Os antigos hotéis de Natal

Natal recebe milhares de turistas vindos de várias partes do Brasil e do mundo anualmente, ocupando assim praticamente todos os leitos da rede hoteleira da cidade. A maioria destes visitantes chega à capital potiguar durante o seu período de férias ou descanso para desfrutar das maravilhas da nossa Cidade do Sol.

Os ventos que incidem sobre a região do Município de Natal variam durante o ano, e isso no que concerne a direção dos ventos e sua velocidade. Com relação a direção dos ventos, os mesmos vêm do leste, do sul e do sudeste, variando de acordo com a época do ano. No entanto os ventos que exercem uma maior influência na região são os que vêm do sudeste, devido serem os que mais predominam na área durante o ano.

Nesta postagem veremos que a cidade de Natal, já dotada de certos equipamentos urbanos, buscava inserir por meio dos discursos as lógicas estabelecidas pela modernidade. Saber sobre as viagens que ocorriam no mundo e ter residentes que vivenciavam essas experiências era a abertura para novos horizontes. Os natalenses que saiam em turismo, ao retornarem traziam notícias da moda, dos conceitos, das paisagens e despertavam o interesse de outros pelas viagens. O desejo de receber regularmente turistas era expresso, o indício se dá pelo investimento feito nas melhorias dos meios de hospedagem, muitas vezes vãs, visto a pequena importância econômica da capital em relação ao país.

A função militar e estratégica da capital do Rio Grande do Norte se manifesta de outras formas mais sutis. As instalações hoteleiras que surgiram desde o fim dos anos 1930 está direta ou indiretamente relacionadas às pressões do setor aéreo. Posteriormente, esta estrutura hoteleira tenta atender às necessidades suscitadas pela segunda guerra mundial, e, durante os anos 1960, ela está associada aos « objetivos de segurança nacional definidas pelo governo militar (Bentes Sobrinho, 2001). Nessa época, a importância de toda a região Nordeste não resultava somente de uma questão econômica, mas da especificidade estratégica em relação ao Atlântico Sul (Silva apud Clementino).

O BAIRRO DA RIBEIRA

O entendimento de centro urbano é essencial para a compreensão do que ocorreu no bairro da Ribeira. Este, em contraponto ao desenvolvimento de outras cidades brasileiras, não foi o primeiro bairro da Cidade de Natal, mas sim o segundo. No entanto, o bairro da Ribeira aos poucos assumiu a função de centro urbano, principalmente pela acessibilidade, haja vista que se encontrava no meio do caminho entre o porto e o núcleo inicial da capital, o bairro de Cidade Alta. Sendo assim, era um espaço fecundo para as atividades comerciais e sociais da então pequena Cidade de Natal.

No final do século XIX, o comércio do bairro da Ribeira já se encontrava bastante diversificado, contava com várias lojas de variedades, a exemplo citamos: o Bazar Natalense, a Casa de Lobato, a G. N. Aranha (O Nortista, ano II, nº 108, Natal, 6 abr. 1894.); o armazém de fazendas, miudezas e comissões de Ângelo Roseli, o empório comercial de Fortunato Aranha, a Antiga Loja de fazendas e miudezas (esplêndido sortimento de todos os artigos de modas) de Nicolao Bigois, a Popular Comércio e Indústria (fazendas, miudezas, chapéus, calçados e alfaiataria) de Barbosa e CIA (Diário do Natal, Natal, sábado, 1 jul. 1893.), entre outras. O bairro abrigava também vários serviços, como: Progresso – Companhia de seguro mútuo contra fogo (Diário do Natal, Natal, sábado, 1 jul. 1893.); Museu de Joias (grande oficina de ourives, loja de jóias, relojoaria e Lunetaria), Especialidades da Empresa Graphica de Renaud e CIA (Diário do Natal, ano IV, nº 368, Natal, 15 dez. 1895.); assim como os melhores hotéis da cidade.

Segundo Pedro de Lima (2006, p. 23), “os grupos de rendas mais altas habitavam os bairros da Ribeira e da Cidade Alta”. A Ribeira também é o berço de importantes personalidades natalenses. Lá viveram: Café Filho, Henrique Castriciano, Ferreira Itajubá, Pedro Velho, Newton Navarro, Aderbal de França, Erasmo Xavier, Januário Cicco, entre outros. No entanto, o bairro também era habitado por classes mais baixas, se consolidando como uma área heterogênea. A partir do Censo de 1897, realizado pelo então vice-presidente da Intendência Municipal, o Sr. Olympio Tavares, observa-se a diversidade da população residente na Ribeira. Levantamento por profissão:

Sem profissão – 1669; criados – 190; catraeiros – 93; militares – 92; negociantes – 88; pescadores – 61; costureiras – 60; engomadeiras – 51; jornaleiros – 49; empregados públicos – 44; operários – 37; artistas – 35; aprendizes marinheiros – 28; lavadeiras – 27; cozinheiras – 24; estudantes –19; tipógrafos – 11; alfaiates – 10; carpinas – 10; proprietários – 10; marceneiros – 9; padeiros – 8; rendeiras – 8; sapateiros – 8; barbeiros – 6; industriais – 6; pedreiros – 6; práticos da barra – 7; agricultores – 4; calafetes – 4; magistrados – 4; telegrafistas – 4; ferreiros – 4; hoteleiros – 3; advogados – 2; charuteiros – 2; estivadores – 2; médicos – 2; modistas – 2; músicos – 2; encadernador – 1; engenheiro civil – 1; engenheiro mecânico – 1; funileiro – 1; maquinista – 1; ourives – 1; farmacêutico – 1; fotógrafo – 1; serralheiro – 1; tanoeiro – 1; tecedeira – 1 (A República, Natal, 5 fev. 1897).

Em 1890, surge uma Empresa de Carros de Aluguel, composta de carruagem de quatro rodas, puxada a cavalo, de propriedade do médico Celso Augusto Santiago Caldas e João Federalino Santiago, que fazia a linha Ribeira/Cidade Alta. (CASCUDO, Luis da Câmara, História da Cidade do Natal, p. 289). A empresa não durou um
ano. Informa CASCUDO:

Os carros iam da Ribeira à Cidade, [servindo] para os passeios mediante contrato. A tabela cobrava, até a praça da Alegria [atual, Praça Padre João Maria]. Da Ribeira, para o Hotel, [pagava-se] trezentos réis. Um [só] passageiro, pagaria o dobro. A Empresa alugava carros comodamente, com os cocheiros fardados. Prossegue, ainda, Cascudo: Por ida e volta, cobrava-se por mais de um passageiro desembolsava a quantia de 3$000. Um [só] passageiro, 5$000. Para cada hora parada era cobrada [uma tarifa de] mil-réis. Por ida e volta, mais de um passageiro gastava 2$000 “.

No inicio do século XX, o bairro da Ribeira vivenciou um intenso processo de modernização do seu espaço e de suas funções, o que, nas palavras de Celso da Silveira, assim se apresenta:

A velha Ribeira de palafita, antigo alagadiço onde havia uma olaria, um plantio de canas e bananeiras, abrigou, depois de transformada em caminho de Xarias que demandavam à Cidade Alta dos Canguleiros, uma praça com uma pontezinha de madeira – passadiço de acesso aos dois lados da “urbs”, indo e voltando. Lá surgiram a casa de Dona Inês Barreto, teatro, grupo escolar, estação da estrada de ferro e a Escola Doméstica. Antes era a campina da Ribeira – salgado – um sítio onde viveu o poeta João Gotardo Netto […].
Essa velha Ribeira desenvolveu-se sobre mangues. Viu erguerem-se as casas, os prédios públicos, hotel, palácio, jornal, banco, comércio (SILVEIRA, 1989, p. 12).

Essa influência progressista advinda da implantação da estrada de ferro transformará não apenas a população, como também o espaço. A edificação da estação na Praça Augusto Severo fomentará em seu entorno diversas atividades complementares a ela, favorecendo uma nova centralidade, destacando a ampliação das atividades hoteleiras e a proliferação do comércio em geral na região.

A existência destes hotéis foi verificada a partir de publicações de anúncios em jornais do Estado, e de citações em artigos e livros.

Destacam-se os seguintes hotéis, jornais e datas de publicação: Hotel Londres (O Nortista, 1892), Hotel Viterbino (Diário de Natal, 1895), Hotel Brazil (Diário de Natal, 1896), Hotel do Commercio (Diário de Natal, 1897), Hotel Tyrol (A República, 1916). Foram encontradas também referências aos hotéis Internacional, dos Leões e Avenida, “todos na Ribeira como sendo os melhores e mais luxuosos da cidade” (Lyra, 2009), (Nascimento, 2015). Estes três últimos foram de propriedade de Theodorico Bezerra, dono do futuro Grande Hotel de Natal.

O cronista Carvalho, do jornal A República, em 1906, relata que a cidade havia crescido, sua população agora contava com 18 mil habitantes, e havia recebido “iluminação a acetileno (em parte) ”, um “ Boulevard Rio Branco (…) arruado simetricamente em grande extensão”, “ótimos hotéis, um magnífico jardim à Praça 15 de novembro”. (ARRAIS, 2008). Lauro Pinto (1971, p. 26), por sua vez, nos coloca nos anos 1920, com sua referência aos hotéis de relevância A Ribeira era ainda privilegiada pela localização das principais repartições, casas comerciais, estabelecimentos, etc. Assim, os melhores hotéis, como sejam:

Internacional, Hotel dos Leões e Avenida eram localizados na Ribeira. Uma coisa curiosa: o Hotel Avenida e hoje Avenida Hotel, está no mesmo lugar há mais de meio século e dos três citados é o único em funcionamento, sendo, assim, o mais antigo. (PINTO, 1971, p. 26)

Hotéis instalados em Natal/RN entre 1939-1970. No Mapa 6 observa-se que, até o início da construção da Via Costeira (meados dos anos 80), os hotéis concentravam-se próximo ao centro da cidade, não existindo a instalação de hotéis nas outras zonas urbanas. Dessa maneira, no bairro da Ribeira, encontravam-se 4 hotéis, sendo o Grande Hotel, o Hotel Internacional, Hotel Avenida e o Hotel dos Leões, todos pertencentes ao mesmo empresário e inaugurados antes dos anos 50. Os hotéis inaugurados na década seguinte – o Hotel Internacional Reis Magos e o Ducal Palace Hotel – saíram da Ribeira e se localizaram em outras áreas, como a Praia do Meio e a Cidade Alta, ocorrendo, assim, o início da dispersão espacial dos hotéis em Natal.

HOTEL VITTERBINO

A importância das intervenções na Praça da República eram tão urgentes que em uma reportagem do periódico “A República”, de 15 de abril de 1896, é feito um contraponto entre o projeto de aformoseamento da Praça André de Albuquerque – localizada na Cidade Alta e marco zero da ocupação da cidade – e a falta de iniciativas do tipo na Praça da República (hoje Praça Augusto Severo).

Até o ano de 1901 nada havia sido efetivamente realizado e a chegada de mais um inverno piorava a situação, com a formação de alagadiços. Para piorar, a falta de educação da população, a partir do depósito de lixo e dejetos nas valas que drenavam as águas pluviais tornava a situação ainda mais crítica (A REPUBLICA, 1901, p. 01). Ruas e logradouros adjacentes, tais como o largo do Bom Jesus e as ruas de Santo Amaro e da Campina, se tornavam “inabitáveis”, como eram descritos nesses períodos por alguns periódicos. Entre esses argumentos, os jornais em circulação chegavam a citar o fato de que uma intervenção na Praça da República significaria um beneficiamento das próprias elites políticas e intelectual, já que ou residiam ou se hospedavam em suas adjacências.

É neste cenário que encontramos a referência do Hotel Vitterbino:

Ninguem mais do que os srs. drs. Governadores que alli moram, ninguém mais do que os srs. deputados que estão hospedados no Hotel Vitterbino sito naquella Praça – pode calcular e medir a urgente precisão de melhorar já e já as péssimas, – tristes mesmo – condições daquella parte da cidade (CALÇAMENTO. O Nortista, Natal, n.176, ano 4, 30 mar. 1895., p. 01).

Outros importantes estabelecimentos também se situavam na praça, tais como os principais hotéis da cidade – o Internacional, o Hotel dos Leões, o Viterbino, o do Comércio e o Avenida –, além de outro dos principais equipamentos de lazer juntamente com o teatro, o cinema Polytheama, inaugurado também em 1911
(ARRAIS, 2009, p. 168). Muitos estabelecimentos comerciais também são atraídos, tais como “o magazine Paris em Natal, a firma de Omar Medeiros e o loja de Lira Oliveira & Cia.” (MOURA, 1986, p. 222 apud RODRIGUES, 2006, p. 136). Ainda se situava na praça, ao lado da estação, a residência e indústria da família Barreto.

Hotel Viterbino. Fonte: Diário do Natal, 07 de setembro de 1895.

HOTEL DOS LEÕES

Largo do Teatro Alberto Maranhão, antigo Hotel dos Leões. Fonte: Google Earth, 2017.

HOTEL DA BIMOA

Registra-se a existência de vários hotéis classificados como de alto nível, situados no bairro da Ribeira, no período em que as ruas deste bairro representavam o que havia de melhor e mais elegante na sociedade local, e que também foram relegados ao esquecimento. Em 1871, período anterior à implantação da aviação comercial, na publicação de Manoel Ferreira Nobre – Breve notícia sobre a província do Rio Grande do Norte -, há referências a dois estabelecimentos classificados como hospedarias, do qual um se destaca Hotel Francês – No largo da Campina do Forte, no Bairro da Ribeira.

Ocupa um vasto edifício, tendo alguns quartos mobilhados (sic). Pode acomodar famílias, vivendo independente dos mais hóspedes. O serviço de mesa é variado.
É sua proprietária a viúva Bimont. (NOBRE, 1871, p.34) Em nota explicativa na segunda edição desta obra (1971, p. 34) Manoel Rodrigues de Melo refere-se ao Hotel Francês, como Hotel da Bimôa – uma corruptela do sobrenome da proprietária – e afirma que o estabelecimento era “o mais conhecido”.

O mais conhecido hotel da cidade, no último quartel do século XIX, era o Hotel da Bimoa, de propriedade de Francisca Generosa Gosset de Bimont. Ficava o mesmo localizado na esquina da Esplanada Silva Jardim com a rua Frei Miguelinho, no lado do nascente. Por tal razão, o trecho que hoje compreende a rua Frei Miguelinho, era assim denominado: “do Hotel até a casa do Padre Constâncio”. Este morava em um casarão colonial, na esquina das atuais ruas Tavares de Lira e Frei Miguelinho, local onde funcionou a oficina do jornal “A República”. Em 25 de março de 1900, inaugurava-se ali o Derby Clube Natalense, trazendo uma grande movimentação àquela rua, onde eram realizadas corridas de cavalos.

HOTEL BRAZIL

HOTEL BRAZIL – Este importante estabelecimento, propriedade de Francisco de Paula, acha-se completamente montado com todas as acomodações precisas para famílias, passageiros, hospedes e viajantes – e dispõe de tudo quanto desejar se pode para ser agradável a todo aquele que tenha de procura-lo. Toda sorte de recreios, bilhares, excelentes banhos de toda qualidade, aposentos cuidadosamente preparados com asseio, – tudo enfim de útil e agradável de confortável que se pode desejar aos cômodos da vida encontrar-se-há no HOTEL BRAZIL, e pelo mais cômodo preço possível. Praça Marechal Deodoro – logo no cais de desembarque – Ribeira – Natal (Diário do Natal, ano IV, nº 368, Natal, 15 dez. 1895.).

Depois de assumir o cargo de deputado federal, Junqueira Aires só retornou uma vez a Natal, em fevereiro de 1896, sendo então recebido, no cais da Alfândega, por amigos e representantes de todas as classes sociais.

Às 12:00 horas do dia 21 de fevereiro de 1896 foi servido um banquete, em homenagem a Junqueira Aires, realizado no Hotel Brasil, com a presença de altas personalidades da política e da administração, presidido pelo Governador Pedro Velho.

Hotel Brazil. Fonte: Diário de Natal,1 de janeiro de 1896.

HOTEL AVENIDA

“Na esquina com a Duque de Caxias, o Estado construiu o prédio que ainda la se encontra, que foi ocupado pela Recebedoria de Rendas Estaduais. Sendo transferida para outro setor, foi ocupado pela Junta Comercial do Estado. No outro Lado, esquina também com Duque de Caxias, encontrava-se o Hotel Avenida, que conforme já indicado, foi adquirido pelo Sr. Teodorico Bezerra, que ali ficou até a aquisição do Hotel Internacional”. Júlio César de Andrade (ANDRADE, 1989, p.26).

Antigo Hotel Avenida. Foto: Autor Desconhecido. Fonte: Acervo THGARN.
Igreja Evangélica. Foto: Bruno Albuquerque. Fonte: Acervo SEMURE.
Foto aérea da igreja Evangélica.
O Hotel Avenida, na Avenida Duque de Caxias, onde se localiza atualmente a Igreja Universal do Reino de Deus na na esquina da Duque de Caxias com a Sachet.

HOTEL CONTINENTAL

Era também defronte à praça ajardinada da Ribeira que passava o bonde que trazia os praticantes para outros espaços de sociedade e modernidade existentes no entorno daquela área. Naquelas proximidades também se localizavam a fábrica de tecidos e a residência de Juvino Barreto – precisamente na esquina da praça com a avenida Junqueira Aires – e o Hotel Continental.

Palmyra Wanderley foi ainda fundadora da Academia Norte-rio-grandense de Letras, ocupando a cadeira de número 20. A patrona escolhida foi Auta de Souza. O tom do discurso primeiro da acadêmica mostra a sua paixão pela cidade onde nasceu, a ponto de comparar os seus inúmeros sonhos aos sons emitidos pelas ondas do mar de sua terra. Natal está presente em muitos de seus poemas, em que desfilam os bairros, as gentes, a natureza, os costumes da então província, que recebia os novos tempos, preparando-se para ser uma capital moderna e alcançar um espaço de civilidade. A percepção dessa civilização moderna pode ser aferida nas obras materiais de construção do Teatro Carlos Gomes (hoje Alberto Maranhão), na criação do bonde elétrico e na inauguração de edifícios, como o Hotel Continental, dentre outros. Tais obras “serão símbolos da modernidade natalense e conviviam com a pitoresca figura do burro de cargas” (ARRAIS; ANDRADE; MARINHO, 2008, p. 130).

HOTEL COMMERCIAL

A produção de lixo na cidade tomou, em determinados momentos, um vulto de extrema importância, tornando-se um dos temas preferidos nas crônicas jornalísticas e nas colunas de opinião e de pedidos veiculados pelos principais órgãos de imprensa de Natal.

A coleta do lixo e o asseio das ruas da cidade, pelas críticas que eram feitas na imprensa, eram atividades que deixavam sempre a desejar, sendo, vez por outra, tecidas pesadas críticas à empresa contratada para tais serviços. Em detrimento de uma possível epidemia de peste bubônica, que ocorria em Recife e poderia vir a ocorrer em Natal, essa discussão em torno do problema do lixo tornou-se ainda mais fecunda.

Vê-se com as notícias que a cidade realmente tinha um serviço de limpeza pública deficitária, havendo lixo acumulado por toda parte da cidade, inclusive num bairro aristocrático como era a Cidade Alta. As denúncias sobre os amontoados de lixo eram cotidianas. As críticas proferidas pelo jornal “A República” tiveram também o intento de culminar com a afirmação de que os poderes públicos estavam fazendo a sua parte para impedir a entrada da peste bubônica na cidade do Natal.

No dia 11 de abril, voltando a tratar mais uma vez do problema do lixo, o jornal traz um artigo cujo título é igual ao do dia anterior “Limpesa publica”, aliás, essas duas palavras conjuntamente foram repetidas muitas vezes em diversos artigos do jornal, tanto para fazer denúncias quanto para anunciar as medidas tomadas pelos poderes públicos. Segundo o articulista, as medidas mais intimidadoras ficaram a cargo da Inspetoria de Higiene. Dizia o artigo que depois de visitar os edifícios da estrada de ferro, a fábrica de tecidos, a fábrica de cigarros Vianna & Lyra, a fábrica de cigarros de Horácio Sales, o Hotel Viterbino, o Hotel Commercial, o Restaurante Internacional e as tipografias dos jornais “A República” e a “Gazeta do Commercio”, ficou atestado de que esses estabelecimentos se achavam em regulares condições de higiene. (Limpeza pública. A República 11 de abril de 1902.).

O HOTEL DA FAMÍLIA DE AMÉLIA (VIÚVA MACHADO)

A mossoroense Amélia era filha de agricultores e foi criada com a ajuda de seus tios Frederico e Maria de Carvalho. Amélia morou alguns anos de sua infância com os tios no Ceará, onde seu tio era dono de uma casa comercial, lá Amélia cursou o primário. Do Ceará retornou ao Rio Grande do Norte e foi morar em Areia Branca onde seus pais montaram uma pensão familiar. Seus pais decidiram mudar para Natal com as duas filhas, e na cidade instalaram um hotel na Rua das Virgens, atual Câmara Cascudo no bairro da Ribeira. (SEREJO, 1978:23).

Amélia conheceu seu futuro marido, o português Manoel Machado, por meio de um comandante amigo da família e que residia no hotel. Ele trouxe o Sr. Machado para ser apresentado ao seu pai. Manoel Machado já era um bem sucedido comerciante na cidade. Seu armazém estava localizado na atual Rua Chile, no mesmo bairro em que residia à posterior Sra. Machado. Ainda na mesma entrevista Amélia lembrou que seu casamento ocorreu na Igreja Bom Jesus das Dores, no bairro da Ribeira. A celebração teria ocorrido às quatro horas da tarde. Apesar da boa condição econômica os noivos teriam ido a pé para a casa que estava bem próxima à igreja, também na Rua das Virgens, próximo ao armazém do marido, a Despensa Natalense na Rua Chile e próxima a pensão da família de Amélia. Ela também relatou ao jornalista que seu casamento foi realizado no dia 22 de outubro de 1903 (SEREJO, 1978: 23). No entanto, na Certidão de Casamento consta que Amélia e Manoel Machado se casaram na data de 22 de outubro, mas do ano de 1904. A cópia da Certidão de Casamento do casal Amélia e Manual Machado é parte do acervo do desportista e pesquisador Luiz G. M. Bezerra e foi cedida para pesquisa.

Amélia casou aos vinte anos de idade, informação que diverge com suas certidões de batismo e de óbito que indicam que Amélia nasceu em 1881, ela estaria, portanto em1904, ano do seu casamento, com vinte três anos, a mesma idade de Manoel Machado que consta na certidão do casal.

HOTEL TYROL

Outro estabelecimento existente em Cidade Nova era o Hotel Tirol. Matérias sobre esse equipamento urbano foram encontradas no jornal da situação a partir de 1915. Observa-se como, em meados da década de 1910, os termos Tirol e Petrópolis já figuravam nos equipamentos urbanos existentes no bairro, demonstrando como os moradores reconheciam que Cidade Nova possuía áreas distintas. Os anúncios divulgados nos jornais apresentavam o Hotel Tirol como higiênico e luxuoso, isolado e próximo a “uma formosa cordilheira de mar coberto de verduras, de onde vem sempre uma aragem branda e cheirosa” (HOTEL Tyrol em Natal. A Republica, Natal, 26 jul. 1915. p.2.). As propagandas também faziam questão de destacar que o hotel tinha passado por inspeção de médicos da capital, que comprovaram os requisitos higiênicos da hospedagem.

O hotel contava com várias salas e quartos, possuindo um espaço de diversões que apresentava um “optimo bilhar e uma bagatela franceza”, e uma sala de refeições “atapelada, guarnecida de ricos espelhos de bisauté e quadros de valor” (HOTEL Tyrol em Natal. A Republica, Natal, 26 jul. 1915. p.2.). O referido anúncio ainda apontou que o hotel localizava-se nas proximidades da linha de bondes elétricos, que passavam a cada 20 minutos pela propriedade, e era equipado com energia elétrica. Observa-se como os serviços urbanos eram valorizados nos anúncios, sendo um dos elementos que poderiam pesar na escolha da família que desejasse sociabilizar-se pelos espaços existentes na cidade e para os hóspedes que estavam conhecendo Natal e precisavam deslocar-se com facilidade.

Os trilhos dos bondes elétricos chegaram até o balneário de Areia Preta em 1912, passando a incorporar essa praia no percurso, nos dias de domingo e feriado (MARINHO, 2011, p. 60), e logo eram invocados em anúncios do Hotel Tirol, visando a despertar o interesse dos clientes: “O Hotel tem á porta bondes eléctricos de 20 em 20 minutos. […] Todo o Hotel Tyrol é iluminado á electricidade […]. Um hotel assim honra uma cidade” (HOTEL Tyrol em Natal. A Republica, Natal, 26 jul. 1915. p. 2.).

O estabelecimento, que pertencia a Evaristo Leitão, também realizava apresentações de orquestras, como foi divulgado em setembro de 1915 (HOTEL Tyrol. A Republica, Natal, 04 set. 1915. p.1.). Nesse anúncio, o proprietário convidava as famílias natalenses a presenciarem a apresentação de uma orquestra de piano e violino que ocorreria no estabelecimento e a conhecerem o restaurante do hotel, que servia sorvetes, gelados e sanduiches. O proprietário solicitava a participação dos natalenses, ressaltando que o hotel vivia um momento de crise e precisava da colaboração dos citadinos. Entretanto, parece que o proprietário do Hotel Tirol não conseguiu enfrentar a crise que anunciou em várias matérias durante o ano de 1915. Em setembro de 1916 chegava ao fim a existência desse estabelecimento, e o proprietário anunciava no jornal situacionista a venda do mobiliário e demais pertences do hotel, já que os resultados das atividades do estabelecimento não tinham correspondido “aos seus esforços e emprego de capital na montagem e manutenção do mesmo” (HOTEL Tyrol. A Republica, Natal, 13 ser 1916. p.2.). E tinha fim mais um estabelecimento de sociabilização localizado em Cidade Nova.

O jornal é do dia 26 de setembro de 1916, do jornal A Republica, percebemos a estrutura investida na ornamentação e manutenção de um hotel em Natal, é o Hotel Tyrol. Esse hotel, mesmo tendo tudo o que havia de sofisticado não correspondeu às Expectativas mercadológicas de seu proprietário, na época.

Jornal A Republica: 26/09/1916

HOTEL INTERNACIONAL

O “Hotel Internacional” foi implantado na avenida Tavares de Lira, esquina com a rua Chile. O sobrado, já suprimido da paisagem urbana da Ribeira, fora construído com partido de planta retangular, desenvolvido em dois pavimentos, apresentando ainda um sótão. Possuía cobertura de quatro águas e esquadrias do tipo guilhotina com caixilhos de vidro, assentadas em vãos de arcos batidos.

Em frente ao antigo “Wander Bar” funcionou o Banco de Natal (futuro BANDERN), quando o mesmo saiu do prédio da Dr. Barata, permanecendo na rua Chile até a construção do novo prédio, na esquina das avenidas Tavares de Lira e Duque de Caxias. No local, funcionou o Hotel Internacional, que pertenceu a Milcíades Bandeira, José de Carvalho, Theodorico Bezerra e Guilherme Lettieri. Era um hotel bastante frequentado, que mantinha um bar de intenso movimento, com afluência de industriais, comerciantes, políticos, fazendeiros etc.

Edifício Nova Aurora no início do século XX. No edifício “Nova Aurora” funcionou um importante hotel de nível internacional e uma grande firma chamada Nova Aurora, daí a denominação do prédio. A edificação está localizada na Rua Dr. Barata nº 241, esquina com a Travessa Aureliano. Na foto, do início do século XX, verifica-se a presença de um número considerável de pessoas, bem trajadas, em torno da edificação. O que remonta a intensa vida social e econômica vivida pelo bairro no passado. Apesar do destaque dado as formas requintadas do prédio, os passantes compõem harmoniosamente a paisagem moderna.
Edifício Nova Aurora. Fonte: Projeto ReHabitar / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. Natal: SEMURB, 2007.

Fabricio Pedrosa, coronel e presidente do congresso, também era representante da firma inglesa Harrison Line, que enviava de Liverpool para Natal, navios destinados a compra do algodão. Navios como o Actor e o Navigator, traziam, para cidade, produtos que não havia na capital, como o vinho, que o hotel internacional anunciava nas páginas do Jornal A República, ou a manteiga dinamarquesa, que supria o estoque da despensa natalense da firma Machado & Cia. Pedrosa estava na comissão que esperava Pedro Velho no cais, junto ao presidente da intendência e ao representante do Partido Republicano.

Na Ribeira, existiam dois Cantões: o da farmácia do comendador José Gervásio de Amorim Garcia, localizada na antiga Rua do Comércio, atual Rua Chile, e outro nas proximidades do Hotel Internacional, esquina com a Rua do Comércio. Ambos eram eminentemente políticos e tinham entre os seus freqüentadores as figuras de Augusto Leopoldo, Antônio de Amorim Garcia, Francisco Amintas da Costa Barros, membros do “Grupo da Botica”, alusão à farmácia de Zé Gervásio, que sediava as reuniões da facção do Partido Conservador, Cel. Bonifácio Francisco Pinheiro da Câmara, ocorrido no ano de 1884, quando o Partido Conservador do Rio Grande do Norte ficou dividido em duas facções: a do “Grupo das Gameleiras” e a do “Grupo da Botica”.

O registro mais antigo mostra que o Hotel Internacional surgiu em 1901, criado pelo capitão Evaristo Leitão, quando deixou cargo público para empreender seu negócio em forma inicialmente de Restaurante. Seu objetivo era fornecer o melhor da comida europeia. Por isso, os antigos jornais registram eventos no estabelecimento que recebiam os principais políticos da Primeira República.

Natal estava tomada por retirantes. Segundo o censo demográfico, a capital possuía, em 1900, 16.056 habitantes. Em 1904, no entanto, esse número foi praticamente duplicado com a migração de cerca de 15.000 flagelados à procura de trabalho, de comida e de melhores condições de vida. A descrição do engenheiro José Matoso Sampaio Correa, quando de sua chegada a Natal, em 12 de março de 1904, para chefiar uma Comissão de Estudos e Construção de Obras contra os efeitos da seca no Rio Grande do Norte e encartada na mensagem governamental, confirma o estado de calamidade na cidade em decorrência das migrações:

Natal estava invadida por cerca de 4.000 retirantes, a dormirem ao relento nas ruas mais afastadas do centro, quase sem vestes e sem alimentos, que não lhes podiam fornecer a pequena população da cidade, em geral pobre, de 10 a 12.000 habitantes no máximo. Vezes várias, em famílias dos engenheiros hospedados no hotel, situado no centro comercial, tiveram acudir, com um prato de sopa ou com uma fatia de carne, os retirantes, caídos nas proximidades, exaustos de fome. (LYRA, 1905, p. 26).

Ganhou destaque na imprensa natalense, os artigos dedicados aos viajantes que se aventuravam pelo mundo, cruzando países, culturas diferentes, compartilhando suas experiências para aqueles que não podiam realizar tais proezas. A ideia de superar os limites da natureza e o desejo de curiosidade pelo exótico, motivou essas empreitadas. Em 1905, em Natal, o andarilho Sebastião Carrilho, passou pela cidade, sendo entrevistado pelo periódico republicano. Cruzando o Brasil a pé, viajando de cidade em cidade, buscando hospedagem e comida em figuras que estivessem dispostas a ajudá-lo nessa empreitada, o conhecimento adquirido por este andarilho em suas viagens, despertou grande interesse no jornal e em uma parte de seus leitores. “Trajando um costume de viagem, de brim, perneiras de couro, uma capa de borracha e uma pequena bolsa a tira collo”, o andarilho levou até sede do jornal, local da entrevista, uma multidão de curiosos, desejosos de ouvirem suas histórias. Sebastião Carrilho havia se hospedado no Hotel Internacional, uma cortesia do dono do hotel, o capitão Evaristo Leitão. Para conseguir se manter em suas viagens, além da ajuda das pessoas que encontrava, o andarilho também vendia seus livros de poesias, elogiados pelos redatores do jornal A República. (SEBASTIÃO Carrilho. A República, Natal, 4 de Setembro de 1905.).

Tentar recuperar informações sobre os clubes e cafés de Natal não é tarefa fácil, já que poucas eram as notícias existentes sobre esse tipo de estabelecimentos nos jornais. A partir de anúncios publicitários e notas jornalísticas, podemos ter uma idéia da localização e ano de funcionamento de alguns dos principais pontos de sociabilidade dos natalenses, nas primeiras décadas do século XX. Como podemos observar O Restaurante do Hotel Internacional em1907 na Rua do Commercio- Ribeira.

Em 1907, o empresário José dos Reis Mellos arrendou o antigo restaurante de Evaristo Leitão, que além de fornecer 10 pratos sob a produção de um renomado chefe da Bahia e adegas, os quartos da hospedagem apresentavam iluminação própria e aceitava hóspedes até 08 horas da noite. Além disso, ele realizou uma grande reforma para receber os clientes. Para provar que o Hotel era excelente, José dos Reis Mello convidou a equipe do jornal “A República” para comer o então novo menu.

Em 1907, o engenheiro chefe da comissão de melhoramentos do porto, Antônio Simões, foi convidado para participar de uma associação nacional, destinada a cuidar da segurança dos portos e de todos os trabalhadores do mar, promovendo o desenvolvimento das atividades envolvidas no transporte marítimo. A associação chamada de Liga marítima, criada em 1907, envolveu engenheiros, políticos e intelectuais de várias regiões do Brasil, que, para participar integrá-la, deveriam contribuir com a cota mensal de 1000 réis. Os representantes da liga viriam a Natal, sendo hospedados no hotel internacional para conferência que dariam no Teatro Carlos Gomes sobre os benefícios dessa associação para os natalenses.

Leitão, enquanto isso, criou um outro restaurante, “Casa Moderna”.  Mas, no mesmo ano, repassaram o ponto para Evaristo Leitão. Posteriomente, o mesmo resolveu divulgar nos jornais que queria arrendar em 1909 os seus estabelecimentos pelo fato de estar muito doente.

Os bailes e confraternizações tinham lugar tanto na sede social do clube quanto em outros espaços de sociabilidade, dependendo da importância do evento. A chegada do time de remo do Sport Club do Recife em Natal foi motivo para uma grande soirée, promovida pelo Centro Náutico no Aero Club. (VARIAS. A Republica, Natal, 7 maio 1929.) Em 1921, uma outra comemoração levou os sócios do clube ao restaurante do Hotel Internacional, (VARIAS. A Republica, Natal, 9 out. 1921.) o que indica que as relações de companheirismo e amizade dos sócios não estavam restritas à sede do clube ou aos lugares destinados às competições e treinos. De fato, os mesmos membros das elites que compunham os clubes esportivos eram sócios de outros grêmios e associações, como o Natal-Club e, também, frequentadores dos espaços de sociabilidade das elites, restaurantes, praças, teatros e cafés.

Antes da estadia mais alentada entre 1928 e 1929, Mário de Andrade passara algumas horas em Natal, em 1927, quando retornava das viagens primeiras do “turista aprendiz”. O breve relato sobre Natal serve-nos para começar a adentrar uma outra cidade que seria desvelada. A viagem ao Nordeste serviu tanto às pesquisas etnográficas de Mário – tarefa para a qual Cascudo se configurou um importante interlocutor – quanto para o descanso da sua vida atribulada na metrópole paulistana. O primeiro relato sobre a cidade, pouco após a sua chegada, é um exemplo. Acompanhemos então a narrativa:

“… mal a barca traz a gente de bordo pra escadinha do cais, sobre-se a escadinha e se está em plena ‘city’. O centro é ali mesmo, Hotel Internacional, restaurantes, barbearias, redações, bancos, casas de comércio, telégrafo. É tudo ali mesmo, na rua que a escadinha abriu no meio do arvoredo, com todos os bondes e ônibus da cidade-passando”.(Andrade, M., 1976, p.233, “Natal, 16 de dezembro” de 1928).

Apesar da morte de Evaristo Leitão, o hotel continuou as suas atividades, com o major Theodorico Bezerra. Mas, ele na década de 30 começou a administrar o tão famoso Grande Hotel. Assim, surgiu os primeiros sinais de sua derrocada do Internacional, tendo que alugar a parte de cima do prédio para comércio.

Até então 1930, Natal tinha apenas cinco hotéis de pequeno porte, incluindo o Internacional. Somente durante a Segunda Guerra Mundial, os aviões passaram a ter mais destaque nacional e se tornou uma ponte aérea entre os passageiros que iam do Sudeste à Europa. Foi aí que a cidade percebeu que a demanda estava maior que a disponibilidade. Assim, surgiram estruturas de grande porte, como Grande Hotel e Reis Magos.

De acordo com o jornalista Luiz Gonzaga Cortez, em seu texto “A Revolta Comunista de 1935”, Gastão Costa Nunes era gazeteiro e trabalhava na Agência Pernambucana de Luiz Romão, não era comunista, mas seguidor fanático de Café Filho e aderiu ao movimento. Ele recebeu um mosquetão, farta munição e nove homens armados e fardados. Sua missão: fazer uma vistoria no Hotel Internacional de Theodorico Bezerra localizado na Rua Chile. Theodorico havia contribuído para o fracasso do comício promovido em 1930 pela Aliança Liberal que trazia o médico João Batista Luzardo para falar ao povo na Ribeira. Luzardo era o principal porta voz da Coluna Prestes, mas, posteriormente, aderiu a Vargas e foi embaixador na Argentina.

Cartão-postal da Rua Doutor Barata, sentido Pça. Augusto Severo, à direita a antiga agência do Banco do Natal, que por volta dos anos 1920 abrigou à livraria Cosmopolita. Era o local do comércio elitista da cidade, do Hotel Internacional e da Loja Rainha da Moda. Fonte: Miranda, 1981 (8)

Em 1930, o hotel hospedou a Caravana de Batista Luzardo, que iniciou um comício em uma das janelas do prédio, provocando grande tumulto nas ruas, ocasionando inclusive a morte de três pessoas.

Em frente ao antigo Hotel Internacional, na esquina das ruas Chile e Tavares Lira, foi construído um prédio com dois pavimentos, onde funcionavam os escritórios da Air France, no período da 2ª Guerra Mundial.

O hotel fechou nos anos 40, transformando posteriormente na Ecocil. O prédio, atualmente, está todo modificado, restando apenas a sua fachada original, apesar de algumas portas e janelas fecharam com tijolos. Hoje é um depósito para os pescados daqueles que vendem próximo do cais.

Avenida Tavares de Lyra, Ribeira
Natalenses diante do Hotel Internacional, na Avenida Tavares de Lyra, vibrando com o pouso do hidroavião Jahú no Potengy, depois de voo transoceânico. 14 de maio de 1927.
Entretanto, antes do Grande Hotel, havia outros hotéis de pequeno porte na cidade de Natal/RN, todos na Ribeira e pertencentes a mesma pessoa, o Teodorico Bezerra. Os hotéis eram: o Hotel Internacional no Cruzamento da Rua do Comércio (atual Rua Chile) com a Av. Tavares de Lira, no final da década de 20.
No último prédio da esquerda funcionou o Hotel Internacional.
Antigo Hotel Internacional, que foi durante vários anos o escritório da Ecocil, como se percebe.

ANTIGO PALÁCIO DO GOVERNO

Em 9 de julho de 1869, o então presidente da província Pedro de Barros Cavalcanti de Albuquerque, transferiu a sede do Poder Executivo para o prédio de nº 106, da então Rua do Comércio, deixando o palácio de taipa e pedra da Rua da Conceição. À época, o imóvel pertencia ao comerciante Domingos Henrique de Oliveira, sendo alugado ao Governo da Província por 2:000$000 (dois contos de réis) anuais, a partir de 25 de maio de 1869.

No Palácio do Governo, como era conhecido, residiram dezenas de governantes da Província e do Estado. O velho Palácio assistiu às passeatas organizadas pelos Abolicionistas. Hospedou o Conde D’Eu, consorte da Princesa Isabel, para cuja recepção foi nomeada uma comissão de alto nível, encarregada de organizar uma recepção à altura do nobilíssimo visitante.

A atual Rua Chile, através do seu expressivo casarão, foi palco da adesão norte-rio-grandense à Proclamação da República, episódio ocorrido às 3:00 horas da tarde do dia 17 de novembro de 1889, quando Pedro Velho foi aclamado Chefe do Executivo, em substituição ao presidente deposto. O novo governante dirigiu-se à janela, de onde saudou às pessoas que dominavam toda a rua, vivenciando aquele momento de alegria e perplexidade. Todos deram vivas à República e ao governador aclamado.

Após a transferência do Governo para o prédio da atual Praça 7 de Setembro, fato ocorrido em 1902, o velho Palácio foi vendido à firma Tasso & Irmão, do Recife. Em seguida foi adquirido pelo ex-presidente da Província, Miguel Joaquim de Almeida Castro. Anos depois, os herdeiros do prédio venderam-no ao comerciante Galileu Pedro Lettieri, que no andar térreo instalou o seu estabelecimento comercial de bebidas e gêneros alimentícios.

Os pavimentos superiores foram alugados, e ali funcionaram uma dependência do Hotel Internacional e um cabaré, o “Wander Bar”. Este foi uma casa alegre de extraordinário movimento, muito frequentada por americanos à época da 2ª Guerra Mundial.

Os pavimentos superiores foram alugados, e ali funcionaram uma dependência do Hotel Internacional e um cabaré, o “Wander Bar”. Este foi uma casa alegre de extraordinário movimento, muito frequentada por americanos à época da 2ª Guerra Mundial.

Posteriormente, o prédio foi doado ao Governo do Estado do Rio Grande do Norte. Ele foi restaurado, passando a funcionar como Museu de Arte Popular. Atualmente, abriga a Escola de Dança do Teatro Alberto Maranhão – EDTAM.

Antigo Palácio do Governo da Rua Chile. Foto: arquivo da SEMURB – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo.

SOPAS

Em 1922, Francisco das Chagas Andrade havia voltado a morar em Natal e montado um hotel na Rua Frei Miguelinho, na Ribeira. Observou que a população de Natal já começava a residir em áreas novas como Alecrim e Tirol, havendo dificuldades de locomoção para a Ribeira por falta de transporte. Sentiu a oportunidade de negócio e decidiu vender o hotel e montar a primeira empresa de ônibus da cidade, os quais eram chamados de “Sopas”. Inicialmente eram viaturas com carrocerias montadas em chassi de caminhão, abertas em ambos os lados com um estribo longitudinal servindo de degrau que facilitava a subida e descida dos passageiros. A Sopa possuía seis bancos transversais, cada um comportando cinco passageiros.

A empresa de Andrade cresceu rapidamente e ele acrescentou o primeiro ônibus fechado, com apenas uma porta, foi a primeira “Sopa fechada” de Natal. Ele foi dono do primeiro carro com silenciador em Natal, um Buick vermelho, uma grande novidade que atraía a atenção de todos no ano de 1927.

GRANDE HOTEL

As iniciativas de modernização de Natal, desde os primeiros anos do século XX, buscavam transformar a cidade em um “Cais da Europa” no Brasil. De fato, a posição geográfica privilegiada da cidade, e o destaque que recebia desde a década de 1920 como pólo da aviação nacional, tornavam-na escala para viajantes das mais variadas origens e destinos. Considerava-se a hotelaria da cidade, no entanto, incapaz de oferecer as devidas condições aos hóspedes. Desde 1926, incentivos governamentais foram oferecidos para a construção de um hotel de grande porte.

A Cidade tem algumas necessidades inadiaveis a attender entre estas impõe-se , como todos devem saber, a construcção immediata dum bom hotel, para o qual aliás, já conclui uma planta que me parece irá agradar muito aos natalenses.” (PALUMBO, Giacomo. A Remodelação de Natal: perspectivas sobre a cidade futura (em entrevista) A República, Natal, n.44, p.01, 24 fev. 1929.).

Em 1935, o interventor Mário Câmara adquiriu o terreno e contratou o arquiteto francês, George Mouriner, para elaborar o projeto do prédio, o interventor Rafael Fernandes iniciou a sua construção em 1936, concluindo a em 1939 […] em 1942, o Grande Hotel foi arrendado ao Sr. Theodorico Bezerra. Durante a Guerra, tosos os grandes acontecimentos da cidade realizavam-se ai: banquetes, recepções, homenagens etc… (SOUZA, 2015, p. 12).

Coube então ao Interventor Mário Leopoldo Pereira da Câmara a compra de um outro terreno. Este era localizado na esquina das Avenidas Duque de Caxias com Tavares de Lira, sendo fechado o negócio no dia 15 de outubro de 1935, quatorze dias antes desse político deixar o poder executivo estadual.

O novo governador Rafael Fernandes de Gurjão deu prosseguimento a esse projeto. Vale ressaltar que por essa época algumas empresas aéreas já utilizavam a capital potiguar como escala em suas viagens ligando a Europa e os Estados Unidos até a América do Sul. Sendo constantes os pousos de hidroaviões no estuário do Rio Potengi e no Campo de Parnamirim, a vinte quilômetros do centro de Natal.

Naquele período, algumas empresas aéreas começaram a utilizar Natal como escala em viagens entre a Europa e a América do Sul. Portanto, a cidade precisava de um hotel moderno e amplo. A partir de 1935 começou o projeto do Grande Hotel, desenvolvido pelo Governo do Estado. Quatro anos depois, a construção ficou pronta e foi arrendado por Theodorico Bezerra.

A partir de 1935 o arquiteto francês Georges Henry Mournier realizou os estudos e o projeto do Grande Hotel de Natal. Mournier chegou ao Brasil no dia 26 de outubro de 1927 e marcou sua carreira com inúmeras obras pelo Nordeste.

Além do nosso Grande Hotel, esse francês foi o responsável em 1939 pelo projeto arquitetônico da Catedral Metropolitana de Fortaleza e do Cineteatro Pax, de Mossoró, construído no estilo Art déco. Coube a ele o projeto do Grande Hotel de Recife, do prédio da Prefeitura de Campina Grande, da urbanização do Parque Sólon de Lucena em João Pessoa, do Seminário de Garanhuns e outros mais.

O arquiteto contratado para construir o Grande Hotel de Natal foi o francês Georges Munier, de passagem em Natal a pedido do bispo que o requisera para executar o projeto de uma nova catedral para a cidade. O arquiteto tinha diversos projetos executados no Recife onde estava instalado seu escritório, e em outras cidades do nordeste brasileiro, e sua obra era marcada pela variedade estilística nos diferentes prédios, que iam desde o neo-gótico ao art-deco e à arquitetura “purista”. O projeto realizado por Munier, junto àqueles desenhados pelo escritório FF Saldanha como parte do Plano Geral de Obras, representou a chegada à cidade dos primeiros elementos do modernismo arquitetônico, estilo que, na década de 1930, já se consolidava nos maiores centros urbanos do país.

A imprensa local acompanhou entusiasticamente a construção do prédio, iniciada em agosto de 1936 (após algumas mudanças no projeto realizadas pelo então prefeito da cidade, o engenheiro Gentil Ferreira de Souza e justificadas pelo alto custo de execução do projeto original), relatando e fotografando os passos da construção. A “modernidade” e o “progresso” almejados pela cidade e simbolizados pelo hotel eram citados constantemente, assim como o agradável aspecto arquitetônico da obra.

Grande Hotel Projeto do arquiteto francês George Henry Munier. Foto da Perspectiva do Grande Hotel. Fonte: HIDROESB. Acervo: HCURB/UFRN.
Planta original do Grande Hotel.

Grande nome da música internacional visita Natal: a 27 de janeiro de 1937 pousava no Potengi. Na época, os aviões de passageiros pousavam e decolavam do rio Potengi e o desembarque se verificava próximo ao Canto do Mangue. Ainda se conserva o edifício que funcionava como estação de passageiros, compondo o sítio histórico da Rampa. O avião que trazia a grande pianista Guiomar Novaes, sendo recebida pelo Interventor Rafael Fernandes e autoridades. Não havendo em Natal um hotel com suficiente qualidade para alojá-la, ficou decidido que se hospedariam, ela e o marido, na Escola Doméstica e teriam todo o apoio do Governo. No primeiro edifício da Escola Doméstica, situado na Praça Augusto Severo, onde se instalou depois o SUS.

Através do Decreto estadual nº 431, de 22 de fevereiro de 1938, o governador Rafael Fernandes contraiu um empréstimo para a conclusão da obra e o prédio foi inaugurado em maio de 1939. O total gasto na obra, segundo Itamar de Souza, foi de “1.607.856,500”. Mas o empreendimento só começou efetivamente a funcionar em setembro daquele ano.

Na edição do jornal Diário de Natal, de 25 de novembro de 1938, na segunda página, encontramos um interessante relato da história do Grande Hotel, onde soubemos que o governador Lamartine chegou mesmo a adquirir um terreno na Ribeira para a construção de um hotel. Mas a sua deposição, como parte dos desdobramentos da Revolução de 1930 no Rio Grande do Norte, abortou essa ideia.

Antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, o bairro comercial mais importante de Natal era a Ribeira. Era nessa região que se concentravam os principais órgãos de governo, onde estavam as estações ferroviárias e o porto. As avenidas Duque de Caxias, Tavares de Lira, largas e arborizadas e as praças José da Penha e Augusto Severo compunham o quadro, que mudou radicalmente com a inauguração do Grande Hotel.

Imagem da construção do Grande Hotel. Fonte: A República, 1937.
Registro fotográfico: construção das fundações.

Na edição de 1938 do Almanak administrativo, mercantil, e industrial do Rio de Janeiro, ou Almanak Laemmert, um ano antes da inauguração do Grande Hotel, na sua página 762, encontramos a informação que Natal possuía nessa época oito estabelecimentos de hospedagem. Eram estes o Hotel Avenida (Rua Nísia Floresta, 223), o Hotel Internacional (de propriedade do Sr. David França, localizado na Avenida Tavares de Lira, 115), o Palace Hotel, (também de David França, na Rua Chile, 106), a Pensão Brasil (na Rua Senador José Bonifácio, ou Rua das Virgens, nº 168), a Pensão Familiar (de Maria Cabral, na Rua Junqueira Aires, 417), a Pensão Moderna (na Rua Senador José Bonifácio), Pensão Rio Branco (de Olívio Gonçalves Guerra, Avenida Rio Branco, 456) e a Pensão Natal (Avenida Rio Branco).

Terminada a sua construção em janeiro de 1939, o Grande Hotel foi entregue ao governo do estado em maio daquele ano, no dia em que a cidade também festejava a conclusão das obras de saneamento. O Grande Hotel destacava-se na cidade por diversos aspectos: era o segundo prédio mais alto da cidade, um dos primeiros construídos com concreto armado, e um dos únicos a possuir elevador. Foi também o segundo prédio com arquitetura de tendências modernas em Natal, posterior apenas ao Edifício Sede da Repartição de Saneamento.

Símbolo da Natal do passado, o Grande Hotel foi inaugurado no dia 13 de maio de 1939, construído numa época em que a cidade necessitava de locais destinados a hospedagem, logo se transformou no “porto seguro” daqueles que visitavam a capital potiguar. Segundo a pesquisadora Nesi (1994), antes do Grande Hotel, os aviões da Condor e da Panair regulavam os seus horários com pernoites em Recife e em Fortaleza.

O hotel, que possuía 76 apartamentos, foi então arrendado ao comerciante Theodorico Bezerra, proprietário da empresa Theodorico Bezerra & Cia., e membro da Associação Comercial. Segundo relatos da época Theodorico era uma das pessoas que mais entendia de hotelaria em Natal. Em uma reportagem do Diário de Natal de 23 de janeiro de 1985, página 3, ao rememorar quase 50 anos de atividade do Grande Hotel, Theodorico Bezerra informou que fora proprietário do Hotel dos Leões, do Hotel Independência, do Palace Hotel e do Hotel Internacional.

O natalense desde os anos vinte do século passado, se habituou à aviação. O Rio Potengi, cenário de encontros de mundos diferentes – potiguares e europeus, é parte da história da navegação. Em suas águas pousaram “centenas” de aeronaves, vôos de aventura e comercial que a cada pouso ou decolagem, eram motivo de alegria de crianças e adultos, que admirados olhavam desejando boas vindas e para outros, boa viagem.

Entre os edifícios construídos pelo poder público, o Banco do Rio Grande do Norte era o mais importante. Este tinha três pavimentos e estava localizado na esquina da Avenida Tavares de Lira com a Sachet e ao ser concluído, em janeiro de 1939, tornou-se “um dos prédios mais bonitos da cidade” (FRANÇA, Aderbal. Novo aspecto. A República, Natal, p. 12, 17 jan. 1939), só sendo superado pelo edifício do Grande Hotel, o qual será referido posteriormente.

O bairro da Ribeira em Natal era considerado como porta de entrada da cidade devido ao porto e à estação ferroviária. Com a iminência da II Guerra Mundial, esse aspecto do bairro foi ainda mais avultado, uma vez que a cidade passou a receber inúmeros visitantes ilustres. Por esse motivo, o Interventor Federal Rafael Fernandes Gurjão decidiu construir um hotel que atendesse às necessidades da nova demanda. O Grande Hotel, construído em estilo arte déco, foi inaugurado em 13 de maio de 1939, na Avenida Duque de Caxias com a Praça José da Penha. Neste, realizavam-se grandes recepções, banquetes, homenagens, dentre outros eventos sociais. (A República, Natal, 13 maio 1939.).

A reivindicação das elites locais para a construção de um hotel foi atendida e esta obra era justificada pela necessidade da cidade em dispor de um edifício voltado para as atividades hoteleiras. Para a imprensa local, a cidade possuía um potencial turístico que precisava ser assimilado pelo setor econômico e esta opinião baseava-se na percepção de que este poderia ser explorado a partir da paisagem natural da cidade, do seu entorno e das praias. Até o final da década de 30 do século XX, alguns visitantes que chegavam à cidade, estivessem em visita oficial ou a passeio, eram recebidos pelo Governo do Estado e, em geral, eram tratados como convidados oficiais. Para estes, as acomodações oferecidas (apartamentos mobiliados) estavam localizados no último pavimento do Hospital Miguel Couto, no bairro de Petrópolis.

Em 1935, por ocasião da elaboração do Plano Geral de Obras do Escritório Saturnino de Brito e com recursos advindos do próspero ciclo do algodão à época, o governo estadual resolveu tomar a iniciativa e iniciar a construção do hotel. O terreno escolhido, situado na Ribeira, abrigava, anteriormente, um sobrado que fora sede do Partido Republicano e residência de Luís da Câmara Cascudo, historiador e folclorista de renome nacional.

Três importantes melhorias, no entanto, marcam esse período: as obras de abastecimento e saneamento da capital – de responsabilidade do Escritório Saturnino de Brito –, a construção do Grande Hotel de Natal e do novo Mercado Público. O bonde, em contraponto a esse momento de evolução material, continua sendo alvo das críticas dos periódicos, em virtude da continuidade na prestação de maus serviços.

Foto do Hospital Miguel Couto (Data da foto: 1955). Acervo Jaeci Emerenciano.

O Grande Hotel foi construído no terreno que antes se localizava uma residência que pertencia a João Avelino Pereira de Vasconcelos que antes da obra havia vendido por 12:000$000 (doze contos de réis) ao Coronel Bonifácio Francisco Pinheiro da Câmara. O terreno compreendia mais da metade do quarteirão.

Ao lado da praça, vê-se ainda o prédio do antigo Grande Hotel, inaugurado em 1938, no mesmo local onde existia um casarão que servira de residência ao Capitão José da Penha e que, posteriormente, foi o lar de infância do grande mestre potiguar Luís da Câmara Cascudo. Após residirem na rua Senador José Bonifácio, a família Cascudo morou em alguns outros lugares do bairro da Ribeira, iniciando o que Câmara Cascudo chamou de uma “viagem na cidade do Natal”. (CASCUDO, Luís da Câmara. Minha viagem na cidade do Natal. A República, Natal, 17 abr. 1959) Segundo ele, entre 1898 e 1909, sua família ocupou moradias nos seguintes locais: em um sítio onde iniciava a rua sem nome que, conforme as informações do próprio Cascudo, viria ser a avenida Rio Branco; nas proximidades da atual praça Augusto Severo que, na ocasião, ainda não existia; na rua do comércio, atual rua Chile, onde seu pai possuía um estabelecimento comercial; e próximo à igreja do Bom Jesus das Dores, exatamente no lugar onde mais tarde foi criado o Grande Hotel e que hoje funciona o Juizado Especial Civil e Criminal de Natal. (Idem.).

O local escolhido presta-se magnificamente à sua finalidade. Em pleno bairro commercial, próximo das Docas, dos Correios e Telegraphos, das agencias de companhias aéreas e de navegação, o Grande Hotel será, em breve, o centro de acolhida confortável a quantos visitem Natal (A REPUBLICA, 1937b, p. 01).

Casa em que morou o Cel Cascudo, Cascudinho menino, e, mais tarde, o Capitão José da Penha (demolida para dar lugar ao Grande Hotel). Praça Leão XIII, hoje Praça Capitão José da Penha
Casa do capitão José da Penha Onde hoje é o Grande Hotel, Praça José da Penha, Ribeira
Passeata de apoio ao Presidente Getúlio Vargas em 1938. Perspectiva da Avenida Sachet (já cortando a Praça Augusto Severo). Grande Hotel ao fundo e Estação da Great Western no canto esquerdo. Fonte: Centro Norte-Riograndense de Documentação.

Em Maio de 1939 era inaugurado o Grande Hotel, construído pelo então governo de Rafael Fernandes. Ofereceu o hotel a vários arrendatários, mas ninguém se interessou por considerá-lo muito grande. Então surgiu o nome de Theodorico Bezerra (1903-1994), que já trabalhava no ramo hoteleiro. Oferta aceita, arrendou o Grande Hotel. Antes de abrir as portas, apesar de o hotel ser novo, ele fez uma série de reformas e só em 1º de setembro de 1939 começou a funcionar. Theodorico se mudou para o hotel com a esposa Zilah Bezerra e os dois filhos, Kléber, com 6 anos, e a irmã Sânzia, de apenas 2 meses.

Theodorico Bezerra no Congresso Nacional, quando exercia o cargo de deputado federal na década de 1950.

Um outro importante melhoramento com que foi beneficiada esta capital, está na construção, pelo Estado, em magnífico local, do “Grande Hotel”, também inaugurado a 13 de maio de 1939, cuja exploração vem sendo feita por um particular, mediante contrato, sem rendas para os cofres estaduais, embora tenha ele custado ao erário potiguar a importância de Cr$ 1.607.856,00.

A Praça Leão XIII, teve a sua denominação transformada em José da Penha, através do Ato nº 5, do Prefeito Interino Pedro Dias. Esta praça sofreu diminuição de sua área após a construção do Grande Hotel que se localizava a sua frente, o qual foi inaugurado em 13 de maio de 1939. A redução foi de fundamental importância, por permitir o prolongamento a Av. Tavares de Lira, até a Av. Rio Branco, facilitando assim o fluxo de caminhões e automóveis naquela artéria. Nesta praça existia uma bomba de gasolina da “Atlantique” inaugurada pela firma M. Martins & Cia.

A construção do Antigo Grande Hotel, foi financiada pelo governo estadual, na administração do Dr. Rafael Fernandes, com a participação do engenheiro Gentil Ferreira de Souza, prefeito de Natal, que modificou o projeto original e administrou a obra. Após alguns entraves burocráticos, foi realizada uma concorrência pública tendo como vencedor o Sr. Theodorico Bezerra que passou a administrar o maior Hotel da cidade.

Planta baixa do pavimento tipo (projeto original). [FONTE: Acervo do HCURB]

O pavimento térreo abrigava um grande hall de entrada, café, bar, duas lojas, administração, barbeiro e salão de visitas; á frente da entrada principal, banheiros, salas de bagagens, cozinha, além de uma área coberta, que servia como intermédio entre os espaços externo e interno do hotel.

O primeiro andar – para o qual se subiria através uma de duas escadas principais, uma das duas de serviço, ou um de dois elevadores –, conteria no volume principal um salão central, com passagem para uma grande varanda, 24 quartos comuns e 10 quartos maiores, quatro banheiros (com múltiplos chuveiros em cada um), refeitório, banheiro e dormitórios.

No anexo estavam dormitórios e banheiros para funcionários. Os pavimentos-tipo (segundo e terceiro andares) conteriam 27 quartos comuns e 10 quartos maiores, e quatro banheiros, além do salão com varanda semicircular, cada um. No volume posterior estaria um mezanino com vista para o salão de jantar. Seriam, ao todo, 108 quartos.

Hoteleiro, industrial, agricultor, dono de jornal, rádio e político. Mas, antes desse apogeu, a vida Theodorico Bezerra, o Imperador do Serão não foi nada fácil. Órfão de pai aos 11 anos, teve que começar a trabalhar muito cedo. Começou a trabalhar na feira de Santa Cruz, onde vendia couro curtido. Vendeu até caixão de anjo. Dinamismo era uma de suas virtudes. Com o dinheiro, ele e um amigo compraram um caminhão para frete. Depois, foi morar em Natal, e na capital, com a venda do caminhão, comprou o Hotel dos Leões, no bairro da Ribeira. Vendia um e comprava outro, assim foi dono do hotel Avenida, Internacional, até chegar ao Grande Hotel. “Foi no Grande Hotel que papai fez sua fortuna”, conta o engenheiro civil Kléber Bezerra, filho do major.

Provavelmente, devido à importância do Hotel para as elites locais, o Escritório Saturnino de Brito, que não possuía corpo técnico para elaborar os projetos arquitetônicos, encomendou o seu projeto ao arquiteto francês George Munier que, segundo Dantas (2003), apresentou uma proposta com características protomodernistas.

O terreno escolhido também foi privilegiado, na esquina da Avenida Tavares de Lira com a Avenida Sachet (atual Duque de Caxias), ou seja, em frente ao centro comercial mais movimentado da cidade, a Avenida Tavares de Lira. A execução da obra ficou sob a responsabilidade do prefeito Gentil Ferreira e, mais uma vez, a cobertura jornalística da inauguração do edifício Grande Hotel, com desfaçatez, justificou efusivamente a participação do Prefeito (GRANDE Hotel de Natal: a impressão colhida por nossa reportagem na visita ontem feita ao monumental edifício. A República, Natal, 1 jan. 1939.), informando que este sentira-se inseguro e intimidado diante do projeto quando este lhe foi apresentado. E mesmo que, no primeiro contato em que teve com a proposta, pensou em contratar um responsável técnico e uma equipe mais experimentada em São Paulo, ao final resolveu aceitar o desafio de construir sem recorrer a outros especialistas. Segundo o mesmo jornal, sua “competência e eficiência” superaram as dificuldades e o Hotel foi construído com mão-de-obra local e, mais uma vez, deixou de explicitar a participação de Holanda, que neste empreendimento, já era sócio da construtora do Prefeito.

O Escritório Saturnino de Brito, sensível aos interesses políticos e econômicos das elites locais, contextualizou a solicitação do equipamento hoteleiro numa proposta ampla que, além do edifício, previa a construção de um aeroporto, de bairros residenciais e da Avenida Atlântica. Porém, para os dirigentes locais, o Grande Hotel continuou sendo tratado como um equipamento isolado que, por si só, aceleraria o desenvolvimento que acreditavam estar por vir em algum futuro próximo do período em que viviam (DANTAS, 2003).

Foto do anteprojeto do Aeroporto e estação de passageiros. Fonte: Ferreira et.al. (2003).
Antigo Grande Hotel no Bairro Ribeira Autor desconhecido (Acervo Esdras Rebouças).
Mapa do Bairro da Ribeira – Pontos de referências do ano 1939. Fonte: SEMURB/PMN. Nota: Elaboração do autor sobre base atual da cidade.

Para os jornalistas do Jornal A República, o edifício mais festejado foi o Grande Hotel, que era uma antiga reivindicação local, cuja realização foi tratada como uma prioridade e entendida como a obra que permitiria e garantiria o desenvolvimento econômico local. Nos primeiros anos de funcionamento, o Grande Hotel estava sempre lotado e era considerado um dos centros da vida social natalense, assim como o teatro Carlos Gomes, que recebeu inúmeras festas e atrações, colocando a Ribeira no centro das atrações da capital potiguar.

Pode-se inferir, do que foi analisado a partir dos registros encontrados no jornal A República, que a Ribeira foi bairro onde foram construídos os edifícios mais importantes desse período. Além dos que já foram citados, destacaram-se os edifícios construídos pelo Escritório Saturnino de Brito, particularmente o Grande
Hotel e a Repartição do Saneamento de Natal (Este edifício foi construído para abrigar a equipe administrativa do Escritório, cujos técnicos deslocavam-se do Rio de janeiro para acompanhar as obras.).

Com o considerável aumento demográfico da capital, o bairro viverá, nos anos iniciais da década de 1940, um novo momento. O bairro da Ribeira passa a receber visitantes ilustres e para acolhimento desses personagens havia o Grande Hotel, o mais luxuoso da cidade. Com a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, as ruas da Ribeira fervilharam de militares brasileiros e americanos. No espaço havia os melhores estabelecimentos comerciais e de entretenimento. Até então, podemos afirmar que o espaço era valorizado.

O primeiro oficial do Exército dos Estados Unidos chegou a Natal em dezembro de 1941, sendo conselheiro militar do Programa de Desenvolvimento dos Aeroportos a diplomata, oficial de operações e anfitrião das celebridades em trânsito, hospedando-se no Grande Hotel em sua chegada, ato comum entre os oficiais e patentes superiores que passaram pela cidade nesse período de guerra (SMITH JR, 1992).

Os passageiros dos hidroaviões Boeing 314 Clipper, da Pan American Airways que pernoitavam em Natal se hospedavam no Grande Hotel, ou em seus anexos

O “Major” Teodorico Bezerra (proprietário), recebeu astros do cinema americano e outras figuras muito importantes durante a Guerra. Um fato mencionado: além de recepcionar artistas o hotel também era residência de algumas famílias nobres do Estado, e seus espaços não estavam reservados exclusivamente para essas pessoas. A população tinha acesso, diz o Senhor Canindé ,pois “tomávamos café lá todas as manhãs antes de ir ao trabalho”. Como toda e qualquer referência em hotelaria na época, o Grande Hotel possuía uma ótima estrutura, comportando até uma piscina na sua cobertura. O Grande Hotel foi precedido na Ribeira apenas por um outro, que ficava na Avenida Tavares de Lira, no atual prédio da Ecocil, chamava-se Hotel Internacional.

Logo se transformou no lugar de acolhida e repouso de personagens ilustres da política e da cultura. Dentre os hóspedes destacavam-se: o almirante Ary Parreiras, durante a construção da base naval; o presidente Juscelino Kubistchek; Tyrone Power; Nelson Gonçalves; Carlos Galhardo; Vicente Celestino e muitos outros.

Falava-se inglês no Grande Hotel e também nas ‘staff-houses’ (casas de descanso dos militares) (…). Havia duas ‘staff-houses’ e ali fomos tomar cerveja, a convite dos gringos, falar inglês e informar a melhor maneira de se comportarem em nossa pequena província. (…). Alugamos até um piano de nossa propriedade que, por sinal, ficou arruinado depois da barganha. (…)” (Melo, 1993:37).

Nesse período a Ribeira viveu seu apogeu, quando milhares de soldados norte-americanos aportaram por aqui. Com isso lugares como o Grande Hotel começaram a ter fama para além dos limites nacionais. Cabarés e casas de diversões surgiram por toda aquela região portuária.

Eram muitos americanos e militares brasileiros que moravam no Grande Hotel, considerado o hotel mais luxuoso da época. E, Theodo Varanda do Grande Hotel reunia amigos em longas conversas rico fazia de tudo para atender bem, quando o hotel estava lotado cedia o quarto dele para os hóspedes e ia dormir no escritório. Naquela época não possuía Casa de Câmbio e como os bancos fechavam cedo o próprio Majó comprava e vendia dólar no hotel. O Grande Hotel foi palco de muitas decisões políticas, encontros importantes. O general Cordeiro de Faria, comandante do Exército, e o almirante Ary Parreiras foram dois dos personagens marcantes do país que moraram no hotel.

economia local passou por uma enorme transformação: o custo de vida aumentou, o dólar virou moeda corrente no lugar do mil-réis, muita gente fez fortuna, havia o preço para vender a americano e preço para vender ao nativo. Theodorico Bezerra, dono do Grande Hotel encheu os bolsos abrigando a elite dos oficiais estrangeiros.

Na cidade, além dos tradicionais Aero Clube e Teatro Carlos Gomes, surgiram o Cassino Natal, o Círculo Militar, o Clube Hípico de Natal. Todos integravam uma “cadeia de promoções” e ofereciam sucessivas festas e bailes. O Cassino Natal, que foi inaugurado a 20 de outubro de 1943, estava localizado vizinho ao Grande Hotel e promovia reuniões sociais e shows.

O “majó” Theodorico também foi dono do Cassino Natal, onde funcionou a loja de veículos Marpas. Abriu-se um cassino atrás do Grande Hotel, na Ribeira, com todos os jogos tradicionais e uma boa banda onde brasileiros e americanos dançavam e se divertiam fraternalmente.

Uma visita que verdadeiramente marcou o Casino Natal foi a do ator hollywoodiano ‎Humphrey Bogart. Ele passou por Natal entre novembro e dezembro de 1943 e esteve no casino na noite de 30 de novembro, uma terça-feira, na companhia de um coronel chamado Wallace Ford e outras autoridades americanas. Santana lembrou que no Cassino Natal o pianista Paulinho Lyra dedilhava um piano novo em folha, que foi comprado ao médico Januário Cicco.

O jornal A República também informou que parecia existir uma disposição dos moradores residentes nos bairros centrais por participarem de ocasiões festivas e de locais descontraídos. Porém, essas oportunidades nem sempre estavam disponíveis e, quando estavam, nem sempre eram bem sucedidas. Em verdade, percebe-se que as elites locais pareciam não conseguir afastar a apreensão que envolvia aquele contexto, embora voltasse toda sua energia para abstrair sua realidade. Os moradores dos bairros da Cidade Alta e da Ribeira frequentavam sempre os mesmos locais de encontros, confraternizavam e dividiam as mesmas preocupações. Dentre os estabelecimentos de lazer mais procurados e freqüentados estavam o Café Grande Ponto, o Café Cova da Onça e o bar do Grande Hotel, onde tradicionalmente políticos, militares, jornalistas, escritores, estudantes e outros profissionais liberais reuniam-se diariamente para conversar, tomar café e sorvete e partilhar conversas (OLIVEIRA, 2008, p. 96-97).

A segregação dos espaços após o conflito tornou-se mais evidente, como atesta a citação acima. O abandono da Ribeira por parte das elites tornou-se mais evidente. Sobre esse processo citamos o historiador Itamar de Souza (2008), que afirma que o Grande Hotel, que fora um dos principais palcos do crescimento do bairro, entrou em declínio a partir de 1945. O bairro perdia um importante ícone urbanístico e social dos tempos de glória.

Nas primeiras décadas do século XX, o bairro da Ribeira, como citado anteriormente, não era apenas o centro comercial da cidade, era também o centro social. Este abrigou os principais espaços de lazer e de entretenimento da Cidade de Natal, possuía o teatro, cafés, bares, o hotel mais luxuoso da cidade (com seus salões onde se realizaram acontecimentos memoráveis), o Cinema Polytheama, dentre outros. O Grande Hotel fechou suas portas ainda nos anos 1940.

Posteriormente à inauguração do Grande Hotel, houve uma grande mudança na conjuntura econômica nacional, a qual foi desencadeada pelo início da Segunda Guerra Mundial na Europa. Diante do que estava acontecendo no país e no mundo, o Governo do Estado do Rio Grande do Norte teve que deparar com o fato de não mais possuir recursos para equipar o hotel e este ficou fechado por vários meses. Com a impossibilidade de abrir o Hotel com seus próprios recursos, o Governo decidiu arrendá-lo, porém não apareceram pretendentes que se dispusesse a correr o risco de fazer tal investimento.

O Grande Hotel quase se tornou um “luxuoso palácio” e maior do que a própria cidade. A solução encontrada pelo Governo do Estado foi oferecer facilidades aos pretendentes, que iam desde empréstimos até a isenção total de impostos, e o contrato, ao final, foi firmado com Teodorico Bezerra120, empresário norte-rio-grandense e proprietário de jazidas de minério no interior, recentemente enriquecido com sua extração. Assumida a posse do edifício, este equipou suas dependências – apartamentos, cozinha, restaurante, bar, barbearia, entre outros serviços (GRANDE Hotel de Natal. A República, Natal, 12 set. 1939.) – e o Hotel foi inaugurado logo depois da declaração do início da Guerra na Europa, quando as movimentações militares em Natal já se iniciavam. Com isso, o hotel tornou-se rapidamente um centro de atividades muito movimentado e com intensa vida social e política na cidade. O Grande Hotel era o único estabelecimento hoteleiro da cidade, que hospedava representantes e técnicos brasileiros e estrangeiros que chegavam a Natal em missões militares e, posteriormente, tornou-se o lugar onde se realizavam os encontros e as reuniões mais importantes da cidade (Durante algum tempo, o Grande Hotel tornou-se o local onde aconteciam as principais atividades burocráticas das Forças Armadas brasileiras e norte-americanas.).

Paulo Lira, funcionário dos Correios, pianista, compositor, boêmio, tocava no Grande Hotel e nas principais casas noturnas da cidade, tocou no Grande Hotel já nos anos 1940, época da criação da REN (Rádio Educadora de Natal) que foi concebida para divulgar a linha antinazista em tempos de Guerra. A REN se transformou posteriormente na Rádio Poti. No dia em que Paulo Lira morreu, o ex-deputado Theodorico Bezerra gestor do Grande Hotel lacrou o piano que ele tocava.

Grupo de militares americanos bebendo no Grande Hotel, defronte a igreja de Bom Jesus, no bairro da Ribeira, em Natal. – Fonte – Coleção do autor.
No Grande Hotel em 1941 pelo fotografo da Revista Life Hart Preston. Na foto, a parte exterior do hotel, onde ao fundo, identifica-se a Praça José da Penha e a Igreja do Bom Jesus das Dores.
O local ficou conhecido por abrigar os soldados norte-americanos que ficaram em Natal durante a Segunda Guerra Mundial. Eles pagavam a hospedagem em dólares.
Se a vinda dos militares norte-americanos trouxe reais benefícios a membros da elite social natalense, seguramente um destes, ou o principal, foi Theodorico Bezerra.
Prefeito Gentil Ferreira com o fotógrafo fotografo da Revista Life Hart Preston tendo ao fundo o quadro do Grande Hotel.

O desenvolvimento da Cidade de Natal ocorreu de forma inexpressiva, ao ponto de durante muito tempo, ser correto afirmar “Natal não há tal”. Neste sentido a instalação da base aérea norteamericana é responsável por um grande crescimento da expansão urbana da Capital Potiguar. Segundo Mariz e Suassuna (2002, p. 327), Natal:

Mesmo sendo uma cidade pequena, contava com entidades científicas como o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, localizado na Rua da Conceição, 622, a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, o Aero-Club do Rio Grande do Norte, localizado na Av. Hermes da Fonseca, onze clubes esportivos, três jornais – A República, A Ordem e o Diário (18-09-1939) – e o Grande Hotel, único hotel em Natal na época, que pertencia ao Estado mas fora arrendado a Theodorico Bezerra.

Em Natal, apesar da aparente boa relação que havia sido estabelecida entre as elites locais e os oficiais estadunidenses, estes últimos demonstravam suas insatisfações com as autoridades locais em relatórios internos. A principal queixa era dirigida ao Interventor Federal do Rio Grande do Norte, General Antônio Fernandes Dantas, que, segundo Smith Junior (1992), era questionado pelo enriquecimento que tivera às custa do Estado, sua sociedade no Cassino Natal e a retirada de renda que fazia no arrendamento do Grande Hotel, assim como as contratações familiares realizadas por seu Governo. O Governo do Estado Novo costumava nomear interventores oriundos de outros estados para representá-los nas diversas unidades federativas do Brasil. No entanto, o Estado do Rio Grande do Norte, após a saída do General Rafael Fernandes de Gurjão em julho de 1943, manteve sua direção sob a responsabilidade de outro norte-riograndense. Este era o General Antônio Fernandes de Gurjão, nascido na cidade de Caicó e cujo governo ocorreu de julho de 1943 a agosto de 1945. O primeiro ato oficial do Interventor General Antônio Fernandes Dantas “foi aumentar seus próprios vencimentos de U$ 200 para U$ 500 por mês, equivalente à moeda corrente mericana”. In SMITH JUNIOR, Clyde. Op. Cit.

Pouco tempo antes disso, na década de 30, conforme aponta Caracristi (1994, p.79), Natal tem a instalação de seu primeiro grande hotel, iniciando a sua construção no ano de 1938, no governo do Interventor Rafael Fernandes Gurjão, e inaugurado em 1939. O hotel se chamava “Grande Hotel” (ver figura 08) e foi arrendado ao “major” Teodorico Bezerra, com uma estimativa de 108 quartos, três andares, duas lojas e salão de visitas.

Os moradores dos bairros da Cidade Alta e da Ribeira frequentavam sempre os mesmos locais de encontros, confraternizavam e dividiam as mesmas preocupações. Dentre os estabelecimentos de lazer mais procurados e frequentados estavam o Café Grande Ponto, o Café Cova da Onça e o bar do Grande Hotel, onde tradicionalmente políticos, militares, jornalistas, escritores, estudantes e outros profissionais liberais reuniam-se diariamente para conversar, tomar café e sorvete e partilhar conversas.

A Cidade Alta, naquele momento, concentrava o corso do carnaval das elites da cidade, o qual era intensamente movimentado pelos automóveis lotados de grupos familiares. Além desta, os clubes tradicionais eram bastante freqüentados e, a partir de 1939, o carnaval da cidade ganhou mais um espaço festivo: o Grande Hotel.

A vida diária na cidade estava carregada de expectativas e de pessimismo. Desde os primeiros momentos da guerra na Europa, militares estadunidenses começaram a atuar na região de Natal, o que não foi ressaltado pela historiografia brasileira. Segundo Tronca (1981), somente a partir de 1941m seus soldados movimentavam-se com desenvoltura pelas ruas do centro da cidade, hospedavam-se no Grande Hotel, faziam levantamentos de regiões da cidade e enviavam relatórios ao Departamento de Estado de seu país. Além disso, essa presença não figurou nas páginas do jornal A República até 1942.

O policiamento da cidade, por incrível que pareça, era feito por apenas dois jeeps com 4 homens em cada um. Era a Polícia do Exército, os famosos M.P’s. Um jeep ficava no Grande Ponto, com telefone pronto para atender e outro no Grande Hotel, na Ribeira.

Parecia que os moradores da cidade viviam sob impacto de perceber que o desenvolvimento não estava se efetivando como suas elites haviam planejado. Para estas, fazia pouco tempo que festejavam o desenvolvimento com a conquista do saneamento das áreas centrais da cidade e com a construção do Grande Hotel. Uma parcela da população consumia os lançamentos mundial da indústria automobilística e contribuía para o aumento da frota local de carros de passeio e de aluguéis. O automóvel tornou-se um dos objetos mais consumidos pelas elites locais e estes eram vendidos em lojas de propriedade de comerciantes da cidade.

Entre tantas conquistas, o Grande Hotel, o Clube Hípico e a maior Base Aérea Estadunidense nas Américas tornavam-se elementos facilitadores que transformariam esse caminho para o futuro. As idéias que os conectava apareciam como relâmpagos no meio de uma tempestade, em um momento em que conseqüências ainda não podiam ser avaliadas. A presença dos militares estadunidenses em Natal e as mudanças decorrentes da conjuntura da Segunda Guerra mundial, apesar de imprecisas, haviam acelerado crescimento e promovido uma urbanização desorganizada, que, posteriormente, resultou no surgimento de inúmeros problemas sociais, inclusive manifestações de vandalismos sociais e sintomas psicológicos graves (O ROUBO nas Joalherias Farache e “V”: prosseguem as diligências. A República. Natal, 22 set. 1944; SERVIÇO de Assistência aos Psicopatas. A República. Natal 02. mar. 1946.).

Ribeira adormecido … acorda. […] Ribeira das velhas festas e famílias tradicionais. Ribeira que era tudo, menos a razão elimológica de marginal de rio. Travestida de bairro comercial durante o sol, mostrava-se teatral no domínio da lua onde todas as noites eram de sábado. Ribeira de comércio sortido, das miudezas, das “belas” prostitutas, excludentes sociais, que alegravam a sociedade masculina da época. Ribeira que manteve acesa a chama dos grandes carnavais, das grandes iniciações, das grandes decisões palacianas, do Graride Hotel e dos grandes conchavos políticos, das grandes peças teatrais e de noites tão grandes quanto seu esquecimento. Ribeira (antas vezes exaltada e hoje esquecida, por aqueles que seguraram uma bacia – lavatório, por alguns instantes, e a ela se referem como amantes, vaidosos de a terem possuído. Hoje, encontra-se moribunda, ferida e derrotada pelo desamor daqueles que, em sua maioria, a procuravam em nome do amor. […] Ribeira da minha juventude acorda… por favor.
Manoel Procópio de Moura Júnior

Avenida Duque de Caxias na Ribeira em 1960. Podemos identificar várias edificações como o Grande Hotel, Igreja Bom Jesus, entre outros.
Grande Hotel, na Ribeira, ontem e hoje!
Natal colorizada: GRANDE HOTEL, Ribeira ( fonte: Eduardo Alexandre Garcia )
Grande Hotel.
Passagem do bando em frente ao Grande Hotel.

A Avenida Tavares de Lyra, ainda guarda um importante acervo arquitetônico/histórico, encontram-se diversas edificações apresentando em suas fachadas marcas de tempos passados. Um destes exemplares é o antigo Grande Hotel, segundo Jeanne Nesi (1994) uma edificação de muita importância para a cidade, tanto pelos seus traços arquitetônicos, como pela sua evidência social.

Na mesma época em que atingia sua maior importância no cenário político, no entanto, o Grande Hotel passava a sofrer os primeiros reveses. A abertura de hotéis na Cidade Alta e a diluição do poder econômico da Ribeira, com o crescimento da cidade, diminuíram a quantidade de hóspedes que se dirigiam ao hotel.

Em 1957, uma comitiva de técnicos coordenada pelo arquiteto João Khair veio a Natal, a convite do governador Dinarte Mariz, com o intuito de organizar um plano de “reformas urbanísticas” para a cidade, que substituiria em grande parte o “antiquado” Plano Palumbo. Entre os prédios que fariam parte do plano, constava um novo hotel para a cidade, que atendesse à demanda de viajantes que passavam pela cidade. Repetia-se, assim, o mesmo discurso que, vinte anos antes, justificara a construção do Grande Hotel.

O ano de 1965 anunciou o começo do fim para o Grande Hotel de Natal. Primeiro, em setembro daquele ano, inaugurava-se o Hotel dos Reis Magos, símbolo de uma nova tendência da hotelaria na cidade: o movimento em direção ao litoral, atendendo ao incentivo ao turismo de sol-e-mar como saída para as dificuldades econômicas do estado.

Processos judiciais estenderam o período por mais dezessete anos, nos quais o hotel tentou manter-se em funcionamento adaptando-se aos padrões correntes de hotelaria, e trocando o revestimento original, já desgastado. Todos os esforços não poderiam reverter, no entanto, a decadência do bairro comercial tradicional onde o hotel se encontrava; em 1981 a transferência do terminal rodoviário para fora da Ribeira diminuiu a um mínimo o número de hóspedes do Grande Hotel.

Em 1987, Theodorico Bezerra era o único morador do Hotel. Cansado da hotelaria e desapontado com o abandono da Ribeira, aceitou entregar o hotel ao Estado. O fim do Grande Hotel foi noticiado pelos jornais, em artigos que relembravam sua história e mostravam preocupação com o destino do prédio.

Planos para transformá-lo em um albergue da juventude foram descartados, e em 1989 foi determinado que o prédio passaria a abrigar o Tribunal de Justiça do Estado. O edifício foi tombado como patrimônio histórico Estadual em 1991, e iniciou o funcionamento como repartição judiciária em 1992, após uma série de reformas e adaptações.

Em 2001, o Fórum de Natal teve sua sede própria construída, e o prédio, sofrendo mais reformas, passou a abrigar os Juizados Especiais Cível e Criminal, situação que se mantém atualmente. O antigo Grande Hotel mantém muito de sua arquitetura original, mas diversos aspectos foram alterados, com o fechamento do mezanino, a troca de pisos e a instalação de caixas de ar-condicionado na fachada principal, por exemplo.

Apesar de todos os esforços, o hotel não pôde resistir a decadência da Ribeira enquanto centro comercial de Natal. Na década de 1980, enquanto os hotéis da Via Costeira multiplicavam-se, o velho hotel da Ribeira se esvaziava. Em 1987, o único morador do hotel era Theodorico Bezerra. Estava cansado da hotelaria e disposto a entregar o velho Hotel às mãos do governo e de dedicar-se às suas fazendas.

Ao ser entregue ao Estado, o prédio do extinto Grande Hotel tornou-se a sede da EMPROTURN (Empresa de Promoção e Desenvolvimento do Turismo do Rio Grande do Norte).

No ano de 1988, no governo de Geraldo Melo, Theodorico devolveu o Grande Hotel ao Estado, pois a Ribeira começava a entrar em decadência com a transferência da rodoviária para o bairro de Cidade da Esperança.

Em fevereiro de 1989, com a decisão do Estado de destinar o prédio ao uso do fórum para o Tribunal de Justiça do Estado. As reformas com o fim de abrigar o Tribunal de Justiça incluíram a demolição de algumas paredes e fechamento de outras; o antigo refeitório foi coberto por um forro e a balaustrada do mezanino foi fechada com uma parede; outros ambientes foram separados por divisórias.

Aparelhos de ar condicionado apareceram nas fachadas do antigo Grande Hotel, obscurecidas também pelas grandes árvores que haviam crescido na calçada, à sua frente. As esquadrias foram restauradas, mantendo-se seu aspecto original.

Em meados da década de 1990, Theodorico Bezerra, famoso político do Rio Grande do Norte que faleceu.

Em Dezembro de 1991, o Grande Hotel foi tombado como patrimônio histórico, a nível estadual. Em 2001, o Fórum de Natal foi transferido para uma sede própria, e no ano seguinte foram instalados no prédio do antigo hotel os Juizados Especiais Cível e da comarca de Natal.

Desde 1991 o antigo Grande Hotel é parte do Patrimônio Histórico Estadual, como monumento Tombado preserva parte da História da cidade de Natal. Hoje funciona como juizado de pequenas causas.

Nos dias atuais o prédio do Grande Hotel é utilizado pelo Juizado Especial Central da Comarca de Natal, antes conhecido como Juizado de Pequenas Causas. Mas existe a informação que em um futuro breve a justiça potiguar deixar de utilizar esse local.

Inaugurado em 13 de maio de 1939, o Grande Hotel foi um marco na história da hotelaria no Rio Grande do Norte. Durante o contexto da Segunda Guerra Mundial foi ponto de referência em Natal, hospedando dezenas de personalidades, nacionais e internacionais.(Foto: Esdras Rebouças Nobre).
Este hotel, localizado no bairro da Ribeira, Zona Leste de Natal, hospedou os militares norte-americanos de alta patente durante a Segunda Guerra Mundial, recebendo em dólares pelas estadias. O “Grande Hotel” teve suas atividades encerradas no ano de 1987 e hoje abriga o Juizado Especial Central de Comarca de Natal.

EDIFÍCIO VARELA

As Crônicas escritas por Danilo entre os anos de 1940 e 1943, quando as Forças Armadas chegavam e começavam a se instalar em Natal, especialmente as que trataram de aspectos que diziam respeito ao espaço da Cidade, que falaram dos bairros, que observaram ou detalharam as transformações percebidas, as mais visíveis ou consideradas importantes pelo autor, tanto que se deteve e discorreu sobre elas. Até meados de 1941, demonstrou seu fascínio e admiração pela prosperidade observada, com as novas ruas que eram traçadas rapidamente na periferia da cidade sobre terrenos vazios e sitios arborizados, e com a evidente multiplicação de casas e vilas.

Na Crônica “Mais um Hotel na Cidade” (14/06/1941), quando observou o seu despertar para o crescimento, que viveu nos anos imediatamente posteriores, quando a demanda por hospedagem “de qualidade” cresceu e vários comerciantes adaptavam seus edifícios, para que funcionassem como locais de hospedagem. Neste caso, destacou a adaptação do “Edifício Varela”, uma edificação de dois andares na Av. Sachet, no bairro da Ribeira, com duas salas amplas térreas para restaurante e 60 quartos, com instalações próprias e próximo ao Cais do Porto.

Devido a lotação do Grande Hotel, Theodorico Bezerra, que ficou conhecido no Rio Grande do Norte como “o majó”, alugou apartamentos nas proximidades, principalmente nos Edifícios Bila e Varela, na Avenida Duque de Caxias. Para José Santana Sobrinho, devido a sua categoria, não dava para o Grande Hotel hospedar náufragos de navios torpedeados que apareciam “nus da cintura para cima” e eles eram enviados para esses anexos. Nesses locais também ficavam os passageiros dos hidroaviões Boeing 314 Clipper, da Pan American Airways, que pernoitavam em Natal, seguindo viagem para ou sul do Brasil, ou em direção aos Estados Unidos.

HOTEL DA L.A.T.I.

Na divisão do antigo campo de pouso dos franceses entre os militares das duas nacionalidades, os brasileiros ficaram com a ala oeste, limitada por uma cerca de arame, paralela aos trilhos da estrada de ferro e com portão de acesso para a pequena vila de Parnamirim. Na área, existia um hotel para passageiros, construído pelos franceses, que foi ocupado pelos setores administrativos da Base e adaptado para ser também o Cassino dos Oficiais. A companhia de aviação italiana havia deixado dois hangares da companhia italiana e um deles virou alojamento para os praças, abrigando ainda os serviços do Agrupamento de Caça (aviões P-40). Mais dois prédios deixados pela Air France viraram alojamentos e rancho dos Sargentos, além de abrigarem o Centro Médico, aproveitando também as duas estações radiotelegráficas.

Em 1940, os italianos da Ala Litottoria (L.A.T.I) juntaram-se aos franceses em Parnamirim, construindo um hotel, hangar, reservatório dágua e escritórios no lado oeste. A Air France operou no campo até junho de 1940, quando a França se rendeu a Alemanha Nazista. Dois anos depois, quando o Brasil declarou guerra a Alemanha e a Itália, a L.A.T.I também deixou de operar.

Em Parnamirim, entre os edifícios que existiam, o antigo hotel da L.A.T.I. foi adaptado para instalar os órgãos administrativos e o Cassino dos Oficiais; o hangar transformado em alojamentos para praças e um agrupamento de caça; os dois prédios da Air France para alojamento, rancho dos sargentos e centro médico; e dois edifícios transformados para instalar as duas estações radiotelegráficas.

No campo de aviação, com a deflagração da guerra na Europa e a invasão da França pela Alemanha, a Air France deixou de operar. Mas, a oferta de trabalho e o movimento de passageiros e aviões foram mantidos pelos italianos da Ala Littoria, que tinham construído escritórios, hangares e hotel de trânsito. A companhia italiana permaneceu operando por mais dois anos. Em 1942, quando os italianos também saíram, mais uma vez foi dos céus que chegaram os sinais de que o futuro de Parnamirim estava decidido: a falta de chuvas no interior do Estado obrigou milhares de agricultores a descerem os caminhos do sertão em busca do litoral. Nesse mesmo ano chegavam as primeiras esquadrilhas e as equipes técnicas norte-americanas para começar a construção de Parnamirim Field.

A terceira Força chegou a Natal para construir a Base Aérea de Natal, que posteriormente será referida como “Base Brasileira”. É interessante ressaltar que esta base foi criada pelo Governo Federal em 02 de março de 1942 e seu comando só foi nomeado em agosto do mesmo ano, quando o Brasil estava prestes a declarar-se em guerra com o Eixo. Nesse período, chegaram os primeiros oficiais da Aeronáutica Brasileira e, segundo o Jornal A República, a estrutura da Base Brasileira dispunha de alguns aviões e carros de apoio e poucos equipamentos e armamentos. Segundo Costa (1980), as instalações iniciais ocupavam os edifícios que pertenciam às Companhias Aéreas Comerciais L.A.T.I. e Air France, nos quais foram feitas algumas reformas para adaptar as instalações físicas.

A falta de informação e de registros na imprensa oficial da cidade foi uma constante nesse período. A inauguração das instalações da Base Aérea de Natal ocorreu em 7 de agosto de 1942 e suas atividades iniciaram com as operações de patrulhamento dos navios mercantes brasileiros e da costa do Rio Grande do Norte, do Ceará à Paraíba.

Desde 1991 o antigo Grande Hotel é parte do Patrimônio Histórico Estadual, como monumento Tombado preserva parte da História da cidade de Natal. Hoje funciona como juizado de pequenas causas.

NATAL CENTER HOTEL

O pianista Paulino Chaves teve uma história semelhante à de Oriano de Almeida: nascendo em Natal, viveu sempre no Pará e depois, no Rio de Janeiro. Oriano nasceu em Belém e teve sua vida artística iniciada em Natal. Havendo Paulino Chaves falecido a 31 de julho do ano anterior, teve a Sociedade de Cultura Musical a iniciativa de homenagear o reconhecido músico, professor da Escola Nacional de Música.381 A homenagem constou da fixação, no dia 26 de junho, de uma placa na fachada da casa onde nasceu, à Rua Santo Antônio n° 665. A solenidade teve grande número de presentes, autoridades e sócios da Sociedade de Cultura Musical; o escritor Luís da Câmara Cascudo evocou a vida e a obra de Paulino Chaves.

A casa onde nasceu Paulino Chaves, um belo casarão antigo, de muitas janelas, foi demolido para dar lugar a um inexpressivo edifício onde se instalou o
Natal Center Hotel. A placa… Havia, também, na galeria do Teatro Carlos Gomes, um retrato do musicista, também extraviado.

HOTEL GLÓRIA

A oferta sempre renovada de trabalho, junto a Base Brasileira e Parnamirim Field, mantinha o fluxo migratório, fixava um contingente de operários com ou sem profissão qualificada e, por outro lado, estimulava o surgimento de um comércio voltado para as necessidades dessa população que, mesmo pobre na sua maioria e morando em barracos de palha, precisava comer, beber e vestir. Existia o barracão de Otávio Gomes de Castro em frente ao portão da Base vendendo gêneros alimentícios e cobrando extra pelo papel de embrulho; o Hotel Glória, gerenciado pela “Baiana”, perto da estação, onde a maioria dos funcionários civis e soldados tomava o café da manhã; o “Bar do Pimenta”, mais afastado; e o “Bar do Severino”, onde se abria a rua 30 de Maio, e outros pioneiros. Entre eles, Potenciano Pereira de Souza (1898-1979).

HOTEL AMÉRICA

Lauro Maia foi eleito prefeito da cidade de Patu em 1952. Seu assassinato ocorreu em 3 de junho de 1954 em frente ao Hotel América, no centro de Natal. O acusado do crime foi o bacharel José Dutra, da cidade de Patu, que teria cometido o crime por motivações políticas.

SOLAR JOÃO GALVÃO DE MEDEIROS (ATUAL CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO ELOY DE SOUZA)

O Casarão da Avenida Luís da Câmara Cascudo, antiga Avenida Junqueira Aires, foi erguido em 1908 por determinação de João Alfredo, seu primeiro proprietário. Posteriormente, a edificação foi adquirida pelo coronel da Guarda Nacional, Aureliano de Medeiros, que residiu no local por dois anos enquanto construía, “em terreno ao lado, o seu palacete que receberia a merecida denominação de Solar Bela Vista” (NESI, 1994, p.72).

Comerciante perspicaz, o coronel Aureliano era dono da loja Paris em Natal, uma das mais famosas da cidade no início do século XX. Com a sua morte D. Olímpia de Medeiros, sua filha, herdou o imóvel. Como era solteira, ao falecer deixou o casarão de herança para dois de seus parentes mais próximos: João de Medeiros Filho e Bernardo Galvão Medeiros (NESI, 1994).

A edificação foi construída em estilo chalé e constitui-se num dos poucos exemplares deste estilo ainda existente em Natal. Ao longo de sua existência, foi utilizado como residência e hotel; ficou desocupado por várias décadas, período no qual sofreu incêndio que destruiu parte de sua cobertura. Em sua restauração, no ano de 1999, foram mantidas as estruturas originais internas compatíveis com a preservação de um patrimônio do Corredor Cultural de Natal, de reconhecida relevância para a memória da cidade (NATAL, 2003).

O prédio é administrado pela Fundação José Augusto, do governo do Estado do Rio Grande do Norte, que nele implantou o Centro de Documentação e Pesquisa, Eloy de Souza. No local, está à disposição do público considerável acervo documental escrito e iconográfico. De expressivo valor arquitetônico, o Solar João Galvão de Medeiros foi tombado, a nível estadual, em 19 de julho de 1988 (NATAL, 2003).

Lugar de memória, o Solar João Galvão de Medeiros, faz parte do Patrimônio Histórico e Cultural de Natal.

Solar João Galvão de Medeiros (atual Centro de Documentação Eloy de Souza). Foto: arquivo da SEMURB – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo.

HOTEL BELA VISTA

Bela construção datada do início do século XX, localizada na Av. Luís da Câmara Cascudo, n° 417, em pleno Corredor Cultural de Natal, na Cidade Alta. Dentre as características da sua concepção arquitetônica destacam-se a importância do Sobrado e a beleza e rebuscamento dos materiais diversos que o compõem. Construído no centro do lote, possui um lindo jardim.

Na construção, executada pelo paraibano e seu primeiro proprietário Cel. Aureliano de Medeiros, foram importados o mobiliário, tapetes, lustres, porcelana, cristais francesas, vidraças belgas. Até mesmo o ferro e o metal utilizados vieram da Alemanha. A casa possuía estátuas dos quatro primeiros Presidentes da República e capela particular.

As fachadas principal e lateral do palacete apresentam frontões triangulares, com estrela vazada ao centro. Esses frontões emoldurados por cornijas de massa são característicos do estilo neoclássico. Uma platibanda vazada e cercada por pequenos e graciosos pináculos arremata toda a cobertura da casa (NESI, 1994, p.75).

Após a morte do Cel. Aureliano Medeiros em 1933, a viúva D. Rosa e suas duas filhas passaram a residir em outro imóvel de sua propriedade situado na praça Pe. João Maria. Desde então deixou de ser residência.

O antigo palacete foi sede do Tribunal de Justiça, pensão familiar e a partir de 1948 tornou-se Hotel Bela Vista. Em 1958, o palacete foi vendido ao SESI (Serviço Social da indústria) (NESI, 1994). Tempos depois é restaurado.

Após a restauração (1984) feita sob a coordenação da Fundação José Augusto, o palacete readquiriu a sua “majestade” da época do Cel. Aureliano de Medeiros quando era palco de grandes eventos sociais.

Hoje funciona como o Centro de Cultura e Lazer do SESI-RN, oferecendo vários cursos e oficinas de artes. O Solar Bela Vista, nome herdado do antigo hotel, lugar de memória, foi Tombado no âmbito estadual, em 17 de fevereiro de 1990.

Pensão familiar em Natal. Fonte: jornal A Ordem, 29 ago. 1940, p.3.
Fonte: jornal A Ordem, 4 jul. 1946, p.3.

HOTEL REIS MAGOS

Consoante, Natal educava-se para os novos tempos. Para tanto era preciso polir os sentidos da população. Nesse aspecto os meios de comunicação tiveram papel primordial. Os jornais que circulavam em Natal mantinham colunas fixas sobre viajantes, anunciavam a todo o momento quem partia e quem chegava. A Republica é um desses exemplos, que na sua coluna social apresentava, com orgulho, o nome dos residentes que podiam participar dessa nova atividade. Na página dedicada à sociedade, os que viajavam de avião ganhavam um destaque especial, eram noticiadas as viagens de navio, de carro, o movimento dos portos. Essas colunas atravessaram as décadas de 1930, 1940 e 1950 recheando o imaginário da população com ideias de viagens.

As décadas de 1940 e 1950, principalmente pela influência da Segunda Guerra Mundial, marcaram de forma histórica o espaço natalense. As principais transformações encontram-se relacionadas ao maciço investimento financeiro feito por parte das Tropas Aliadas, que instalaram a base aérea dos Estados Unidos na cidade. Em função disso, várias melhorias urbanas aconteceram na cidade. Destaca-se o Aeroporto de Parnamirim, como a obra principal desse período. Tal fato, iniciou o favorecimento do turismo na cidade. A capital de menos de 60.000 residentes, teve que se conformar com a entrada de centenas de militares norteamericanos (SMITH JUNIOR, 1993).v


A implementação do Hotel Internacional Reis Magos está inserida na política de incentivo e consolidação do setor turístico no estado. Idealizado, desde a década 1940, quando da abertura da Avenida Circular pelo prefeito Silvio Pedroza, foi finalmente construído, durante a gestão do governador Aluízio Alves (1961-1966), na Avenida Café Filho, 822. A escolha do local para construção objetivava intensificar o uso daquele trecho de praia por moradores e visitantes.

Os anos 50 do século passado se apresentam para a hotelaria natalense com uma estagnação praticamente absoluta, ficando a cargo dos hotéis já citados a estadia das eventuais pessoas que visitavam a capital potiguar.

As transformações urbanas que ocorreram durante a guerra e as reformas implementadas na gestão do prefeito Sylvio Pedroza, iniciaram, mesmo que timidamente, uma política de visibilidade turística da cidade. O calçamento de ruas, a abertura e reordenamento de vias de acesso e principalmente, a construção da Avenida Circular – com início na Praia do Meio chegando até a Praça do Cais do Porto, na Ribeira –, considerada a principal obra da gestão. No início da sua construção foi criticada, tida como algo fora dos padrões urbanísticos para uma cidade como Natal, mas depois de construída foi considerada uma importante obra, que de acordo com o prefeito, serviria como elo fundamental na “integração à Cidade de nossas praias”. O discurso de Sylvio Pedroza destacava os benefícios que a obra traria para a cidade (apud TORQUATO, 2011, p. 33).

Esse contexto, constitui-se em um momento modernizador para a cidade, um marco para a cidade que antes crescia com suas construções de costas para a beira-mar. A construção da Avenida Circular insere ainda a cidade na lógica nacional de valorização do Sol e Mar, principalmente por causa da atividade turística. Sylvio Pedroza, ainda articulou a construção de um hotel de grande porte para a cidade. De acordo com as reportagens do período, o projeto foi encomendado, porém esbarrou na falta de recursos e de empréstimos, o que inviabilizou sua construção.

Fonte, Diário da Manhã (recorte). Em Livro de recortes. Cidade do Natal: Administração Sylvio Pedroza (1947). (TORQUATO, 2011).

Até a década de 1960, o turismo não era uma atividade econômica que empolgasse os governantes norte-rio-grandenses. A rede hoteleira era insignificante. A construção do Hotel Reis Magos, na orla marítima, pelo governador Aluízio Alves, e a criação da Secretaria Municipal de Turismo pelo então prefeito Agnelo Alves, e da EMPROTURN (Empresa de Promoção do Turismo do Rio Grande do Norte), pelo governador Cortez Pereira, são três marcos importantes, pois demonstraram simbolicamente que os nossos governantes preocupavam-se com o bem-estar das pessoas que visitavam o nosso estado.

Nesse cenário, o setor do turismo ganha maior visibilidade e passa a ser favorecido pela ideia de que é capaz de proporcionar o crescimento econômico. Da mesma forma, também acredita-se que é capaz de reduzir os desequilíbrios sociais. Com a criação da Superintendência de Hotéis e Turismo do Estado em 1964 (SUTUR), órgão estadual, associado às políticas de industrialização de âmbito federal, a infraestrutura local foi melhorada. O estabelecimento de uma rede hoteleira foi viabilizado no estado do Rio Grande do Norte, como destaque em Natal para o Hotel Reis Magos (1965). No ano de 1966, é instituído o Plano Nacional do Turismo (PLANTUR), o Conselho Nacional de Turismo e a Empresa Brasileira de Turismo. De acordo com a geógrafa Rita Cruz o PLANTUR, um elemento básico da política nacional que envolve o turismo, jamais saiu do papel (CRUZ, 2002).

Praia dos Artistas, Praia do Meio e Praia do Forte. Detalhe para o Hotel Internacional Reis Magos em construção.

O Hotel Internacional dos Reis Magos foi um marco no desenvolvimento do turismo na cidade, inclusive, o primeiro hotel de porte internacional no estado. Inaugurado em setembro de 1965, impulsionou a modernização urbana na praia do Meio e incentivou sociabilidades que direcionaram parte da população natalense a construir novos hábitos relacionados ao litoral. O hotel projetado pelos arquitetos pernambucanos Waldecy Pinto, Antônio Di Dier e Renato Torres é o primeiro que está de frente para o mar, em harmonia com o clima litorâneo aproveita-se da ventilação e iluminação natural. Em início tinha como alvo apreender um público de empresários, autoridades, engenheiros e técnicos trazidos à cidade em função do processo de industrialização, urbanização e das próprias intervenções habitacionais governamentais. Destaca-se como resultado de um planejamento que prioriza o desenvolvimento econômico, no qual o planejamento já é uma meta da administração pública.

O Reis Magos foi o primeiro hotel a ocupar terrenos lindeiros à praia. Até então as praias urbanas mais frequentadas eram Areia Preta, que possuía casas de veraneio, e a Praia do Meio, somente até o trecho conhecido como Ponta do Morcego. Nesse caso, a acessibilidade era o fator principal, uma vez que o bonde descia até a praça da Jangada, em Areia Preta. Em direção à Fortaleza dos Reis Magos só havia o caminho delimitado.

Luiz Antônio Porpino, secretário de gabinete do governo Aluízio Alves, à época, lembra que a construção do HIRM trouxe iluminação, calçamento, galerias, implantação de delegacias, bem como desenvolvimento do comércio e inauguração de bares e restaurantes. Sobre a clientela do hotel informa ter sido de grandes empresários visando investimentos no estado do RN e de turistas, a maioria vindo de estados do nordeste (CE, PB, PE, AL, SE e BA) e do sudeste (eixo Rio de Janeiro/São Paulo).

O projeto original do Hotel Internacional Reis Magos foi elaborado por uma equipe de arquitetos pernambucanos, composta por Waldecy Pinto, Antônio Didier e Renato Torres. O complexo contava com 63 apartamentos, 01 suíte presidencial, recepção, salões nobres, elevadores, parque aquático, sauna, playground, restaurante, estacionamento com aproximadamente 50 vagas, boite, salão de beleza, áreas de lazer, lojas de artesanato, serviço médico, saguão abrigado para embarque e desembarque (sob pilotis).

O Governador do Estado do Rio Grande do Norte, nos anos de 1962/1963, Senhor Aluízio Alves que na ocasião, solicitou do Escritório Técnico de Arquitetura e Urbanismo – ETAU, com sede na cidade de Recife/PE, um anteprojeto para um Hotel de Alto Luxo para a cidade do Natal/RN.

O ETAU era composto por três arquitetos, Waldecy Fernandes Pinto, Renato Gonçalves Torres (in memorian) e Antônio Pedro Didier. O desafio para execução do anteprojeto tornou-se um grande desafio, pelo fato do prazo estipulado (dois meses) para a realização dos projetos de arquitetura, paisagismo e os complementares de engenharia.

Após a aprovação do anteprojeto, o Governador Aluízio Alves e uma equipe de três Secretários de seu governo, conjuntamente com os arquitetos, compareceram a um programa da TV Jornal do Comércio do Jornalista José de Souza Alencar (Alex), mostrando o ante projeto do Hotel Internacional dos Reis Magos, aprovado, e assinando o contrato para em sessenta dias concluir todos os projetos contratados.

HIRM ainda no final dos anos 1960, consolidando a estrutura formal da beira-mar (da Praia do Meio), contrastando com os assentamentos populares que vinham se estabelecendo desde o final da Segunda Guerra Mundial. Fonte: Acervo do arquiteto Waldecy Pinto.
Hotel Reis Magos e a falta de quiosques na Praia do Meio na calçada da Orla, anos 60
O complexo possuía 63 apartamentos, uma suíte presidencial, recepção, salões nobres, elevadores, e parque aquático, sauna, playground, restaurante, estacionamento, entre outras áreas. O empreendimento foi adquirido pelo grupo Hotéis Pernambuco S/A em 1978, que operou o local por 10 anos, após uma grande reforma em 1979/1980. Depois, o local foi arrendado de 1989 a 1995; e de 1995 a 2002. Nesse último período houve ordem de despejo litigioso para o ocupante
HOTEL INTERNACIONAL DOS REIS MAGOS (Bairro Praia do Meio). Foto: Jaeci E. Galvão. A permeabilide física e visual na relação do HIRM com seu entorno urbano potencializou os sentidos de pertença. Mesmo como equipamento elitista
(hotel de “luxo”), o edifício tornou-se parte do cotidiano, como local de trabalho, paisagem, lazer, festas da sociedade etc. Fonte: Acervo do arquiteto
Waldecy Pinto. Final dos anos 1960.
Localizado na Praia do Meio, zona Leste de Natal, o Hotel Internacional Reis Magos foi fundado em setembro de 1965 pelo então governador do Rio Grande do Norte, Aluízio Alves.
Registro Noturno da Av. Café Filho, Praia do Meio, em destaque para o Hotel Internacional Reis Magos.

Propiciado pelos incentivos fiscais do FINOR, construído com recursos intermediados pela SUDENE e pelo Tesouro Nacional, o Projeto do hotel e materializado em moldes racionalmente ritmado e inspirado nos ícones da arquitetura modernista brasileira. Cercado por jardins recortados em linhas retas é interceptado pelo prisma trapezoidal, tendo o seu bloco principal erguido sob pilotis e fachadas retilíneas (SOUZA, 2008).

A imagem com a parte lateral direita do edifício retirado da cena, nos leva a imaginar que pode haver muito mais área para o repouso e lazer do que a recortada na fotografia, uma estratégia técnica de ampliação do espaço. Entre as poucas pessoas que aparecem na cena, usufruindo os jardins, que já não existem mais, não há praticamente detalhes ou diferenciação, elas estão diminutas diante os símbolos erguidos. O lado esquerdo comporta a piscina, espaços verdes e amplos para a diversão. São os novos símbolos de prazer em prol do desenvolvimento sendo erguidos com bases no imaginário turístico como impulsionador do progresso. Assim, vai se conformando sobre os espaços da cidade, portadora de problemas sociais e econômicos, símbolos que a identificam como cidade turística. Arranjos e disposições espaciais que hoje identificam a Cidade do Sol.


Inicialmente administrado pela Emproturn, de responsabilidade do governo do estado, posteriormente, durante 15 anos, o Hotel dos Reis Magos esteve arrendado à rede Tropical Hotéis, empresa que pertenceu à Varig.

Nos anos 1960, Natal ainda era provinciana, só tinha dois hotéis conhecidos: o Reis Magos e o Grande Hotel, este remanescente da II Guerra Mundial, nenhum deles possuía ar condicionado. Turismo ainda era uma palavra desconhecida na cidade.

O ex-presidente Ernesto Geisel se hospedou no Hotel dos Reis Magos, foi fotografado caminhando de calção acompanhado por dois seguranças e tomando banho na Praia do Meio.

Em 1975, Ernesto Geisel era Presidente da República e iniciava a “abertura lenta e gradual”. Em 25 de setembro ele voltaria pela primeira vez a Natal para o lançamento de dois foguetes – sonda na Base da Barreira do Inferno. Na madrugada do dia seguinte, Geisel que havia se hospedado no Hotel dos Reis Magos, foi fotografado caminhando de calção acompanhado por dois seguranças e tomando banho na Praia do Meio.

Em 1978 após leilão e oferta publica, o hotel foi adquirido pelo grupo Hotéis Pernambuco e administrado apos uma reforma na época. Em 1989 foi arrendado ao rede Othon sendo entregue a um arrendatário local em 1995 só sendo retomado em 2002. Apos esse período de quase 10 anos sem reinvestimento ou obras de conservação, o grupo proprietário decidiu fecha-lo ate a resolução de todas as pendencias tributarias deixadas pelas administrações anteriores .

Durante a administração dos anos 80 , o hotel viveu seu auge mas já sem a fachada ou numero de leitos originalmente previsto . Houve projetos de revitalização ao longo dos anos ( desde o reinicio dos contatos e acertos em 2006) porem com a ameaça de tombamento o grupo proprietário mantem-se em compasso de espera ate a definição do destino da área pelo poder publico.

O Hotel Reis Magos, objeto de conflito de interesses entre o atual proprietário, que o quer demolir, e a sociedade civil que criou um movimento “Resiste Reis Magos” em defesa de sua preservação.

Em 2014, a Fundação José Augusto (FJA) chegou a tombar o Reis Magos de maneira provisória. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em fevereiro de 2017, negou o tombamento do hotel.

Paralelo a isso, corria outro processo proposto pelo Estado do Rio Grande do Norte. Em maio de 2019, em grau de recurso, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5) negou o tombamento judicial, mas advertiu expressamente que a decisão não significava autorização para a demolição do imóvel, tendo em vista a tramitação de processos administrativos de tombamento nas esferas estadual e federal.

Em agosto de 2019, o Conselho Municipal de Cultura e o Conselho de Turismo de Natal se posicionaram a favor da demolição do hotel Reis Magos. Antes, em julho de 2019, o Iphan chegou a reabrir o processo de tombamento e pediu prova de relevância nacional do Hotel Reis Magos. Em setembro, o órgão federal negou novamente o processo.

Fred e Carlos com a mãe Déa Rossiter e o
irmão caçula Newton na foto clássica em
frente ao Hotel dos Reis Magos, 1967. O Hotel dos Reis Magos era ponto obrigatório para fotografia de 11 em cada 10 natalenses.
Os Zíngaros em pose clássica em frente ao Hotel dos
Reis Magos, 1970. Tenda do Cigano – Localizada na Praia do Meio, por trás do Hotel dos Reis Magos, cuja especialidade era a grande variedade de caldos
quentes (“levanta defunto”). Lugar muito procurado por jovens nas “saideiras” das festas. Waldemar de Aro, hoje engenheiro civil, era o proprietário.
HOTEL INTERNACIONAL DOS REIS MAGOS. (Bairro Praia do Meio). Foto: Jaeci E. Galvão.
Pelé na piscina do antigo Hotel Reis Magos, tendo ao seu lado o ex-atleta Ribamar Cavalcante. O ano é 1971, o atleta esteve em Natal para o jogo América 1 x 2 Santos. Na ocasião, o maior de todos os tempos já era tricampeão mundial.
Antigo Hotel Internacional Reis Magos, na década de 1970.
Uma das primeiras chamadas públicas de âmbito nacional, para a construção da imagem paisagística da cidade de Natal, como o destino turístico da Cidade do Sol, está relacionada a um significativo reclame publicitário, que circulou por todo o país, na década de 1960, em um semanário ilustrado e popular que permitia a visualização de espaços que se modernizavam (Revista semanal Fatos e Fotos. Especial : Natal – A Cidade do Sol. Bloch Editôres: Brasília, 29 de agosto de 1968, nº 395, pág. 43 – 58.). Para o autor do texto a barreira do inferno é um dos primeiros resultados práticos de chamadas para o turismo e que deve ser associado ao serviço de hotelaria e transportes, juntamente com a oferta de atrações naturais ou artificiais. Não existe a ideia de um planejamento que envolva a população e os impactos que o turismo pode trazer à cidade, há somente, a ilusão inocente da atividade “industrial” favorável à localidade. Jaeci Galvão. Hotel Internacional dos Reis Magos, na praia do Meio. Natal- RN. Final da década de 1970. Distribuído por J. Pereira & Cia. Gráfica Ambrosiana. Fonte: Acervo de Jaeci
Emerenciano Galvão Junior.
Hotel Internacional Reis Magos Coleção de cartões postais de Esdras Rebouças Nobre.
Hotel dos Reis Magos – Praia do Meio – mais ou menos anos 80.
Praia do Meio com Hotel dos Reis Magos – penso que nós anos 80.
O pesquisador Manoel Onofre Jr., em seu Guia da Cidade do Natal, divide a Praia do Meio em duas uma denominada de Praia dos Artistas, que começaria logo depois da ladeira do sol e outra em frente ao antigo Hotel dos Reis Magos. O Hotel dos Reis Magos foi demolido já foi referência na hotelaria potiguar.
O empreendimento funcionou como hotel de luxo entre 1965 e 1995, quando foi desativado, e em 25 de janeiro 2020, demolido.
O local estava em ruínas, deteriorado e acumulando lixo e sujeira.
Em 2013, o grupo anunciou que faria a demolição do prédio para a construção de um empreendimento comercial, mas a proposta gerou desconforto e protestos por parte de estudantes de arquitetura. Na avaliação da defesa da empresa, laudos comprovavam que a estrutura do prédio não suportaria uma restauração.

HOTEL DUCAL

Esse casarão ficava na rua João Pessoa, no bairro de Cidade Alta. De acordo com Tarcísio Medeiros, no ano de 1973, a casa foi utilizada para as reuniões dos organizadores do Partido Comunista Brasileiro (PCB) para realizar a Intentona Comunista.
Casarão dos Roselli. Onde foi construído o Hotel Ducal, João Pessoa com Rio Branco, Grande Ponto.

Na década de 60 o governo brasileiro começa a planejar a atividade turística, com a disponibilização de recursos e parcerias entre o governo federal e governos estaduais. Por isso, no início dos anos 1960, com recursos do governo federal, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e com recursos próprios, o governo estadual potiguar, de acordo com Caracristi (1994), viabiliza o planejamento e a construção de alguns projetos.

No ano de 1965, na Praia do Meio, foi instalado o Hotel Internacional Reis Magos, hoje abandonado (figura 15), e logo após o Hotel Monte Líbano, no centro da cidade, conforme aponta Lopes Júnior (2000). De acordo com este autor, esses empreendimentos não eram vocacionados para o turismo de massa e tinham como público alvo os empresários, autoridades, engenheiros e técnicos que se deslocavam para Natal em função da nascente industrialização e das intervenções habitacionais governamentais. O Hotel Monte Líbano, no ano de 1974, foi vendido ao grupo União de Empresas Brasileiras (UEB), alterando seu nome para Ducal Palace Hotel, conforme apontou Lopes Júnior.

Segundo Santos (2005, p. 94-98), no ano de 1971 eram as seguintes as indústrias instaladas diversas empresas no Rio Grande do Norte. Entre as quais o Ducal Palace Hotel.

No meio da Avenida Rio Branco com a Rua João Pessoa, 634, no Centro de Natal, existe um prédio cilíndrico conhecido por Edifício Ducal, construído no início do ano de 1971 e é constituído por 18 andares. A estrutura ainda chama atenção para quem passa andando por lá. Fica do lado da Praça Kennedy.

Como uma torre, sobe com o vento e para as nuvens, numa invenção de uma cidade elevada, quando era ainda vocacionada para ser plana e deitada como as dunas sobre o planalto sonolento. A cidade assume uma vocação vertical.

Esguio e reto, o Ducal não possui o pendor da torre de Pisa, revestido sem os vitrais, concreto e aço da torre Agbar, e quem sabe deste antepassado e certo que daquela irmanado, pela solidez das alturas e forma totalmente cilíndrica.

Inauguração

Em 1974, eles resolveram vender o citado hotel. Então, foi inaugurado no dia 05 de Novembro de 1976, um hotel quatro estrelas e dezoito andares para ser o hotel máximo da capital que crescia desde os sopros da Segunda Grande Guerra.

Foi chamado Ducal Palace Hotel. Bastante luxuoso para aquela época. Tornava-se o desenho concreto da cidade sempre nova por varrer os vestígios do passado e ser sempre cidade do presente.

Alguns anos depois, foi vendido à rede hoteleira Luxor Continental, no Rio de Janeiro. O último andar do prédio é um mirante que funcionava o antigo restaurante do hotel, que tem uma vista panorâmica da cidade em um ângulo de 360º. Este também por muitos anos funcionou como uma boate.

Sua história combina com o seu atual esvaziamento de não ser mais casa de hóspedes, mas espaço para outros usos, numa constante, distando muito da função com a qual, com garbo, requinte e hospitalidade, recebeu na cidade os seus visitantes. A inauguração resta na memória da cidade, até perder o palace, o Ducal, e permanecer hotel da rede carioca Luxor, batizado Luxor Hotel. Minguou à falta de hospedes, esvaziando-se a torre que, do seu alto, ainda observa a cidade, que sobe ao seu redor.

Depois de hotel, o prédio funcionou as Secretarias Municipais de Educação e Saúde. Desde a gestão de Micarla de Sousa, as secretarias mudaram para um outro prédio que funcionou um hotel na ladeira do sol.

Por anos, a Secretaria de Educação esteve instalada no Edifício Ducal, na Cidade Alta, e foi novamente este mesmo edifício, dentre os disponíveis, avaliado como o mais viável para abrigar os servidores da educação em 2013, mas devido a um parecer do Corpo de Bombeiros, a mudança/retorno para o edifício não aconteceu.

A parte do térreo é utilizada por um banco de empréstimo consignado. Mesmo não estendo nos tempos de glória, o Ducal ainda é utilizado como ponto de referência em Natal.

Hotel Ducal – Avenida Rio Branco – anos 70 – foto de Jaeci
Hotel Ducal durante o seu auge.
Ducal Palace Hotel, na década de 1970.
Ducal Palace Hotel em 2017, com salas para alugar.
O prédio em questão pode ser visto na foto.
Visão panorâmica do prédio.
Fotos comparativas nas décadas de 1980 e nos dias atuais. Não estão no mesmo ponto de vista, mas dá para te ter uma ideia das mudanças ocorridas.
Visão do Ducal nas décadas de 1980 e nos dias atuais a partir da Avenida Rio Branco.

HOTEL MAINE

A vinda do Projeto HOPE a Natal, parceria existente entre o RN e o Maine/EUA, através do Programa Companheiros das Américas. Sobre isso, um detalhe: essa “irmandade” era estabelecida levando-se em considerações alguns detalhes, no caso do RN com o Maine, estão localizados na Região Nordeste de seus países, são estados litorâneos e com forte atividade pesqueira, em especial, a pesca da lagosta. No RN, o início de suas atividades precede o Projeto HOPE.

Este programa, com sede em Natal/RN, cujo escritório funcionava na Casa do Maine – atual Hotel Maine, situado à Avenida Senador Salgado Filho, 1791, no Bairro de Lagoa Nova –, possibilitou a realização de atividades culturais, de intercâmbio para a aprendizagem de idiomas e o envio de materiais escolares às escolas públicas de Natal.

Casa do Maine, Natal/RN. Fonte: Acervo particular de Dayse Maria Gonçalves Leite.

VIA COSTEIRA

Natal passou a ostentar o título de cidade turística, tornando-se imprescindível às instituições públicas e privadas investirem nas diversas atividades que constituem a denominada indústria do turismo. Durante o processo de implantação da infra-estrutura necessária, criou-se o projeto de construção da Via Costeira. Obra considerada essencial para o desenvolvimento da rede hoteleira da capital potiguar. Com a assinatura do Decreto nº 7.237, de 22 de novembro de 1977, pelo então governador Tarcísio Maia, essa legislação declarou de utilidade pública as áreas de dunas adjacentes ao Oceano Atlântico, entre a Praia do Pinto e a praia de Ponta Negra, para fins de desapropriação. O projeto previa a edificação de hotéis, cinemas, restaurantes, conjuntos aquáticos, campos de esportes, oceanário, teatro e um centro de convenções.

O momento mais importante do empreendimento turístico foi, sem dúvida, a administração de Tarcísio Maia, quando, pela primeira vez, foi elaborado um projeto turístico para a cidade de Natal, buscando aproveitar as potencialidades da orla marítima, que resultou na construção da Via Costeira. Segundo Lopes Junior (2000, p. 39), a proposta primeira era construir, de acordo com um ex-Secretário de Planejamento, “uma ‘Copacabana’ local, com construções destinadas a moradores com alto poder aquisitivo”, mas a oposição ao projeto obrigou as autoridades a redirecioná-lo.

Embora não tenha implantado todos os itens previstos no projeto original, a construção da Via Costeira, e da estrutura ali desenvolvida, revelou-se de extrema importância para a economia do Estado do Rio Grande do Norte. A partir de então, Natal passou a receber um considerável fluxo de visitantes que proporcionou a consolidação de seu pólo turístico.

Embora não tenha se constituído na imaginada Copacabana local, a Via Costeira não deixou, nem por isso, de expressar uma opção preferencial pelo fortalecimento das elites econômicas locais. Os terrenos que acompanham a avenida, de propriedade da Marinha, foram transferidos ao Governo do Estado e repassados aos empresários do setor hoteleiro e donos de postos de gasolina a um custo que variou de U$ 0,68 a U$ 5,60 o metro quadrado. No mesmo período (anos 80), o metro quadrado em Ponta Negra (vizinha a Via Costeira) era de U$ 55,00 e na distante periferia, em Cidade Nova, chagava a U$ 8,00 (LOPES JUNIOR, 2000, p. 39).

O megaprojeto da Via Costeira constituiu na construção de uma imensa avenida que ligaria as praias urbanas de Areia Preta (praias do centro) à Ponta Negra, com aproximadamente 8,5 km de extensão. Esta foi inaugurada em 1983, e passou a ser o marco mais importante na expansão do turismo e também da transformação da paisagem costeira de Natal. O objetivo do projeto era dotar a área com uma infraestrutura hoteleira, até então insuficiente, para lançar a capital no cenário nacional do turismo. Esse é o início das primeiras ações no estabelecimento de políticas públicas de cunho federal, estadual e/ou municipal direcionadas para a implantação e ampliação da atividade turística regional e local. Com a atração dos investimentos públicos e privados para a construção de conjuntos habitacionais e de empreendimentos econômicos, possibilitou o desenvolvimento e mudanças na paisagem no entorno dessa área, dando destaque ao bairro de Ponta Negra.

De acordo com Cruz (1995), o Estado arcaria com o ônus da implantação da rodovia e da infraestrutura básica (água, esgoto e energia elétrica). Aos empresários seria oferecido financiamento cobrindo desde a aquisição de lotes de terra até a construção de hotéis. Com essas facilidades e a perspectiva de retorno financeiro pelo potencial turístico natural oferecido por Natal/RN foram negociados os terrenos da Via Costeira e iniciada, de tal modo, a construção dos primeiros hotéis.

No que se refere a instalação desses fixos no território, isto é, dos hotéis que irão permitir e aumentar o fluxo na cidade de Natal/RN, houve uma redefinição de concentração a partir da instalação dos hotéis nos anos 80.

Concomitante a esses investimentos, evidentemente, a urbanização turística não se faz apenas com a infraestrutura de vias de circulação e urbanização de praias criadas para o turismo. Os meios de hospedagem, também, são chaves, afinal, para a existência e receptação do fluxo turístico, são necessários alguns fixos, como as estadias. Estes, dessa maneira, redimensionam a atividade turística e dão a possibilidade de captar grandes quantidades de turistas que poderiam ir à Natal durante determinados períodos, principalmente na alta estação. O quadro abaixo apresentam quais Meios de hospedagem se instalaram na cidade de Natal na década de 1990.

Com essa quantidade de meios de hospedagem instalados, a composição da atividade
turística natalense obteve o acréscimo de mais de 1391 unidades habitacionais e 3834 leitos. Portanto, a capital potiguar novamente aumenta a capacidade de hospedar turistas de maneira relevante durante os anos 90.

Assim, perecebe-se como Natal tem sua concentração dos Meios de hospedagem em determinados pontos do território, fator este que ocorreu como consequência da localização dos investimentos efetuados pelo poder público até os dias presentes.

Desse modo Natal passou a ter fixos em seu território que permitiram fluxos e, consequentemente, novas redes. Com o acréscimo de infraestrutura nos anos 90, os meios de hospedagem também seguiram essa tendência, crescendo exponencialmente e, inclusive, dobrando o número de turistas recebidos se comparados com o início dessa década. Já a partir dos anos 2000, com a chegada de investimentos internacionais e turistas procedentes desses locais, os investimentos continuam ocorrendo e, até o ano de 2008, crescem consideravelmente. Nos últimos 10 anos, mesmo com a Copa do Mundo sediada pelo Brasil e, consequentemente, Natal, o ritmo de instalação dos Meios de hospedagem diminuiu. Notou-se, portanto, neste estudo a íntima relação entre o Estado e a iniciativa privada no que diz respeito aos MH e como a instalação destes foi fomentada pelo primeiro, principalmente nas áreas as quais o poder público dotou de infraestrutura correspondente e condizente com o que a atividade turística julga como necessária para desenvolver esse serviço – as áreas litorâneas e de bairros considerados nobres, nas Zonas Leste e Sul de Natal, próximas ao mar.

A Avenida Senador Dinarte Mariz, também conhecida como Via Costeira, é uma via expressa e litorânea de aproximadamente 10km que faz a ligação entre as zonas sul e leste de Natal, capital do estado brasileiro do Rio Grande do Norte. Localizada entre o Oceano Atlântico e as dunas do Parque das Dunas, a Via Costeira também pode ser considerada uma praia ou a continuação da Praia de Ponta Negra. O lado da praia é tomado por hotéis luxuosos de 4 a 5 estrelas, e alguns poucos restaurantes; o outro lado é totalmente tomado pelo Parque das Dunas – uma ampla área verde preservada pelo IDEMA.
É uma praia bastante calma, geralmente frequentada apenas pelos hóspedes dos hotéis próximos. Foi construída em 1985 pelo então governador José Agripino para ligar as praias urbanas à zona sul de Natal, dando início ao projeto turístico da cidade com a construção do primeiro hotel da Via Costeira, o Natal Mar Hotel de propriedade do empresário Sami Elali.
A Via Costeira é um dos sete pontos da “Área Especial de Interesse Turístico” do litoral, por isso, a praia é vigiada 24 horas por dia por algumas das 23 câmeras instaladas ao longo do litoral de Natal.

FONTES PRIMÁRIAS:

ANDRADE, Mário de. As tradições e o Nordeste. A República, Natal, n.01, p.03, 01 jan. 1929.

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Roseira brava: pós-romantismo e modernidade na poética de Palmyra Wanderley / Marília Gonçalves Borges Silveira. – Natal, RN, 2016.

Turismo e Território-Rede: um estudo sobre o destino Natal/RN / Hugo Aureliano da Costa. – Natal, 2018.

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