Solar Bela vista: uma obra prima do arquiteto  Herculano Ramos

 Símbolo de uma época de desenvolvimento e tentativa de modernização da cidade, assim como o conjunto de residências que retratam a presença de uma elite que se estabelecera no bairro da Ribeira, o atual Solar Bela Vista foi residência do Coronel Aureliano Clementino de Medeiros, paraibano, que trabalhava como mascate e que resolveu se estabelecer em Natal, tornando-se muito influente na cidade.

O proprietário

Coronel Aureliano Clementino de Medeiros era um dos homens mais ricos do estado na época, rico fazendeiro de plantação de algodão. Ele morava com a família no prédio e tinha um comércio na Ribeira, uma loja chamada Paris em Natal.

Dono de uma loja de calçados, chapéus, dentre outros artigos; atendia pessoas da alta sociedade, tornou-se conceituado financeiramente. Era casado com Maria Rosa Teixeira de Medeiros, também paraibana. Reconhecido por sua influência política e poder aquisitivo, além de ter doado várias terras que possuía em Macaíba, ganhou o título de coronel.

As constantes viagens do coronel deixavam sua linda esposa muito triste. Apaixonado, resolveu construir uma casa confortável no topo da cidade alta voltada para o rio Potengi.

O solar bela vista foi construído entre 1907-1913, sob a encomenda do Cel. Aureliano Clementino de Medeiros, paraibano da cidade de Pilar. Mudou se para Natal em 1904 e, sendo dono de uma sólida fortuna, comprou um palacete na avenida Junqueira Aires e o terreno vizinho. Para a construção, ele importou vitrais, ferros e grades de bronze.

A construção

O palacete residencial foi construído em estilo neoclássico, porém, há outros estilos misturados, como algumas influências góticas. O que surpreende é que uma pessoa que vivia antigamente tinha um gosto tão refinado. No centro da casa, tinha uma igrejinha só para a família. Mas, algumas coisas da casa se perderam com o tempo.

No casarão moravam ele, a esposa e as filhas que não casaram, além dos hóspedes que eram recebidos no solar. Para a construção, ele importou vitrais, ferros e grades de bronze. Tudo vinha de fora.

Os materiais foram trazidos de diversos países da Europa, assim como toda a mobília da casa. O casarão fica no centro do terreno, com jardins em volta.

Tinha capela particular, para a missa dos domingos. Era assobradado e seu porão era habitável.

No acabamento, a madeira foi usada amplamente em portas e janelas, mas também no piso e no forro de todos os cômodos. Os traços geométricos da construção se repetem nos jardins, onde mangueiras, sapotizeiros e coqueiros cobriam de sombra o solar.

Existem relatos que a ideia do projeto, que se assemelha a uma cruz, fora do próprio Cel. Aureliano. Os traços geométricos da construção se repetem nos jardins, cujo projeto paisagístico era inspirado nos moldes europeus, incorporando e associando este espaço à arquitetura do casarão. Com guarda-corpos de ferro – que outrora foram decorados com belas correntes de bronze – as imponentes escadarias valorizavam o acesso a residência (NESI, 2012).

As casas da época eram, em geral, construídas rente às calçadas, mas o casarão ficava no centro do terreno, com jardins em volta; O palacete era assobradado, seu porão era habitável e tinha capela particular, para a missa dos domingos. Inclui a sala de visitas, uma capela com oratório, quartos das filhas, quarto de casal e a sala de refeições.

A parte posterior da edificação é constituída por dois blocos, separados por um pátio. Um dos blocos é destinado aos quartos dos filhos e o outro abrange a parte de serviços, um banheiro, a cozinha e um quarto de engomar. Existia ainda uma pequena edificação que ficava no final do terreno, destinada a abrigar os criados, mas que após abandono se encontrava em estado de completa descaracterização e não entrou no projeto de restauro.

Num tempo de poucas casas, o casarão marcou época. As fachadas principais e laterais apresentam frontões triangulares emoldurados por cornijas de massa – característicos do estilo neoclássico – e com uma estrela vazada ao centro. Uma platibanda vazada e encimada por pequenos e graciosos pináculos arremata toda a cobertura da casa (NESI, 2012).

Estátuas de bronze de presidentes desapareceram e não há notícias de onde poderiam estar. Nem mesmo a família sabe.

Contextualização histórica

Somente após a queda do império é que o cenário econômico do país começava a apresentar sinais de melhoras. Em 1902, mesmo ano que H. Ramos chega a Natal, o governo republicano75 lança novas iniciativas como as campanhas de saneamento e de erradicação de doenças endêmicas, que visavam acabar com mazelas antigas (febre amarela; peste bubônica;  varíola), todas estas vinculadas ao império e ao atraso do País, o que adequaria a cidade aos tempos modernos (UZEDA, 2012). Aformosear Natal com obras e equipamentos urbanos que existiam nas grandes cidades, construir uma cidade moderna, civilizada e progressista também se evidenciava na adoção de novos valores culturais, uma vez que o consumo destes tornava real a fantasia da modernidade (OLIVEIRA, 2000, p.64).

Tendo se constituído um dos principais profissionais de que remodelaram a cidade, sendo responsável pelas principais obras do primeiro ciclo de modernização urbana da capital 
potiguar.

Atualidades

Após a morte de Aureliano em 1933, sua esposa permaneceu por mais cinco anos na residência. Depois disso, o casarão foi alugado, tornando-se um Tribunal de Justiça. Posteriormente, tornou-se uma pensão familiar, dirigido por Maria Cabral.

Em 1948, Sinval Duarte Pereira, comprou a casa, deu-lhe o nome com que ficaria conhecido até os dias de hoje, ao inaugurar o Hotel Bela Vista. Tombado pelo Patrimônio Histórico, o lugar já foi um hotel luxuoso para poucos (décadas de 1950 e 1960 principalmente) privilegiados.

Seu salão de festas foi testemunha de grandes festas desde a Segunda Guerra Mundial, quando a cidade foi base militar norte-americana. Com o fechamento do hotel, o palacete ficou muito tempo abandonado e a construção se deteriorou bastante, chegando a funcionar como cortiço, onde se abrigaram dezenas de pessoas.

Após um período em que se encontrava abandonado e deteriorado, o SESI comprou o prédio, ainda na década de 60 para que se tornasse um centro de cultura para os industriários. Este foi ativado na década de 80 após restauração, tornando-se uma escola de música.

O espaço do Solar Bela Vista atualmente tem novas funções, tornando-se um promotor da cultura potiguar. Neste espaço, são promovidos eventos culturais, lançamentos de livros, apresentações de artistas locais, além de muitas outras atividades culturais.

Mas ainda desempenha a função de escola de música, oferecendo cursos de guitarra, bateria, acordeão, piano, violão, violoncelo, trompete, sax, clarinete, cavaquinho, bandolim, flauta doce e transversal, além de canto. Os recursos investidos são mantidos pelo SESI, além das ações culturais.

O solar é tombado pelo IPHAN. O prédio conserva ainda a mobília original, comprada à família do Coronel Aureliano.

Fontes:

UM ARTÍFICE MINEIRO PELO PAÍS: Formação, trajetória e produção do arquiteto Herculano Ramos em Natal. Débora Youchoubel Pereira de Araújo Luna. Natal/RN. 2016.

NESI, Jeanne F.L. Natal monumental. Natal: IPHAN-RN, 2012.

UZEDA, Helena Cunha de. Inovações Acadêmicas: O Curso de Arquitetura da Escola Nacional de Belas Artes como Catalisador de Modernizações. 2005, Campinas. Disponível em: <http://www.unicamp.br/chaa/eha/atas/2004/DE%20UZEDA,%20Helena%20Cunha%20-%20IEHA.pdf>. Acesso em: 14 mar. 2016.

OLIVEIRA, G. P.; FERREIRA, Angela L.A. (Org.). Natal: Intervenções Urbanísticas, Morfologia e Gestão da Cidade. 1 ed. NATAL: EDUFRN, 2006.

Outras consultas:

Wikipédia, Brechando, Nominuto e Monumentos e Contrastes do RN

Fachada do Solar Bela vista. Foto de João Galvão. Fonte: Arquivo do Prof. Paulo Heider.
Pode ser uma imagem de 1 pessoa e texto que diz "Instituto Tavares de Lyra"
” Da esquerda para a direita: Oswaldo, Aureliano Medeiros, Maria Rosa, Irene, Olívia e João Batista Medeiros. Família do coronel Aureliano Clementino de Medeiros, reunida em sua casa, hoje conhecida por Solar Bela Vista. Foto de João Galvão, 1915.
Aureliano Clementino de Medeiros iniciou a sua vida comercial em Macaíba, onde foi comerciante e presidente da Intendência (prefeito). Construiu o antigo cais e a ponte sobre o Rio Jundiaí. Mudou-se para Natal em 1908, passando a residir no prédio hoje denominado Solar João Galvão. Posteriormente, ocupou o Solar Bela Vista, que mandou construir e nele residiu até falecer.
Em Natal, foi proprietário da mais famosa loja da Natal da Belle Époque, a “Paris em Natal”. Possuiu inúmeros prédios no bairro da Ribeira e na Cidade Alta, na Praça Padre João Maria.
Assim como Juvino Barreto, foi um importante filantropo.
Seu filho Oswaldo era muito querido pela poeta Auta de Souza, vizinha da família em Macaíba, e para quem dedicou alguns poemas. Igualmente, dedicou poemas a esposa e filhas de Aureliano.” ( Fonte: Instituto Tavares de Lyra )

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