A Farmácia Torres

A Farmácia Torres, uma das quatro farmácias situadas na capital ao longo das três primeiras décadas do século XX. Visível em diversos postais antigos da Cidade do Natal, o empreendimento está Localizado em um dos endereços mais nobres da urbe: esquina da Rua Ulisses Caldas com a Avenida Junqueira Aires. Pertenceu a Joaquim Ignacio Torres, maçom, farmacêutico e político potiguar da república velha no Rio Grande do Norte.

Os parcos materiais de pesquisa impediram uma abordagem aprofundada de modo que considerei elabora uma cronologia analítica sobre as circunstancias que a Farmácia Torres, um dos primeiros estabelecimentos do ramo em Natal, foi concebido, bem como traçar uma linha no tempo de seu fundador que foi um político influente nas três primeira décadas do século XX, porém não se sabe o motivo caiu no ostracismo histórico de um forma desmedida e injustificável que, por esta publicação, tentaremos lançar alguns lampejos de sua vida e obra. Seguiremos:

A falta de profissionais de saúde foi um problema crônico em Natal desde o século XIX. Segundo dados da Inspetoria Geral de Higiene Pública, em julho 1888, a Província do Rio Grande do Norte reunia minguados quinze médicos e apenas quatro farmaceuticos! (CASCUDO, Câmara. História da cidade do Natal, p.256.). Durante as epidemias no século XIX, não era raro encontrarmos leigos atuando como farmacêuticos ou boticários.

As primeiras farmácias surgiram no Bairro da Ribeira. Como recorda Cascudo (1999, p. 155), em relação à localização do bairro Ribeira no início do século XX: “A Ribeira conservou os grandes hotéis da época, as casas comerciais, armarinhos, alfaiates, farmácias, clubes de danças, o primeiro cinematógrafo da cidade, o Politeama, inaugurado a oito de dezembro de 1911 e que resistiu vinte anos.”

Quando alguém adoecia, procurava o Doutor Afonso, que nunca deixou de ter um estoque imenso dos frasquinhos numerados das pílulas de Humphreys (Homeopatia: geralmente tinham a forma de bolinhas brancas acondicionadas em pequenos frascos de vidro trazendo um número e a indicação da doença para que servia. Também conhecidos como “específicos”.). Nesse tempo as mezinhas (medicamentos populares) curavam. Não se tinha muita necessidade de farmácias. As duas únicas que existiam serviam para encontros diversos, onde se discutia política e malhava-se a vida alheia. Para melhor conforto dos frequentadores, as boticas tinham bancos coloridos ao lado direito e esquerdo das paredes. O “ouvi dizer na farmácia”, “foi na botica que me disseram”, eram a imprensa falada que já naquele tempo surgia…

Na Ribeira, existiam dois Cantões: o da farmácia do comendador José Gervásio de Amorim Garcia, localizada na antiga Rua do Comércio, atual Rua Chile, e outro nas proximidades do Hotel Internacional, esquina com a Rua do Comércio. Ambos eram eminentemente políticos e tinham entre os seus freqüentadores as figuras de Augusto Leopoldo, Antônio de Amorim Garcia, Francisco Amintas da Costa Barros, membros do “Grupo da Botica”, alusão à farmácia de Zé Gervásio, que sediava as reuniões da facção do Partido Conservador, Cel. Bonifácio Francisco Pinheiro da Câmara, ocorrido no ano de 1884, quando o Partido Conservador do Rio Grande do Norte ficou dividido em duas facções: a do “Grupo das Gameleiras” e a do “Grupo da Botica”.

Nos últimos anos do Império, o Conselheiro Tarquínio de Souza era o chefe do Partido Conservador na Província. As reuniões do Grupo Conservador eram realizadas na farmácia do Comendador José Gervásio de Amorim Garcia, na atual Rua Chile. Era o conhecido “Grupo da Botica”.

Na rua Dr. Barata funcionou a “Rosa Branca”, uma loja de tecidos de propriedade de Francisco Herculano Barbalho. Posteriormente foi ocupada pela “DECOART”, casa especializada em brinquedos e artigos para decoração. Ali também funcionou a firma exportadora de algodão J. Fasanaro Pepino, uma farmácia e uma casa de modas – “Au Bon Marché”.

No Cais Pedro de Barros, atual Cais da Tavares de Lira, para alcançar a rua Correa Teles, atual Dr. Barata, atravessavam obrigatoriamente o Beco do Antônio ldalino. Naquele beco instalou-se, por volta de 1885, a Farmácia Medeiros, do farmacêutico Victor José de Medeiros.

A Farmácia Medeiros tornou-se conhecidíssima, contando com grande clientela, pois além dos largos conhecimentos do farmacêutico, ele era proprietário de uma das duas únicas farmácias existentes na Natal de então. A outra, de propriedade do Comendador José Gervásio de Amorim Garcia, funcionava também na Ribeira, na Tarquínio de Souza, atual rua Chile.

Tempos depois outro estabelecimento passou a ser conhecido: Farmácia Natal; localizava-se na esquina das ruas Vigário Bartolomeu e Ulisses Caldas, quadra frontal à Prefeitura. Cloro (Clodoaldo Marques Leal), proprietário da Farmácia Natal, ponto de encontro vespertino de amigos e intelectuais. Djalma, quando no exílio no Uruguai, relembra o local, em seu poema “Evocação de Natal”: “A farmácia de Cloro na Ulisses Caldas / A última que mantém as características / Das históricas “boticas” do começo do século.” O prédio foi descaracterizado, perdendo a cidade mais uma marca de sua história. No local nasceu, em prédio anterior, o poeta Lourival Açucena.

Os escarças farmácias em Natal se deu pela forte regulamentação para a abertura, manutenção e comercio de seus produtos. A resolução nº 92/1904, por exemplo, aprovada por Fortunato Aranha e os demais Intendentes do Conselho desse período, estabelece que cada tipo de estabelecimento comercial deveria ter uma licença específica para funcionar, o que, a princípio, impedia que livrarias vendessem remédios e farmácias vendessem livros. A princípio.

Parece que nada impediu a vasta oferta de medicamentos propagandeados nos jornais pelas farmácias parece ter causado um certo impacto nos hábitos da população a tal ponto que chegou a incomodar os médicos. Num local em que a Medicina ainda estava se constituindo como um campo específico de saber, as ofertas facilmente poderiam incentivar ao que hoje denominaríamos de “automedicação”. O próprio Dr. Januário Cicco dirigiu críticas fervorosas ao que ele denominou de mercantilismo indiferente aos destinos do enfermo. Dizia ele:

Ao mercantilismo é indifferente a sorte dos syphiliticos, bastandolhe que cada doente consuma uma dúzia de vidros das suas infâmias engarrafadas para lhe consolidar a fortuna, que ambiciona. Avariados! Em guarda contra os vossos coveiros, esses mesmos que vos offerecem um vidro dos elixires cura tudo! (CICCO, Januário. Como se hygienizaria Natal: algumas considerações sobre o seu saneamento. Apud: LIMA, Pedro. op. cit. 2003, p. 7.).

Em meio à apreensão causada pelo alastramento da gripe em 1918, o comércio se adequava como podia a triste novidade: a gripe espanhola. A farmácia Torres anunciava que por 1$800 (um mil e oitocentos réis) era vendido um preservativo que poderia ser utilizado no ato sexual, mesmo em meio ao surto de gripe, “prevenindo pessoas que dele fazem uso com vantagem”. Para outras atividades a situação era mais complicada; a fábrica de gelo da Força e Luz, a única da cidade, parou suas atividades durante a ocorrência do surto.

Em geral, cabia à farmácia o aviamento de receitas, isto é, a produção de medicamentos indicados pelos médicos. Porém, uma farmacopeia oficial só apareceu em 1926, quando foi publicada a Farmacopéia dos Estados Unidos do Brasil. Até então, durante todo o século XIX, funcionaram as farmacopeias lusitanas, coleções de receitas, tratados de matéria médica, os formulários de Chernoviz e Langaard, o Codex medicamentarius gallicus, indicado pela Junta Central de Higiene Pública. Na República, publicou-se o Formulário Oficial e Magistral (1889-1892), de Pires de Almeida, contendo seis mil fórmulas (EDLER, Flávio Coelho. Boticas & Pharmacias: uma história ilustrada da farmácia no Brasil, p.76.).

Se, à esta altura, estamos com dificuldade de compatibilizar seu exercício da medicina no hospital com as atividades extra-hospitalares, acrescente-se a tudo isto ainda o trabalho do receituário dispensado na Farmácia Torres. Nela, outros integrantes do Hospital de Caridade Juvino Barreto aparecem receitando:

Na propaganda, o Inspetor Geral de Hygiene e Assistência Públicas, Dr.Calistrato Carrilho, aparece dando consultas no “consultório da pharmacia” das 16h às 17h. O Dr. Afonso Barata era Inspetor de Saúde do Porto, e já comparecera mais de uma vez ao Hospital de Caridade Juvino Barreto socorrendo Januário em operação cirúrgica. O doutor Januário Cicco, por sua vez, dava rápido expediente, das 15h às 17h, uma hora apenas, certamente para harmonizar suas consultas do receituário com a atividade clínica e o movimento do hospital.

Antes de 1920, a abertura de farmácias tinha maior flexibilidade. Em maio de 1912, o prático Rodolpho Maranhão requereu à Inspetoria Geral de Higiene e Assistência Públicas a licença para abrir um estabelecimento farmacêutico em Macaíba, no Rio Grande do Norte. A IGHAP organizou então, no laboratório da Farmácia Torres, um “exame de habilitação”, que contou na banca com a participação do Inspetor Geral de Higiene Calistrato Carrilho e os farmacêuticos Joaquim Torres, presidente da Farmácia Torres, e Pedro Cancio Dias Guimarães. Ao término da arguição, candidato recebeu a esperada aprovação (A REPÚBLICA. Várias, 8 maio 1912.). Quatro meses antes, em 4 de janeiro, o mesmo processo conferiu ao farmacêutico Joaquim Lino de Medeiros a abertura da Farmácia Medeiros, em Mossoró (A REPÚBLICA. Várias, 4 jan. 1912.).

Numa legislação como a implementada na década de 1920, o número de farmacêuticos diplomados era muito reduzido, a maioria concentrados na capital federal. Com o diploma em mãos, certamente o caminho desejado era abrir uma farmácia particular, administrando seu próprio negócio. Conseguir o alvará de abertura de uma farmácia pelo Departamento Nacional de Saúde Pública, implicava submeter-se a dois tipos de exigências: condições adequadas de iluminação, arejamento e impermeabilização do local; e a compra de remédios e acessórios, como vasilhames, livros e rótulos. Isto sem falar no capital necessário para a construção do estabelecimento.

Tais exigências explicam o pequeno número de farmácias em Natal. Para o período que estamos estudando aqui, as três primeiras décadas do século XX, catalogamos no jornal A República cerca de nove estabelecimentos farmacêuticos: Farmácia Torres, Farmácia Maranhão, Farmácia Monteiro, Farmácia Popular, Farmácia Santana, Farmácia Pereira, Farmácia Ferreira, Farmácia do Brasil e Farmácia Natal.

Na década de 50 a Cidade Alta se destacava na área da saúde, assim como os consultórios médicos, havia no bairro uma concentração de farmácias. Na coluna intitulada “Dos jornais de ontem” do jornal A República, podemos acompanhar as reclamações de um leitor do Diário de Natal acerca da ausência de farmácias abertas na Ribeira e a forte presença delas no bairro da Cidade Alta. O leitor fez um apelo às autoridades de Saúde Pública, para modificação do sistema de plantões de farmácias. Natal possuía 23 farmácias e de acordo com o leitor, “não é justo que o habitante da Ribeira tenha de locomover-se à Cidade Alta ou ao bairro do Alecrim para encontrar a farmácia de Plantão” (A REPÚBLICA, 21.05.1950: 8).

Palácio Felipe Camarão (prefeitura) Década de 20. O serviço de bonde e de iluminação pública celebrados atingiam um pequeno trecho da cidade. De acordo com nota em jornal publicada pela empresa, correspondia “somente da avenida Rio Branco à Ribeira”. EMPREZA de Melhoramentos. Diário de Natal, 3 de outubro de 1911, p. 1. Nota-se em primeiro plano a Farmácia Torres.
Visão da Igreja Presbiteriana de Natal que organizada em 1896 a partir do Antigo Palácio Felipe Camarão, inaugurado em 1873 e (atual Pinacoteca). Notem que ainda não havia sido construído a sede da prefeitura Palácio Felipe Camarão. Está obra ainda seria realizada em 1922.
Foto de capa da Revista Terra Natal de Ano I de 6 de agosto de 1922 – número 1 – mostra a Praça 7 de setembro recém inaugurada e anunciando a construção do monumento a Independência do Brasil. Notem que onde seria feita a obra no centro da praça havia uma rua que a dividia em duas partes. Ao fundo vemos o prédio da farmácia Torres e a torre da Igreja Presbiteriana. Fonte: IHGRN.
Centenário da Independência. Praça 7 de Setembro. 07 SET 1922. Esse prédio atrás em estilo neoclássico era a Farmácia Torrres, de Joaquim Ignácio Torres. No prédio funcionou outras atividades como uma concessionária de automóveis.
Manifestação de apoio de Sindicatos do RN ao governo do presidente Getúlio Vargas, na Praça Sete de Setembro, na Cidade Alta, defronte ao Palácio Potengi. Na foto do ano de 1938, de autor não identificado, vemos na parte superior o prédio da Farmácia Torres, com seus arcos pontiagudos. Foto do acervo de João Ghotardo

JOAQUIM IGNACIO TORRES

Uma das primeiras referências ao nome surge no Le Monde Marche foi o primeiro grêmio literário surgido em Natal, e, de acordo com seus sócios, teve como norte “ter sempre como insígnia, em todas as suas empresas, a miraculosa palavra – Instrucção, – a mais salutar, a mais santa e mais divinisada nos paizes civilisados do grande Universo”.

De acordo com Benvenuto de Oliveira, estes eram os sócios efetivos do Gremio Litterario Le Monde Marche: José Rodrigues Leite, José Prospero de A. Fernandes, Urbano Avelino, José Domingues Porto, Benvenuto de Oliveira, João Paulo P. Arruda, Virgilio Benevides S. de Mello, Pedro de Alcantara Viveiros, Francisco Santas Cavalcanti, Alfredo Cerqueira Carvalho, Tobias Rocha, Gabriel Archanjo S. Iago, Augusto Carlos M. L’E. Filho, José Luiz Ferreira Nobre, Carlos Augusto L’Eraistre, Antonio Fernandes de Oliveira, José Bernardo de Medeiros Filho, Alfredo Augusto S. de Mello, Henrique Annes J. Pires, José Coêlho de Britto, Ovidio Fernandes de Oliveira, Juvenal Lamartine de Farias, Joaquim Ignacio Torres, Luiz Ignacio Fernandes de Oliveira, Elviro Dantas Cavalcanti, L. Emygdio Pinheiro da C. Filho, M. D. Cavalcante Sobrinho. Esta relação nominal foi colocada na página 4 do ano 1, n. 5 de 15 de janeiro de 1895, a partir de um anagrama com o nome do Grêmio.

Consta que Joaquim Ignacio Torres formou-se na Faculdade de Medicina e Farmácia da Bahia em 1896.

Em pouco tempo reaparece como um promissor proprietário de terras no bairro Cidade Nova (atuais Petrópolis e Tirol). Desta vez como enfiteuta listado em uma única carta no período de 1903 a 1919. Foi o farmacêutico e professor do Atheneu Joaquim Ignacio Torres, que recebeu o domínio útil de um lote de 11.830,42 m² no subúrbio, equivalente a aproximadamente 84 habitações populares. Torres também adquiriu o domínio útil de outras terras da municipalidade que não foram mencionadas na documentação oficial disponível.

Em 1902, Torres foi citado na segunda posição na lista dos 15 maiores contribuintes de décima urbana do ano de 1902, fornecendo aos cofres do município 399.900 réis (apesar de ser referente ao ano de 1902, essa lista foi publicada somente em 1905, ver: EDITAES. Intendencia municipal. A Republica, Natal, 18 mar. 1905), o que indica que ele utilizava a apropriação do patrimônio fundiário como um negócio, construindo prédios que ampliavam sua renda de forma considerável. Como todos os livros referentes à região suburbana foram encontrados ao longo da pesquisa, as possibilidades para justificar a ausência de cartas de aforamento que registrassem esses terrenos ficam reduzidas a apenas duas: ocupação irregular ou aforamentos realizados antes de 1903.

Ainda consta como membro fundador do Natal-Club, sociedade fundada em julho de 1906. Conta, nos seus quadros, com os seguintes nomes: Alberto Roselli, Manoel Dantas, José Pinto, coronel Valentim de Almeida, coronel Romualdo Galvão, Felizardo Toscano de Britto, Alexandre Reis, Antonio Gurgel do Amaral, Joaquim Torres, Francisco Cascudo e Mario Eugenio Lyra (Ver, entre outras, as seguintes edições: A REPUBLICA, Natal, 07 jun. 1909; 27 ago. 1909; 14 mar. 1910; 10 jan. 1911; 24 jul. 1913; 15 dez. 1913; 17 abr. 1916.).

O livro A maçonaria no Rio Grande do Norte conta a história do movimento maçônico no Estado, exaltando o poder da maçonaria na formação e manutenção da República no Rio Grande do Norte, nos ajuda a fazer um mapeamento mais preciso dos nomes ligados à Intendência que pertenceram a essa sociedade. Identificamos, pela obra e também por matérias n’A Republica, entre os quais: Joaquim Ignacio Torres.

INTENDÊNCIA MUNICIPAL

Em algum momento da década de 1910, a Intendência mudou-se para um prédio situado na esquina da Rua Ulysses Caldas com a Avenida Junqueira
Ayres. O prédio, visto na imagem, era vizinho da farmácia Torres, do farmacêutico Joaquim Torres, personagem que também integrou o Conselho de Intendência.

Em 1923, o último homens de patente militar assume a presidência da Intendência de Natal, o coronel José Lagreca. Exercia, simultaneamente, o importante cargo de diretor -presidente do Banco de Natal, tendo em vista que a função de Intendente era gratuita. Eleito para o décimo primeiro Conselho em 1922, torna-se presidente da instituição pelo voto dos seus pares, certamente favorecido pela alta posição que à época possuía na sociedade natalense. Mas resolve renunciar à presidência do Conselho e ao cargo de intendente ainda no final daquele ano, alegando que não dispunha “de tempo, por accumulo de outros affazeres, para exercer, como desejava e lhe cumpria, o honroso mandato (A REPUBLICA, Natal, 05 jan. 1924.)” que lhe fora confiado.

O Jornal “O imparcial”, ano X, nº 1327, de 13 de junho de 1922, editado na até então capital federal do Rio de Janeiro, publicou a concessão da patente de coronel ao Joaquim Ignacio Torres.

O Coronel Joaquim Ignacio Torres compôs o conselho de intendência de 1917-1919 e 1923-1925, sendo vice-presidente no ano de 1923, e presidente entre janeiro e junho de 1924. Entre janeiro e maio de 1924, a cidade será administrada provisoriamente pelo vice-presidente Joaquim Torres, farmacêutico formado na Bahia, professor do Atheneu, proprietário da Farmácia Torres. Logo se vê uma primeira mudança: mudança no perfil do gestor da municipalidade desde então.

A primeira estrada carroçável ligando a Vila de Ponta Negra à Natal foi construída em 1923, pelo farmacêutico e Intendente de Natal, Joaquim Ignácio Torres, sendo reaberta em 1936, pelo então prefeito Gentil Ferreira de Souza (SILVA, 2003; NEVEROVSKY, 2005). Mas o farmacêutico Torres também não tem muito tempo para executar novos projetos para a cidade. Ele chega a se candidatar ao cargo de presidente da Intendência, desejoso de manter-se à frente da gestão da cidade, mas é derrotado pelo bacharel Manoel Dantas eleito intendente e, pelos votos dos demais membros do Conselho, torna-se o chefe do poder municipal.

“Em 1923, no relatório que apresentou ao Conselho de Intendência Municipal, o vice-presidente da Intendência, em exercício, o farmacêutico Joaquim Ignácio Torres, afirmava que o “mercado de ferro que em 1915 foi inaugurado na Ribeira, tinha sido pela administração anterior entregue à Higiene Federal para nele funcionar um posto de assistência médica, com toda a sua instalação” (TORRES, 1923, p. 8). Com a entrega do prédio do mercado à saúde pública, renasceu a Feira da Tatajubeira a partir de março de 1924 por determinação do presidente da Intendência, Cel. José Lagreca. A finalidade desta restauração era o barateamento do custo de vida. Para isso, ficaram livres de impostos e de sujeira os produtos vendidos à sombra da velha tatajubeira, mercê da fiscalização municipal (A República, 29 de março de1924).

Joaquim Torres também se candidatara ao cargo, mas recebeu apenas um voto (presumivelmente dele próprio). A disputa, se é que assim podemos chamar, não gerou arengas, nem mágoas: após a eleição todos os intendentes se reuniram na casa do derrotado candidato, sendo-lhes “offerecido abundante copo de cerveja. (INTENDENCIA Municipal. A Republica, Natal, 03 maio 1924)”. O fato é revelador da coesão desse grupo, mas não nos adiantemos tanto.

ANTIGA FARMÁCIA TORRES (Rua Ulisses Caldas com Av. Junqueira Aires Bairro Cidade Alta) Foto: Dr. Manoel Dantas (fotógrafo viveu em Natal no período de 1900 até sua morte, em junho de 1924).
Não tenho o registro do autor, mas posso afirmar que a foto foi realizada antes de 1922 (ano da construção do palácio Felipe Camarão – sede da Prefeitura de Natal) que nesta foto aparece a sede da intendência municipal no canto direito pelo prédio branco de esquina. Por trás deste prédio está a igreja Presbiteriana localizada na avenida câmara cascudo, antiga Junqueira Aires. A rua do outro lado da praça é a Ullisses Caldas. O prédio na esquina foi a antiga farmácia Torres. O registro foi feito a partir do palácio Potengi, antiga sede do governo do RN, hoje a Pinacoteca estadual.
Uma das atividades desenvolvidas neste prédio da esquina foi a Farmácia Torres de Joaquim Ignácio Torres, farmacêutico, político e professor do Atheneu Fotos montagem de Marivan Melo.

FACULDADE DE FARMÁCIA

Uma forma de aumentar o número desses profissionais podia se dar pela iniciativa local. Para Souza (1984), foi na gestão do Governador do Rio Grande do Norte Antônio José de Melo e Souza (1919 – 1923) “político e literato” que foi criada a Escola de Farmácia, mediante o Decreto nº 192, de 8 de janeiro de 1923, por sugestão do Deputado Joaquim Inácio Torres, o qual já havia sugerido ao Congresso Legislativo do Estado, que autorizou a criação do Curso através da Lei n. 497, de 2 de dezembro de 1920. Ainda, em 1923, o referido Governador sancionou a Lei 570, criando o Curso de Odontologia, em Natal, que funcionaria anexado à Escola de Farmácia. Posteriormente, estas Escolas foram agregadas, passando a se chamar Escola de Farmácia e Odontologia de Natal.

Em sua Mensagem ao Congresso Legislativo, relatou a criação legal da instituição e o funcionamento da Escola naquele ano:

Embora com difficuldades de varia ordem, das quaes a primeira em data era a do próprio local para a sua installação, poude ser inaugurada no corrente anno a escola de Pharmacia creada pelo decreto n.192, de 8 de janeiro deste anno, conforme auctorização dada pela lei n.497, de 2 de Dezembro de 1920. Comquanto sem nenhuma dotação, não foi difficil encontrar médicos e pharmaceuticos, dos mais conhecidos e conceituados da capital, que se incumbiram da regência das cadeiras do curso, facto lisonjeiro que certifica o patriotismo e o desinteresse desses profissionaes (RIO GRANDE DO NORTE, 1923, p.13.).

Assim, em 8 de janeiro de 1923, pelo decreto n.192, criou-se uma Escola de Farmácia em Natal (A REPÚBLICA. Decreto n.192, 16 jan. 1923.), que funcionaria como curso farmacêutico de formação superior. No primeiro ano, os professores seriam os médicos e farmacêuticos funcionários do Estado, sendo posteriormente os cargos ocupados por aprovados em concurso público. Os candidatos teriam de ser maiores de 16 anos, portar atestado de “idoneidade moral”, identidade de pessoa e pagar taxa de inscrição, submetendo-se a provas de Português, Francês, Geografia, Aritmética, Física, Química e História Natural, todas supervisionadas por uma banca de três professores. O curso teria duração máxima de três anos, como as demais faculdades de Farmácia. A direção da Escola de Farmácia de Natal foi entregue ao doutor Januário Cicco, que também chegou a ministrar a disciplina de Toxicologia.

Em 1947, a Igreja Católica criou a Escola de Serviço Social de Natal. No mesmo ano, o Professor Luiz Soares de Araújo refundou a Faculdade de Farmácia e de Odontologia, que foi autorizada a funcionar em 06 de dezembro de 1948, pelo Decreto Federal n° 25.973, e reconhecida em 29 de julho de 1952, pelo Decreto Federal n.° 31.209.

Divisão Jurídica e Administrativa do Rio Grande do Norte em 1922 no qual consta como membros do Congresso Estadual.
Prédio do Colégio Atheneu Norteriograndense em que funcionou a Faculdade de Farmácia e Odontologia. Fonte: Foto de autor desconhecido, Portal da Memória (UFRN, 2005). No prédio da antiga Faculdade de Farmácia e Odontologia, os aspectos herdados de estilos passados são tão esmaecidos que parece vã a tentativa de identificá-los. Substituiu um edifício eclético de vertente neo-gótica, sede do Ateneu Norte-rio-grandense. Prédio do Atheneu: lamentável e desnecessariamente demolido em 1954. Destruiu-se um patrimônio histórico,
construindo-se no local um prédio “moderno”, onde se instalou a Faculdade de Farmácia e Odontologia (1956) e, depois, a Secretaria Municipal de Finanças.
“Quem quer que se dirija hoje ao bairro da Ribeira ao iniciar o percurso da Av. Junqueira Aires, vê logo após a igreja Protestante, o edifício da Faculdade de Farmácia e Odontologia- no mesmo lugar onde existiu o Atheneu Norte Rio Grande. Ali estudavam-se tôdas as matérias do curso secundário.”
(Pedro de Alcântara Pessoa de Mello). Faculdade de Farmácia e Odontologia, criada a 3 de fevereiro de 1948, iniciou suas atividades em março de 1948.

DOCÊNCIA

Após a fase em que se dedicou a política reencontramos o nosso personagem na história desta vez como docente. O Sr. Pharmaceutico Joaquim Ignacio Torres foi diretor Atheneu norte-rio-grandense em 1924 e professor de Física e química (fez parte da cadeira/1924). José Augusto assim representou a instituição na Mensagem de 1924: “Atheneu Norte Riograndense – O ensino secundário, moldado pelo Colégio Pedro II, é dado no Atheneu Norte Rio Grandense, que obedece à direção do Sr. Pharmaceutico Joaquim Ignacio Torres, professor de física e química e vice-diretor” (RIO GRANDE DO NORTE, 1924, p. 36).

O Atheneu Rio Grandense, principal instituição de ensino do Rio Grande do Norte no início do século XX. Foram seus professores, entre outros, o padre José de Calazans Pinheiro, Manoel Dantas e Joaquim Torres, nomes também ligados ao Conselho de Intendência, além de Tavares de Lyra e José Augusto, eminentes figuras do cenário político local. (A REPUBLICA, Natal, 11 jan. 1911). Dr. Teve entre seus alunos Omar O’Grady, também foi Intendente do Natal.

FATO & FOTO

O Professor Protásio de Melo se recorda perfeitamente da visita a Natal de Getúlio Vargas e do Presidente dos Estados Unidos, Roosevelt (janeiro de 1943). “Eu estava com uma turma sentado, daqui a pouco lá vem a zoada, a sirene. Quem é? É Roosevelt, que vem com Getúlio e Winston Churchill. Não era, era só Roosevelt e Getúlio. Eles passaram de frente ao Grande Hotel, cortaram a praça e subiram. Cascudo estava na esquina da farmácia Torres. Quando eles passaram, Getúlio deu adeus a Cascudo. Cascudo chegou em casa contou a mãe dele. Mas Donana não acreditou que Roosevelt tivesse dado adeus a Cascudo”.

Esquina da Rua da Conceição com Ulisses Caldas: Casa Real. Essa ai na esquina foi a Farmacia Torres, do farmaceutico Joaquim Torres. Depois também foi essa Farmácia Maia? Eduardo Alexandre Garcia.
Praça 7 de Setembro Cidade Alta. O prédio da farmácia Torres já dista como Farmácia Maia.

Nesse prédio da esquina funcionou a Farmácia Torres de Joaquim Ignácio Torres falecido em 1938. Foi proprietário por 20 anos. Era farmacêutico e também lecionou no Atheneu.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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A palavra sobreposta: imagens contemporâneas da Segunda Guerra em Natal / Josimey Costa. – 2. ed. – Natal, RN: EDUFRN, 2015.

Além das xícaras: a construção do Café São Luiz como lugar de memória em Natal (1950-1980)/ Augusto Bernardino de Medeiros – Natal, RN, 2013

Atheneu Norte-rio-grandense nas mensagens dos Governadores do Rio Grande do Norte (1889-1930) / Rosane Galvao da Silva Ferreira. – 2022.

Caminhos de Natal / Jeanne Fonseca Leite Nesi ; ilustrações, Urban Sketchers Natal. – Dados eletrônicos (1 arquivo PDF). – 2. ed. – Natal, RN : IPHAN, 2020.

CASCUDO, Luís da Câmara. História da cidade do Natal. Natal: RN, Edição Instituto Histórico e Geográfico do RN, 1999.

CIDADE, TERRA E JOGO SOCIAL: APROPRIAÇÃO E USO DO PATRIMÔNIO FUNDIÁRIO NATALENSE E SEU IMPACTO NAS REDES DE PODER LOCAIS (1903-1929) / GABRIELA FERNANDES DE SIQUEIRA. – FORTALEZA. 2019.

Do boticário ao farmacêutico : o ensino de farmácia na Bahia de 1815 a 1949 / Florentina Santos Diez del Corral, Mirabeau Levi Alves de Souza, Odulia Leboreiro Negrão. – Salvador : EDUFBA, 2009.

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SAIR CURADO PARA A VIDA E PARA O BEM: diagramas, linhas e dispersão de forças no complexus nosoespacial do Hospital de Caridade Juvino Barreto (1909-1927) / RODRIGO OTÁVIO DA SILVA. – NATAL, 2012.

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Loja Virtual do Fatos e Fotos de Natal Antiga

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O Fatos e Fotos de Natal Antiga é uma empresa de direito privado dedicada ao desenvolvimento da pesquisa e a divulgação histórica da Cidade de Natal. Para tanto é mantida através de seus sócios apoiadores/assinantes seja pelo pagamento de anuidades, pela compra de seus produtos vendidos em sua loja virtual ou serviços na realização de eventos. Temos como diferencial o contato e a utilização das mais diversas referências como fontes de pesquisa, sejam elas historiadores, escritores e professores, bem como pessoas comuns com suas histórias de vida, com as suas respectivas publicações e registros orais. Diante da diversidade de assuntos no mais restrito compromisso com os fatos históricos conforme se apresentam em pouco mais de um ano conquistamos mais de 26 mil seguidores em nossas redes sociais o que atesta nossa seriedade, compromisso e zelo com o conteúdo divulgado e com o nosso público.

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