou assinalada por projetos que viraram leis no país, por trabalhos nas comissões de orçamento, de tarifas e de marinha, sobretudo nesta, onde revelou tais conhecimentos náuticos que chegava muitas vezes a ser apontado para o cargo de ministro da marinha, com o aplauso dessa força. Defendeu projetos relativos a saneamento público, assistência à infância, proteção aos operários dos arsenais, e foi membro da Comissão de Orçamento. Projetou também um dirigível que incorporava as ideias que havia desenvolvido anteriormente.
Dirigível Bartolomeu de Gusmão
Em outubro de 1892, ouvida a opinião favorável de abalizados professores da Escola Politécnica, concedeu o Governo um auxílio pecuniário para que Augusto Severo de Albuquerque Maranhão pudesse mandar fazer na Europa um aeróstato dirigível de sua invenção que incorporava as ideias que havia desenvolvido anteriormente. A esse aeróstato deu o nome de Bartholomeu de Gusmão, em homenagem ao inventor luso-brasileiro Bartolomeu Lourenço de Gusmão, que apresentou em 1709, diante da corte portuguesa, um pequeno balão de ar quente batizado Passarola.
O dirigível Bartolomeu de Gusmão introduzia um conceito novo. Era um aparelho semirrígido, em que o grupo propulsor estava integrado ao invólucro através de uma complexa estrutura trapeizodal em treliça. O invólucro foi encomendado à Casa Lachambre, a principal firma de Paris especializada na construção de balões e, de propriedade de Henri Lachambre, a principal firma de Paris especializada na construção de balões. Numa carta escrita da França e datada de 5 de dezembro de 1892, Maranhão explicou os princípios da aeronave:
Estabeleceu como princípio a ciência que a navegação aérea dependia da possibilidade de se obter a justaposição dos centros de tração e resistência. Com efeito, produz esta justaposição uma diminuição considerável de resistência e faz desaparecerem as rotações perturbadoras do movimento do aeróstato, rotações que se dão quando a força propulsiva não se acha colocada sobre a resultante das resistências desenvolvidas. Ora, foi essa justaposição que consegui obter no meu aeróstato. As características do meu invento, denominado ‘Sistema Potiguarânia’, são estas:
Em 1913 a praça Augusto Severo ganhou uma estátua de bronze de Augusto Severo, que foi inaugurada no dia de sua morte. Em Natal perto da praça que leva o seu nome existiu o Grupo Escolar Augusto Severo, inaugurado em 1908. Entre 1956 e 1974, este espaço também funcionou a Faculdade de Direito de Natal. Hoje em reforma o prédio irá se torna o Centro dos Direitos Humanos e o Museu do Advogado do RN.
Em 1936 foi homenageado com a Honra de ser o Patrono da cadeira número 4 da Academia Norte-Riograndense de Letras.
1ª. Os meios empregados para fazer coincidir a força de propulsão com a resultante das resistências, pela combinação de um aeróstato, de forma ovoide, e de uma carcaça sólida, de metal ou de qualquer outra matéria, cuja haste superior se vá apoiar no fundo de um bolso, feito em todo o comprimento do aeróstato, e que sustenta, de um lado a hélice, e posto no prolongamento da referida haste, e do outro a barquinha e os demais órgãos.
2ª. A disposição especial do leme, também sustentado pela carcaça sólida, e formado de duas asas que, na ocasião da subida do aeróstato, ficam verticalmente para não dificultarem a ascensão. Estou inteiramente convencido de que governarei o meu Bartholomeu Dias [sic] com uma velocidade de 15 a 20 m/s, podendo aumentá-la até 50 m/s. O meu sistema já está privilegiado em França. Conto chegar ao Rio em fevereiro para fazer aí a primeira experiência pública do meu invento.
Com recursos federais, O balão, de cerca de 2.000 m3, medindo 60 m de comprimento, chegou ao Brasil em março de 1893. A estrutura em treliça, inicialmente projetada para ser executada em alumínio, foi construída no campo de tiro de Realengo, na cidade do Rio de Janeiro, assim como a montagem de uma usina para a produção de hidrogênio. A falta do material previsto para construção da estrutura fez com que Severo alterasse o projeto, construindo a parte rígida do aparelho em bambu. Tratava-se de uma estrutura complexa que deveria suportar o motor elétrico com as baterias e os tripulantes e, além disso, apresentar resistência suficiente para aguentar os esforços durante o voo.
Em 6 de setembro de 1893 teve início a Revolta da Armada, sob o comando do almirante Custódio José de Melo (1840-1902) e, mais tarde, do almirante Luís Filipe Saldanha da Gama (1846-1895), com o objetivo de derrubar o governo do marechal Floriano Peixoto (1839-1895). A capital federal foi bombardeada pelos navios revoltosos, e no início de 1894 parte deles se dirigiu para o Sul do país, onde estava em curso a Revolução Federalista, alcançando a cidade de Desterro, hoje Florianópolis. Houve a ameaça de os revoltosos da Marinha se juntarem ao movimento federalista gaúcho.
Diante desse quadro, Severo apresentou a ideia de construir seu dirigível para ser usado no conflito como observador aéreo. O projeto foi submetido para análise ao Clube de Engenharia, que deu parecer favorável. Com o apoio do governo, teve início a construção do dirigível Bartolomeu de Gusmão no quartel do Realengo.
Porém, só em 14 de fevereiro de 1894, o Bartholomeu de Gusmão realizou as primeiras ascensões ainda como balão cativo e mostrou-se estável e equilibrado, demonstrando que a concepção proposta por Severo era adequada para o voo. A introdução de uma estrutura semirrígida integrada ao balão permitia que a hélice propulsora ficasse alinhada ao eixo longitudinal do invólucro, evitando assim que o aparelho apresentasse uma tendência de levantar a frente quando o motor fosse acionado. Este problema, que tem o nome técnico de cabragem, já havia sido experimentado em outros inventos e se constituía numa grande limitação de equilíbrio, além de reduzir substancialmente a velocidade.
A dirigibilidade de balões ainda não tinha sido resolvida, e a proposta de Severo se apresentou como inovadora e altamente promissora. Mas, no único voo do dirigível livre das amarras, a estrutura em bambu não aguentou os esforços e partiu-se. Sua recuperação não teve o apoio do governo de Floriano Peixoto, uma vez que o governo federal havia comprado uma frota de navios novos, e a Revolta da Armada já estava perdendo a força. O dirigível Bartolomeu de Gusmão simplesmente se deteriorou.
Severo voltou a eleger-se deputado estadual para a legislatura 1894-1896. Em 1896 sua mulher faleceu e ele iniciou uma relação com Natália, de origem italiana, que aguardava o divórcio para que se realizasse o casamento. Com ela Severo teria dois filhos. Foi reeleito para as legislaturas 1897-1899 e 1900-1902. Nesse período apresentou o pedido de patente de outros inventos: um mecanismo de direção de balões, uma máquina rotativa para impressão e um turbo-motor. Seu interesse pela aerostação continuou, apesar do insucesso do Bartolomeu de Gusmão.
Severo x Dumont
Em 19 de abril de 1896, no Rio de Janeiro, Augusto Severo pediu patente para um “turbo-motor com expansões múltiplas e continuadas”, concedida no dia seguinte, às 12h40min (n 2.940). Em 20 de outubro desse ano sua mulher faleceu, após o que Augusto Severo iniciou um relacionamento amoroso com Natália de Siqueira Cossini, de origem italiana, com a qual teria dois filhos.
A partir de 1898 começaram a surgir as primeiras notícias das experiências realizadas em Paris por Alberto Santos Dumont (1873-1932). Severo seguia as notícias com interesse e fez uma avaliação crítica e bem fundamentada.
Na sessão da Câmara do dia 17 de julho de 1901, o deputado mineiro Francisco Álvaro Bueno de Paiva (1861-1928) propôs um voto de louvor e uma declaração em que “o Parlamento dava por ter sido encontrada a solução secular do problema da dirigibilidade”.
Severo pediu a palavra e pronunciou um longo discurso em que apresentou considerações técnicas sobre os trabalhos de Santos Dumont. Iniciou seu discurso dizendo: “O preço deste discurso pode ser mesmo a impopularidade, que não temo, porque estou cumprindo o meu dever”.
Em sua exposição, mostrou os pontos fracos dos dirigíveis de Santos Dumont, demonstrando profundo conhecimento não só dos trabalhos realizados pelo inventor como da ciência aeronáutica. Sua crítica baseava-se no fato de os dirigíveis de Santos Dumont não integrarem o balão à quilha, de forma que a força produzida pela hélice, localizada bem abaixo do balão, produzia um torque que fazia com que a aeronave tivesse a tendência de levantar o “nariz” quando o motor era acionado.
Seu discurso não foi bem interpretado por muitos de seus colegas deputados, que viram nele uma crítica e, como manifestou o deputado Viriato Mascarenhas, um “certo travo de injustiça”. Embora pondo em dúvida os feitos de Santos Dumont, Severo apresentou um projeto que foi aprovado e elogiado pelos deputados: “Art. 1º: Fica o Governo autorizado a abrir o crédito de 100:000$000 ao Ministério de Viação com o fim de ser esta quantia entregue ao Sr. Alberto Santos Dumont, como prêmio, pelo resultado de sua experiência de um balão dirigível, feita em Paris a 13 do corrente. Sala das sessões, 17 de julho de 1901. Ass. Augusto Severo e Carlos Cavalcanti.” O discurso, bem como a proposta apresentada por Severo, teve grande repercussão mundial.
Prêmio Deutsch
Quando Santos Dumont realizou um voo em torno da torre Eiffel, em 13 de julho de 1901, a notícia se espalhou pelo mundo. O voo, porém, teve que ser abortado, e o dirigível caiu entre as árvores do parque da residência do barão Edmond de Rotschild. Santos Dumont não havia conseguido provar que sua aeronave, o Dirigível N-5, era capaz de ganhar o grande prêmio da aerostação, instituído pelo magnata do petróleo Henri Deutsch de la Meurthe, mas havia realizado um voo de impressionante precisão e controle.
Havia uma competição entre Augusto Severo e Santos Dumont, mas a rivalidade deles era cordial. Na época, os dois brasileiros trabalhavam seus inventos com balões. Apesar do pioneirismo de Severo, o fato de Dumont ser mais consagrado se deve a ele ter faturado o Prêmio Deutsch, na França, em 1901 – isso antes do voo do avião 14 bis, em 1906. Soma-se a esse ostracismo, o pouco material produzido a seu respeito. Ninguém conhece direito a história de Augusto Severo, em razão das poucas biografias existentes serem antigas e pobres de dados e imagens.
Em 1901, motivado pelo Prêmio Deutsth, que prometia 100 mil francos a quem voasse 11km em meia hora contornando a Torre Eiffel pelo percurso, o potiguar embarca rumo a França. No entanto, antes de conseguir montar seu dirigível, o conterrâneo brasileiro Alberto Santos Dumont realizou o percurso e faturou o prêmio.
PaxEm 27 de julho de 1899, no Rio de Janeiro, Severo patenteou um novo balão dirigível, o Paz (posteriormente o nome foi latinizado para “Pax”), e em 23 de julho de 1901, uma “máquina a vapor rotativa e reversível”, com a qual os navios poderiam atingir velocidades maiores.
Em fins de 1901, Severo licenciou-se da Câmara para viajar para a França e aí se dedicar à construção de um novo semirrígido, o Pax, inflado a hidrogênio. Esse novo dirigível era um desenvolvimento do seu anterior, o Bartolomeu de Gusmão, e Severo introduziu uma grande quantidade de inovações. Manteve a ideia de fazer uma aeronave integrando a quilha que levava os tripulantes e o grupo motor ao balão. Abandonou o leme de direção e introduziu três pequenas hélices que teriam a função de dar direção ao aparelho e controlar sua inclinação.
O novo aparelho não tinha leme de direção, para o deslocamento o Pax tinha duas hélices, uma à frente e outra na popa, com os eixos centrados ao eixo de simetria do balão, evitando assim a cabragem. Sem ter conseguido qualquer auxílio externo, Severo teve que assumir toda a despesa para a construção.
Pretendia usar motores elétricos, mas a falta de recursos e de tempo fez com que optasse por dois motores a petróleo tipo Buchet, um com 24 CV e o outro com 16 CV. O invólucro tinha a capacidade de 2.500 metros cúbicos de hidrogênio, com 30 metros de comprimento e 12 metros no maior diâmetro. O aparelho pesava cerca de duas toneladas. Ele queria concorrer ao Prêmio Deutsch, que premiaria com 100.000 francos aquele que fizesse um voo comprovadamente dirigido.
Finalmente Severo depois de muita luta, de muito sacrifício, consegue construir em paris, o seu dirigível “PAX”, com a valiosa ajuda de Pereira Reis e de Sachet, técnico da fabrica de motores Buchet, que seriam utilizados em seu aparelho. Com o “PAX”, Severo efetuou vôos de experiência, em paris, nos dias 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10 e 11 de maio de 1902. Certo da eficiência do seu invento, Severo anunciou o seu vôo oficial para o dia 12 de maio. Toda a imprensa mundial estava presente, inclusive George Melies, amigo dos irmãos Lumière e igualmente pioneiro do cinema, que iria conseguir filmar o sinistro, como primeiro furo cinematográfico da humanidade.
Tragédia
Tudo estava pronto. Somente uma coisa preocupava Severo: a proximidade dos dois motores de explosão do imenso bojo, contendo 9.000 metros cúbicos de gás inflamável. Sobre isso ele falou a Pereira Reis: “sei o quanto é perigoso subir aos espaços com aqueles motores tão próximos do hidrogênio. Infelizmente não disponho do tempo nem de meios para fabricar os motores a pilha que já tenho desenhado e o meu compromisso com o mundo é muito grande. Sabe Pereira? Às vezes é necessário até morrer, para provar à humanidade a validade de uma idéia”. E, sempre fiel à sua predestinação, A. Severo subiu mais uma vez.
No dia 12 de maio, tendo como mecânico de bordo o francês Georges Sachet, o Pax iniciou seu voo às 5:30h saindo da estação de Vaugirard, em Paris. Elevou-se rapidamente, atingindo cerca de 400 metros. Acontece o que ele previra. O dirigível move-se graciosamente no ar.
Realizou diversas evoluções que mostraram aos inúmeros espectadores que as ideias de Severo estavam corretas. Cerca de 10 minutos após o início do voo, contudo, de repente o estrondo da explosão violenta ressoa nos céus de Paris. O Pax explodiu violentamente. O dirigível envolve-se em chamas e Augusto Severo atirado fora da barca pela força da deslocação do ar, cai de pé na Avenida do Maine, realizando a premonição de Ícaro o homem pássaro da Grécia lendária e heróica, quando aproximando-se do Sol, perdeu as asas e fez seu último vôo vertical até as águas profundas do mar Egeu.
Os restos do dirigível caíram na avenida du Maine, diante de uma grande multidão que seguia com interesse a demonstração. Severo, então com 38 anos, morreu na queda. Seu mecânico, o francês Saché, foi carbonizado.
A catástrofe do Pax teve um impacto enorme. Natália, que assistiu à queda, não se recuperou e, após retornar ao Brasil, suicidou-se com um tiro no coração em 23 de junho de 1908, aos 30 anos de idade. A configuração proposta por Severo, de um dirigível semirrígido, foi revolucionária e influenciou o desenvolvimento dos dirigíveis nas décadas seguintes.
O corpo carbonizado de Augusto Severo transladado de Paris a bordo do navio Brésil foi enterrado no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, aos 18 de junho de 1902, dia em que foi inaugurado o monumento para a sepultura daquele que pagou com a vida o seu intenso amor e pressa na tentativa de resolver o problema da navegação aérea. Por coincidência, embarcado para o Rio de Janeiro neste mesmo paquete, faleceu em 1906 no porto do Recife, o Senador Pedro Velho, seu irmão mais velho.
Em todo o Brasil Severo é celebrado como Pioneiro da Aviação Brasileira, e em Macaíba é considerado o filho mais ilustre.
Causas do Acidente
Quanto à causa do acidente a hipótese mais provável é de que o problema ocorreu devido a proximidade entre o motor à combustão com a válvula do balão de hidrogênio. Com uma provável pane na válvula, o hidrogênio entrou em contato com as faíscas do motor possibilitando a explosão.
Uma segunda hipótese, com menos defensores, indica que uma mudança no projeto ocasionou o acidente. O inventor trocou o material de uma das peças da barca que seria de alumínio, por bambu. Ela então quebrou em virtude do excesso de peso e furou o invólucro de hidrogênio.
Em qualquer uma delas o resultado foi o mesmo o fim dos dois passageiros do balão. No Museu Aeroespacial temos a máscara mortuária do inventor e o pedaço do bambu quebrado, que teria sido o responsável pelo trágico acidente.
Dica de leitura
Em Natal, uma minibiografia escrita pelo jornalista Alexis Peixoto foi lançada em 2015 pela Caravela Selo Cultural. Mas em “Os Balões de Augusto Severo” Rodrigo vai além, trazendo uma obra abrangente e amplamente ilustrada, com cerca de 170 imagens.
As fotografias provêm de arquivos e museus nacionais e estrangeiros que o autor visitou, bem como de agências de imagens. Os traços pessoais de Severo ele conseguiu em entrevistas publicadas em periódicos da época. “É a maior e mais luxuosa biografia já feita a respeito de Augusto Severo”.
Homenagens
Em 12 maio de 1902, duas ruas em Paris, próximas ao local do acidente, foram nomeadas Rue Severo e Rue Georges Saché, em homenagem aos aeronautas acidentados. Naquele mesmo ano, o cineasta Georges Méliès dirigiu o curta-metragem La Catastrophe du ballon “Le Pax” sobre o acidente.
Uma placa de mármore no nº 81 da Avenue du Maine, em Paris, celebra hoje o local do acidente de Augusto Severo.
O antigo aeroporto de Parnamirim (Rio Grande do Norte), era batizado como Aeroporto Internacional Augusto Severo em sua homenagem. O Aeroporto Augusto Severo, em Parnamirim, realizou a última operação comercial na manhã de um sábado 31/05/2014 com a decolagem do vôo 2730, da Azul, com destino a Maceió. O terminal foi desativado e entregue à Força Aérea Brasileira (FAB).
As operações comerciais foram transferidas para o Aeroporto Internacional Governador Aluízio Alves, em São Gonçalo do Amarante. Durante a Copa do Mundo, o Augusto Severo ainda recebeu os voos de delegações e autoridades que vêm para o Mundial sob a coordenação da FAB.
Existe, desde 1904, uma praça que leva o seu nome, A Praça Augusto Severo está localizada no bairro da Ribeira em Natal.
Em 1903, o Deputado Luís Pereira Tito Jácome mudou em 1903 o nome do município de Campo Grande para Augusto Severo, o nome Augusto Severo permaneceu até 1991 quando o município voltou ao seu nome original. O nome não caiu no gosto das pessoas. Somente neste ano de 2019, decorridos 106 anos, a cidade de Campo Grande retornaria ao seu nome original.
Em 23/04/2019, a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, sancionou o projeto de lei que altera novamente o nome do município de Augusto Severo para Campo Grande. A decisão, que referenda o resultado de um plebiscito. A população do município escolheu mudar o nome do local no dia 7 de outubro de 2018, durante as eleições gerais.
Ao comparecerem às urnas, os eleitores da cidade tinham uma tela extra, na qual puderam optar se preferiam que o nome permanecesse Augusto Severo ou que mudasse para Campo Grande. Segundo a Justiça Eleitoral, 95,75% dos votos válidos foram favoráveis à alteração.
Desde 1909 existe a Escola Estadual Augusto Severo na cidade do Natal, no bairro de Petrópolis. A escola foi pioneira no Ensino de Surdos no Rio Grande do Norte.
Avenida situada na zona central da cidade de Mossoró-RN, no distrito 616. Esta artéria constitui a lateral sul da Praça da Independência. Até 14/05/1904 esta avenida recebia a denominação de Rua do Campo Santo, pois ela é a principal via de acesso ao Cemitério local. Os limites desta avenida vão da Praça da Independência – justamente no ponto de término da Rua Santos Dumont, cruza a Avenida Alberto Maranhão, à Rua Melo Franco.
Em 1904, por iniciativa do Intendente Francisco Tavares Cavalcanti, o batizador de ruas, mas que, aliás, desta feita, foi uma iniciativa cívica muito justa, a Rua do Campo Santo passou a chamar-se Rua Augusto Severo, e posteriormente, passou para a categoria de avenida.
Fontes: Wikipedia, FGV, Biomania, Agora RN, G1, Prefeitura de Macaíba, Tribuna do Norte, Instituto José Jorge Maciel, Historia e Genealogia, FAB, Brechando, Folha de Macaíba e IHGRN.