O jacaré da Praça Pedro Velho

Como é possível perceber por meio das fotografias destacadas, a praça Pedro Velho sofreu diversas modificações ao longo dos anos. Inicialmente, como a primeira imagem destaca, tratava-se de um descampado aberto no meio do bairro Cidade Nova. Com o passar dos anos, linhas de bondes foram sendo construídas, como pode ser percebido na segunda fotografia, e outros equipamentos, como a iluminação elétrica, instalados. Em 1917, com a reforma implementada por Ferreira Chaves, a praça sofreu um intenso processo de melhoramento. A linha de bondes que a cortava diagonalmente foi transferida, como já visto, e as árvores existentes foram substituídas pela espécie fícus benjamim (A REPUBLICA, Natal, 22 set.1917.p.2).

Logo após essa nova arborização, a praça Pedro Velho foi palco de um acontecimento anedótico, narrado em matéria publicada no A Republica em 02 de janeiro de 1918. A matéria informou que no dia da festa que comemorou a passagem para o ano novo, quando Manoel Dantas voltava das festividades ocorridas na Vila Cincinato passando pelas estacas da cerca que protegia a nova arborização da praça Pedro Velho, um de seus filhos escutou um barulho estranho. O barulho tinha sido produzido por um jacaré, representado na matéria como um monstro enorme, “que andava vagabundando e atacando as crianças na praça Pedro Velho”A REPUBLICA, Natal,02 jan.1918.p.1).

O episódio foi encerrado com a morte do animal, que recebeu três tiros do Dr. Julio Rezende, genro de Dantas. Episódios como esse demonstram como as representações sobre a natureza no jornal A Republica, a voz da administração local, eram ambivalentes. Em alguns momentos, várias crônicas eram publicadas destacando o aspecto idílico e poético de Cidade Nova, afastada dos problemas inerentes aos outros dois bairros da cidade. Em outras ocasiões, essa natureza aprazível tornava-se desprezível, como no caso do jacaré que foi eliminado. Provavelmente, o animal habitava alguma lagoa existente nas proximidades da praça, que sofreu alteração no seu habitat natural com a reforma iniciada em 1917. Não era o jacaré que estava “vagabundando” no meio da praça, e sim os administradores locais que estavam invadindo seu ambiente.

Outra matéria que também demonstrou uma representação negativa dos elementos naturais existentes em Cidade Nova foi publicada em setembro de 1904, com o título Perigo iminente. Nessa notícia, os redatores do jornal A Republica chamaram atenção para o perigo que a natureza do bairro Cidade Nova poderia proporcionar aos seus moradores. A areia do morro que ficava em frente ao bairro estava ameaçando correr por falta de vegetação. A Intendência já tinha tomado ciência do problema e decretado medidas para conter a situação e fixar as areias. Entretanto, a matéria elucidou que os natalenses não estavam cooperando, subiam e desciam o citado morro, abrindo caminho para a descida da areia, que, em um futuro próximo cairá “sobre a cidade, com a sua grande força invasora” (PERIGO iminente. A Republica, Natal, 12 set. 1904.p.1.) A natureza que ora inspirava poesia também poderia representar perigo, requerendo um cuidado específico.

Área onde posteriormente foi construída a Praça Pedro Velho em 1907. Acervo de José Estácio de Aquino Filho.
Fotografia feita por Manoel Dantas. Destaca a área onde seria a praça Pedro Velho. Fonte: MIRANDA, João Mauricio Fernandes de. 380 anos de história foto-gráfica da cidade de Natal 1599-1979. Natal: Editora da UFRN, 1981.
Fotografia feita por Manoel Dantas. Também destaca a praça Pedro Velho. Fonte: MIRANDA, João Mauricio Fernandes de. 380 anos de história foto-gráfica da cidade de Natal 1599-1979. Natal: Editora da UFRN, 1981.
Praça Pedro Velho (início do século XX) fonte: CD – Natal 400 anos (data e autor não identificados).
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