Paris em Natal

O Edifício “Paris em Natal” localiza-se onde fora um dos endereços mais nobres da capital potiguar nos anos de 1920, na Praça Augusto Severo, nº 250. Este edifício abrigou a elegante loja Paris em Natal, a loja fornecia aos seus seletos clientes as mais novas tendências da moda Europeia, já que era de costume da alta sociedade natalense desfilar pelas ruas da Ribeira à moda parisiense.

Loja Paris em Natal de propriedade do Cel. Aureliano Clementino de Medeiros, o mesmo dono do Solar Bela Vista, ficava ao lado de outro de outro signo da modernidade que era o cinema, de nome Cine Polytheama. Na edificação era possível perceber o requinte da arquitetura da época, pautada em elementos ecléticos, bem como os citadinos passeando com trajes elegantes.

Ficava ao lado de outro de outro signo da modernidade que era o cinema, de nome Cine Polytheama. Na primeira fotografia é possível perceber o requinte da arquitetura da época, pautada em elementos ecléticos , bem como os citadinos passeando com trajes elegantes.

Conforme os Professores Lenin Campos e Matheus Barbosa: “A Loja Paris em Natal […] possuía quatro grandes janelas no piso superior e estas possuíam guarda-corpos trazidos da França. Sobre as portas, o tímpano dos arcos, também exibia trabalhos em metal de oficinas francesas. A loja abriu em 1908 e vendia artigos finos para a população potiguar. Ao lado, ficava o Cine Polytheama, que abriu suas portas na praça Augusto Severo em 1915.”

Quem chegava a Natal na primeira década do século XX defrontava-se com cenário, que era ainda formado pelos melhores hotéis da cidade – o Internacional, o Hotel dos Leões e o Avenida – , o Polytheama, o melhor cinema de Natal, o e os estabelecimentos comerciais chics que traziam as últimas novidades da Europa, como o magazine Paris em Natal, a firma de Omar Medeiros e o loja de Lira Oliveira & Cia. (MOURA, 1986, p. 222) Ao lado da estação, na subida para a Cidade Alta, a imponente residência e indústria da família Barreto completava o ângulo da praça.

Vista Geral do Jardim da Praça Augusto Severo. Finalmente o espaço estava pronto para receber os prédios públicos que delimitariam a praça. Observar a existência de lojas na face norte, com destaque para Paris em Natal, o sobrado situado na esquina à direita da praça. Fonte: Lyra, Carlos. Natal através do tempo, 2001.
As edificações do quadrilátero da Praça Augusto Severo e os serviços urbanos instalados configuram símbolos de modernidade capitalista: o bonde e a energia elétrica, a Casa Paris em Natal e a Fábrica de Tecidos, a Estação Ferroviária, a residência do industrial Juvino Barreto (antiga Vila Barreto), o cinema Polyteama e o Teatro “Carlos Gomes”, a Escola Doméstica, dentre outros.

Antecedentes

Nas primeiras décadas do século XX, as elites natalenses desejavam transformar a pequena Natal em uma cidade moderna. Elas queriam mudar a cidade, não apenas no que se refere a sua estrutura física, mas também os hábitos, os costumes e as práticas relacionadas ao seu espaço, trazendo para Natal neste momento, toda uma série de valores, idéias, hábitos, avanços científicos e tecnológicos, que caracteriza aquilo que têm sido chamado de modernidade.

A modernidade, entendida como toda uma série de transformações políticas, econômicas , sociais e culturais vivenciada no continente europeu no final do século XIX até a primeira guerra mundial, se difundiu para as outras partes do mundo a partir do avanço do sistema capitalista. Estas transformações vivenciadas na Europa traziam uma nova forma de se ver e se relacionar com o mundo, uma nova cultura cultuada em torno da crença na ciência e no progresso da civilização, emergindo neste sentido, um modo de vida moderno.

Quando a Rua do Comércio (um dos locais mais frequentados por clientes de lojas, bancos, farmácias etc.) foi calçada em 1908, a Ribeira já tinha a tradição de centralizar o comércio da cidade de Natal. O calçamento significava contribuição para o progresso do bairro. Embora que, ilusoriamente, proprietários de lojas se davam ao luxo de dar às suas casas comerciais nomes europeizantes, como a Paris em Natal, ao lado do cinema Polytheama. Outra loja, tinha o nome bem característico do estado de espírito modernizante: O Progresso, com grande sortimento de novidades.

Inauguração

Edifício Paris em Natal. Fonte: Natal ontem e hoje / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. Natal: Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2006, p. 22.

Cidade do Natal, bairro da Ribeira, numa das esquinas da praça Augusto Severo em 28 de fevereiro de 1908, o coronel Aureliano Clementino de Medeiros, antigo comerciante de Macaíba, inaugurava solenemente a aristocrata loja “Paris em Natal”. Grande loja de tecidos, chapéus, calçados, perfumes entre outros artigos finos.

Ao ato da inauguração compareceram distintos cavalheiros da sociedade natalense, representantes do comercio, da imprensa, a banda de música do Batalhão de Segurança e o chefe político estadual Dr. Alberto Maranhão, que foi o freguês da primeira venda da loja: um corte de fazenda para a primeira dama do Rio Grande do Norte – Inês Barreto Maranhão.

Reporto-me ao antigo jornal A República para destacar o comentário deste semanário acerca da nova loja: “fazemos votos para que o novo estabelecimento seja realmente o que todos esperam – uma moderna loja – num comércio atrasadíssimo”. A “Paris em Natal” foi fiel ao signo da elegância até inicio dos anos 40.

Anúncios

Em relação ao que estava chegando de mercadorias em Natal, a partir dos anúncios de propaganda de produtos feitos por determinadas lojas da cidade, e de algumas matérias sobre a entrada de algumas mercadorias, podemos quantificar a entrada de produtos como roupas, chapéus, charutos, tecidos, sedas, perfumes, gêneros alimentícios de marcas europeias, além de livros que vinham em geral de Paris e de Londres. São estes produtos que encontramos com frequência nos anúncios das principais lojas da cidade.

No anúncio de cada um destes produtos, aparecem comumente afirmações como “é o que há de mais chic”, ou “o ultimo gosto de Paris”. Em 1920, na loja intitulada “Paris em Natal”, vemos ser anunciados as “últimas novidades” que acabam de chegar na loja, entre elas, tecidos de algodão, lã e seda, rendas, franjas, Soutaches, cordões de seda e fita, como também perfumes vindos das principais perfumarias da Europa. (ANÚNCIOS, A Republica, Natal, 18 fev.1920).

Percebemos na própria escolha dos nomes das lojas aqui citadas, o desejo de se representar determinados ideais da modernidade, como as crenças no progresso e na civilização. Entendemos que o consumo destes produtos pode indicar a adoção de novas práticas sociais, como também a afirmação de prestígio social por determinados grupos sociais perante outros. O consumo de produtos deve ser entendido não apenas como o consumo de valores de uso, de utilidades materiais, mas primordialmente como o consumo de signos, por isso, são reveladores das transformações vivenciadas em determinada sociedade. ( FEATHERSTHONE, 1995: 121).

Londres e Paris, centros representativos do desenvolvimento, do progresso e da civilização, eram os grandes exemplos a serem seguidos. Eram nesses mundos que as elites natalenses espelhavam suas construções (praças, ruas, prédios, jardins etc.), como também os produtos consumidos. São bastante comuns os anúncios das propagandas ofertarem os produtos mais valorizados vindos desses lugares. As próprias lojas exibiam
os seus nomes vinculados a estes grandes centros, como por exemplo, as lojas Paris em Natal e Casa Londres. Era uma forma de Natal se sentir cada vez mais próxima e dentro de um mundo civilizado.

A imagem do Paris em Natal ao fundo da foto nos anos 50/60.

Proprietário

Aureliano Clementino de – Nasceu em Pilar-PB, a 14.07.1853, filho de Manoel Clementino de Medeiros e d. Alexandrina de Holanda Medeiros. A família transferiu-se para Macaíba (1868) onde, mais tarde, tornar-se-ia comerciante e constituiria considerável patrimônio.

Casou-se com filha da terra. Em fins do século XIX, além de solidamente estabelecido no comércio e já próspero proprietário de imóveis, foi eleito Presidente da Intendência (Prefeito) naquele município. O Coronel Aureliano foi Intendente Municipal (atual cargo de Prefeito) de macaíba em três períodos; Eis os períodos 1898-1901; 1902-1904; 1905-1907. Entre outras intervenções, construiu a ponte sobre o Rio Jundiaí (1904).

Findo o mandato, resolveu transferir-se para Natal. Aqui, montou uma loja de tecidos e investiu na construção civil, adquirindo e reconstruindo diversos prédios (todos da antiga travessa da Alfândega – cujo nome a Intendência local mudou para travessa Aureliano Medeiros – e alguns da Rua Dr. Barata), colaborando efetiva e eficazmente para a revitalização comercial daquele setor.

O Sr. Aureliano Medeiros, rico fazendeiro e comerciante de algodão, construiu, também, um palacete à Rua Junqueira Aires, onde passou a residir; Trata-se do Solar Bela Vista, palacete cuja construção teve início em 1907, em estilo neoclássico. Após sua morte, no local foi instalado o Hotel Bela Vista, hoje pertencente ao SESI. Vizinho, está o Solar João Galvão de Medeiros. Construído em 1908 pelo Sr. João Alfredo, o edifício foi adquirido pelo Coronel Aureliano de Medeiros, que ali fixou residência por dois anos, período em que aguardava a construção do Solar Bela Vista.

Solar Bela Vista no ano do centenário – 2007.
Solar João Galvão de Medeiros em 2007
Um espaço de intensa atividade comercial na Natal do início do século XX hoje sua fachada corroída é, simbolicamente, a representação do deslocamento do centro econômico da Ribeira para outras regiões da cidade. Edifício Paris em Natal. Fonte: Projeto ReHabitar / Secretia Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. Natal: SEMURB, 2007.
Na figura de número dois é clara a descaraterização arquitetônica do prédio, que perdeu seus adornos, ganhou mais um pavimento e em nada se assemelha com o edifício da foto anterior, só é reconhecido pela numeração.
Encontra-se subutilizado, nele funcionam um bar popular. O que indica não apenas a transformação da forma, como também da função.

Fontes:

AURELIANO CLEMENTINO DE MEDEIROS – AURELIANO CLEMENTINO DE MEDEIROS – https://jm-aurelianoclementino.blogspot.com/2021/09/aureliano-clementino-de-medeiros_25.html – Acesso em 08/01/2022.

BARROS, José D’Assunção de. Cidade e História. Petrópolis: Editora Vozes, 2012;

CAPISTRANO, Luciano Fábio Dantas. Divagações: memória, fotografia e história. Natal: Sebo Vermelho, 2019;

MODERNIDADE E RUÍNA NA FOTOGRAFIA: As duas faces do bairro da Ribeira no imaginário urbano de Natal. Por ANNA GABRIELLA DE SOUZA CORDEIRO.

Natal ontem e hoje / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. – Natal (RN): Departamento de Informação Pesquisa e Estatística, 2006.

“Paris em Natal” – Histporia e Genealogia – http://www.historiaegenealogia.com/2009/10/paris-em-natal.html – Acessoem 08/01/2021.

NOVOS PRODUTOS, NOVOS VALORES, NOVOS IDEAIS: A ENTRADA DE MERCADORIAS EM NATAL E AS MUDANÇAS NO IMAGINÁRIO URBANO NATALENSE (1893-1930). Por Khalil Jobim e Fagner David da Silva. XXIX Simpósio Nacional de História: Contra os preconceitos: história e democracia.

Ribeira velha de guerra – Nós, do RN – http://nos.rn.gov.br/2015/maio_junho/mt1.html – Acesso em 08/01/2021.

SOARES, Lenin Campos; BARBOSA, Matheus. História da Arte Potiguar: Art Nouveau. https://www.nataldasantigas.com.br/…/art-nouveau-no-rio…, Acessado em 19012021.

Um Espaço Pioneiro de Modernidade Educacional: Grupo Escolar “Augusto Severo” – Natal/RN – 1908-13 por Ana Zélia Maria Moreira

Bibliografia:

ANÚNCIOS. A Republica, Natal, 15 d abr. 1902.

FEATHERTONE, Mike. Cultura de Consumo e Pós-modernismo. São Paulo: Studio Nobel, 1995.

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