A imprensa e o Estado Novo

A ditadura do Estado Novo deu prioridade às políticas culturais e criou uma estrutura administrativa voltada para a produção e para a difusão de suas idéias ao mesmo tempo em que fomentou e aparelhou órgãos censores contrários aos ideais do regime. Vejam quais os principais meios de comunicação de Natal e suas relações políticas durante a Segunda Guerra Mundial.

Política

Os intelectuais ligados à classe dominante nacional organizaram-se e passaram a interferir nas instituições de classes e, da mesma forma, as camadas médias e as novas classes operárias e urbanas começaram a se agregar em associações e sindicatos classistas, e estas já atuavam sob a égide da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).

Manifestação de apoio de Sindicatos do RN ao governo do presidente Getúlio Vargas, na Praça Sete de Setembro, na Cidade Alta, defronte ao Palácio Potengi. Na foto do ano de 1938, de autor não identificado, vemos na parte superior o prédio da Farmácia Torres, com seus arcos pontiagudos. Foto do acervo de João Ghotardo

Pela primeira vez na história republicana brasileira, segundo Oliveira (1982), o intelectual passa a fazer parte do Estado e a ter amparo moral e material para produzir saber. A ditadura Vargas relaciona-se com a intelectualidade sem esquemas sofisticados e utiliza-se do próprio discurso que esta defendia para reativar as “representações destinadas a legitimar a nova distribuição de poderes” (VELLOSO, 1982, p.72) OLIVEIRA, Lúcia Lipp et al (Orgs.). Op. Cit.

No momento em que estourou a guerra na Europa, a conjunção de novos fatores passou a interferir diretamente no Estado do Rio Grande do Norte e, particularmente, no meio político da Capital. Em entrevista realizada em agosto de 2007. José Antônio Spinelli, autor do livro Getúlio Vargas e a Oligarquia Potiguar: 1930/35 (Natal: EDUFRN, 1996), afirmou que até o momento atual, ainda não existem trabalhos sistematizados na área da ciência política, por exemplo, que tenham aprofundado o período do Estado Novo no Rio Grande do Norte.

Os arranjos políticos e as acomodações de interesses aproximaram mais ainda as elites políticas do Governo Vargas, o que, segundo Monteiro (2007) ( MONTEIRO, Denise Mattos. Op. Cit..), ainda não havia ocorrido desde a Revolução de 1930. A conjuntura imposta pela guerra, ao contrário, posicionou-os frente a frente o poder do Estado Ditatorial e o poder das elites políticas e das oligarquias estaduais fora colocados à frente da administração.

Marcha de apoio a Getúlio Vargas em 1939 na Junqueira Ayres (atual Av. Câmara Cascudo).
Acervo: Eduardo Alexandre. Via Natal de Ontem

Intelectuais

Inicialmente, a estratégia adotada pelo Estado Novo de atrair os intelectuais para a construção de um projeto nacional foi bem sucedida. A conjunção entre tradição e modernização que se estabeleceu no país conseguiu juntar intelectuais da classe dominante, de diferentes origens e matizes ideológicos, que se sentiram atraídos pelo objetivo de pensar a construção de um Estado Nacional.

Segundo Oliveira (1982) ( OLIVEIRA, Lúcia Lipp. et al (Orgs.). Op. Cit.), o Governo Federal criou o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), em dezembro de 1939, para facilitar a relação com os intelectuais, manter o controle sobre a informação e atender à necessidade de centralização do poder. A divulgação e discussão dos temas davam-se principalmente por meio de revistas e jornais, que direta ou indiretamente, estavam ligados ideologicamente ao governo federal.

É fato que a mobilização promovida pelo Estado Novo em nível nacional junto aos intelectuais, particularmente na Região Sudeste do Brasil, não chegou ao Estado do Rio Grande do Norte. Porém, é importante anotar que as atividades dos intelectuais continuaram muito vinculadas às atividades políticas do grupo local, embora suas construções ideológicas tenham sido influenciadas pelo movimento nacional. Uma das repercussões mais importantes observadas foi a criação, ainda em 1937, da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras que, segundo Cardoso (2000), teve como lideranças articuladoras o intelectual Luís da Câmara Cascudo e o jornalista Aderbal de França. A Academia estadual agregou políticos, magistrados, religiosos, poetas, músicos, médicos e outros jornalistas e professores.

Imprensa

A participação social e política das elites intelectuais dava-se por meio da imprensa escrita e da Rádio Educadora de Natal. Para Cascudo (1999, p.319), até 1946, “dos possíveis duzentos e cinqüenta jornais e revistas publicados na Cidade do Natal, 85% pertence[ia]m à classe dos políticos”. MELO, Manoel Rodrigues de. Dicionário da imprensa no Rio Grande do Norte: 1907-1987. São Paulo: Cortez, 1987.

As elites políticas, naturalmente, tinham acesso a jornais e revistas nacionais – que chegavam com certo atraso – porém, nesse período, as informações eram transmitidas quase instantaneamente pelas emissoras de rádios que começavam a se disseminar no país. Em 1939, na capital do Rio Grande do Norte, circulavam os seguintes periódicos locais: o Jornal A República (fundado em 1889); Jornal A Ordem (fundado em julho de 1935 e ligado à Igreja Católica); Jornal O Diário (fundado em setembro de 1939 e posteriormente adquirido pelos Diários Associados) e o Jornal Folha da Semana (fundado em 1935 e tido como literário e noticioso); além de uma revista mensal ilustrada, denominada Juriti, e alguns jornais específicos de produção artesanal produzidos pelos grêmios estudantis, entidades carnavalescas e entidades comercias (MELO, 1987) MELO, Manoel Rodrigues de. Dicionário da imprensa no Rio Grande do Norte: 1907-1987. São Paulo: Cortez, 1987.

O Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda (DEIP), criado nacionalmente em 1939, exercia as funções de órgão central de divulgação e controle das publicações de imprensa e publicidade, porém, no Rio Grande do Norte passou a ter uma ação efetiva apenas em 1942. A partir de março desse ano, o DEIP foi instalado numa sede própria e passou a administrar o Jornal A República. (SERÃO…, 1942, p.1) SERÃO inaugurados melhoramentos DEIP. A República, Natal, p. 1, 29 jul. 1942.

Em 1939, o Jornal A República era um jornal oficioso das elites políticas estaduais, mas, depois da entrada em cena do DEIP, no Rio Grande do Norte, passou a desempenhar oficialmente a função de “órgão do Governo, explicador e defensor das administrações” (CASCUDO, 1999, p.333) ( CASCUDO, Luís da C. Op. Cit., 1999.) e do Estado Novo. Em 
julho de 1942, a estrutura estadual do DEIP recebeu investimentos em 
equipamentos que facilitaram suas operações (SERÃO…, 1942) ( SERÃO inaugurados melhoramentos DEIP. A República, Natal, p. 1, 29 jul. 1942.), principalmente a de controle e censura.

Em 20 de março de 1931, o Jornal A República mudou-se para o endereço definitivo, o prédio da Av. Junqueira Aires, 355, prédio que foi construído em 1895 por Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão, em 1907 com o falecimento de Pedro Velho – fundador do jornal – o prédio foi vendido ao estado, passando a sediar o jornal.

O Departamento Estadual abarcou uma série de atividades, tradicionalmente desenvolvidas por órgãos e instituições locais, inclusive de preparação da população da cidade nos Exercícios de Defesa para a Segunda Guerra Mundial e de organização do carnaval da capital. Todas as notícias veiculadas pela imprensa do Estado passaram a ser controladas pelo DEIP (NOTA…, 1942) ( NOTA oficial comunica o comando da 2ª Brigada por intermédio do DEIP. A República, Natal, p. 1, 6 jun. 1942.), assim como desenvolveu atividades de policiamento, o que ressaltou a compreensão de que as suas atribuições estavam associadas também às funções de garantir a segurança pública (O D.E.I.P …, 1943). O D.E.I.P e o carnaval. A República, Natal, p. 8, 10 fev. 1943.

Em 1942, o jornalista Aderbal de França (Danilo) foi nomeado seu 
presidente, assim como diretor do jornal A República. A administração detinha o controle do Departamento e, com a sua nomeação, passou a ser considerada também como inovadora e moderna, principalmente porque este abriu o Jornal para a expressão de vários intelectuais da capital, inclusive os que divergiam politicamente do poder estadual. Segundo avaliação dos próprios representantes das elites políticas, a sua administração frente ao DEIP destacou-se pela valorização das competências individuais e específicas, o que promoveu uma renovação na linha editorial do Jornal local.

O jornalista Aderbal de França (1895-1974), adotava o pseudônimo de Danilo. Sua coluna social publicada em A República a partir de 08 de junho de 1928 era mais uma crônica abalizada sobre assuntos culturais, principalmente musicais.

Era redator das colunas “Vida social” e “Crônica Social”, publicadas nos jornais, inicialmente A República na edição de 14 de julho de 1928, publicando “Terezinha” e, posteriormente, no Diário de Natal. Seu conhecimento e dedicação pela música explicam a riqueza de informações que dispunha e que disponibilizou para o futuro.

Além deste, o segundo jornal mais antigo que circulava na cidade era o jornal A Ordem. Este possuía uma tipografia própria, cuja sede ficava situada à Rua Dr. Barata, no Bairro da Ribeira, onde funcionavam sua redação e oficina. O conteúdo de suas páginas era voltado para as discussões internas, teológicas e política, da Igreja Católica. Segundo a Arquidiocese de Natal, A Ordem tornou-se uma trincheira de onde, naquele momento, os ideais católicos precisavam ser defendidos.

O terceiro jornal em circulação, em Natal, era a Folha da Semana, que tinha características literárias, circulava apenas aos domingos e sobre este não foram encontradas referências para avaliar a sua repercussão na cidade. Na pesquisa não foi possível precisar o período de sua circulação, mas através das informações registradas por Manoel Rodrigues de Melo. (Op. Cit.) – Descobriu-se que circulou por, no mínimo, seis anos. O pesquisador teve acesso a um único exemplar deste jornal, o qual havia sido publicado em 24 de março de 1940, No. 65, ano VI e sua sede ficava no bairro do Alecrim, a Avenida Um.

Era de propriedade particular, do Sr. Aluízio Macedônio Lemos, porém nenhuma informação foi encontrada sobre este editor que, além do jornal, também possuía uma revista literária mensal chamada Juriti, a qual em 1941, passou a se chamar de Centelhas. Segundo Melo (1987) ( MELO, Manoel Rodrigues de. Op. Cit.), as duas publicações do Sr. Aluízio Macedônio Lemos tratavam de literatura, filosofia, aspectos regionais, cultura local e formação da sociedade natalense e brasileira e se referia, entre outros assuntos, à guerra, às transformações urbanas ocorridas e ao desenvolvimento da cidade.

Por último, ainda circulava na cidade o jornal Diário. Este foi fundado logo no início da Segunda Guerra Mundial, por um grupo de jornalistas da classe média natalense que, para Melo (1987, p.119), estavam motivados por seus próprios interesses de participar ativamente dos acontecimentos “ao lado das nações democráticas, contra o Eixo Roma-Berlim-Tóquio. […]. Eram civis e trabalhavam no órgão oficial do Estado – A República”. 

Os seus fundadores foram Valdemar Araújo, Djalma Maranhão e Rivaldo Pinheiro, jovens jornalistas e com posições ideológicas diversas que, no entanto, pareciam não ameaçar às elites políticas locais. Entre estes, Djalma Maranhão e Rivaldo Pinheiro defendiam posições políticas divergentes das elites locais, porém conviviam socialmente entre estas, eram jornalistas contratados do jornal A República e produziam o próprio jornal dentro de suas dependências. Segundo Melo (1987, p.119-122), os proprietários do Jornal Diário, para viabilizar sua circulação acordaram a utilização da estrutura física e gráfica oficial em troca do ressarcimento posterior ao DEIP de todos os custos com pessoal e material.  O jornal Diário circulou pela primeira vez em 18 de setembro de 1939 e difundia diariamente suas intenções de “combater o nazi-fascismo de Hitler e Mussolini e ser, ao mesmo tempo, um porta-voz dos problemas e das angústias do povo norte-rio-grandense” ( JORNAL DIÁRIO DE NATAL. Histórico. Disponível: <http://diariodenatal.dnonline.com.br/site/historico.php> Acesso em 24 jun 2003.).

Djalma Maranhão – Foi Professor de Educação Física no Atheneu Norte-rio-grandense, esportista, jornalista e político, havendo criado e dirigido vários jornais, dentre estes “O Diário” (1939) , também sendo fundador do Clube Atlético Potiguar (1941).

O jornal Diário foi aprovado pelo DEIP e possuía um registro oficial. Porém, começou a agradar a população e a ameaçar a vendagem do Jornal A República. Em 1942, quando o DEIP começou a, efetivamente, funcionar na capital do Rio Grande do Norte, segundo Pinheiro (Informação verbal), entrevista concedida por Rivaldo Pinheiro à Prof. Dra. Brasília Carlos Ferreira, em dezembro de 1997, coordenadora do Projeto Sociedade e Política no Rio Grande do Norte: fontes para a história, foi sugerido o seu fechamento e que seus proprietários encerrassem sua publicação. Posteriormente, em 1947, foi adquirido pelos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, que o denominou de O Diário de Natal.

No Rio Grande do Norte, o jornal A República foi assumido efetivamente pelo DEIP, o Jornal Diário fechou e a cidade passou a viver sob a égide das tensões e ameaças de um ataque das forças armadas em guerra no continente europeu.

USA

Com uma maior consolidação da base norte-americana, um jornal o Foreign Ferry News, começou a circular em língua inglesa com informações relativas e importantes a vivência dos soldados norte-americanos naquele espaço, segundo Pedreira (2012) com funcionamento entre maio de 1943 a maio de 1945, Melo (2015, p. 45) traz a fala de Waldemar Araújo – conhecido como Waldemar Praeiro, ex-secretário do A República: “Esse jornal era composto e impresso lá na República
mesmo. Os americanos traziam as matérias e nós fazíamos as composições nos linotipos, a paginação, a revisão e a impressão.”.

“Vamos brincar o carnaval como os natalenses estão brincando”, dizia a chamada do “Foreign Ferry News”, jornal publicado em Parnamirim Field, ativo entre 1943 e 1945. A publicação, editada pelos americanos, era impressa nas oficinas do jornal A República e trazia ano a ano registros regulares dos bailes realizados nos clubes USO e nas ruas da capital.

Até então, essa pesquisa, só encontrou em Melo (2015) a indicação que havia outro jornal na base, chamado de The Sar’d Weekly Post, uma publicação semanal, com artigos sobre esforço de guerra, atividades normais da base às relações entre Brasil e Estados Unidos, crônicas e outras colaborações, tendo sua última edição em janeiro de 1946 (v.1; n 23) como uma espécie de despedida, já que segundo Smith Jr (1992) foi apenas ao fim de 1946 que a base norte-americana foi desmontada e parte do contingente de guerra foi recolhido de Natal.

Nenhuma dessas fontes estava imune ao controle do Estado Novo, em 1943 um setor de censura foi designado para a base em Parnamirim, é Natal já havia um serviço desse, que se limitava a comunicação Brasil, com as informações internacionais submetidas a Recife ou Rio para aprovação. As comunicações elegráficas que chegavam para a imprensa era subordinadas à prévia aprovação de 
Edilson Varela, diretor da parte de Serviços da Imprensa e Propaganda locais e também diretor do jornal A República, só por conseguinte era feito a divulgação (SMITH JR, 1992).

Havia ainda a censura a telegramas, aqueles que eram para circulação dentro do Brasil eram censurados durante o dia por Mario Melo, já à noite, por funcionários  encarregados da Companhia Nacional de Telégrafos. A Western Union – empresa americana que oferecia serviço de telégrafos – só enviava seus telegramas com prévia censura e aprovação dos mesmos (SMITH JR, 1992).

O que demostra uma percepção acerca do controle exercido em Natal, porém, 
observa-se como efetivamente o trâmite dessas informações cotidianas pelos meios de comunicação também sofriam com algumas questões: o acesso intelectual pela leitura, o econômico no financeiro, em poder adquirir os meios de se informar e o terceiro que irradiavam no controle do Estado, o que já deixa claro ao analisar as percepções da fonte escolhida nesse trabalho.

Censura

Os jornais e rádio, esses que faziam parte de forma essencial do controle exercido pelo DIP a nível nacional, como já foi colocado aqui em Brasil (1939) e pelo Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda (DEIP) a nível estadual, que antes era intitulado Imprensa Oficial, sendo o DEIP criado ao dia 28 de junho de 1941, praticamente seis meses depois que o órgão oficial e maior já exercia seu papel nacionalmente.

Foi montada uma estrutura para que o DEIP fosse capaz de exercer um controle não só da informação no cotidiano, mas sim, de todo o cotidiano em si, mantendo as fontes de informação e entretenimento sob as rédeas de funcionamento, exemplo dessas fontes que eram controladas e sua organização.

Analisar sobre isso, requer uma consciência sobre a população da cidade de Natal, a escolaridade/alfabetização é fator preponderante para o entendimento e o acesso a determinados tipos de informação, principalmente quando se trata do meio imprenso, já que a leitura faz parte da experiência do acesso à informação em determinados tipos de dispositivos, principalmente impressos.

Em 1920, o censo escolar havia revelado que 81% dos 547.000 habitantes do estado eram analfabetos. Na década de 1930, o índice continua praticamente inalterado. Em 1933, por exemplo, por ocasião da Assembleia Constituinte, a população do estado era de 764.571 habitantes, sendo que apenas 18.959 puderam se inscrever para votar. Em 1934, menos de 2% dos 22.000 jovens em idade escolar  tinha acesso à escola. No censo de 1940, o índice de analfabetismo  continua praticamente o mesmo (80% da população), e algo em torno  de 90% das crianças em idade escolar continuavam não tendo acesso à escola […]. (COSTA, 2015, p. 87).

Rádio

Smith Jr (1992) deixa claro o sucesso do rádio e do cinema, exatamente por 
ser uma mídia de áudio e imagem, que permitem que o acesso a esses fosse feito de forma mais simples, o que é influência até mesmo no formato com menos barreiras de entendimento que possam ter, contendo maior dinamismo.

Em 1939, foi instalado o Indicador da Agência Pernambucana (I.A.P), de propriedade do empresário Luís Romão, os amplificadores de som foram instalados em praças públicas e interligados por fios, transmitiam músicas gravadas, informações jornalísticas, poesias, dramas e apresentações artísticas ao vivo, o que trouxe benefícios para o cotidiano, pois, aqueles que não podiam comprar jornal ou não eram alfabetizados, poderiam se manter informados sobre os acontecimentos locais, nacionais e internacionais (GOMES; RODRIGUES, 2016). Esses alto-falantes continuavam a funcionar durante toda década de 1940, não foram substituídos pelos rádios que viriam a posterior, pois o acesso a esse, principalmente pelos preços, não era possível a todos.

O INDICADOR DA AGÊNCIA PERNAMBUCANA
Texto disponibilizado em Internet, sem referência ao autor


Não somente de carnavais e blocos carnavalescos vivia a Avenida Tavares de Lira no bairro da Ribeira. Existiu, por exemplo, o Indicador da Agência Pernambuca e seu serviço de auto-falantes dirigido por Luís Romão. A primeira tentativa de se realizar o audio-difusão na cidade do Natal.

O serviço funciona no prédio de número 48, em uma pequena sala com primeiro andar. No térreo havia a venda dos jornais principalmente vindos do Recife. “Jornal do Comércio”, “Diário de Pernambuco” e a “Província” faziam muitos leitores no capital potiguar. O negócio pertencia também a Luis Romão e era gerenciado por João Nicodemos de Lima, enquanto o proprietário desenvolvia a função de gazeteiro nos trens da antiga “Great Western”, viajando entre os estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, diariamente.

Já o serviço de auto-falantes, organizado em 1938, com ramificações em 22 bocas de ferro distribuídos entre as Rocas, Cidade Alta, Ribeira e Alecrim levava as principais notícias do dia ao povo natalense. O indicador ainda tocava músicas, enviava notícias amorosas e divulgava anúncios do comércio local, além de executar músicas. Ao entardecer, as notícias da guerra eram transmitidas, via conexão, pela BBC de Londres.

Certamente naquele dia primeiro de setembro de 1938, o povo potiguar ouviu uma voz em português falando diretamente de Londres. Aliás, estava ali o primeiro noticiário em língua portuguesa da emissora BBC. O noticiário falava sobre o surgimento da Segunda Guerra Mundial, divulgado pelo jornalista, escritor e músico Manoel Braulen.

A cidade ouviu também o discurso combativo ao nazismo feito por Winston Leonard Spencer Churchill – líder inglês, bem como do general francês Charles André Joseph Marie de Gaulle, que através da BBC lançou o movimento “França Livre” contra a fúria de Adolf Hitler.

O Indicador da Agência Pernambucana transmitia ainda os reclames da população, os diários oficiais do Estado e do Município. Moças e rapazes namoravam na época ao som dos auto-falantes de Romão. Existia também um programa de auditório – onde até oficial americano chegou a cantar durante a Segunda Grande Guerra.

Tudo isso proporcionou o Sr. Luiz Romão – paraibano de Santa Rita – aos natalenses. Ele ganhou a vida com poesia e ensinou a esse povo a ler e a ouvir. Certamente ele é mais uma grande história desse lugar chamado de Ribeira.

A primeira rádio do estado é fundada em 1941, a Rádio Educadora de Natal –
REN. Esse empreendimento foi subsidiado por Carlos Lama e Caros Farache, fruto que partiu da Casa Carlos Lemos, comércio que vendia entre outras mercadorias, aparelhos RCV Victos e Vitrolas, onde durante o fim de 1930 e começo dos anos 1940, criou um processo adaptativo da população com o rádio, fazendo demonstrações dos rádios em locais públicos como a sorveteria que servia de ponto de encontro no centro da cidade e na praça Pedro Velho ponto de concentração da parte nova e moderna da cidade, como já citado aqui.

Foto tipo Postal: Radio Poty. Jaeci Fotografia. Natal-RN. MBC. Em Dezembro de 1940 foi instalada a torre da Rádio Educadora de Natal (REN) (depois transformada em Rádio Poti) para melhorar as transmissões, porém somente em 30 de Novembro do ano seguinte é que a rádio foi levada ao ar, com o prefixo ZYB-5. O radialista Genar Wanderley foi quem primeiro ocupou o microfone, lendo Ave Maria escrita por Luís da Câmara Cascudo em solenidade de
inauguração.A difícil comunicação em Natal em tempos de guerra.

A Rádio Educadora de Natal teve seu estatuto aprovado em 11 de março de
1940, e a concessão pelo Ministério de Obras e Viação dado em 16 de maio de 1941, entrando efetivamente no ar em 29 de novembro de 1941, que era composta por vários acionistas, o principal deles Carlos Faracha, tendo outros nomes importantes como o prefeito de Natal a época Gentil Ferreira de Souza e Câmara Cascudo (GOMES; RODRIGUES, 2016). Pode-se perceber a possibilidade do natalense ao acesso à informação no decorrer das ondas sonoras, que foi um veículo de comunicação cotidiana que durante a guerra, além das notícias sobre os acontecimentos, era responsável pela difusão dos ideais norte-americanos, levando em consideração as configurações de “boa vizinhança” que era assumida principalmente depois da declaração de guerra do Brasil ao eixo. Além disso, o uso do rádio era registrado, havia um controle de sua operacionalização, como mostrou o jornal A República, no dia 28 de Março de 1943, que anunciava prazo até 1º de Abril para renovar o registro e evitar que fossem apreendidos.

A CIDADE E A GUERRA: A VISÃO DAS ELITES SOBRE AS TRANSFORMAÇÕES DO ESPAÇO DA CIDADE DO NATAL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL. GIOVANA PAIVA DE OLIVEIRA. RECIFE – PE. 2008

OLIVEIRA, Lúcia Lipp. et al. (Org). Estado novo: ideologia e poder. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1982.

VELLOSO, Mônica Pimenta. “Cultura e poder político: uma configuração do campo intelectual”. In: OLIVEIRA, Lúcia Lippi. et al. Estado novo: ideologia e poder. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1982.

MONTEIRO, Denise Mattos. Introdução à história do Rio Grande do Norte. Natal: EDUFRN, 2007.

CARDOSO, Rejane (Coord.). Quatrocentos nomes de Natal. Natal: Prefeitura Municipal do Natal, 2000.

CASCUDO, Luís da C. História da Cidade do Natal: Prefeitura do Município de Natal, 1947. 3. ed. Natal: RN Econômico, 1999.

MELO, Manoel Rodrigues de. Dicionário da imprensa no Rio Grande do Norte 1907-1987. São Paulo: Cortez, 1987.

O Estado Novo no controle da informação cotidiana: o caso da cidade de Natal (1941-1943) a partir do jornal “A República” / Fernanda Carla da
Silva Costa. – João Pessoa, 2019.

PEDREIRA, Flávia de Sá. Chiclete eu misturo com banana: Carnaval e cotidiano de guerra em Natal. 2. ed. Natal: Editora UFRN, 2012.

MELO, Protásio Pinheiro de. Contribuição norte americana à vida natalense. Natal: Sebo Vermelho, 2015.

SMITH JUNIOR, Clyde. Trampolim Para a Vitória. Natal: UFRN Editora Universitária, 1992.

COSTA, Josimey. A palavra sobreposta: imagens contemporâneas da Segunda Guerra em Natal. Natal: Edufrn, 2015.

GOMES, Adriano Lopes.; RODRIGUES, Edivânio Duarte. Rádio e Memória: as narrativas orais na reconstituição da história da Rádio Poti. Natal: EDUFRN, 2016.

Galvão, Claudio. O nosso maestro : biografia de Waldemar de Almeida [recurso eletrônico] / Claudio Galvão. – Natal: EDUFRN, 2019.

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