Antiga Rodoviária Presidente Kennedy

O Terminal Rodoviário foi criado em 1963, quando os natalenses começaram a aposentar os bondinhos e recebeu o nome do Presidente Kennedy, cujo assassinato, no início da década de 1960, provocou comoção em todo o mundo ocidental.. De autoria do arquiteto potiguar Raimundo Gomes, a estação rodoviária foi inaugurado pelo então prefeito Djalma Maranhão, no dia 16 de dezembro de 1963, quatro meses antes do Golpe Militar, que afastou Maranhão do poder.

Nos anos posteriores, a movimentação no lugar intensificou-se, por conta da forte migração do interior para a capital, principalmente por conta da seca. Neste período, muitos chegavam na capital potiguar por lá. Além disso, muitos retirantes criaram um grande comércio ao redor da rodoviária com a venda dos mais diversos produtos.

Havia um sério problema de alagamento nas proximidades da rodoviária e do Teatro Alberto maranhão, causando sérios transtornos aos moradores e ao comércio. O entorno da Praça Augusto Severo era área pantanosa e para os moradores e frequentadores na época de chuvas, principalmente, tornava-se necessário tirar os sapatos e levantar as bainhas das calças ou as saias, para poder caminhar sem molhar suas vestes.

Quatro anos depois da inauguração, o local se encontrava abandonado. Por isso, o prefeito Marcos César Formiga resolveu restaurar a Praça Augusto Severo e ao lado direito da antiga Estação Rodoviária a prefeitura construiu quatro quiosques, cada um com quatro boxes, destinados à venda de alimentos. A área próxima a estes quiosques, chamada largo Dom Bosco, foi calçada e ganhou alguns bancos de madeira.

A urbanização de Natal se deu a partir do bairro da Ribeira. O grande fluxo urbano e a concentração do comércio no local, fez com que praticamente todas as linhas da cidade tivessem destino até o bairro, que a partir dos anos de 1980 passou a contar com uma vasta estrutura para o transporte urbano.

TABULEIRO DA BAIANA

Instalado na antiga Rodoviária, no bairro Ribeira. Lugar ideal para uma Casa de Memória. Antes da rodoviária construída em 1963, existia o Tabuleiro da Baiana, café, bar e restaurante frequentado por gente de toda parte da cidade. O Tabuleiro da Baiana, outrora reduto da boêmia natalense, pertencia ao Sr. Jardelino Lucena (MELQUIADES in VASCONCELOS, 1999). Sobre este ponto de encontro escreveu o poeta e folclorista Gurgel (2005, p. 138):

“Tabuleiro da Baiana
Fumaça serve cartolas

banana, queijo e canela –
Para a fome das bacanas…”

A cidade do Natal está repleta de construções que sinalizam a sua história. Entretanto, alguns locais que fazem parte da sua tradição não guardaram o destaque de outros logradouros e, mesmo estando agregados ao costume da população, são sonegadas da memória da cidade.

Existia em Natal uma construção localizada nas imediações da Praça Augusto Severo, no bairro da Ribeira, erguida em concreto armado, nos idos de 1940, para abrigar os usuários de bonde.

O seu teto tinha a forma de um triângulo equilátero, com os vértices apontados para o Teatro Carlos Gomes (Hoje Alberto Maranhão), o Cinema Politeama e a Estação da Great Western. Era um misto de Café, Bar e Lanchonete.

Esse abrigo, construído ao lado do Pavilhão Municipal (que comercializava gasolina e peças para automóvel), passou a ser explorado, no ano de 1941, pelo Senhor Jardelino Lucena e recebeu a denominação de Tabuleiro da Baiana por apresentar no centro do teto triangular, a gravura de uma baiana.

A construção era apoiada em três colunas retangulares que apresentavam espaço interno lembrando guaritas. Em uma funcionava a cozinha, em outra a caixa registradora (onde vendia charutos e cigarros) e a terceira servia como depósito de materiais.

As mesas eram apoiadas em um suporte “pé de leão”, com tampa de mármore. A construção dispensava portas e janelas por ter sido erguida com a finalidade de abrigar os ocupantes do bonde de farol roxo que fazia a linha Ribeira-Alecrim.

Esse misto de café, bar e lanchonete era contornado por prédios de real importância histórica da cidade do Natal. Além do Teatro, do Cinema e da Estação Central da Great Western, já mencionados, erguia-se em suas adjacências, a Faculdade do Direito, o Colégio Salesiano e a Escola Domestica do Natal, como também casas comerciais e consultórios médico-dentários que atendiam à população da tranquila cidade do Natal.

No Tabuleiro da Baiana desfilaram personagens respeitáveis na cultura e na política do Estado, e outras, quase que imperceptíveis, como este escrevedor.
O Professor Melquíades de saudosa memória, em crônica publicada no Diário do Natal, de 10 de julho de 1999, confessou ter bebido ali, ao lado do Professor Saturnino, a famosa cerveja Teutônica, que no seu dizer era a melhor cerveja do mundo.

No Livro Cantos de Bar de Viltany Oliveira Freitas (p. 107) consta que o Tabuleiro da Baiana era um importante espaço de sociabilidade natalense.

O Tabuleiro da Baiana, como muitas construções históricas do Natal, foi demolido por força do desenvolvimento. Em seu lugar foi erguida e inaugurada em data de 15 de dezembro de 1963, a Estação Rodoviária Presidente Kennedy (Rodoviária Velha). Em 2007, quando do projeto de revitalização da Ribeira, na administração do Prefeito Carlos Eduardo, recebeu significativas modificações. Foram erguidos novos abrigos de passageiros, dessa feita para ônibus, com plataformas de embarque e desembarque, sendo entregue a população no sábado, 4 de agosto do mesmo ano.

Guardo do Tabuleiro da Baiana, palco de grandes farras e bons “papos” inestimáveis lembranças, as quais só podem ser entendidas por aqueles que ocuparam suas mesas, saborearam uma cartola, beberam uma cerveja, ou simplesmente tomaram um cafezinho, tudo servido pelos garçons “Fumaça” ou João “Urubu”.

O Tabuleiro da Baiana é um dos espaços populares que tem lugar cativo, sem nenhum protecionismo, na história da cidade do Natal.

Natal antiga – Ribeira. Por trás da escultura, o Tabuleiro da Baiana, famoso ponto de encontro de quem aguardava a chegada dos trens do interior e outros estados. Meu sogro, Seu Sebastião, lembra bem das cartolas que comia naquele local.
Cartão postal com vista de um dos lados da praça Augusto Severo no inicio dos anos 40. Aqui já aparece um dos lugares muito movimentado em Natal RN durante a segunda guerra, o Tabuleiro da Baiana. Fotógrafo: Antonio Berbér. Ano: Inicio dos anos 40

ASCENÇÃO

No início dos anos sessenta Natal ganhou, entre outras obras importantes para o seu crescimento e organização, a então Estação Rodoviária da Ribeira, construída na gestão do prefeito Djalma Maranhão. Uma obra grandiosa, que melhorou a qualidade de vida dos natalenses e visitantes que chegavam ou saíam da cidade pela rodovia ou ferrovia, uma vez que se situava bem nas proximidades da Estação Ferroviária, aonde chegavam e de onde saíam os trens para o interior e outros estados.

A impressão que aquela obra causava era de que se tratava de um bem comum para durar muito, atendendo à população, que à época levava uma vida ainda meio provinciana. Impressionava-me aquele prédio imenso, aquelas plataformas debaixo daquele arco gigante, e aquelas grossas colunas, cobertas por pequeninas pedras quadradas de azulejo.

A antiga Rodoviária foi, por décadas, ponto de convergência da população. Constituiu-se inclusive, no primeiro mini-shopping da cidade, com muitos pontos comerciais atendendo a todos que por lá passavam. Desde 1970 trabalhei na Ribeira, e me lembro bem daqueles locais, onde a população fazia compras de lanches, refeições, doces, salgados, e, naturalmente, passagens. Havia, entre os pontos, uma cigarreira, onde vendiam jornais, revistas, livros de bolso e cigarro, entre outros objetos. Sempre gostei de passar por lá, a fim de saber das novidades. De quebra, ouvia algumas vezes aquela voz inconfundível do locutor, anunciando: “Senhores passageiros que se destinam às cidades de São Paulo, Recife, Nova Cruz, Tangará e Assu (Por exemplo) ocupem os seus lugares, e boa viagem. São Paulo, na Plataforma um(…)”.

Por muitos anos o local foi referência, entre tantas atividades, para o mundo da música, haja vista que, no primeiro andar, entre escritórios diversos, funcionava o tradicional Escritório de Arrecadação de Direitos Autorais – ECAD, por muito tempo representado pelo radialista e ex-vereador Bernardo Gama. Ele fez parte do grupo denominado Jardim de Infância da política natalense, no Movimento Democrático Brasileiro – MDB. Além dele, compunham o grupo Garibaldi Filho, Henrique Alves, Antônio Câmara, Iberê Ferreira de Souza e Clóvis Barbosa.

A urbanização de Natal se deu a partir do bairro da Ribeira. O grande fluxo urbano e a concentração do comércio no local, fez com que praticamente todas as linhas da cidade tivessem destino até o bairro, que a partir dos anos de 1980 passou a contar com uma vasta estrutura para o transporte urbano.

Na segunda metade da década de 2000, a Ribeira passou por uma grandiosa reforma, tendo sua estrutura de atendimento ao transporte remodelada. Nesta época, além das linhas 37 e 44, as linhas 46 (Ponta Negra/Ribeira, via Praça), 54 (Ponta Negra/Ribeira, via Alecrim) e 56 (Ponta Negra/Ribeira, Via Costeira) também tinham terminal lá. O ponto final de todas as linhas foram transferidas para o bairro das Rocas. Já as linhas metropolitanas, foram proibidas de circular no espaço reformado pela Secretaria de Mobilidade Urbana de Natal (STTU). A estrutura da antiga rodoviária velha foi extinta, dando lugar a um espaço de convivência e novas vias para os ônibus que ali passam.

Rodoviária velha da Ribeira. No “coração da Ribeira“ no entorno da Praça, encontrava-se a Estação Rodoviária, construída na década de 60, utilizada para locomoção intermunicipal e interestadual da população.
ESTAÇÃO RODOVIÁRIA PRESIDENTE KENNEDY. (Bairro Ribeira). Foto: Jaeci E. Galvão. A “rodoviária velha” também foi responsável pelo crescimento econômico do bairro devido ao grande movimento de pessoas viajando, consequentemente, utilizando os serviços ali oferecidos. O local, nos primórdios, fora habitado por uma tribo Potiguara e ao lado passava um riacho que foi aterrado e como lembrança restou apenas uma pequena ponte.

DESUSO

Ao longo da década de 1990, a concentração dos ônibus urbanos e metropolitanos na Ribeira era grande. A partir desta época, novos centros comerciais na região sul de Natal surgiram, praticamente acabando com o fluxo urbano na Ribeira. O direcionamento dos cidadãos tornou-se, em sua maioria, a região sul da cidade. A questão refletiu também no sistema de transporte: linhas com destino a Ribeira foram unificadas e novas rotas passaram a atender os usuários. Já era possível ver menos ônibus urbanos na região.

Com o desenvolvimento urbano, novas demandas exigiram a construção de um terminal rodoviário que atendesse os “novos tempos”. A partir da década de 1980, a antiga Rodoviária, sofre um processo de desativação, decorrente da construção da Rodoviária Nova, erguida no bairro Nazaré. Contudo, a Rodoviária Velha continua presente no imaginário coletivo.

O bairro da Ribeira contava, inclusive, com o terminal rodoviário da cidade – transferido para o bairro de Cidade da Esperança em 1981, quando o Governo do Estado construiu novo prédio. A estrutura antiga foi aproveitava e mantida para o uso dos ônibus urbanos e metropolitanos. Durante quase três décadas, a “Rodoviária Velha”, como era conhecida, foi mantida e utilizada como terminal para as linhas 37 (Cidade Satélite/Ribeira, via Praça), e 44 (Cidade Satélite/Ribeira, via Alecrim).

A Rodoviária Nova serve toda a região metropolitana de Natal que possui atualmente mais de 1,6 milhões de pessoas. Foi inaugurado no ano de 1981, sendo um dos maiores terminais do Nordeste. Chega a movimentar por mês mais de 200 mil pessoas que usam outros serviços além de embarque e desembarque. Muito além de um terminal de embarque e desembarque, a Rodoviária de Natal se destaca pela oferta de guichês de atendimento de serviços essenciais. Desde 2008 a “Rodoviária Nova” é administrada por uma empresa privada.

Antigo Terminal Rodoviário de Natal (década de 1980). Foto: Acervo “A República”.
Movimento de pessoas no antigo Terminal Rodoviário de Natal (década de 1980). Foto: Acervo “A República”.
antiga rodoviária de Natal na Ribeira em 1980, atualmente Museu de Cultura Popular.
Imagem da Praça após divisão e construção do Terminal Rodoviário, nos anos 1960.
Levantamento e Reconstituição virtual da Praça Augusto Severo em 1979. 
Antiga rodoviária da nossa cidade. Praça Augusto Severo
Provavelmente anos 70
Busão de Ontem: Cidade do Sol no antigo terminal da Ribeira (Rodoviária Velha).

MUSEU DE CULTURA POPULAR

A Rodoviária Velha – assim chamada desde que foi inaugurada a nova Rodoviária, na Cidade da Esperança – deu lugar ao Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão. Para quem não sabe, está localizado no Largo Dom Bosco, da Praça Augusto Severo, Ribeira. As instalações foram totalmente reformadas, para dar lugar ao acervo. O Museu foi inaugurado em 2008, com um acervo de em torno de 1500 peças, resultado das atividades de centenas de artistas potiguares. Aborda tradições populares, entre elas danças, folguedos, cultos, crenças, folclore, brincadeiras, arte e artesanato do estado do Rio Grande do Norte.

Aquele local foi palco de muitos momentos vividos pelos natalenses, potiguares e visitantes.

Lugar de memória, por muito tempo ponto de chegada e de saída de várias gerações de natalenses, transforma-se, dentro do Projeto de Revitalização da Ribeira, no Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão. O museu guardará a memória dos folguedos populares, expressões do povo, fazendo justiça a seu patrono que tanto fez pelo folclore Potiguar.

É neste lugar, impregnado de história, que visitantes e nativos podem encontrar um vasto acervo do Patrimônio Material e Imaterial da Cultura Popular.

Lugar de memória, por muito tempo ponto de chegada e de saída de várias gerações de natalenses, transforma-se, dentro do Projeto de Revitalização da Ribeira, no Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão. O museu guardará a memória dos folguedos populares, expressões do povo, fazendo justiça a seu patrono que tanto fez pelo folclore Potiguar.

É neste lugar, impregnado de história, que visitantes e nativos podem encontrar um vasto acervo do Patrimônio Material e Imaterial da Cultura Popular.

Imagem Virtual da Praça após a última intervenção, executada em 2007
Execução do Projeto de Revitalização da Praça Augusto Severo – Esplanada e Estátua.
Antiga Rodoviária (atual Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão).
Antiga Rodoviária (atual Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão). Foto: Esdras Rebouças Nobre.
Rodoviária Velha. Foto: Adriano Medeiros.

FONTES SECUNDÁRIAS:

MELQUÍADES, José. Natal que vi e dentro da qual sonhei. In: SOUZA, Carlos José; ARAÚJO, Carlos Magno; VASCONCELOS, Osair (org.). Crônicas natalenses. Natal: EDUFRN, 1999, p. 135-139.

GURGEL, Deífilo. Os bens aventurados. Natal: RN Econômico, 2005.

FONTES:

ANUÁRIO NATAL 2013 / Organizado por: Carlos Eduardo Pereira da Hora, Fernando Antonio Carneiro de Medeiros, Luciano Fábio Dantas Capistrano. – Natal : SEMURB, 2013.

Mapeamento Grupos Organizados da Sociedade Civil: Ribeira. Plano de reabilitação de áreas urbanas centrais.

Natal: história, cultura e turismo / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. – Natal: DIPE – SEMURB, 2008.

Natal ontem e hoje / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. – Natal (RN): Departamento de Informação Pesquisa e Estatística, 2006.

NO TEMPO DA MARICOTA – XLVIII (Crônicas de Walter Medeiros): A Rodoviária da Ribeira.

Tabuleiro da baiana – Tribuna do Norte – Manoel Procópio de Moura Júnior – http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/o-tabuleiro-da-baiana/497231 – em 15/10/2022.

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