Os nomes de Natal

No dia em que o mundo cristão celebra o nascimento de Jesus Cristo, a capital potiguar comemora aniversário. Por isso foi batizada de Natal.

Em 25 de dezembro de 1599, com uma missa na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, ocorreu a fundação de Natal, cujo perímetro urbano era demarcado por duas cruzes, desde a atual Praça das Mães (limite norte) até a Praça da Santa Cruz da Bica (limite sul), ambas na Cidade Alta. Não existe um consenso entre os historiadores acerca do real fundador da cidade, pois, durante a presença holandesa no Rio Grande do Norte, os documentos históricos sobre a fundação de Natal foram destruídos. Alguns historiadores divergem entre Jerônimo de Albuquerque e Manuel de Mascarenhas Homem. Já o historiador natalense Luís da Câmara Cascudo, em seu livro “História do Rio Grande do Norte” (1955), indica João Rodrigues Colaço como fundador da cidade:

“ (…) Jerônimo d’Albuquerque não mais governava em março ou abril de 1599 e a 9 de janeiro de 1600, quinze dias depois da fundação da cidade. Colaço é Capitão da Fortaleza e prova ter trabalho de campo que demonstra autoridade no local. Assim tudo parece invalidar a tradição de Jerônimo d’Albuquerque, o fundador da Cidade do Natal e caber essa glória, a título provisório e até prova em contrário, a João Rodrigues Colaço. ”

DO NATAL OU DE NATAL?

Fundado em um dia de Natal, em 25 de dezembro de 1599, o nome do município tem origem no latim natale (algo como “local de nascimento”). Algumas vezes, o nome do município dentro de frases é antecedido de artigo masculino, como acontece em “do Crato”, “do Recife”, “do Rio de Janeiro”, entre outros. Em alguns sites e documentos oficiais, bem como no artigo 11 da constituição do Rio Grande do Norte, a cidade é referida com o artigo masculino: “A cidade do Natal é a Capital do Estado”.

CIDADE DOS REIS

Em 25 de dezembro de 1597, uma nova esquadra entrou na barra do que hoje é o Rio Potengi. A primeira providência adotada pelos expedicionários foi tomar precauções contra os ataques dos indígenas e dos corsários franceses. Doze dias depois, em 6 de janeiro de 1598, começou a ser erguida a Fortaleza da Barra do Rio Grande (que depois se tornou a Fortaleza dos Reis Magos), concluída no dia 24 de junho do mesmo ano. Antes de Natal ser fundada havia, ao redor da Fortaleza dos Reis Magos, um povoado que passou a se chamar Povoado de Reis, por causa disso, muitos documentos sobre a cidade a chamam de Cidade de Reis.

A esse respeito, gostaríamos de nos ater a um único relato – pouquíssimo explorado na historiografia do Rio Grande do Norte– do inglês Anthony Knivet, que esteve no Rio Grande em 1601 ou 1602, primeiramente porque confirma outros relatos semelhantes ocorridos antes mesmo da fundação de Natal e demonstra, assim, o caráter eminentemente militar da empreitada colonial inicial no Rio Grande, embora ele se refira exclusivamente aos inimigos índios, que não arrefeceram sua animosidade mesmo após os acordos de paz que assinaram com os portugueses, em 11 de junho de 1599, fato primordial para a fundação de Natal, em 25 de dezembro do mesmo ano. O relato também serve indiretamente como uma das explicações para a precariedade da cidade, como temos visto até aqui, uma vez que ela surge em tempos muito belicosos. Mas, o mais importante para este trabalho, é o fato de Anthony Knivet fazer menção não somente a uma, mas a duas fortificações perto da cidade. É o único cronista a fornecer tal informação. Apesar de visivelmente fantasioso e exagerado em alguns momentos, a essência do relato tem amplas razões para ser crível como um fato histórico.

Passados vinte dias que estávamos na cidade [Pernambuco], Feliciano Coelho [capitão-mor da Paraíba] mandou avisar a Mascarenhas Homem [capitão-mor de Pernambuco] que ele estava cercado no Rio Grande pelos Potiguaras, e que se não fosse socorrido por ele, ele seria obrigado a perder a Cidade dos Reis, com a perda de suas vidas.

Anthony Knivet, um jovem soldado de Norfolk com poucos escrúpulos e um grande desejo de fortuna, foi o único sobrevivente do massacre de São Sebastião. Ao longo de nove anos em que esteve no Brasil trabalhou como escravo para o governo português. Ele escapou à Inglaterra em 1601. Teria permanecido desconhecido se não fosse o primeiro relato extenso sobre o Brasil escrito por um inglês no livro ‘As Incríveis Aventuras e Estranhos Infortúnios de Anthony Knivet’ (The Admirable Adventures and Strange Fortunas do Mestre Antonie Knivet) em 1625. A imagem é uma reprodução coreografada da a minissérie da TV Escola intitulada ‘Anthony Knivet, da Indiana Produções, associada BRAVI.

Do Recife, 4 de dezembro de 1608, o Governador D. Diogo de Menezes escrevia a Sua Majestade sobre Natal, fundada há dez anos: “a povoação que está feita não tem gente” (Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, vol. LVII, 1935, págs. 42-45). E sabemos que ao tempo de João Rodrigues Colaço só existiam em Natal duas mulheres brancas: a dele e a de um sentenciado a degredo, que veio a ser madrinha do filho do capitão-mor (Frei Vicente do Salvador, História do Brasil, São Paulo, Companhia Melhoramentos de São Paulo, s.d., revista de Capistrano de Abreu e Rodolfo Garcia, pág. 378.). Quando o sargento-mor Diogo de Campos Moreno escreveu, sob recomendação de D. Filipe II, o Livro que dá Razão do Estado do Brasil, 1612, Natal era uma povoação apenas nascente: “tem pobremente comodados até vinte e cinco moradores brancos” (Diogo de Campos Moreno, Livro que dá Razão do Estado do Brasil – 1612, edição crítica, com introdução e notas de Hélio Vianna, Recife, Arquivo Público Estadual, 1955, pág. 209).

A foz do Rio Grande: planta geral e recorte ampliado (1609). Fonte: Moreno (1609). Ver prancha PT-TT-MR-1-68 m0005.TIF. As notas explicativas, pertencentes à mesma fonte, foram transcritas por Medeiros Filho, (1997: 93-95).
A foz do Rio Grande: planta geral e recorte ampliado (1609).

O mapa de João da Teixeira, de 1612, também. Viajantes do século seguinte chamam a cidade de Natal dos Reis.

Mapa intitulado Rio Grande, publicado em 1631, de autoria de João Teixeira Albernaz
Detalhe de um mapa elaborado por João Teixeira Albernaz, incluído no “Livro que dá razão do Estado do Brasil (1612)

O Frei Vicente de Salvador, por exemplo, na primeira História do Brasil, em 1627, nos chama assim. Este trecho faz parte da obra de Frei Vicente do Salvador, considerado o primeiro historiador do Brasil relata sobre a fundação de Natal como “uma povoação a que chamam cidade dos Reis”. Considerando que o verbo está no presente – “chamam” – assim como o ano de sua publicação, 1627, o uso do título de cidade pode não remontar a sua fundação, já que 28 anos haviam se passado entre esta fundação (1599) e a publicação deste relato. Contudo, como veremos adiante, outras fontes documentais escritas por volta da fundação da capital potiguar a denominam invariavelmente de “cidade”.

Frei Vicente do Salvador (nascido Vicente Rodrigues Palha; Salvador, c. 1564 — Salvador, c. 1636–1639) foi um religioso franciscano nascido no Brasil Colonial. Sua vida é pobremente conhecida e sua fama repousa sobre dois escritos, Crônica da Custódia do Brasil, e principalmente a História do Brasil (1627), valiosos relatos históricos e corográficos sobre a vasta colônia portuguesa na América em seus primeiros tempos. Este legado documental, cuja importância a crítica reconhece em consenso, lhe valeu os epítetos de Pai da Historiografia brasileira, ou Heródoto brasileiro. Sua vida como religioso também foi relevante, recebendo várias atribuições de responsabilidade e fundando o convento de Santo Antônio do Rio de Janeiro.

Em 1627, Domingos da Veiga que morou em Natal e depois mudou-se para Fortaleza, tinha escrito: “a povoação é muito limitada, a respeito dos moradores estarem e morarem nas suas fazendas, onde muito deles têm suas casas mui nobres” (Domingos da Veiga, “Descrição do Rio Grande”, Revista Trimestral do Instituto do Ceará, t. XXXIV,1920, págs. 258-260). Em 1628, tinha uma igreja e oito casas, conforme o depoimento de um grupo de índios em Amsterdam, redigido por Hessen Gerritsz.

Melchior Estácio do Amaral, escrevendo sobre o naufrágio da nau S. Mago, diz que a cidade chamava-se Santiago, tinha três casas de pedra e cal. Southey faz referência à cidade informando que a mesma fora fundada com a denominação de Santiago, passando posteriormente a chamar Três Reis. Curiosamente ele também informa que João Rodrigues Colaço foi o encarregado de fundar o Forte dos Reis Magos, no que comete equivoco. Colaço foi apenas o primeiro governador do Forte, porquanto o primeiro capitão – mor da capitania do Rio Grande.

Sem sermos exaustivos, seguem alguns trabalhos que trataram da fundação de Natal e que indicam o seu status urbano inicial. Começamos com os autores que alegam ter sido Natal uma vila no seu nascimento. Assim, Rocha Pombo afirma:

(…) Já existia, conforme se viu, nas vizinhanças do forte, um arraial a que se dava o nome de cidade dos Reis. Aquele não era, no entanto, o local mais próprio para a futura cidade; e deliberou-se escolher um sítio mais amplo, em lugar mais elevado, à margem direita do rio, a cerca de meia légua do forte (…) dentro de poucos meses estava mudada a povoação, e pronta a capela, que foi inaugurada em dezembro do mesmo ano (1599), dizendo-se a primeira missa com toda solenidade no dia 25: circunstância que se aproveitou para dar à vila o nome de Natal (POMBO, 1921, p. 46-47).

O próprio Câmara Cascudo chega a afirmar que houve “nome anterior deixando vestígio na história e cartografia erudita”: Cidade dos Reis, Cidade Nova, Cidade de Santiago (1999, p. 53-54). Frei Vicente do Salvador e Melchior Estácio do Amaral (apud MEDEIROS FILHO, 1991, p. 30-31) citam, respectivamente, Cidade dos Reis e Cidade de Santiago. “Nenhuma referência”, segundo Medeiros Filho (1991, p. 31), é feita ao topônimo NATAL, denominação que somente surgiria em documento de 1614”.

Melchior Estácio do Amaral, escrevendo sobre o naufrágio da nau S. Mago, diz que a cidade chamava-se Santiago, tinha três casas de pedra e cal. Southey faz referência à cidade informando que a mesma fora fundada com a denominação de Santiago, passando posteriormente a chamar Três Reis. Curiosamente ele também informa que João Rodrigues Colaço foi o encarregado de fundar o Forte dos Reis Magos, no que comete equivoco. Colaço foi apenas o primeiro governador do Forte, porquanto o primeiro capitão – mor da capitania do Rio Grande.

O Marquês de Bastos escrevendo em 1654, chama Natal de Cidade dos Reis. As antigas nomenclaturas ressurgem.

SANTIAGO

Porém um dos nomes interessantes que a cidade teve foi Santiago. Quem nos conta essa história é Capistrano de Abreu. Ele diz que o rei de Espanha ordenara a fundação de uma cidade às margens do rio Potengi para proteger a costa da sua nova colônia (com a união das coroas ibéricas, de 1580 a 1640, Felipe II de Espanha se tornou rei de Portugal também). O nome desta cidade deveria ser Santiago, colocada debaixo do padroado deste santo.

Olavo de Medeiros Filho (1991, p. 29-32), que discorre sobre sua fundação, sequer discute o status de Natal como cidade, que lhe parece certo. Traça um rápido paralelo com a cidade de Filipéia, atual João Pessoa, fundada anteriormente, para justificar um dos nomes de Natal que aparece em um dos documentos, “cidade de Santiago”.

Contudo, os portugueses que viviam aqui consideravam Santiago um santo espanhol demais. A coroa espanhola tinha uma especial afinidade com este santo, inclusive, desde 1175 havia fundado uma ordem militar religiosa, cujo padroeiro era São Tiago visando a expulsão dos muçulmanos. Em 1288 a ordem entrou em Portugal, porém conflitos constantes entre o mestres em Castela e sua ramificação portuguesa fizeram com que o papa João XXII, em 1320, separasse definitivamente as duas ordens. O conflito, pelo jeito, permaneceu por muito tempo na memória dos portugueses, tanto que eles não demonstraram nenhum interesse pelo apóstolo e preferiram invocar o protetorado dos Três Reis Magos e Nossa Senhora da Conceição e, mais tarde, da Apresentação. Com isso desobedeceram a ordem real e batizaram a cidade em homenagem a data do nascimento de Cristo e a colocaram sobre a proteção de outros santos também.

Os náufragos da nau Santiago, que estiveram em Natal em 1602, deixaram o seguinte registro:

Neste Rio Grande, que dista da Paraíba quarenta léguas, se viu esta peregrina gente em aperto, por falta de mantimentos, que não havia, nem os soldados que ali residiam naquele Rio, os tinham para lhos darem, antes padeciam necessidade. Acharam na nova cidade de Santiago, que ali se principia, e tem já três casas de pedra e cal, a D. Beatriz de Menezes, mulher do capitão dali, João Rodrigues Colaço, que naquele dia era ausente, e ela os agasalhou e proveu com grande caridade o que foi possível […] por aldeias deste Rio, e nova cidade andavam na conversão do gentio dois padres da Companhia de Jesus […] (BRITO, 1905, p. 60-61).

OS REIS

Atribui-se o mapa reproduzido na abaixo ao cosmógrafo João Teixeira Albernaz I (o Velho), o qual acompanha o texto intitulado “Rio Grande capitania de sua Majestade”, no “Livro que dá razão do Estado do Brasil”, de Diogo de Campos Moreno. Além da cidade do Natal e da fortaleza, ainda sem sua capela central, o mapa mostra duas aldeias indígenas, uma das quais, na margem esquerda do Rio Potengi, é a do chefe indígena Camarão. A outra está situada nas proximidades da lagoa de Guaraíras, hoje município de Arez, portanto, bem distante do sítio inicial da cidade. No recorte, vemos no ponto “A” a cidade, denominada “os Reis”, representada por um conjunto de casas muito simples, a localização da fortaleza e uma série de edificações esparsas no território, acompanhando a margem do Rio Potengi e de seus afluentes.

Rio Grande capitania de Sua Majestade (c. 1616). Planta geral e recorte ampliado. Fonte: MORENO, Diogo de Campos. Livro que dá razão ao Estado do Brasil. Biblioteca Municipal do Porto (BMP).

No Guilher Sanson, de 1679, é Natal ò los Reys. O Zurniri, de 1709, registra Natal los reys. O Janvier de 1782, chama-a Natal los Reys ou Rio Grande. O Vougndy, corrigido por Lamarche, registra Natal los Reys ou Rio Grande. O Lapier de 1814, cita Ciudad Nova ou Natal. Decide-se pela última na edição de 1820.

CIDADE DO RIO GRANDE

A cartografia antiga também parece atestar o predicamento de cidade para Natal desde muito cedo. Dois de uma série de mapas desenhados pelo famoso cartógrafo João Teixeira de Albernaz I (O Velho), reunidos e publicados em 1640, representam toda a costa da capitania do Rio Grande. Num deles, que mostra o litoral oriental, ele localiza a cidade do Natal, que chama de “cidade do Rio Grande”, a Fortaleza dos Reis Magos, além do Rio Potengi e outros acidentes geográficos da costa, alguns dos quais com os nomes atuais, como o Rio Doce e o Ceará, atual Ceará-Mirim.

O litoral oriental da Capitania do Rio Grande (1640). Fonte: Descrição de todo o marítimo da Terra de Santa Cruz chamado vulgarmente, o Brasil, de João Teixeira Albernaz I (o Velho). Original na Torre do Tombo, Lisboa. Imagem cedida pela ANTT (PT/TT/CART/162). Disponível em: http://www.brasil-turismo.com/rio-grande-norte/imagens/rio-grande.jpg. Acesso em 05/06/2018.

A imagem abaixo faz parte de um conjunto de mapas representando toda a costa do Brasil, de autoria desconhecida e publicado em 1640. Esse Atlas se assemelha ao Atlas de João Teixeira Albernaz I, do mesmo ano, que veremos adiante. Duas pranchas representam a costa da capitania do Rio Grande, uma das quais mostra a cidade do Natal. Além da foz do rio, da Fortaleza dos Reis Magos e da cidade propriamente dita, denominada de Cidade do Rio Grande, como mostra o recorte ampliado, o mapa ainda localiza vários rios da costa para além do Potengi. Na cidade, há dois edifícios de maior porte, talvez a igreja e a sede do Senado da Câmara, e um mobiliário que parece ser um cruzeiro.

O Rio Grande. Mapa completo e recorte ampliado (1640).
Fonte: Atlas da costa do Brasil. Biblioteca Nacional de Portugal (BNP)

As informações contidas no mapa abaixo são semelhantes às do mapa anterior, um devendo ser cópia do outro, sem que seja possível definir qual é o original. Ambos são acompanhados de um breve texto explicativo descrevendo o litoral e a foz do Potengi e foram publicados por volta de 1640. O da Figura, porém, com uma representação gráfica mais colorida e viva, apresentando Natal com maior imponência, com mais edificações. Apresenta, ainda, uma edificação a meio caminho entre a cidade e a fortaleza, e uma praça mais definida, no centro da qual se localiza o que pode ser o pelourinho, o cruzeiro ou mesmo uma forca, além de mostrar as edificações que a delimitam. Esse mapa, como o anterior, denomina Natal de a Cidade do Rio Grande.

A Fortaleza dos Reis Magos, a barra do Rio Grande e “a cidade dos Reis” (Natal) – c. 1640. Mapa completo e recorte ampliado. Fonte: ALBERNAZ I, João Teixeira (o Velho). Descrição de todo o marítimo da Terra de Santa Cruz chamado vulgarmente, o Brasil. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. (PT/TT/CART/162). Imagem cedida pela ANTT.

Dois mapas, um português, outro holandês, ambos do século XVII, já permitem identificar o processo, obviamente ainda muito rarefeito, de ocupação não indígena dessa mesma faixa litorânea. O primeiro acima, de autoria do famoso cartógrafo João Teixeira de Albernaz I (O Velho), faz parte de uma série de mapas que ele desenhou, reunidos e publicados em 1640. As duas pranchas da Figura acima mostram respectivamente o litoral oriental, com a localização da cidade do Natal, chamada de “cidade do Rio Grande”, e a fortaleza dos Reis Magos, além do Rio Potengi e outros acidentes geográficos da costa, alguns dos quais com os nomes atuais, como o Rio Doce e o Ceará, atual Ceará-Mirim. A segunda prancha apresenta a continuação do litoral oriental e o litoral norte, no qual constam alguns acidentes e locais cujos nomes chegaram até nós, como o Rio Guamaré, na foz do qual se encontra uma salina. Os holandeses foram os primeiros a explorar o sal na região.

Fonte: Descrição de todo o marítimo da Terra de Santa Cruz chamado vulgarmente, o Brasil, de João Teixeira Albernaz I (o Velho). Original na Torre do Tombo, Lisboa. Disponível em: http://www.brasil-turismo.com/rio-grande-norte/imagens/rio-grande.jpg
Praefectura de Paraiba, et Rio Grande (1647, c. 1665). Mapa completo e recorte ampliado.

O segundo mapa, holandês acima, atribuído a Joan Blaeu, representa o litoral oriental das Capitanias da Paraíba e do Rio Grande. No caso do Rio Grande, o litoral oriental. Um estudo aprofundado deste mapa, publicado em 1665, revelaria uma série de informações interessantes sobre o processo de ocupação dessa faixa litorânea, como a existência de povoados, aldeias indígenas, fortalezas, engenhos, currais e caminhos, além da cidade do Natal, que destacamos com um ponto em vermelho.

Fonte: BLAEU, Joan. Praefectura de Paraiba, et Rio Grande. Atlas Maior … Amsterdam, 1665. David Rumsey Historical Map Collection. Mapa disponível em https://www.davidrumsey.com/luna/servlet/detail/RUMSEY~8~1~282902~90054407:Praefectura-De-Paraiba,-Et-Rio-Gran. Acesso em: 5 jun. 2018.

O mapa da Figura acima é parte integrante do Atlas Maior Sive Cosmographia Blaviana, Qua Solvm, Salvm, Coelvm, Accvratissime Describvntvr, publicado em 1665. Reproduz outro mapa holandês, também muito conhecido, de mesmo título, publicado em 1647, durante a ocupação holandesa do atual Nordeste brasileiro, de autoria de Georg Marcgraf.

Mostra as capitanias do Rio Grande e da Paraíba. Um estudo aprofundado de qualquer dos mapas, o de 1647 ou este de 1665, cópia do anterior, revelaria uma série de informações interessantes sobre o processo de ocupação dessa faixa litorânea, como a existência de povoados, aldeias indígenas, fortalezas, engenhos, currais e caminhos.

CIDADE NOVA

Nosso interesse, porém, se resume à cidade do Natal e o seu entorno, e nesse sentido reproduzimos aqui a planta feita por Luana Cruz, baseada no mapa de Marcgraf, de 1647, no trecho que envolve a região de Natal e seu entorno. As informações que a autora colheu são exatamente as mesmas do mapa de Joan Blaeu, de 1665, reprodução daquele.

Natal e seu entorno. Fonte: desenho elaborado por Luana Cruz e Hélio J. de Oliveira Jr. (CRUZ, 2015, p. 95)17 sobre original de
MARCGRAF (1647).

Barléu, historiador do Brasil holandês, em seu livro escrito em latim e publicado em 1647, diz o seguinte a respeito de Natal:

Depois desta vem a província do Rio Grande com quatro freguesias. Fica aí a vila de Natal, de aspecto triste e acabrunhador pelas suas ruínas, vestígios da guerra. Deu-se permissão aos moradores de edificar nova cidade, em lugar mais feraz e em sítio mais vantajoso, na freguesia de Potengi. A légua e meia de Natal vê-se o forte de Ceulen (BARLÉU, 1974, p. 128).

Barléu, historiador do Brasil holandês, continua a insistir na precariedade da cidade e, por conseguinte, de seu casario, que ele não menciona diretamente. Sua constatação se insere num contexto agravador, o da guerra de conquista pelos holandeses, como ele mesmo destaca. Não é preciso muita reflexão para concluir que, considerando a quantidade de casas no espaço da cidade nascente, essas habitações estavam necessariamente dispersas no território, seja no entorno da praça central, seja em direção ao Rio Potengi, por razões das atividades dos seus moradores.

Novos assentamentos urbanos no entorno, como Itinga e a Cidade Nova: A documentação manuscrita do período da ocupação holandesa do Rio Grande (1633-1654) confirma vigorosamente a existência de uma Cidade Nova, como aparece na Figura acima (1665). Além dos escritos do historiador Barléu, que transcrevemos acima, cartas e despachos lavrados por outras autoridades da mesma nacionalidade evidenciam providências efetivamente tomadas para a construção dessa nova cidade, em substituição a Natal. Ela ficaria na confluência do Rio Potengi com o Jundiaí (MOURA, 1986, p. 106-107). Pedro Moura, baseando-se em outros autores, como Hélio Galvão, cita vários documentos holandeses que
apontam efetivamente para a existência dessa cidade nova, inclusive a citação do próprio Barléu.

Johan Neuhof, por exemplo, se refere a essa nova cidade – denominada de Amsterdam – assim como a Natal, nos seguintes termos:

Acima do Rio, há uma cidade denominada Amsterdam. Seus habitantes vivem da pesca, da produção de farinha e do plantio de fumo […] perto da aldeia de Natal e do Forte dos Reis Magos passa um rio conhecido por rio da cruz que nasce de um pequeno lago no Rio Grande (NEUHOF apud MOURA, 1986, p. 107).

A ideia de se fundar uma “nova cidade”, mencionada por Barléu, resulta da precariedade de Natal, situação agravada certamente com a conquista da capitania pelos batavos, que inclusive levou ao abandono da cidade por parte dos seus poucos moradores. Entretanto, para além dessas referências documentais holandesas, não temos conhecimento de qualquer outra fonte ou vestígio, por exemplo, arqueológico, que confirme que essa cidade nova realmente existiu. Deve ter sido algo efêmero. A rigor, teria sido o único período em toda a história da cidade em que ela perdeu o seu status de capital. Quanto à povoação de Itinga, ela corresponde, hoje, à povoação Utinga, no município de São Gonçalo do Amarante.

Gravura flamenga incluída no livro de Barleu, representando a barra do Rio Grande e arredores.
Seção do mapa de Marcgrave, incluído no livro de Barleu, onde se vê assinalada a Cidade Nova

NOVA AMSTERDAM

De 1633 a 1654, durante o domínio holandês sobre a Capitania do Rio Grande, foram alterados os topônimos da cidade, modificado para Nova Amsterdã, e da Fortaleza dos Reis Magos, símbolo da conquista portuguesa nos trópicos. “Em vez de Santos Reis, aclamam o Castelo de Ceulen [ou Keulen]” (CASCUDO, 1999, p.65), A denominação era “uma homenagem ao General Mathias Von Keulen, alto conselheiro da Companhia das Índias Ocidentais e que fizera parte da expedição vitoriosa” (NESI, 1994). Tais mudanças, entretanto, foram efêmeras. Quando os holandeses foram expulsos do Brasil, as tradicionais denominações lusitanas são retomadas.

Durante o domínio holandês, a cidade passou a se chamar New Amsterdam, Nova Amsterdam ou simplesmente Amsterdam, conforme Cascudo. Joan Nieuhof, contemporâneo dos fatos, cita que a cidade acima do Rio Grande chama-se Amsterdam e é de pequena importância.

Em junho de 1645, sob o domínio holandês, índios canibais invadem a capela de Nossa Senhora das Candeias na hora da missa, fecham as portas e praticam o massacre a 69 católicos, entre eles, o Padre André de Soveral, em Cunhaú. Em outubro de 1645, oficiais holandeses matam brutalmente 80 fiéis católicos em Uruaçu. Em 05 de março do ano de 2000, em Roma, o Papa João Paulo II beatifica os primeiros protomártires norte-Riograndenses, e em Natal o Monsenhor Lucilo Machado oficializa às 9h e30 min a primeira missa em louvor aos beatificados.

Veroveringe van Rio Grande in Brasil (1633). Estampa completa e recorte ampliado. Seção de Mapoteca e Iconografia do Ministério das Relações Exteriores no Rio de Janeiro, sob a notação: VEROVERINGE VAN RIO GRANDE IN BRASIL (1633).
Fonte: Seção de Mapoteca e Iconografia do Ministério das Relações Exteriores no Rio de Janeiro. Cópia digital disponível em http://www.sudoestesp.com.br/file/colecao-imagens-periodo-colonial-rio–grande-norte/685/. Acesso em: 5 jun. 2018.

A Figura acima reproduz uma estampa de autor não identificado, Veroveringe van Rio Grande in Brasil, ou a “conquista do Rio Grande no Brasil” pelos holandeses, em 1633. A Fortaleza dos Reis Magos está visivelmente superdimensionada. Há um acampamento holandês e uma edificação por trás das dunas próximas à fortaleza. Navios holandeses estão fundeados na foz do Rio Potengi e no mar; tropas avançam em direção à fortaleza, por meio de dois caminhos, um dos quais passando perto da cidade. Entre a fortaleza e a cidade se localiza um córrego ou afluente do Potengi, com sua nascente numa lagoa; sobre o córrego há uma ponte, que faz parte de um dos caminhos utilizados pelas tropas holandesas se dirigindo à
fortaleza. O recorte mostra a cidade do Natal, aparentemente com alguma cerca ou paliçada em parte dela, com alguns soldados margeando a cerca, talvez representando portugueses tentando defendê-la. As casas são dispersas, com diferentes dimensões.

Há outra estampa do período holandês, intitulada Afbeelding van Tfort opRio Grande ende Belegeringhe, publicada no livro do geógrafo holandês Joannes de Laet, em 1644 (LAET, 1912, p. 340-341), que também ilustra o cerco da fortaleza, mas difere levemente da estampa da Figura. O riacho entre a fortaleza e a cidade que tem como nascente uma lagoa é denominado, no livro de Laet, de “rio da cruz” (kruy’s rivier); um caminho, e não dois, liga a cidade – chamada de “aldeia dos portugueses” (het dorp van de portugezen) – à fortaleza, antes denominada de Forte Três Reis, agora Forte Ceulen. A cidade também é representada de forma aproximada à da Figura, mas sem caminhos ou paliçada no seu entorno, e com destaque para uma edificação de grande porte. Perto da fortaleza se encontra o mesmo acampamento militar, mas com três baterias de morteiros sobre as dunas; a edificação que lhe fica próxima também é representada, mas é identificada como o alojamento de Mathias van Ceulen, comandante da expedição holandesa que conquistou a capitania em 1633 e em homenagem ao qual a fortaleza foi renomeada. Do outro lado do rio, há outro assentamento. Essa estampa é acompanhada de um texto bastante detalhado sobre a conquista do Rio Grande, de autoria de Joannes de Laet, na mesma obra. No seu relato, ele descreve o ataque e rendição dos soldados da fortaleza, bem como a ocupação da “vila de Natal” (p. 341-346).

E como era Natal nesta época: Joan Nieuhof e Adriaen van der Dussen também informaram sobre Natal, já ocupada pelos holandeses. O conselheiro Dussen afirma que Natal não existia mais: a capitania “já teve uma cidadezinha chamada cidade de Natal, situada a uma légua e meia do Castelo Keulen, rio acima, mas está totalmente arruinada” (Adriaen van der Dussen – “Relatório sobre as Capitanias Conquistadas no Brasil pelos holandeses” (1639), tradução, introdução e notas de José Antônio Gonçalves de Melo Neto, Rio de Janeiro, Instituto do Açucar e do Álcool, 1947, págs. 78-79.) e sobre este informe escrevia depois o panegirista de Nassau, Gaspar Barleu ser “a Vila de Natal de aspecto triste e acabrunhador pelas suas ruínas e vestígios de guerra” (Gaspar Barleu, História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil pelos holandeses, tradução e anotação de Cláudio Brandão, Rio de Janeiro, Serviço Gráfico do Ministério da Educação, MCMXL, pág. 128.). Em vista disso, na várzea do Potengi, confluência do rio Jundiaí, foi edificada a capital holandesa da capitania, a cidade de Amsterdam, onde funcionou a Câmara de Escabinos (Joan Nieuhof, Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil, tradução de Moacir M. Vasconcelos, introdução, notas e crítica bibliográfica de José Honório Rodrigues, São Paulo, Livraria Martins, 2ª ed., 1951, págs. 59-60. A mesma informação em Dussen, loc. cit., e Barleu, loc. cit.).

NATALÓPOLIS

Em 1654, D. João IV, Rei de Portugal, doou, para Manoel Jordão,  parte do território do Rio Grande, que alguns dizem ter sido Natal, por isso chamado de Natalópolis, que ele não tomou posse por ter naufragado na entrada do Rio Potengi, e, por isso, o feudo retornou a Coroa.

Câmara Cascudo, no livro História do Rio Grande do Norte, estranhando, disse de Manoel Jordão: de quem desconheço vida e feitos justificativos da mercê de D. João IV, autor de tão curiosa forma de agradecimento aos seus vassalos norte-rio-grandenses.

Júlio Gomes de Senna, no livro Ceará-mirim, exemplo nacional, acrescenta que Aires do Casal quando registrou esse fato, chamou Natal de Natalópolis.

Gottfried Heinrich Handelmann, no livro História do Brasil, traduzido pelo IHGB, e publicado pelo MEC, escreveu: Nos anos 1654-1656 fez o Rei D. João IV doação da capital, Natal, com suas dependências, a Manoel Jordão; porém, quando esse donatário aqui chegou para tomar posse, naufragou a sua embarcação à entrada, no Rio Potengi, ele próprio pereceu, e o seu feudo reverteu à Coroa.

Mais tarde elevou o Rei D. Pedro II esta mesma terra à categoria de condado, em favor de Lopo Furtado de Mendonça (1689), resta saber, contudo se com esse título, conde do Rio Grande, acaso estava ligado algum direito de posse, pois não se falou mais nisso.

Encontro através da internet pessoas com o nome de Manoel Jordão. Desconfio que Aires do Casal  juntou em 1817 pedaços de histórias para construir essa sobre a doação de D. João IV.

Em um de seus artigos em Velhas Figuras, Cascudo diz: Vicente Lemos acreditava que a primeira nomeação de Vaz Gondim para o Rio Grande do Norte tinha sido em janeiro de 1656. Parece ter sido muito antes. Em 8 de abril de 1657, o Governador Geral do Brasil, Francisco Barreto de Menezes, o vencedor de Guararapes, informa a Vaz Gondim: com esta remeto a V. M, patente para continuar no exercício desse posto. Se a nomeação fosse de 1656 não era possível aparecer essa patente, no ano seguinte, mandando continuar no exercício. O prazo mínimo de governo era de três anos. Expirado o prazo legal e o Governador mandava o Capitão-mor continuar.

Em 7 de abril de 1659, o mesmo Governador Geral oficiava ao Senado da Câmara do Natal, comunicando que Vaz Gondim continuava na administração. O Senado da Câmara havia solicitado a permanência do capitão mor pelos excelentes trabalhos que havia empreendido. Continua Cascudo. Governara de 1654 a 1656, de 1657 a 1659 e fora a pedido do Senado da Câmara, reconduzido para 1660-61-62. Ficou até 5 de Dezembro de 1663.

Hélio Galvão, entretanto, diz que para o Rio Grande o primeiro capitão-mor despachado foi Antonio Fernandes Furna (nomeado por carta de 6 de junho de 1654,  parente de Calabar, mas pelo visto de fidelidade provada à causa brasileira. Diz mais adiante, que substituiu-o em princípios de 1656, Antonio Vaz Gondim.

Com relação a esses capitães-mores é possível que todos estejam parcialmente certos e, talvez, as datas de governo sejam diferentes, como também o tempo dos mandatos. Era um período de reconstrução, após a saída dos holandeses.

Pode ter acontecido o seguinte: Veio Antonio Fernandes Furna por conta da nomeação em 1654; depois, na sequencia, assumiu Manoel de Abreu Soares, por conta da nomeação de 1656, tendo governado por pouco tempo; Em seguida veio Antonio Vaz Gondim, tendo começado no fim de 1656 ou no começo de 1657, e durado mais de seis anos, nessa sua investidura.

Com relação a esse Antonio Fernandes Furnas, encontramos nos documentos sobre pagamento de tropas, aqui no Rio Grande do Norte,  anotações sobre um filho dele de nome Luiz de Sousa Furna. Ele foi socorrido com pagamento em dois períodos: de 12/10/1729 até 27/8/1731 e de 27/8/1731 até 26/8/1733.

Em 1817, Aires do Casal escreve na Cosmografia Brasílica que o nome da cidade era Natalópolis.

Como era Natal neste período?

As construções iniciais eram feitas de taipa e telha, e o desenvolvimento foi bastante lento, visto que 15 anos após a sua fundação existiam apenas doze casas, e ainda em 1631 o número aumentou para sessenta.

O bairro da Ribeira também foi um dos primeiros da cidade, tendo seus primeiros moradores a partir de 1603. Recebeu esse nome porque onde atualmente está a Praça Augusto Severo existia um grande alagado do rio Potengi. Existia uma ponte de madeira que interligava a Cidade Alta a Ribeira.

Era um bairro que abrigava muitos comércios, plantações e armazéns de mercadorias exportadas para Pernambuco, posteriormente também caracterizado pela sua boemia. Também teve um lento crescimento, o que comprova que até meados do século XVIII, Natal pouco evoluiu.

Durante o século XVII, os bairros da Cidade Alta e da Ribeira constituíam os limites da cidade, que contava com poucos moradores e também tinha como única edificação a igreja matriz. Nessa época a cidade pouco se desenvolveu. Pode-se observar no mapa a seguir a limitada estrutura da cidade, e o alagado do rio Potengi era o que dividia o território dos bairros.

Forte dos Reis Magos. Pintura de Frans Post, 1638. O forte, construído em 25 de dezembro de 1599, no lado direito da barra do rio Potengi, Rio Grande do Norte. Recebeu esse nome em função da data de início da sua construção, 6 de janeiro de 1598, dia de Reis pelo calendário católico. Época em que o litoral Nordeste do Brasil, estava ameaçada por corsários franceses que ali traficavam o pau-brasil.
Planta do Forte do Rio Grande e arredores, gravura holandesa contemporânea da conquista da capitania (1633).

TRAMPOLIM DA VITÓRIA

Para falar de Parnamirim Field e do Trampolim da Vitória no Rio Grande do Norte, precisamos falar a origem da região, que era abrigada por tribos indígenas nas margens do rio Pitimbu, e depois foi constituída por vários engenhos que formam os mais diversos bairros da região. Mas, no início do século XX.

Em 1927, o piloto francês Paul Vachet instalou um aeródromo na região, pela Compagnie Generale Aéropostale (CGA). O lugar, que tinha mais ou menos mil metros quadrados de área, ficava no Engenho Pitimbu, doado por Manuel Machado, empresário rico da região e dono de comércios e terras espalhadas pelo estado.

Demorou três meses para ficar pronto, e o seu primeiro pouso aconteceu no dia 14 de outubro de 1927, quando um avião do Senegal pousou na região. Neste período também passou a receber voos nacionais, e o Governo do RN construiu uma estrada de terra para chegar até a região.

Depois, Manuel Machado vendeu um outro pedaço de terra do aeródromo para Air France, que comprou a CGA posteriormente e operou no local até junho de 1940, período no qual a França se rendeu aos nazista e o aeródromo foi desativado.

Nesta época, os Estados Unidos viram a oportunidade de vencer a Segunda Guerra Mundial.

Os americanos entraram na guerra após ter recebido ataques do Japão e da Alemanha. Então, buscava territórios próximo da Europa para que o ataque fosse mais efetivo. Assim, eles descobriram Natal, cuja posição fica mais próxima da Europa e da África, se comparada as outras regiões do continente americano. Por isso, algumas pessoas chamam a região de Esquina do Continente.

Mas, para os americanos, essa posição estratégica fez com que os soldados praticamente saltassem as terras europeias por pouco tempo, como se fosse um trampolim. Logo, surgiu o apelido de Trampolim da Vitória, no Rio Grande do Norte.

A instalação dos norte-americanos na Cidade durante a Segunda Guerra Mundial pode ter adquirido um significado de reconhecimento do lugar. Porém, aos norte-americanos interessava não apenas a cidade, mas todo o litoral nordestino, de onde se ressaltava o “saliente do Nordeste”, um triângulo que compreendia as cidades de Natal, do Recife e o arquipélago de Fernando de Noronha, cuja designação no mapeamento dos americanos era o “Trampoline to Victory”. Entretanto, as autoridades militares brasileiras privilegiavam a concentração dos Meios Militares na Região Sul, na fronteira com a Argentina, pois acreditavam que qualquer tentativa de ataque ao Território Nacional só poderia dar-se no extremo sul, destacando-se a compreensão de que o Nordeste pobre e pouco urbanizado apresentava poucas atrações (Clementino, 1995).

Os aviões vinham deste país, abasteciam em Natal, e ficavam prontos para fazer a travessia do Atlântico rumo ao continente africano. Aqui outra curiosidade: muita gente pensa que este termo se refere a Parnamirim. Mas o município nem existia naquela época. A Parnamirim de hoje era um distrito de Natal, que só foi emancipada em 1950.

Originada no período da Segunda Guerra Mundial, Parnamirim Field, foi uma base área fundada em 1949, historicamente conhecida como o Trampolim da Vitória, pois era da Base Parnamirim Field que os aviões partiam para combater na Segunda Guerra. 
B25 Sobrevoando Natal Durante a Segunda Guerra Mundial. 1941

CAPITAL ESPACIAL DO BRASIL

Com o início das operações da primeira base de foguetes da América do Sul, no Centro de Lançamento da Barreira do Inferno, em Parnamirim, Natal se tornou a “Capital Espacial do Brasil”.

Esse nome é devido às operações da primeira base de foguetes da América do Sul, o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno, hoje localizada no município limítrofe de Parnamirim. Pra quem não sabe foi a “Barreira do Inferno” que colocou o Brasil na corrida espacial mundial.

Lançamento do foguete Black Brandt em 1973. Esta imagem é parte do Fundo Agência Nacional Série FOT Subsérie AEO

CIDADE DOS REAIS MAGOS

Fundada em 1599, a cidade dos Reis Magos, depois cidade de Natal, teve logo esse predicamento, mas não era uma povoação no sentido de que estava ocupada por moradores fixados.

CIDADE DO SOL

Essa você sabia pois é bem popular. O termo “Cidade do Sol” foi criado porque a cidade tem aproximadamente 300 dias de sol durante o ano. Bastante coisa, hein?

NOIVA DO SOL

Pelo mesmo motivo acima, dizem ainda que Natal é “casada” com o Sol. Aqui cabe uma curiosidade extra: o cantor potiguar Carlos Alexandre, aquele mesmo que emplacou as músicas “Feiticeira” e “Ciganinha”, criou uma vez uma música que leva o nome “Noiva do Sol” e fala de Natal. Será que o cantor ajudou a consagrar o nome? Quem sabe?!

NTL

Algumas pessoas na internet, seguindo uma tendência moderna de se criar siglas para nomes, se referem a Natal como “NTL”, que é uma forma abreviada mais fácil de escrever. Não se sabe ao certo de onde vem esse formato porém “NTL” é o identificador da cidade de Natal no sistemas de controle do espaço aéreo.

BUNDA DO ELEFANTE OU C* DO ELEFANTE

Esse apelido de Natal é um termo usado pela população para se referir à cidade de forma bem humorada, já que o estado do Rio Grande do Norte tem uma forma clássica semelhante à um elefante.

OUTROS CHAMADOS

Natal é conhecida pelos seguintes nomes:

“Capital Mundial do Buggy”

“Terra do Camarão”

“Londres Nordestina” (Essa parte também foi novidade para mim)

FONTES SECUNDÁRIAS:

AZEVEDO, Aroldo de. Vilas e cidades do Brasil colonial. Boletim Paulista de Geografia Nº208. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, 1956.

BRITO, Bernardo Gomes de (Ed). História trágico-marítima. Com outras notícias de naufrágios Vol. VII. Lisboa: Escriptorio, 1905.

CASCUDO, Luís da Câmara. História da Cidade do Natal. 3 ed. Natal: RN Econômico, 1999.

CLEMENTINO, Maria do Livramento Miranda. Economia e urbanização: o Rio Grande do Norte nos anos 70. Natal: UFRN/CCHLA, 1995.

MEDEIROS FILHO, Olavo. Terra Natalense. Natal: Fundação José Augusto, 1991.

MONTEIRO, Denise Mattos. Introdução à história do Rio Grande do Norte Natal: EDUFRN, 2007.

Natalópolis, já ouviu falar neste nome? – https://utinga.wordpress.com/2012/03/16/natalopolis-ja-ouviu-falar-neste-nome/ Acesso em 06/09/2021.

O Conde de Monte Cristo – No blog  Utinga –  https://www.google.com/amp/s/utinga.wordpress.com/2012/08/13/o-conde-do-rio-grande/amp/ Acesso em 06/09/2021.

POMBO, Rocha. História do Estado do Rio Grande do Norte. Rio de janeiro: annuário do Brasil, (1921).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS:

6 nomes diferentes que a cidade de Natal tem e você não sabia porque. Curiozzzo. https://curiozzzo.com/6-nomes-diferentes-que-a-cidade-de-natal-tem-e-voce-nao-sabia-porque/ Acesso em 10/02/2023.

Anuário Natal 2007 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN): Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2008.

Anuário Natal 2009 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN): Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2009.

História do Rio Grande do Norte / Sérgio Luiz Bezerra Trindade. – Natal: Editora do IFRN, 2010.

Natal (Rio Grande do Norte). Wikipédia, a enciclopédia livre. https://pt.wikipedia.org/wiki/Natal_(Rio_Grande_do_Norte).Acesso em 10/02/2023.

Natal Não-Há-Tal: Aspectos da História da Cidade do Natal/ Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo; organização de João. Gothardo Dantas Emerenciano. _ Natal: Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2007.

O Que Foi O Trampolim Da Vitória No Rio Grande Do Norte? Natal RN. – https://natalrn.com.br/o-que-foi-o-trampolim-da-vitoria-no-rio-grande-do-norte/ Acesso em 11/2023.

Os desenhos da cidade: as representações da cidade do Natal no século XVII / Rubenilson Brazão Teixeira. – Topoi (Rio J.), Rio de Janeiro, v. 21, n. 43, p. 68-96, jan./abr. 2020 | www.revistatopoi.org

“Os nomes que Natal já teve” por Prof. Dr. Lenin Campos Soares. Natal das Antigas. https://www.nataldasantigas.com.br/blog/os-nomes-que-natal-ja-teve. Acesso em 10/02/2023.

Por que a cidade se chama Natal? Brechando. https://brechando.com/2015/12/23/por-que-a-cidade-se-chama-natal/. Acesso em 10/02/2023.

Rubenilson B. Teixeira, « O rio Potengi e a cidade do Natal em cinco tempos históricos. Aproximações e distanciamentos », Confins [En ligne], 23 | 2015, mis en ligne le 12 mars 2015, consulté le 26 mars 2021.

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TRINDADE, Sérgio Luiz Bezerra. Introdução à história do Rio Grande do Norte. Natal: Sebo Vermelho, 2007.

Vicente do Salvador. Wikipédia, a enciclopédia livre. https://pt.wikipedia.org/wiki/Vicente_do_Salvador Acesso 11/02/2023.

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